ROCK IN RIO: Iron Maiden – A extensão do legado!

Nem sempre um show do Iron Maiden é um jogo ganho, mas isso não significa uma derrota. Foi o que aconteceu na apresentação da banda no Rock in Rio 2022. Se por um lado, tudo funcionou com o cenário de palco, repertório e performance dos músicos, por outro lado, o volume do som ficou abaixo do esperado em boa parte do show, desagradando parte do público, mas nada que tenha diminuído a grandeza de todo o espetáculo comandado pelo Iron Maiden!

IRON MAIDEN – Palco Mundo – Rock in Rio
2 de Setembro de 2022
TEXTO: Jonildo Dacyony
FOTOS: Adriana Vieira/Rock On Board

Cerveja, camisas de futebol, action figures, aeronave personalizada, um vocalista multimídia (empresário, esgrimista, escritor, mestre cervejeiro, historiador, etc.), além de todos aqueles fatores que sinalizam a grandiosidade de uma banda, como arenas lotadas, fãs enlouquecidos cantando até os riffs e entrevistas concorridas fazem com que tudo o que envolve o universo do Iron Maiden tome proporções gigantescas até para os padrões mainstream.

Esta é a 13ª vez que a banda britânica se apresenta no país, e se por um lado, é cada vez mais natural falar sobre artistas que se tornaram habitué por estas bandas, por outro, fica cada vez mais difícil trazer algum elemento novo sobre tudo que envolve outra passagem por aqui, pelo menos aparentemente.

É chover no molhado dizer que a “Legacy of the Beast Tour” foi interrompida pela pandemia. Da mesma forma, é de conhecimento geral que a banda havia prometido que assim que a Covid-19 desse uma trégua a turnê seria retomada. Nesse ínterim, mais precisamente há um ano, era lançado Senjutsu, 17° álbum de estúdio da Donzela. Sendo assim, e tendo em mente que cada tour dos ingleses traz consigo uma riqueza visual comum a poucos artistas em atividade, de qualquer estilo musical que possamos imaginar, o que poderíamos esperar dessa nova etapa da “Legacy”? É certo que, mesmo algumas alterações tendo sido feitas no setlist, isso não representou grande surpresa para os fãs mais antenados, até porque, com as informações viajando na velocidade da luz pela internet, desde o reinício da tour, pipocam inúmeros vídeos das apresentações nos países já contemplados. Mesmo assim, expectativa é a palavra de ordem quando o assunto é show do Iron Maiden, especialmente quando é enriquecida com um ingrediente inerente a todo grande festival de música: o público gigantesco.

Por ocasião da abertura das vendas de ingressos para o Rock in Rio 2022, construiu-se uma narrativa, principalmente da parte de fãs de artistas pop que fazem parte do line-up desta edição do festival, de que os ingressos dos dias do metal/rock encalharam, discurso reforçado pela demora em esgotar os ingressos no site do festival, consequência dos outros shows que os headliners dos referidos dias haviam agendado em diferentes partes do país quase ao mesmo tempo em que anunciaram suas participações no RIR. Discussões infantis à parte, o público se fez presente na Cidade do Rock, na noite do dia 02/09.

Quem acompanha os principais festivais europeus sabe que há uma tendência de os headliners tocarem em uma espécie de horário nobre, nem sempre encerrando a noite. O Maiden adota essa postura desde a edição de 2019 do festival. Dessa forma, o horário marcado para o início da apresentação foi às 21h25. Com poucos minutos de atraso, foi possível ouvir os acordes de “Doctor, Doctor”, do UFO, que já virou tradição como anúncio do início da apresentação do Maiden. Logo após, soou a introdução com os tambores que remetem ao tradicional teatro Kabuki japonês, “Senjutsu”, a canção-título do último álbum, com belos arranjos de bateria de Nicko McBrain mostra, logo de cara, a que vieram os veteranos. Pena que só quem aproveitou toda essa intensidade do início do show foi o público que estava próximo ao palco. O som apresentou diversos problemas. As falhas foram perceptíveis até para os mais desatentos. Os problemas persistiram nas duas canções seguintes: “Stratego” (a minha preferida do álbum) e “Writing on the Wall” (primeiro single e primeiro videoclipe do atual trabalho). Infelizmente, o rico visual dessa primeira parte do show, cheio de elementos da cultura nipônica, foi significativamente prejudicado pelos problemas com o som. Parte do público entoou um coro, gritando “aumenta o som”, e era clara a insatisfação dos fãs que não estavam perto da grade. Nem a presença do Eddie caracterizado de samurai salvou.

