FORÇA MACABRA: Os Filhos da MPB (Música Pesada Brasileira) – ENTREVISTÃO!

Páginas Psicodélicas é o espaço das grandes entrevistas da Rock Press. E, dessa vez, conversamos com a banda finlandesa Força Macabra que teve como alicerce o metal/punk/HC brasileiro para produzir seu som cantado em português. A banda segue em tour pela Europa e lançou um split com a Skarnio (SP). No papo, não deixamos de falar sobre o intercâmbio mútuo do rock brasileiro e finlandês, questões políticas, culturais e muito mais.  Como é a tradição nas Páginas Psicodélicas, convidamos músicos brasileiros para fazer perguntas neste entrevistão, entre os quais: Gepeto (Ação Direta), André Creiz (Azul Limão), Silvio Campos (Karne Krua), Carlos Lopes (Dorsal Atlântica), Claudio Bezz (Taurus) e Felipe Cheruan (Confronto).

FOTO: Michael Meneses!
FOTO: Michael Meneses!

A década de 1980 foi uma época de desbravadores quando falamos de bandas de metal, punk, hardcore ou a soma desses estilos em terras brasileira. Tudo era um aprendizado, cheio de sonhos e romantismo para bandas, fanzineiros, produtores e a cena em geral. Assim, aos poucos, o “Rock Pesado” (assim era chamado), foi conquistando seu lugar na história do underground no Brasil e no mundo.

Naquela época, não se pensava em plataformas digitais, streaming, ou melhor, a internet como conhecemos nem existia. O troca-troca de correspondência era a nossa rede social. E quem disse que a informação deixou de circular? O lema do “Faça Você Mesmo” foi seguido à risca, e com isso gravações caseiras, discos, fanzines e uma série de materiais independentes viajavam o planeta via Correios & Telégrafos. Era assim que recebíamos muito coisa de fora. Esse “corre” (como se diz hoje), foi dando frutos e colhendo, inspirações, respeito e novas histórias.

Uma dessas histórias vem de Helsinque (Finlândia) com a banda Força Macabra que, inspirada em bandas brasileiras como Armargedom, Ratos de Porão, Inocentes, Lobotomia (SP), Overdose (MG), Dorsal Atlântica, Extermínio (RJ), vem desde o ano de 1991, produzindo um thrashcore brasileiro Made in Finlândia. Sua formação conta com os músicos Otto Taurus (vocal), Jaba MX Chakal (baixo), Pedro Anthares e Abutre (guitarras) e Oscar Antítese (bateria). Sim, seus nomes artísticos são inspirados em bandas brasileiras. E não pensem que, em termos de Brasil, a banda só escuta sons extremos. O guitarrista Pedro Anthares revelou na entrevista abaixo que gosta de Arthur Verocai, Chico Buarque, Milton Nascimento, Di Melo… Mas, chega de spoiler.

A banda segue rodando o mundo cantando em português e sua primeira passagem pelo Brasil ocorreu em 2002 com retornos em 2005 e em 2018. Foram três shows no Rio de Janeiro (estive em todos na capital carioca) e é nítida a felicidade deles não somente pela tour em si, mas também pelo fato de tocar no País que relevou suas influências. Acredito que um músico brasileiro fã de Beatles deva sentir algo parecido ao tocar em Liverpool. Outra coisa que se percebe é que a cada vinda da banda ao Brasil o português da banda está mais afinado, com direito a gírias tipicamente brasileiras!

A discografia do Força Macabra é extensa, com títulos em diversos formatos lançados em parceria com selos e bandas de todo o mundo. Recentemente, saiu um split em vinil 7″ (FOTO) pelo selo brasileiro Criminal Attack Rec. em conjunto com a Skarnio (banda paulista em atividade desde 1986 e que inspirou o nome “Força Macabra”). Com prensagem limitada de 470 cópias, sendo 250 em vinil preto e outras 220 em vinil vermelho, a arte de capa do Split é assinada por Fernando JFL da banda Echoes of Death e faz uma crítica ao atual presidente do Brasil.

A Rock Press acredita na Força Macabra desde os anos 1990 quando a banda era pouco conhecida no Brasil e, ainda em formato revista, teve a banda em suas páginas. Agora em formato online, conversamos com os músicos do Força Macabra nessa entrevista das Páginas Psicodélicas da Rock Press.

