ROCK IN RIO: Rap in Rio – Ritmo e Poesia invadem a Cidade do Rock!

Por mais que se tente, já não há como fugir… os ritmos eletrônicos ganharam destaque na cultura mundial e não seria diferente no Brasil. O Rock in Rio não deixou de fora os MCs e DJs. Nomes tais como Racionais MCs, Xamã, Mc Poze do Rodo, Criolo, Matuê e Orochi foram alguns representantes do rap nacional no festival que também teve Post Malone, entre as atrações internacionais, além de Alok e Marshmallow somando à lista os artistas do eletrônico.

TEXTO e FOTOS: CADU OLIVEIRA

Papato in Rio!

Para fazer esse mega apanhado, vamos começar pelo começo. Edi Rock, Mano Brow, Ice Blue e KL Jay, também conhecidos como Racionais MC’s, formam o grupo de rap mais influente do Brasil. Eles fecharam o dia 03/09, apelidado “Dia do Rap”, com uma apresentação representativa no Palco Sunset. Cantando com microfones de lapela, deixando as mãos e corpo livre para dança e interpretações. A banda montou um setlist lotado de clássicos como “Capitulo 4, versículo3”, “Negro Drama”, “Vida Loka (Parte 1 e 2)” e “Da Ponte Pra Cá”, todas cantadas em coro pelos mais apaixonados pelo grupo.

Mesmo a chuva fina que caía na Cidade do Rock não foi suficiente para fazer o público deixar de assistir ao espetáculo proporcionado por Mano Brown, Edi Rock e Cia. O show foi preparado com riqueza de detalhes e simbolismos. De começo, o telão mostrou imagens de um metrô e a cênica do palco fez representar como se os membros da banda chegassem de trem. O telão também foi importante durante a execução da faixa “Negro Drama”, exibindo imagens de diversos brasileiros negros assassinados recentemente no Brasil, tal como Marielle Franco e as crianças Agatha e João Pedro (vítimas de bala perdida em operações policiais contra o tráfico, no Rio de Janeiro). 

Por toda representatividade e mensagem contida no show, sem dúvida nenhuma Racionais merecia ter estreado no Rock in Rio tocando no Palco Mundo. A banda e o público mereciam. O País, mais do que isso, precisa. E o Sunset ficou pequeno…

Palco Mundo no Dia do Rap

O chamado “Dia do Rap” foi ocupado pelo eletrônico no maior palco do festival. Isso porque duas das quatro apresentações foram comandadas por DJs. Primeiro Alok, como a primeira atração do dia, animando a pista ao entardecer. E depois o produtor-boneco Marshmallow que se apresentou antes do headliner da noite, Post Malone. 

Visto como o rapper mais rockstar dentre os expoentes do gênero, Post Malone fez um show que lhe rendeu bastante elogios. Muitos fãs passaram a considerá-lo o “artista do século” após a entrega e alta performance apresentada no palco do Rock in Rio, mesmo sob chuva. Exageros à parte, o rapper de fato conseguiu corresponder ao que se esperava do headliner do dia do rap, diferente do que aconteceu na edição passada, também sob chuva, na apresentação do Drake. Lembram?

Mapa da Rima: Rio de Janeiro

Foram tantas as atrações do gênero rap no Rock in Rio que para navegar nesse mar vamos de bússola com localização geográfica para ninguém se perder. O ponto de partida agora é a própria cidade do Rio, capital do evento, e os artistas localizados por aqui tomaram de assalto parte do line-up geral desse segmento, veja só. Ainda no dia 3, também no Palco Sunset, Xamã subiu ao palco para destilar seus hits em companhia da banda de rappers indígenas Brô MCs. Na última edição, o artista carioca representante da Zona Oeste se apresentou no espaço Favela. 

Antes disso, um pouco mais cedo, quem comandou o baile pelo Sunset foi o DJ e produtor musical Papatinho, ao lado de L7nnon (foto ao lado), Mc Hariel e Mc Carol. Característica marcante da cultura carioca, o funk entra em cena aqui e merece um capítulo à parte nessa história. Afinal, a vertente rap-funk é a pegada original do Mc Poze do Rodo (foto abaixo), que se apresentou no palco Supernova, no dia 04/09. O funk carioca teve seu ápice de representatividade durante o último dia do festival, quando a cantora Ludmilla se apresentou em um palco Sunset completamente lotado de gente dançando seus hits – inclusive o pit mais prestigiado por famosos de toda a edição.

Para fechar a excursão do rap do Rio pela Cidade do Rock, não podíamos deixar de falar de dois expoentes da cena, de gerações diferentes. Primeiro a Cone Crew Diretoria, banda que ficou famosa nacionalmente pelos idos de 2008, que se reencontrou no palco do Supernova. “O melhor de reunir essa galera toda pra ver o show é ter conseguido reunir a nossa galera para fazer esse som de novo”, confessou Maomé, após a apresentação, em entrevista à Rock Press. A banda está recomeçando, mas é notório que o Supernova foi pouco para eles, então tomara que dê tudo certo nessa nova gestão da carreira do grupo e no próximo RIR eles possam alçar voos maiores, enfumaçando o Sunset, por exemplo. Não seria má ideia.

E por fim, mais alguns representantes da cidade maravilhosa: Orochi fez um show incrível no Espaço Favela. Uma pena ter sido no mesmo horário que o Djavan tocando no Palco Mundo, mas o crítico especializado que acompanhou o rapper nos confidenciou que achou “o show dele o mais punk, o melhor que vi até agora”, disse Silvio Essinger do Jornal O Globo, na sala de imprensa.  Também no Espaço Favela, passaram Choice, MD Chefe (foto abaixo), e Dom Laike, esses últimos deixando um rastro de whisky pela plateia, em um show inesquecível.

