FESTIVAL M.I.T.A. 2023 São Paulo

Em um fim de semana absurdamente quente entre os prédios no centro da selva de pedra que é São Paulo, com (quase) todos os shows começando com pontualidade britânica, numa coordenação muito bem-feita entre os palcos de lados opostos ao Vale do Anhangabaú, aconteceu a edição paulista do “Music Is The Answer” 2023.

FESTIVAL M.I.T.A. 2023 São Paulo
Novo Vale do Anhangabaú – São Paulo/SP

Dias 3 e 4 de junho de 2023
TEXTO: Silvia Cássivi
FOTOS: @arielmartini, @brunnokawagoe, @gabrielsiqueira e @matheusfpv

Tendo como cenário o Vale do Anhangabaú (foto ao lado), agora reformado e preparado para abrigar eventos culturais, a edição paulista do MITA. teve algumas apresentações nacionais diferentes do line up carioca (saiba como foram os shows no Rio de Janeiro AQUI). Assim como na cobertura carioca, A Rock Press conferiu alguns dos principais shows do festival…

Sábado, 03 de junho de 2023

Jehnny Beth – Palco Centro

A francesa Jehnny Beth abriu os shows do palco Centro do M.I.T.A. com a turnê “TO LOVE IS TO LIVE”. Pontualíssima, atraiu o público com uma mistura de rock/eletrônico/industrial, contrastando com o que se viu até então no primeiro dia do festival. Quem estava na plateia se surpreendeu com a sonoridade e versatilidade, indo de som pesado à baladinha e visual destoante das “Lanas” da plateia. Malvina Meinier, vestindo uma legging transparente que a deixou sensual, mostrou mais ainda nos teclados e marcou que não é à toa o sucesso que ela tem alcançado. Arrasando e por vezes revezando o vocal, a dupla cantou seus sucessos, dançou, sensualizou e definitivamente conquistou novos fãs.

Já o baixista, Johnny Hostile também mostrou ao que veio na excelente conexão com as meninas e na potência da dupla que faz com Beth também na banda Savage (que ela faz questão de dizer já ter se apresentado no Brasil em 2014) e fora dos palcos, já que é casado com ela.

No meio do show, Jehnny Beth desceu para frente do palco, fez fotos e, levantada por fãs, cantou, filosofou sobre existência sob medos e declarou que “não nos preocuparemos com medos” para, logo em seguida, começar a rave em pleno Vale do Anhangabaú com batidas fortes ‘puxando’ a plateia para dançar enquanto ela voltava ao palco. Fazendo elogios ao inglês dos brasileiros, ela chamou a galera para cantar a música seguinte, “More adrenaline”. Não bastassem todos dançando e cantando, ela chamou a plateia para pular e teve seu pedido atendido.

A festa rave estava instaurada. Logo, foi a vez de Johnny se divertir e fazer muito barulho, seguido por Beth e Malvina cantando mais e mais alto “How could you”. Malvina assumiu o vocal. A música é uma paulada que mostra o quão versátil ela consegue ser. Quando anunciaram o cover de “Closer” do Nine Inch Nails todos já estavam extasiados pela excelente apresentação e o trio não decepcionou! O show terminou com “I´m the man”, trilha da aclamada série ‘Peaky Blinders’, e todos boquiabertos com o que tínhamos acabado de ver.

BADBADNOTGOOD – Palco Centro

Eram 15:30, horário de Brasília, quando “War Pigs” (Black Sabbath) começou a tocar no Vale. Era a introdução para o incrível show da banda de Toronto BadaBadNotGood. Surpresa no meio de um festival de música alternativa, o som da banda canadence não chamou muito a atenção dos mais desligados e/ou fãs exclusivos da Lana del Rey. Uma pena! A pegada agora era outra e o jazz tomou conta de quem aprecia.

Diferente do show do Rio de Janeiro, o show do BadBadNotGood em São Paulo não contou com o mestre Arthur Verocai. Seja como for, a apresentação seguiu polida e bem-feita, mas a interação entre os músicos e deles com o público foi quase inexistente.