FORÇA MACABRA: Filhos da MPB (Música Pesada Brasileira) – ENTREVISTÃO
ENTREVISTA: Michael Meneses
TRADUÇÃO: Larissa Oliveira
FOTOS: Michael Meneses

FOTO: Michael Meneses!

1 – MICHAEL MENESES / ROCK PRESS: Os músicos do Força Macabra acompanham o Metal/Punk/Hardcore brasileiro desde os anos 1980, bem antes da internet, em uma época em que mesmo aqui no Brasil às vezes era difícil ter acesso às produções brasileiras. Como esse contato com a Cena Brasileira teve início? Faça um breve histórico sobre a banda e essa influência brasileira.
Otto Taurus – Começou através das fitas e troca de discos que acontecia nas cenas do metal e punk underground internacional do mundo inteiro na década de 80. Lembro de ler sobre bandas punk brasileiras em um fanzine finlandês chamado Barabbas, e comecei a procurar por discos de bandas como R.D.P., Psykoze, Olho Seco, Ruídos Absurdos e afins. Surpreendentemente, você podia encontrar muitas dessas coisas na Finlândia, principalmente pela gravadora P.Tuotanto que era dirigida pelo produtor da Rattus, Vote Vasko. Ouvir essa bruta interpretação do punk hardcore teve um grande impacto sobre mim como adolescente e quando eu conheci o nosso baterista Otto Itkonen e soube que ele gostava do punk brasileiro, começar uma banda nesse estilo soou como a coisa certa a fazer.
Pedro Anthares – Com certeza não foi fácil. Por sorte você poderia encontrar alguma coisa copiada pelos comerciantes de fitas e por amigos. Uma vez, peguei um monte de álbuns de metal brasileiro de um amigo e essas coisas me inspiraram também.

2 – ROCK PRESS: Antes de descobrirem o heavy e o punk brasileiro o que vocês conheciam do Brasil?
Otto Taurus – Quando criança, conhecia coisas do Brasil como futebol, samba, alguma ideia vaga sobre as favelas, pobreza e o carnaval. Para falar a verdade, havia um clube de bateria e uma bateria de escola de samba em minha escola e nós tocávamos algumas batucadas primitivas de samba em alguns jogos de futebol, festas, etc. Nosso instrutor visitou o Brasil uma vez e nos disse histórias tipo “se você aprender a tocar bossa nova propriamente, você sempre terá trabalho no Rio”.
Pedro Anthares – Quase nada. Apenas o básico como regime militar, samba e selva… sabe?

FOTO: Michael Meneses!

3 – ROCK PRESS: A banda esteve no Brasil pela primeira vez em 2002. Desde então foram três turnês por aqui. Como vocês analisaram as mudanças no país e o que aprenderam com essas vindas ao Brasil?
Otto Taurus – Dessa vez não havia pinga de graça nas paradas da estrada e nas mercearias pediam nosso CPF o tempo todo.
Pedro Anthares – Não muito para ser sincero. Talvez que os preços estão sempre aumentando por aí, me pergunto como os comerciantes lidam com isso. Os presidentes mudam, mas a política não.
Abutre – Uma coisa que me impressionou na primeira vez no Brasil foi a hospitalidade das pessoas que nos fez sentir como se fôssemos bem-vindos imediatamente. Acho que isso não mudou. As pessoas tentam fazer o melhor daquilo que elas têm. O que é perceptível, entretanto, é que o otimismo político que vimos no País em 2002 tem se transformado em frustração para muitas pessoas. Os meios de comunicação têm mudado muito também. As redes sociais têm um impacto em quase tudo hoje em dia.

FORÇA MACABRA + KOVAA RASVAA – RIO DE JANEIRO/RJ

4 – ROCK PRESS: Na última tour pelo Brasil (novembro/2018), o que vocês conheceram de bandas brasileiras?
Otto Taurus – Antes de tudo, foi um prazer tocar junto com Armagedom, Besthöven, e Uzomi novamente. Tocar pela primeira vez com Skarnio foi muito legal também, assim como com Nucleär Fröst. Lembro do show do Stragus do Rio de Janeiro e de ouvir o ensaio de Forbidden Ideas. Nós conhecemos Marcão e ele tocou conosco algumas coisas do novo disco fodástico do Foice. Vazio deve ser mencionado também já que recebi um monte de discos, no entanto, ainda não tive tempo de ouvir todos. Outras bandas boas que devem ser citadas são: Harpago, Antroforce, Suprema Vingança, Thrashera e Terrör Algum.
Pedro Anthares – Eu recebi alguns CDs de caras da cena e depois de bandas que nós tocamos como Factor Kill, Uzomi e afins. O mais importante foi ouvir uma sessão de Armagedom no carro deles.
Abutre – Ouvir material novo do Armagedom e do Skarnio entregue pelos próprios caras foi fantástico.