Rima do Mapa: São Paulo

A boa e velha batalha entre qualidade e quantidade se aplica nesta análise. São Paulo não teve tantos representantes no festival, mas em compensação, tem agentes de peso. A começar pelos Racionais, citados anteriormente. No Supernova, quem apareceu foi a revelação do TRAP Yank Vino. Nascido em Carapicuíba, interior de SP, ele tocou no dia do rap. 

O rap já é parte da cultura mainstream, certo? E nomes que já transcenderam a imagem atrelada ao rap e fazem parte da história da música popular brasileira que também são da terra da garoa e marcaram presença no Rock in Rio foram Criolo e Emicida. Ambos merecem resenha à parte, pelo nível de importância e entrega no Palco Sunset. A junção deles (que inclusive já lançaram DVD junto) certamente poderia figurar no line-up do Palco Mundo.

Criolo tocou também no evento teste e depois repetiu a dose no dia 3. Seu show contou com a participação da cantora cabo-verdiana Mayra Andrade. Acompanhado por DJ Dandan, Ganjaman e grande elenco, Criolo mais uma vez deixou a plateia enlouquecida com seus hits oriundos desde o álbum “Nó na Orelha” (2011) até o “Convoque seu Buda” (2014).

Já Emicida subiu ao Palco Sunset, no dia 04/09, para explodir a cabeça dos fãs com posicionamento político. Ao ouvir os gritos de “Bolsonaro vai tomar no cu”, o rapper falou ao microfone: “Vocês podem falar mais alto?”, ao que a plateia reagiu aumentando o brado. Ao fim, ele responde: “Obrigado. E dia 2 de outubro (dia das eleições), façam isso na urna”, finalizou.

O mestre de cerimônia que se notabilizou por degolar os adversários na rima contou com a participação especial de Drik Barbosa, Rael e Priscilla Alcântara. Emicida começou o show com hit combativo “Triunfo”. E deu sequência ao show sem perder a linha militante, ao dizer: “Tinha um pessoal falando que não era de bom tom falar de política no palco. Mas se eu estou aqui é porque há 30 anos o Racionais decidiu ser política na música”, avisou. E ao fazer isso, garante que daqui há algumas décadas o nosso lugar de falar seja ouvido. É emocionante perceber que ainda há o fogo da resistência vivo no olhar de alguns artistas. Isso é muito rock! Ou ao menos deveria ser…

Fora do Eixo: Nordeste rouba a cena!

Teto: De Jacobina ao Rock in Rio 2022

Para não dizer que não tinha ninguém do sul, o rapper IKE, oriundo de Porto Alegre/RS, se apresentou no Palco Supernova, abrindo os trabalhos no Dia do Rap. Mas, nas terras do funk carioca, quem roubou a cena foi o nordeste, pois logo na sequência, veio Hiosaki, de Brejo Santo/CE. O line-up foi crescendo e chegou ao ápice mesmo com o Teto! Filho da cidade de Jacobina/BA, que é a sensação do trap nacional, e deixou o Supernova completamente lotado, mas realmente, entupido até o teto (com perdão do trocadilho). Show explosivo e repleto de hits como “Paypal”, “Balazul”, “Mustang Preto” e a arrebatadora “M4”, colocando o povo na grade para se emocionar e cantar junto do começo ao fim. Incrível.

E para fechar com chave de ouro, não podíamos deixar de falar do show do Matuê. Artista de Fortaleza/CE que domina as listas dos mais ouvidos do País, ele estreou no Rock in Rio com um showzaço no Sunset. Não faltaram gritos contra o atual presidente do lado da plateia. E no palco até mesmo um skate escrito Fora Bozo foi levantado ao alto (YEAR!). Além da sua coleção de hits, teve espaço para um cover do Charlie Brown Jr., com introdução confessional: “Eu vou tocar um som de alguém muito importante na minha vida”, disse Matuê se referindo ao Chorão antes de cantar “Céu Azul”.

O cenário do palco era um mini skate-park e repleto de skatistas da Ademafia (coletivo carioca de praticantes do esporte sobre rodas), participações especiais já esperadas e muito fogo – no palco e no público! O setlist enxuto foi composto por 14 canções, a começar por “Máquina do Tempo” e fechando com “777-666”. Os rappers que compartilham a 30praUm (gravadora do Matuê) colaram no palco. Teto cantou “Groupies” e “Vampiro” enquanto Wiu botou a pista para ferver com a pedrada de mais de 40 milhões de views no YouTube, convocando a tropa do “Mantém”. Entregando tudo no palco, no final jogou até skate para público, que presenciou um show realmente inesquecível.

O rap vive pelo mundo a fora e Brasil a dentro, o ritmo das batidas digitais se encontram cada vez mais com as rimas dos chamados mestres de cerimônia. A cultura do DJ, B-boy, Grafiteiro e MC segue viva. A prova disso é que o Rock in Rio tem em seu line-up um cardápio variado de artistas desse segmento. Muito longe de ser um Rap in Rio, a organização do evento conseguiu balancear públicos e gêneros de forma inteligente. É de se parabenizar sim, a escolha do cast. Não é fácil organizar nem uma festa, agora imagina um festival como o Rock in Rio. Uma coisa ou outra podia ser melhor, é óbvio. Mas teve Teto, Cone Crew, Racionais e Xamã, mano… – Cadu Oliveira.

Cadu Oliveira – Jornalista, pós-graduado em Jornalismo Cultural (UERJ). Criador do blog Hempadão e rapper com vulgo EXPLICA. Colecionador de vinil há quase 20 anos. Repórter colaborador da Rock Press e quem sabe se apresenta em um próximo Rock in Rio! Até lá ACESSE!

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