BadBadNotGood merece voltar ao Brasil e tocar em um show deles ou em um festival de jazz, para serem apreciados por quem gosta. Vê-los tocando e olhando quase que tristemente para o público destoante foi um desperdício de talento.

Lana del Rey – Palco Centro

A antecipação dos fãs era ainda maior que o tempo que a atração principal do M.I.T.A. levou para pisar no palco. Ao longo do dia se viam centenas de fãs vestidas à caráter, com camisas, bolsas, jaquetas e as famigerada coroas de flores nas cabeças… Era como se as outras bandas estivessem fazendo um dia inteiro de abertura para o show de Lana del Rey. Vendo o tempo passar entre uma banda e outra, era clara a ansiedade de quem chegou cedo aos portões (embora aparentemente nenhum fã tenha pernoitado no Vale do Anhangabaú). Várias pessoas vieram de outras cidades do país somente para vê-la.


Programado para começar às 20:20 e tendo todas as outras atrações sido pontuais, era de se estranhar o porquê de o show demorar tanto para finalmente ter início. Com gritos e coros de “eu te amo”, o clima mudou em muitos momentos para vaias. Passados 40 minutos após o previsto, toda frustração deu lugar ao êxtase quando músicos da banda e dançarinas subiram ao palco ao som de “Nature boy”. Logo depois, Lana surgiu cantando “A&W”, hit do mais recente álbum, “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd”.

Sucesso atrás de sucesso, o show coreografado e intensamente visual, trouxe um cenário para chamar atenção de todos, fãs ou não. As trocas de roupas (também com certa demora) faziam o público vibrar a cada movimento da cantora. Imagens no telão de fundo eram um show à parte, com o já conhecido e lindo estilo ‘americana’ da cantora novaiorquina de 37 anos. Para cantar “Pretty When You Cry”, do aclamado álbum ‘Ultraviolence’, ela e suas dançarinas se deitaram no palco e a cena foi mostrada de cima, criando um efeito visual lindíssimo e trazendo os fãs às lágrimas. Já enquanto cantava “Ultraviolence”, uma de suas bailarinas dança no centro do palco, numa coreografia com o piano. E mais uma vez o mega sucesso, juntamente com as imagens, chamam a atenção para o quão estético é todo o show. Não bastasse a emoção trazida pelas cenas, Lana del Rey desceu para a frente do palco, fez fotos com os fãs, abraçou e se deixa tocar por alguns sortudos que passaram o dia na grade esperando por esse momento. A doçura com que ela trata as pessoas encanta.

Após pedir aplausos para Byron Thomas, seu pianista, Lana se sentou sensualmente em cima do piano e canta “Candy Necklace”. Mais lágrimas e emoção vindas da plateia. Ela agradeceu ao público que a esperou tanto, não somente no dia do show, e às pessoas que com certeza continuariam cantando a noite toda. Poderia dizer muitas coisas, mas simplesmente passou o recado cantando “Video Games”, seu principal hit.

Sentada num balanço enfeitado com flores, ela terminou o show mais esperado ao som de “Nature boy”. Se despediu dos fãs e o recado dito foi o mesmo escrito no telão: “Deus os Abençoe”.

Domingo – São Paulo, 04 de Junho

Com um público diversificado e até mais maduro, o segundo dia do M.I.T.A. reunia a energia de um festival de música. Destaque para as atrações que se entrelaçam num line-up bem-feito, um domingo perfeito para divertimento.

Far From Alaska – Palco Deezer

Exatamente ao meio dia, a banda Far from Alaska entrou no palco já mandando o sucesso “Thievery”, de 2013, mas que segue super atual para os fãs. Com energia, a vocalista Emmily Barreto mostrou ao que veio, apresentando um som pesado ao público que foi aumentando e se sentindo à vontade para agitar e ‘fazer roda’ (algo inimaginável de acontecer no dia anterior). A comunicação entre a banda se dava por brincadeiras, danças, pulos e a empolgação era seguida pelo público que só aumentava.