5 – ROCK PRESS: A cena rock finlandesa sempre foi amada no Brasil. O que vocês recomendam entre as bandas novas da Finlândia?  Como é a cena rock na Finlândia?
Otto Taurus – Uma das bandas em ascensão mais legais é Tyrantti, um trio incrível com dois ótimos vocalistas. Eles tocam heavy rock/metal tradicional na veia dos Judas Priest e do antigo Iron Maiden, com letras em finlandês. Isso é algo que considero similar ao metal nacional brasileiro. Tivemos um boom de bandas finlandesas de metal/rock no fim da década de 90 e início dos anos 2000, mas não muitas bandas de metal tradicional cantando em finlandês. Algumas ótimas bandas de thrash recentes são Radux e Ranger, assim como crossover thrash do Kovaa Rasvaa e Kohti Tuhoa. E para os amigos do metal mais moderno, indico Blackment. Vale a pena ouvi-los!
Pedro Anthares – Rock? Tem a banda clássica finlandesa Sleepy Sleepers que fizeram um álbum incrível chamado “In the Rio” de 1982. Ouçam! Bem, a banda é das antigas, mas há novas coisas no rock que não acompanho muito. O Musta Paraati lançou um álbum novo, mas acredito que os caras o estragaram.
Abutre – Necroslurg lançou uma ótima fita cassete.

FORÇA MACABRA + KOVAA RASVAA – BELO HORIZONTE/MG – 2018

6 – ROCK PRESS: Além de metal e punk/HC brasileiro, quais outros estilos musicais vocês escutam de música e rock? Outras manifestações artísticas inspiram vocês?
Otto Taurus – Sou normalmente fã de heavy/hard/prog rock do fim dos anos 60 até os anos 80. Em termos de punk, hardcore e thrash também prefiro o estilo dos anos 80. Além disso, eu escuto um pouco de jazz/fusion e absolutamente tento ficar longe de coisas como rap e eletrônica.
Pedro Anthares – Do Brasil? Varsóvia. As vezes ouço algo do Arthur Verocai, Chico Buarque, Milton Nascimento, Os Brazões, Di Melo. Infelizmente não encontrei seus álbuns à venda por aqui. Vocês podem recomendar mais bandas.
Abutre – Principalmente rock dos anos 70 e 80, blues e jazz.

7 – ROCK PRESS: Há alguns anos a mídia brasileira noticiou o surgimento de um grupo finlandês de MPB chamado de Maria Gasolina. O que vocês sabem a respeito? Existem outros artistas finlandeses que se inspiram em cultura brasileira em seus trabalhos (música, literatura, artes plásticas, cinema etc.)?
Pedro Anthares – Eu amo eles! Não tenho álbuns, mas eles são tocam na Radio Helsinki. Eu acho que um amigo namorava a vocalista alguns anos atrás. Acho que você possa conhecer Mika Kaurismäki, que tem feito filmes/documentários como Amazon, Tigrero, Sambólico, Rytmi e morou no Brasil.

8 – ROCK PRESS: Além do metal/punk/rock, o que a Finlândia pode nos oferecer e o povo do Brasil não faz ideia?
Pedro Anthares – Quase nada. A comida é muito ruim para ser exportada, ou talvez haja algo, mas que não consigo pensar agora.
Abutre – Sauna? Papai Noel? Não, provavelmente não. Eu diria que um bom começo, são os filmes de Aki Kaurismäki. (N. do autor: O primeiro filme do diretor Aki Kaurismäki, foi um documentário de 1981, sobre as apresentações das bandas finlandesas; Juice Leskinen Slam, Eppu Normaali e Hassisen Kone no Lago Saimaa. O filme é visto como o primeiro filme de rock da Finlândia).

