PAUL McCARTNEY: Maccaranazo! (Rio de Janeiro – 2023)

Paul McCartney fecha a passagem da “Got Back Tour” pelo Brasil com show antológico no Maracanã. A turnê incluiu apresentações em Brasília/DF, Belo Horizonte/MG, Curitiba/PR e São Paulo/SP somando um total de 9 shows no País. As performances se deram numa crescente, culminando na apresentação realizada no Maraca como uma grande final de campeonato.

 PAUL McCARTNEY: Maccaranazo!

Maracanã – Rio de Janeiro/RJ
16 de dezembro de 2023

TEXTO: Robert Moura
FOTOS: Marcos Hermes

Não tinha como o clima ser outro, a não ser o de uma grande final de campeonato, afinal todos que estavam ali sabiam que aquele seria o último show da turnê “Got Back”, de Paul McCartney, no Brasil. Mais do que isso, ele estava fechando os seus shows de 2023 exatamente aqui. Após uma série de 8 shows, sendo duas apresentações em Brasília (LEIA AQUI), duas em Belo Horizonte (LEIA AQUI), três em São Paulo (LEIA AQUI) e uma em Curitiba, Paul retornou ao palco de seu primeiro show no País, em 1990, para matar as saudades daquelas performances históricas que lhe renderam o recorde de maior público de um artista solo, quando levou 184 mil pessoas ao Maracanã.

É válido lembrar que a “Got Back Tour” estreou em 2022, mas ainda passou por poucos países, uma pequena parte dos Estados Unidos, Austrália, México e apenas um show na Inglaterra, no Festival de Glastonbury, o que afasta os boatos sem muitos fundamentos de que Paul poderia anunciar uma aposentadoria das turnês, após o show no Rio. Talvez, o fato de não ter ainda novas datas anunciadas no site oficial do artista tenha reforçado esse pensamento. De qualquer forma, foi possível notar uma grande presença de estrangeiros, em especial dos nossos países vizinhos acompanhando os shows por todas as cidades onde passou.

Como nos espetáculos anteriores, a cerimônia se repetiu com o DJ Chris Holmes esquentando o público com sua discotecagem, o vídeo introdutório, e eis que surge Paul McCartney, ao lado de sua banda fiel já há 21 anos, formada por Paul “Wix” Wickens (teclados, violão, acordeom, backing vocals e direção musical), Brian Ray (baixo, guitarra e backing vocals), Rusty Anderson (guitarra, violão e backing vocals) e Abe Laboriel Jr. (bateria e backing vocals), atualmente recheada com o Hot City Horns, sensacional naipe de metais que conta com Mike Davis (trompete), Kenji Fenton (saxofone) e Paul Burton (trombone). Com transmissão ao vivo por canal de streaming, o show começou às 21h06, um pouco antes ainda do anunciado que seria às 21h15.

Com a simpatia e brincadeiras de sempre com gírias locais, Paul, saudou o público com um “Colé, cariocas?!” e fez o setlist padrão da “Got Back Tour”, abrindo com “Can’t Buy Me Love” e emendando com “Junior’s Farm”, “Letting Go”, “She’s A Woman”, “Got To Get Into My Life”, “Come On To Me”, nas quais ele toca contrabaixo. Na sequência, tocando guitarra, vieram “Let Me Roll It/Foxy Lady” e “Getting Better”. Em “Let ‘Em In”, ele migra para o piano, instrumento no qual também toca “Nineteen Hundred Eighty-Five” e “Maybe I’m Amazed” (foi inevitável não lembrar de Linda McCartney, até porque 33 anos atrás ela estava ali no palco ao seu lado). Ao violão ele faz o set acústico que inclui “I’ve Just Seen a Face”, “In Spite Of All The Danger” e “Love Me Do”. O bandolim é o instrumento escolhido por Paul em “Dance Tonight”, retornando ao violão para executar sozinho “Blackbird” e “Here Today”. O “Magic Piano” é acionado pela primeira vez em “New” e “Lady Madonna”. De volta ao seu baixo Höfner, ele fez “Jet” e “Being For The Benefit Of Mr. Kite!”. Em “Something”, Macca toca ukulele e violão, retornando ao seu instrumento principal em “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, “Band On The Run” e “Get Back”. A sequência final é executada também ao piano, “Let It Be”, “Live And Let Die” e “Hey Jude”. No bis, ele surge novamente com a guitarra em “I’ve Got A Feeling”, “Birthday”, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)” e “Helter Skelter” são tocadas por ele no baixo. E o último ato “Golden Slumbers/Carry the Weigth/The End” apresenta Paul no piano e na guitarra para o duelo final com os guitarristas Rusty e Brian.