Momento mais relax foi quando tocaram o hit “Olha”, originalmente gravado com Lenine. Porém, entre um som e outro, uma paulada numa pegada de rock com toques eletrônicos. Sem dúvida, a experiência musical faz parte da banda que mesmo com mudanças de formação ao longo dos anos não perdeu a essência.

Lá pela metade do show, entram os esperados convidados, vindos de Vitória/ES: a surpreendente Supercombo. Eis o Brasil super representado com um combo de estilos dignos de um grande festival de música. Léo Ramos, vocalista e um dos fundadores da banda, chamou a galera pra agitar e partiu de onde tudo começou: “Piloto automático”.

A combinação de Far from Alaska e Supercombo resultou num show super bem amarrado. As bandas levantaram a plateia e representaram magistralmente artistas brasileiros no segundo dia de Music Is The Answer.

HAIM – Palco Centro

Badalava 15:30h nos sinos imaginários do Anhangabaú quando se ouviu Xuxa. As meninas do Haim iniciaram com “Ilariê”. Após o megahit brasileiro, as irmãs estavam prontas para entrar no palco. Uma a uma elas chegam demonstrando intensidade enquanto Danielle iniciou “Now I´m in it”, do terceiro álbum.

Para quem não conhecia o trio, o show todo foi uma surpresa. Pessoas o tempo todo comentando o quão impressionados estavam em relação às irmãs (e eu também). A mistura de rock e indie com eletrônico é perfeitamente mostrada, principalmente com a troca de instrumentos e vocais que acontece durante o show. E, falando em surpresas, vale o registro: dias depois da apresentação na etapa carioca do MITA, as irmãs, acompanhadas dos seus pais, visitaram a quadra do G.R.E.S Portela, em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Houve também uma troca energética. Não teve como não notar o quanto tanto artistas quanto público estavam em sintonia. Por diversas vezes se ouviu ‘We Love You’ vindo da plateia. Em determinado momento, elas comentaram o quanto os fãs brasileiros às lembravam do porquê elas fazem música.

Estavam também surpresas por nunca terem estado no país e mesmo assim terem tantos fãs e receberem demonstrações de carinho. Nesse momento, a baixista Este Haim relembrou a passagem pelo festival no Rio de Janeiro e comentou sobre a Xuxa… Eis que, já em São Paulo, por uma coincidência, ela encontrou um boné com nome e xuquinhas da Rainha dos Baixinhos, que ela vestiu, levando o público ao delírio. Ver marmanjo cantando e dançando “Ilariê” foi no mínimo inusitado. Depois de declarações de amor à nossa loira mais famosa, ela virou para a plateia e perguntou se todos estavam prontos para cantar “Want You Back”.

Com declaração de amor à Florence, do Florence + The Machine, as brincadeiras continuaram. Dessa vez temos que escolher para onde a noite vai continuar: Rua Augusta ou The Edge. O público se acabando e elas continuaram dizendo que não queriam ir embora. Para onde ir? Numa vibe R&B elas cantaram “3AM”, tudo a ver com a pergunta. E a vez da música favorita do set: “Gasoline”. Dessa vez, a vibe da música, que foi gravada em colaboração com Taylor Swift, foi mais sexy.

O tempo todo conversando com o público, elas convidaram o saxofonista e pediram para que ele tocasse algo especialmente para São Paulo. Finalizaram o fantástico show com ‘The steps’, do álbum “Women in Music Pt. III”, que deu a elas indicações ao Grammy. A autêntica satisfação das irmãs Haim fez do show ao vivo uma festa e deixou gosto de quero muito mais no público.

The Mars Volta – Palco Deezer

Antecipado por fãs que foram ao MITA somente para ve-los, The Mars Volta aclamando ‘jazz para todos’. O vocalista e um dos fundadores da banda mais rock do festival, Cedric Bixler-Zavala, literalmente dançou com o microfone e a primeira música do set, ‘Roulette Dares’, mostrou o porquê de um público cativo. Uma galera mais madura agitou junto com os músicos que interagiam entre si em passos e gestos. A banda, vinda de El Paso, no Texas, fez a plateia vibrar com a musicalidade que muitos demoram para alcançar. É de outro nível.