9 – ROCK PRESS: Falando de política, nas eleições de 2018, o Brasil elegeu dezenas de políticos de extrema-direita. Como o povo finlandês analisa a política brasileira?
Otto Taurus – Eu não me lembro de ver alguma reação positiva à eleição de Jair Bolsonaro. Muitas pessoas estão preocupadas sobre quais vão ser as consequências para a democracia, para os direitos das minorias, para a Amazônia e a lista continua.
Pedro Anthares – Acho que aqui a reação foi que esse movimento da direita alternativa está tomando o poder ao redor da terra plana. O Trump tropical. Sinto pena de tudo isso, mas não há muito que possa ser feito aqui.
Abutre – A reação foi a de que o povo brasileiro merece algo melhor. Bolsonaro é conhecido por seus dizeres homofóbicos, misóginos e racistas, então a sua eleição como presidente levantou ceticismo. Há também preocupações justificadas sobre seu impacto no clima global. Com tudo que sabemos sobre a mudança climática, o desmatamento na Amazônia é contra toda essa lógica e razão.

10 – ROCK PRESS: Vocês participaram do Globo Repórter, um programa de grande visibilidade no Brasil. Ao longo de mais de 40 anos, poucas bandas brasileiras de metal e punk tiveram espaço no programa. Como surgiu o contato para a participação de vocês nessa reportagem? Outro detalhe, tirando as cenas da guerra e ligadas à Guerra Fria, alguns brasileiros alegaram que a edição do programa só transmitiu apenas o lado positivo da Finlândia. Existe um lado que o programa não mostrou?
Otto Taurus – A chance de participar do Globo Repórter veio através de uma amiga metade brasileira, metade finlandesa, Maila-Kaarina Rantanen, que nos conectou com um conjunto de outros projetos interessantes e nos ajudou muito. Aliás Maila-Kaarinas fez um documentário chamado “A Heavy Metal Civilization” sobre a evolução do metal finlandês (exibido na edição 2022 do Festival Inedit Brasil). Pensava que seria algo novo, mas eu não entendia o quão grande era o Globo Repórter. Logo soube também que nem todo mundo gosta da Globo ou desse programa. De qualquer modo, foi divertido mostrar a banda nos ensaios e tocando ao vivo no parque e dirigir um taxi. Após a exibição do programa, recebi muitas mensagens de brasileiros desconhecidos. “Oi, te vi na TV”; “Oi, parabéns! Você tem uma ótima banda!”; “Oi, eu amo a Finlândia, quero visitá-la.”. Todo o programa pareceu uma mistura de propaganda de companhia aérea. Entretenimento preciso, mas sem perspectiva crítica. Nosso governo recente tem sucedido em destruir a imagem de sociedade de bem-estar criada pelo programa. Eu acredito que a política que permitiu a Finlândia criar o estado de bem-estar social seria agora referida como socialista ou comunista no atual clima idiota de discussões políticas. Só pense sobre isso… agora há uma grande sacanagem na tentativa de renovar o sistema de saúde, fazer cortes na educação e nas pesquisas. Geralmente, o governo negligencia todas as opiniões especializadas das pessoas enquanto fazem essas coisas. Tentam privatizar todas as funções básicas do Estado, aliviando os impostos dos ricos e ajudando empresas a evitar os impostos, e enquanto isso, deixam os pobres, desempregados, idosos, debilitados e crianças pagarem e sofrerem por suas políticas. Soa familiar?
Pedro Anthares – Sim! O governo recente tem trabalhado muito para acabar com tudo que foi apresentado no Globo Repórter. Educação e muito mais, sabe?

FOTO: Michael Meneses!

Como tradição nas grandes entrevistas da ROCK PRESS, sempre convidamos músicos e formadores de opiniões para enviarem perguntas às bandas e músicos que entrevistamos. Selecionamos algumas que nos foram encaminhadas para vocês.