Há uma parte do público que fica um tanto quanto perdida em canções dos Wings (como “Junior’s Farm”, “Letting Go” ou “Nineteen Hundred and Eigthy-Five”) ou de períodos mais recentes da carreira de Paul (como “Come On To Me” e “My Valentine”), no entanto, ele não abre mão de tocar determinados números, pensando no ouvinte mais antenado com toda sua obra. É impressionante pensar que só do repertório dos Beatles, ele tem pelo menos uma centena de sucessos reconhecidos mundialmente, e sua carreira solo e com os Wings também não fica muito atrás. Ele pode se dar ao luxo de não incluir no setlist obras como “Yesterday”, “Here, There and Everywhere”, “All My Loving”, “And I Love Her”, “Eigth Days A Week”, “Eleanor Rigby”, “The Fool On The Hill”, “From Me To You”, “The Long and Winding Road”, “Magical Mystery Tour”, “Michelle”, “Paperback Writer”, “Penny Lane”, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, “She’s Leaving Home”, “Things We Said Today”, “Two Of Us” e “We Can Work It Out”, isso para ficar em algumas poucas das quais ele é o compositor ou cantor principal. Se formos para a carreira solo e Wings temos: “Another Day”, “C Moon”, “My Love”, “Bluebird”, “Venus and Mars/Rockshow”, “Silly Love Songs”, “Coming Up”, “Ebony and Ivory”, “Take It Away”, “My Brave Face”, “Listen To What The Man Said”, “No More Lonely Nights”, “Mull Of Kyntire”, “With A Little Luck”, entre tantas outras.

Em 1990, Paul se apresentou por duas noites para uma média de 92 mil pessoas. No sábado passado, com restrições de público por questões de segurança surgidas nas últimas décadas, o artista estava diante de uma plateia de 66 mil pessoas que estavam ali prontas para celebrar. E não há dúvidas que o povo carioca sabe fazer e participar de festas. Em “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, o espetáculo ficou por conta dos balões coloridos iluminados com as lanternas dos celulares que rendeu um belo efeito. Já, em “Hey Jude” a recriação da ideia de um grupo de fãs realizadas no Rio mesmo que distribuíram cartazes feitos à mão com a sílaba “na” entoada no final da canção também rendeu um marcante momento visual tomando todo o estádio, incluindo a arquibancada. A chuva de papel picado verde, amarelo e azul também foi outra marca repetida ao final de todas as apresentações no Brasil. Não há do que reclamar, a turnê teve de tudo, começando pelo show surpresa no Clube do Choro, em Brasília, antes mesmo do show oficial que estava agendado para a cidade.

Apesar de todos os recursos de iluminação, telão, fogos e efeitos especiais utilizados para entreter num evento dessas proporções, é fundamental observar que o que move tudo ali são as canções. É a música de Paul McCartney reproduzida ao vivo de forma mais do que competente por sua banda que justifica o espetáculo. Tudo gira em torno dela, a música.

Essa vinda de Paul ao Brasil, provavelmente foi a mais arrasadora desde 1990. Até porque a partir do momento em que os meios de comunicação e informação ficaram mais segmentos, fazia um tempo que um show não parecia mexer tanto com a população de uma forma geral. Pode-se dizer que a atual passagem de Paul foi assunto digno dos tempos da Beatlemania. Para além da simples idolatria, as mensagens positivas da banda, de paz e amor se reproduzem em momentos como esse. Na segunda noite de São Paulo, foi a plateia que, espontaneamente, cantou os versos de “Give Peace A Chance”, de John Lennon, sendo acompanhada por Paul. E nunca é demais lembrar que o show se encerra com os versos da canção “The End”, dos Beatles: “and in the end, the love you take is equal to the love you make” (“e no final, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá”).

“Aha, uhu, o Maraca é nosso!”. O canto comum no estádio, não foi puxado por nenhuma torcida do futebol carioca dessa vez, mas, por ele mesmo, Sir James Paul McCartney, fazendo com que todas as torcidas cantassem juntas. Desde sua criação realizada para a Copa do Mundo de 1950, não há como negar que o evento futebolístico que mais ressoa na história do estádio é a final dessa Copa em que o Brasil perdeu a final por 2 a 1 para o Uruguai. E se formos pensar no Maracanã como palco de shows, o chamado “Paul in Rio”, em 1990, com seu recorde de público foi definitivamente o mais marcante. Se a final da Copa de 50 foi batizada de “Maracanazo”, essa volta de Paul ao Maracanã produzindo mais um episódio antológico da carreira do beatle e da cidade do Rio de Janeiro, longe do aspecto negativo da derrota da Seleção Brasileira, merece a alcunha de “Maccaranazo”! – Robert Moura.

ROBERT MOURA – É natural de Belo Horizonte. Doutorando em Música (UFRJ), mestre em Artes (UEMG) e bacharel em Música (UEMG). Fundador e professor da Alaúde Escola de Música. Tocou guitarra em bandas de rock na capital mineira. Atualmente, seu trabalho está focado no violão clássico e composição. Em 2021, lançou o EP digital “Ensaio Para A Morte” com a trilha sonora que compôs para a peça homônima, e em 2023 lançou os singles “A Rosa de Heitor” e “Júpiter e Marte”, compostas para a trilha da peça “Heitor”. Depois de pensar que não veria um show ao vivo de Paul McCartney, já assistiu a quinze apresentações do artista, e dessa vez, cobriu pela Rock Press a passagem do beatle em quatro cidades do Brasil.

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