BIKINI KILL: Banda faz show empoderador em São Paulo em sua primeira vinda ao Brasil!

Na semana internacional da mulher a Audio/SP recebeu um show revolucionário e que segue pela América do Sul, falamos da banda norte-americana Bikini Kill, que mesmo em dia de temporal na capital paulista, arrastou uma multidão de várias partes do país em sua primeira apresentação no Brasil. A noite ainda contou com shows energéticos das bandas Florcadáver, Bertha Lutz e The Biggs. A Bikini Kill volta à São Paulo dia 14 de março e ainda restam ingressos à venda. Leia mais na matéria que segue.

Bikini Kill + Florcadáver+ Bertha Lutz + The Biggs
Áudio-SP – São Paulo/SP

Terça-Feira, 5 de Março de 2024
TEXTO: Larissa Oliveira
FOTOS: Carlos Delagusta

Desde o século XX que o mês de março tem sido marcado como o mês da mulher. O dia 8 deste mês foi estabelecida como data comemorativa devido à união e lutas de mulheres operárias estadunidenses e soviéticas. Porém, a luta tem ganhado outros contornos e faz parte da agenda de um feminismo plural, que abrange diversas causas como o assédio, o racismo e o protagonismo feminino. Esses contornos alcançaram o mundo da música, em especial na era punk dos anos 1970 e mais fortemente na década de 1990. Jovens mulheres entendiam que uma ampla abertura do mercado de trabalho na década anterior não era suficiente e que ainda havia muito pelo que lutar contra o patriarcado. Foi assim que o movimento punk feminista Riot Grrrl surgiu nos EUA encabeçado pelo quarteto Bikini Kill e teve suas sementes espalhadas por vários países, incluindo o Brasil, com bandas como Bulimia e The Biggs.

Olhando em retrospectiva, o capítulo da luta das mulheres do rock tem sido um dos empoderadores, uma vez que houve uma explosão de bandas lideradas por mulheres na última década do século XX, com a maioria engajada contra o patriarcado. E é por isso que a noite de 5 de março de 2024 foi histórica para o punk nacional. Milhares de pessoas de diferentes gerações (e do Brasil), que têm suas vidas marcadas pela atividade punk, seja por bandas, por fanzines ou qualquer outra forma DIY (faça você mesmo) de arte, estavam, ao mesmo tempo, incrédulos e em êxtase com a vinda inédita da banda mais revolucionária do punk feminista ao Brasil, nesse caso em São Paulo, no espaço Audio. Nem o dilúvio que lavou a cidade conseguiu apagar os ânimos.

Florcadáver: Power trio com guitarras dissonantes iniciando os trabalhos!

A iniciativa da Associação Cultural Cecília e da DaTerra Produções trouxe em sua abertura o trio de SP/BH shoegaze, Florcadáver, formado por Theodora Charbel (voz e bateria), Amanda Buttler (baixo e backing vocal) e Célia Regina (guitarra e backing vocal) que entre outros sons, levou seu single de estreia, ‘Baleia’, e agitou a plateia com sua guitarra dissonante. Entre os shows das bandas, o som da casa era comandado pelas DJs Camillajaded e Erikat que puxavam o coro de fãs de bandas seminais para o punk feminino como Blondie e Siouxsie and the Banshees.

Bertha Lutz: HC feminista sapatão riotgrrrl antirracista e anti-CIStema!

O segundo show da noite foi marcado pela mineira Bertha Lutz: Bah Lutz (vocal), Gabi Araujo (guitarra), Julie Moura (guitarra) Rafa Araújo (baixo) e Nanda Kah (bateria) que carrega o lema hardcore feminista sapatão riotgrrrl antirracista e anti-CIStema desde 2006 traduzido nas canções do seu EP e presentes naquela noite ‘Minha Resistência é Minha Revolução’. Além disso, o público se emocionou com a participação ilustre de uma das pioneiras do riot grrrl nacional, Ieri, vocalista do Bulimia.

Uma resistência chamada The Biggs!

Como se não fosse o suficiente para aquela convenção riot, ainda tivemos outra pioneira, The Biggs: Flavia (vocal, guitarra), Mayra (baixo, vocal) e Brown (bateria). Importante nome da cena rock de Sorocaba/SP. A banda está em atividade há 28 anos e mantém o mesmo vigor por meio de suas demos e dois álbuns ‘Wishful Thinking’ e ‘The Roll Call’. Um dos momentos mais importantes do show foi a performance de (Battle) fields com Flávia falando sobre os perrengues que The Biggs teve que enfrentar ao longo de sua trajetória, mas foi muito importante ver uma das bandas pioneiras do riot brasileiro mais unida do que nunca.

Bikini Kill: Valeu (MUITO) a pena esperar!