11 – Gepeto (Bandas Ação Direta e Letall) – Santo André/SP -– Amigos do Força Macabra, não pude estar presente na tour de vocês aqui no Brasil em 2018, mas tomei conhecimento que foi memorável! Em 1997 a Ação Direta encontrou o Força Macabra em Yeper (Bélgica)! Lembro muito bem daquela noite, e olha que estamos falando em 21 anos atrás! Dali surgiu uma grande amizade e muitas outras histórias! Éramos todos bem mais novos (risos). O que mudou na banda Força Macabra desde então? Como vocês estão analisando o cenário HC/metal/punk underground pelos países e lugares em que vocês têm tocado atualmente?
Otto Taurus – Oi Gepeto! Sim, meu me lembro de ver você e o Ação Direta pela primeira vez na Bélgica. Não acho que a banda tenha mudando tanto assim, nós sempre fomos devagar e agora mais do que nunca em lançar álbuns e fazer turnês, mas sinto que meio que já fizemos o suficiente das duas coisas. Nós temos famílias e trabalho para tomarmos conta, porém, vamos manter o espírito aceso e continuar em nosso próprio ritmo. Nós tocamos no Leperfest, na Bélgica, há alguns anos, e cara, ele tem se tornado um festival grande e ótimo. E é assim que as coisas são. Nós estamos mais conectados com as pessoas que têm mais ou menos a nossa idade do que os mais jovens. Na Finlândia, a cena parece estar viva e ativa.
Pedro Anthares – Caramba, cara! Não consigo recordar aqueles dias do Ypres tanto assim. Eu estava um tanto envolvido com bebidas ao redor das ruas. Eu acho que a cena ainda é muito similar a daqueles tempos. Novas e velhas caras. Novos e velhos olhares. Posso estar enganado também, como sempre!

12 – André Creiz (Azul Limão, Metalmorphose e D.A.D.) – Capital/RJ – Estive em um show que vocês fizeram no saudoso Garage (Rio de Janeiro), mas tive que sair um pouco antes do fim. Meu amigo Heron, da banda Uzômi, disse que vocês tocaram “Cavaleiro Negro”, da Metalmorphose. Vocês já tocaram essa música outra vezes em outras cidades e países?
Otto Taurus – Oi André! Nós amamos Metalmorphose, Nossa Droga e metal também!! Se lembro bem, só tocamos Cavaleiro Negro na Finlândia e no Brasil. Naquela época, nós ouvimos o split “Ultimatum” e ficamos tão animados que decidimos tocar “Cavaleiro Negro” e a música “Heavy Metal”, do Dorsal Atlântica.
Pedro Anthares – Não consigo recordar quantas vezes nós a tocamos. Há 10 anos, talvez, tínhamos essa música em vários shows. Mas não tanto recentemente. Nós deveríamos fazer algo sobre isso! Eu tenho que acrescentar que os recentes álbuns do Metalmorphose soam incrivelmente bons! Realmente bons!

13 – Silvio Campos (bandas Karne Krua, Máquina Blues e Loja Freedom) – Aracaju/SE – A Finlândia sempre foi referência para a cena punk brasileira por bandas como Rattus, Tervet Kadet, Riistetyt… O que essas bandas representam para vocês?
Otto Taurus – Rattus, Lama, Riistetyt Kaaos e Terveet Kädet foram bandas que me inseriram no hardcore. Eu as amo. É o som finlandês clássico dos anos 80; é interessante olhar para trás e ver o quanto bandas como Rattus e Riistetyt evoluíram e desenvolveram seu estilo. De Cadgers para Riistetyt até Pyhät Nuket em apenas quatro anos ou a evolução de Rattus de 1978 a 1987.

14 – Carlos Lopes (Dorsal Atlântica) – Capital/RJ – Qual a percepção do público estrangeiro ao ouvir o Força Macabra cantando em português? Há alguém que interprete o FM como uma banda tributo e não autoral?
Otto Taurus – Obrigada pela questão Sr. Vândalo. Eu acho que o público nem percebe se não sabe qual língua cantamos. E eu acredito que nós somos tanto uma banda tribute quanto original. Às vezes nosso set ao vivo é 100% cover, às vezes 50 %, e às vezes, 100% músicas originais, dependendo do que sentimos no momento.

15 – China (banda Salário Mínimo) – Capital/SP – Cantando em português, vocês já estão influenciando outras bandas? A língua portuguesa dificulta o trabalho de vocês?
Otto Taurus – Oi China, uma honra te ter aqui! Pode ter sido uma influência para algumas bandas punk fazer músicas em outras línguas. Cantar em português é diferente quando se compõe. Claro que muitos amigos nos ajudaram com traduções e também escrevendo as letras para a gente usar. Quando escrevo sozinho é um tanto limitador o que desejo exprimir. De qualquer modo, acho que cantar em português tem sido só benéfico para a gente. Nós temos uma identidade única por conta disso e isso tem nos ajudado a construir uma conexão com a cena brasileira.
Pedro Anthares – Eu acho que algumas bandas provavelmente perceberam que a língua não importa nesse ramo da arte. Por aqui havia uma banda de black metal cantando em espanhol também. Não sei se isso foi por influência nossa. Para o meu trabalho, a língua não tem muito efeito.