Depois de uma breve pausa para a troca de cenário, voltaram com uma das clássicas: “Revelations”, que fez com que o público se deixasse reger por Bruce, diminuindo um pouco a insatisfação inicial, mas os problemas persistiam. Em seguida, Mr. Dickinson saudou o público do Rio de Janeiro, falou algumas palavras sobre a relação do grupo com os fãs e anunciou “Blood Brothers” que fala exatamente sobre essa relação. E tome reclamação dos fãs!

“Sign of the Cross” veio logo depois. Os fãs mais chatos reclamam dessa canção até hoje. Uns, por ser da era Blaze Bayley, outros por ser uma música longa e com elementos progressivos, mas o fato é que a canção em questão contribui muito para o aspecto cênico da apresentação.

Para “Flight of Icarus”, um dos grandes clássicos, além de ter uma das execuções mais teatrais da noite, surge no palco uma figura gigantesca do mítico personagem grego, e Bruce, fazendo jus ao seu status de showman faz uma performance equipado de um lança-chamas. Finalmente, a partir dessa canção, os problemas no som começaram a desaparecer.

Existem algumas canções, que por mais que o artista tenha atingido um patamar o qual não se atreva contestar, esse artista, por sua vez, também não ousa retirá-las do repertório de uma turnê. Hoje, é possível afirmar sem medo de errar que “Fear of the Dark” é uma dessas canções. Embora alguns defendam que é uma canção que a banda deveria deixar de fora, pelo menos por algum tempo (N. do E.: O editor da Rock Press é um desses), essa é uma hipótese que grande parte dos fãs nem cogita, tal impacto que sua execução causa nas apresentações. Quer ver marmanjo com os olhos cheios de lágrimas? Preste atenção no público quando a tocarem.

Na sequência, a Donzela faz aquilo que chamam de “jogar pra galera”: “Hallowed be thy Name” (que é sempre uma das melhores performances de Bruce e do trio das guitarras, Gers, Murray e Smith), “The Number of the Beast” (na qual já é esperado o cabeção do “Eddie Demônio”) e “Iron Maiden” (outro clássico maior que, além de não poder faltar, já é o prenúncio da parte final de todo show).

Rápida pausa, e o encore veio com a já esperada performance de “The Trooper”, com o bandeirão do Reino Unido, seus uniformes militares e trazendo um Eddie esgrimista em um duelo com Dickinson, no qual, posteriormente o monstrengo é “atingido” por um tiro de um mosquete que tinha como adorno a bandeira do Brasil, o que deu motivo para bolsonaristas irem às redes sociais afirmar que a banda estaria apoiando o presidente (como se não fizessem isso com as respectivas bandeiras dos países por onde passam). Depois de “Trooper”, veio uma daquelas que são marcadas pelo baixo inconfundível do “patrão” Harris: “The Clansman” que parece que foi crescendo com o tempo até se converter em hino. Hoje, até as baratas do local cantam “Freedom, freedom”. Sem deixar o público tomar fôlego, atacaram de “Run to the Hills”, impedindo que os presentes se calassem.

Chegada a hora do bis, e então se pôde ouvir “Churchill’s Speech”, vê-se a réplica do avião RAF da Segunda Guerra Mundial e… “Aces High”, para fechar a noite com chave de ouro.

Mesmo com os percalços, foi possível fazer uma constatação que não chega a ser novidade: o público do Iron Maiden se renova a cada ano. Havia pessoas de tudo quanto é faixa etária, cada uma expressando a emoção à sua maneira. Não sei se os “velhinhos” ainda terão gás por muitos anos, mas público fiel, tenho certeza que sim. – Jonildo Dacyony.

EQUIPE ROCK PRESS NO ROCK IN RIO 2022 – Michael Meneses, Cadu Oliveira, Kesley Meneses, Jonildo Dacyony, Paulo Schwinn e Igor Velasco. ACESSE: https://portalrockpress.com.br/festivais/rock-in-rio/

Jonildo Dacyony é nascido em Natal-RN e criado na capital do Rio de Janeiro, portanto, um potiguar/carioca. Apaixonado por cinema, teatro, literatura, música, vinhos, cervejas e pelo Flamengo. Tem mais de três décadas de rock’n’roll, é profissional de hotelaria e food & beverage, além de ser formado em História e graduando em Geografia.

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