A francesa Linda-Philomène Tsoungui foi impecável na bateria o tempo todo! E foi visível a satisfação dela em fazer parte daquele momento. Entre sucessos, Cedric comentou o show de 2003, o quanto sentiu falta do país que tanto ama, fez uma piada sobre futebol e o baixista argentino, mas dedicou o show somente para os brasileiros.
Não importa se falando ou agitando, sempre a boa música tocava de fundo. O show terminou com ‘Inertiatic ESP’. Fãs queriam bis, mas muitos se viram indo embora, estavam ali somente para The Mars Volta.

Florence + The Machine – Palco Centro

Assim como num monólogo teatral, sem cenário elaborado, figurantes enfeitados nem efeitos exagerados, Florence Welch chegou pontual no Palco Centro, ao lado do Teatro Municipal, no centro de São Paulo. E aos que achavam que Florence + The Machine eram uma Lana del Rey, não sinto nem um pouco em lhe dizer: vocês estavam completamente enganados.

Com fundo escuro e luz somente nela, Florence surge como uma fada num vestido verde de renda. Descalça, apenas sua potente voz era necessária para fazer um dos melhores shows de todo o festival. A primeira música, ‘Heaven Is Here’, era só uma introdução “simples” para o que vinha. O mega hit ‘King’, do album “Dance Fever” (2022), simplesmente fez todo mundo que estava no Vale do Anhangabaú dançar e cantar enquanto ela deslizava lentamente pelo palco, parando estrategicamente para agraciar os fãs. ‘Ship To Wreck’ botou todos para agitar, seguido por outros sucessos “Dance Fever”, ‘Free’. E se é para dançar, teve também “Dog days are over”. O público literalmente fez o chão tremer! Nesse momento, ela pediu para todos deixarem os telefones e se abraçarem, que curtissem o momento. De volta à música com mais força ainda e, como combinado, pediu para o público pular. O chão parecia que iria nos engolir de tanto que balançava.

Ela desceu à frente do palco, e se deixou abraçar, acarinhar, fotografar e começou ‘Dream girl evil’. Então, foi levantada pelos fãs em uma cena emocionante de se ver. Enquanto cantava ‘Big God’, ainda à frente do palco, a música se tornou secundária. Estávamos vendo um ritual acontecer. Florence deitou nos fãs que estavam na grade.

Calmamente ela voltou, caminhando devagar no palco escuro. Tendo somente uma luz sobre ela, víamos apenas sua sombra. Chegou a hora de “Kiss With a Fist”, que botou a plateia pra dançar novamente enquanto Florence insistia que não queria ver ninguém parado!

Ao fim, a banda voltou para atender a um pedido especial dos fãs. Sem tempo, ela mesmo disse que gostaria de agraciar o público com uma música que há tempos não cantava ao vivo: ‘Never let me go’. Lindo!

Outros Destaques do MITA em SP!

No sábado, NINA comentou emocionada que iniciou sua carreira com covers de Lana del Rey e que estava feliz em fazer parte do mesmo festival que ela! Natiruts botou a galera pra cantar, dançar e relembrar sucessos e momentos de tempos atrás. Sem dúvida mereciam mais espaço. Já no domingo, Capital Inicial veio com um show embalado de sucessos e não teve quem não conhecesse a maioria do set. Os paulistas NX Zero agradaram em cheio o público, e a esperada homenagem à Chorão do Charlie Brown Jr foi discreta, porém emocionante. Que venha o MITA 2024. #Aguardemos! – Silvia Cássivi.


Silvia Cássivi, é atriz, escritora, criada na Baixada Fluminense e depois de algumas idas e vindas pelo mundo, está em São Paulo. Também trabalha como intérprete trilíngue, modela e ocasionalmente aceita passeios com cachorros.

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