16 – Claudio Bezz (Taurus) – Niterói/RJ – Como é encarado, em seu País, a relação entre trabalho e mercado no mundo do heavy metal? Há apoio de empresas privadas ou do setor público? E como é a relação da educação musical formal, no sentido dos profissionais ligados a Conservatórios e Universidades que a todo ano são despejados no mercado? Consegue-se viver da música voltada para o heavy metal?
Otto Taurus – Isso basicamente não tem nada a ver com a gente. Acredito que as maiores e mais sucedidas bandas são um negócio internacional. Grandes nomes podem conseguir grandes patrocinadores e o melhor dos suportes, mas a maior parte das bandas lutam, na verdade, para sobreviver fazendo gigs e serem pagas. Eu acho que trabalhar como músico tocando a sua própria música é sempre difícil, e especialmente no metal porque há muitas bandas. As habilidades técnicas de músicos novos podem ser arrasadoras, mas isso ou o nível de educação artística não significa que você pode se tornar sucedido.
Pedro Anthares – Sim! Eu acredito que heavy metal é um ramo da música muito comum na sociedade atualmente. As gerações mudam e tornam algo o novo normal. Por sorte, eu não tenho que estar relacionado a isso. Uma vez, estava numa exposição de metal finlandês e que grande merda! Foi apenas uma droga de marketing para negociantes idiotas. Felizmente, estava bêbado para caralho e havia algumas bandas de merda para eu vaiar.

17 – Paulo Sisinno (radialista e professor, Ex-editor da Revista Metal, produtor de programas de Rock e Metal na rádio Fluminense FM Na década de 1980) – Niterói/RJ – Como vocês avaliam, em termos de educação e conscientização, a importância das letras das canções de heavy metal para reforçar ou para destruir ideias errôneas como racismo, segregação e ódio?
Otto Taurus – Gostaria de ver a música conectando as pessoas e quebrando barreiras, mas, infelizmente, algumas músicas do metal têm sido usadas para promover ideias opostas, como o racismo, fascismo, misoginia e etc. Você sempre pode influenciar algumas pessoas pro bem ou pro mal, e algumas pessoas nunca se importam sobre o que as bandas estão cantando.
Pedro Anthares – Parte totalmente de o artista criar suas ideias quaisquer que sejam. Infelizmente mais merda da direita tem sido encontrada no metal.

18 – Felipe Cheruan (bandas Confronto, Norte Quartel e Espaço cultural Gato Negro Pub) – São João de Miriti/RJ – O que vocês e a Finlândia pensam a respeito de Jair Bolsonaro, presidente eleito nas últimas eleições no Brasil?
Otto Taurus – Acredito que é uma pena que brasileiros depositaram suas esperanças nesse filho da mãe repulsivo. Um cara com os valores dele não deveria ser líder de nação alguma.
Pedro Anthares – Ele é muito retardado. Cai fora Bolsonaro! Você é estúpido.

19 – ROCK PRESS: Voltando as perguntas da Rock Press. Falando sobre as músicas da banda como vocês desenvolvem o processo de composição?
Otto Taurus – Nos primórdios, mostrava os riffs mais simples que vinham à minha mente e então lutava para combiná-los com as letras e colocar tudo para fora. Agora, qualquer um de nós pode apresentar uma ideia e tentamos trabalhar nela e às vezes terminamos alguma música. Ainda é algo que parte do instinto, embora nosso estilo e abordagem se tornaram mais variados. As letras podem vir de dentro ou de fora da banda.
Pedro Anthares – É tudo feito sob circunstâncias misteriosas. Compor novas músicas é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe no que vai pôr as mãos.

20 – ROCK PRESS: Vocês podem analisar os álbuns do Força Macabra?
Otto Taurus – Eu acho que Pedro Anthares pode responder essa muito bem. Minha escolha de álbum favorito seria, “25 anos na estrada”, o qual tem músicas de todas as eras da banda com uma produção uniforme.
Pedro Anthares – Nosso primeiro álbum “Nos Túmulos Abertos” foi muito hardcore/punk caótico bem na sua cara! Som sujo e nós o tocamos sempre que dá. O som é abismal, nós o amamos! E ele não é nem muito longo nem chato. “Caveira da força” foi algo mais crossover com thrash-metal. Uma combinação muito boa. Amo a foto colagem na versão de capa dupla. “Aqui é o inferno” é muito do que o Força Macabra tem representado nas últimas décadas. Heavy metal, punk, nosso som próprio… tudo. Eu repensaria na arte psicodélica da capa. Também acho que o resultado do som poderia ter sido mais forte. Até o estúdio foi a coisa mais luxuosa em que já estive.

21 – ROCK PRESS: Vocês já rodaram o mundo com shows undergrounds. Qual foi o melhor momento e qual a maior furada pelos quais a banda passou?
Otto Taurus – Bem, ninguém morreu então tem sido tudo muito bom em retrospecto. A última turnê no Brasil foi ótima e a longa turnê europeia, em 1997, teve vários altos e baixos.
Pedro Anthares – A turnê no Reino Unido quinze anos atrás foi um pouco dolorida para mim, pois estava com uma terrível infecção no pâncreas ou algo do tipo e estava morrendo de dor o tempo todo. A última passagem pelo Brasil foi perfeita!
Abutre – Em relação a turnês, tenho lembranças tenras de tocar ao lado de Kuolema em 2005 no Brasil, e em 2008 nos Estados Unidos.

FORÇA MACABRA + KOVAA RASVAA – BRASIL 2018

22 – ROCK PRESS: Há alguns anos, algumas bandas brasileiras dos anos 1980 voltaram à ativa, gravando discos e realizando shows. Surgiu uma nova geração de fãs para essas bandas, gente que até então, não tinha acompanhado o trabalho desses nomes. Particularmente, vejo que, de certo modo, vocês têm influência nesse revival e no reconhecimento dessas bandas, afinal vocês apresentaram o metal e o punk brasileiro dos anos 1980 para uma geração de jovens que já nasceram fãs de vocês, mas que nem conheciam as bandas brasileiras que lhes influenciaram. Vocês concordam com essa observação?
Otto Taurus – Se nós temos sido algum tipo de inspiração para as pessoas que estudam bandas clássicas brasileiras, isso é ótimo. Mas, não contaria muita vantagem com isso. Eu acredito que uma banda clássica voltando à ativa inspira outras a achar que “nós deveríamos fazer isso também” e a coisa se desenvolve, e isso é ótimo porque não há muitas músicas boas que essas bandas fizeram.
Pedro Anthares – Sim, percebi isso. É engraçado.

23 – ROCK PRESS: Em três tours pelo Brasil, vocês já tocaram em algumas capitais e cidades do país. Onde vocês gostariam de tocar e ainda não tocaram? E o que gostariam de realizar no Brasil?
Otto Taurus – Sim, se nós fizermos outra turnê seria legal visitar algumas novas áreas como Nordeste ou Manaus. Espero que possamos manter as amizades que criamos, fazer alguns releases e esperançosamente, que nós possamos fazer outra turnê organizada algum dia.
Pedro Anthares – Gostaria de tocar em Manaus. Uma grande cidade no meio da selva. Fortaleza e Recife também são locais empolgantes pra caralho.!

24 – ROCK PRESS: Nas vindas ao Brasil, vocês estão sempre tocando sons de bandas brasileiras (Armagedom, Taurus, Metalmophose, Dorsal Atlântica…). Qual o ponto forte na escolha dessas músicas?
Otto Taurus – Quando estamos no Brasil, nós escolhemos, às vezes, as músicas pela cidade em respeito aos heróis locais. No Rio, Dorsal, Taurus e Metalmorphose. Em Santo André/SP, Anthares, e em Belo Horizonte, o Overdose. Alguma música do Armagedom deveriam ser tocada em todas as cidades do mundo. Às vezes nossas escolhas nem têm lógica alguma.
Pedro Anthares – Essas músicas se encaixam tão bem na banda! Eu escolheria outras também, mas aqui estamos!

25 – ROCK PRESS: Deixe sua mensagem final aos leitores da Rock Press e aos amigos do Brasil?
Otto Taurus – Um enorme obrigado a todos que participaram nessa entrevista. Abraço aos nossos amigos e a quem nos apoia, os vejo novamente algum dia!
Pedro Anthares – É incrível o quão devagar respondemos essa entrevista e o quão devagar somos com tudo. Peço desculpas por isso! Mas os brasileiros não são bons com o tempo também. Então isso seria mais uma conexão? (risos).

FORÇA MACABRA + KOVAA RASVAA – EUROPA 2022

Recomendamos…

Força Macabra é uma daquelas bandas com diversos títulos lançados pelo mundo, e, em diversas versões e formatos de mídia, abaixo reunimos uma extensa discografia. Vale conferir. #Recomendamos. – Michael Meneses!






CONTATOS:
FACEBOOK:
https://www.facebook.com/tumulos
BANDCAMP: https://forcamacabra.bandcamp.com/
INSTAGRAM: https://www.instagram.com/forca_macabra_official/
SPOTIFY: https://open.spotify.com/artist/5eoIRYUDcilmDMrJ6Bi0lg
YOUTUBE: https://www.youtube.com/channel/UCgjAu24nCjA0_-QUKcwsjpQ
PARA COMPRAR O SPLIT: https://criminalattack.minestore.com.br/produtos/forca-macabra-skarnio-split-7

DISCOGRAFIA:
DEMOS:
1º Demo – Força Macabra – 6 Dezembro de 1991
2º Demo – “Para agonia e morte” – 19 Agosto de 1992
3º Demo – Força Macabra – 31 de agosto de 1993
4º Demo – Força Macabra – 12 de julho de 1994

K7s
Trash Till Death – Ao Vivo! K7 – 1996
… Para Atacar!!! DT’93 + Bônus Ao Vivo – 1997
The Lusitanian Incident – 1997
Out Takes 1991 – 2001
Quem Ira Sobreviver… E O Que Restara Deles?

VÍDEOS:
The Dirty Years 1991-2001 – (VHS/ NTSC, Limited Edition) – 2002
Live No Disgraceland – Philadelphia/EUA – Abril 11 2008

SPLITS:
Split 7″ – Força Macabra / Corpus Christi – 1993
Split / K7 – Força Macabra / Uutuus / Selfish – Split – 1993
Split 7″ – Força Macabra / Homomilitia – “Anti – Multinationals” – 1994
Split 7″ – Força Macabra / Crocidileskink – 1997
Split / K7 – Força Macabra / Dischord / Masher – “No Reason To Obey” – 1997
Split / K7 – Força Macabra / Masher – Split Tape – 1997
Split / K7 – Força Macabra /  Masher – Youth Against Fascism
Split / K7 – Força Macabra / Wind Of Pain – Live In Riga (Latvia), Rock Caffe “Mad Mix” – 25/04/1997
Split LP/CD – Força Macabra / Armagedom – 1999
Split CD – Força Macabra / Masher / Mahogany / Vomit Fall – 2000
Split MCD – Força Macabra / Ulster – 2001
Split CD – Força Macabra / Besthöven
Split CD – Força Macabra / Noituus
Split / K7 – Força Macabra / Selfish– The Young Sound Of Modern Finland – 2008
Split CD – Força Macabra / Masher / Sonic Torment / N.C.T. – Living Without Cruelty
Split 7″ – Força Macabra / Skarnio – 2022

ALBUNS:
Nos Túmulos Abertos 12″ LP – 1995
Agonia Final – 666 – 1997
Histeria CD/tape (Mexicano bootleg) – 2000
Força Macabra 7″flexi – 2001
Meus Olhos So Veem Dor 7 (com participação de Javier do Armagedom) – 2001
Nos Túmulos Abertos CD/LP – (repreensagem do álbum de 1994) – 2001
Ao Vivo No Japão 2001 – 2005
Caveira Da Força 12” LP – 2002
Caveira Da Força – 2002
Histeria – Versão Brasileira CD – 2002
A Raiz De Todo O Mal (Edição Metal) – 2003
A Raiz De Todo O Mal (Edição Punk) – 2003
Ao Vivo No Japão 2001 – 2005
Aqui é o Inferno – (AgiPunk/Black Water) – 2008
Vampiros, Fantasmas E Poderes Misteriosos – 2008
25 Anos na Estrada Mas por Favor Não Feche o Túmulo Ainda – 2016

Respostas de 2

  1. Boa noite.

    Parabéns pela entrevista, está bem interessante e completa.
    Esta entrevista me fez relembrar os momentos divertidos que tivemos ao lado dos amigos da Força Macabra e da Kovaa Rasvaa em 2018.

    Abraços de todos da Skarnio,

    Mauro.Skarnio

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