O retorno do Bikini Kill após um hiato de 1997 a 2019 foi essencial para reascender o espírito riot grrrl, uma vez que ainda lutamos contra preconceitos, guerras e o avanço da extrema-direita, que é uma ameaça constante aos direitos das mulheres e outras minorias. Kathleen Hanna (vocal), Kathi Wilcox (baixo, vocal), Sara Landeau (guitarra) e Tobi Vail (bateria, vocal) pareciam estar no início da carreira ao se mostrarem visivelmente emocionadas e empolgadas com o público brasileiro que por muitas vezes cantava tão alto que era difícil ouvi-las. Kathleen trouxe uma de suas marcas que é fazer dancinhas e caretas, improvisou um canto com a palavra ‘feminist’ e ainda pausou para receber fanzines que não paravam de chegar da plateia, inclusive os meus. Os fanzines têm um papel fundamental no riot grrrl, já que Bikini Kill começou como um do mesmo nome e eles são uma mídia essencialmente autoral e política e de fácil disseminação pelo mundo. Mas ver a banda receber e falar sobre fanzines no show foi uma reafirmação de que permanecem necessários e vivas.

Ainda sobre fanzines, a baterista Tobi Vail, pioneira no fanzine punk e feminista, tomou várias vezes a frente do palco com seus óculos escuros e portando uma camiseta da banda trans feminista G.L.O.S.S. (Girls Living Outside Society’s Shit) sendo que o ativismo trans foi pauta do Bikini Kill naquela noite. Muitas mulheres começaram a gritar o lema principal da banda ‘Girls To The Front’ em queixa aos homens cis que tomavam a frente da plateia. Kathleen Hanna interrompeu o show para dizer que não tinha como saber a identidade de gênero de alguém apenas pela aparência e que pessoas não-binárias e queer eram bem-vindas(es) nos shows do Bikini. Sendo assim, por mais que o evento tenha sido muito nostálgico, também dialogava com os avanços feministas do seu tempo. Como fanzineira riot grrrl interseccional graças à banda, foi um verdadeiro momento punk ver tantas mulheres cis e trans e pessoas não-binárias que se entreolhavam, seguravam umas às outras para que não caíssem e cantavam juntas.

Em dado momento, Kathleen pediu para dizermos ‘oi’ para quem estava do nosso lado. Apesar de cada pessoa ter a sua própria história com a banda, tudo se torna mais poderoso quando estamos em coletivo e lutamos juntas. Músicas como ‘Feels Blind’, ‘Alien She’ e ‘Suck my left one’ causaram euforia, mas nada se compara ao bis com ‘Double Dare Ya’ e o maior hino feminista de todos os tempos ‘Rebel Girl’.

Ademais, o som da Audio estava impecável, com as bandas soando como nos discos e os horários dos shows foram respeitados. A noite também contou com merch de camisetas e pôsteres e com a distribuição gratuita de uma edição do fanzine Distúrbio Feminino que contém uma entrevista exclusiva com o Bikini Kill.

Para refletir…
Imagine um mundo sem Bikini Kill e o riot grrrl. Há 33 anos, não havia uma banda que dialogasse diretamente com o preconceito diário vivido por meninas, mulheres e pessoas não-binárias. Várias adolescentes descobriram Bikini Kill porque uma amiga emprestou uma fita K7, ou por fanzines, ou ouvia outra banda mencionar como inspiração, e no meu caso, por meio da história de Kurt Cobain. Muitas dessas pessoas se sentiram encorajadas a começarem suas próprias bandas, a se tornarem ativistas, fanzineiras e artistas, de modo geral. Comecei a fazer fanzine aos 20 anos devido à banda e do fanzine de Tobi Vail, Jigsaw Youth. No mesmo ano fiz minha primeira tatuagem riot grrrl no pulso e criei minhas páginas no Facebook e Instagram para divulgar o meu trabalho como zineira. Comecei também a pesquisar outras bandas contemporâneas ao Bikini como Bratmobile e Huggy Bear, e as nacionais como Dominatrix e Anti-Corpos. Se tem algo que o Bikini Kill e o riot grrrl nos ensinou é que devemos levar o ativismo riot para frente do nosso jeito, mas prezando pelo coletivo. Sendo assim, que nosso amor pela banda e êxtase pela sua vinda sejam combustíveis para continuarmos apoiando quem está na cena independente e lutando pelo fim do patriarcado. O individualismo corrói qualquer chance de um feminismo real e a noite de 5 de março de 2024 foi essencial para entendermos que não é apenas em março que devemos resistir e nos unir.

Recomendamos…
A vinda do Bikini Kill não é apenas inédita no Brasil. Elas também fazem sua estreia na América Latina com shows no México, Chile, Argentina e Peru. Para quem perdeu ou quer sentir mais uma vez o sabor da revolução ao estilo das garotas, Bikini retorna a São Paulo no dia 14 de março também na Audio e com abertura de As Mercenárias (com participação Paula Rebellato), Punho De Mahin, Weedra e novamente com a presença das DJs Camillajaded e Erikat. Ainda há ingressos disponíveis. Confira o serviço abaixo. #Recomendamos! – Larissa Oliveira.

Bikini Kill + As Mercenárias (Com participação Paula Rebellato)
+ Punho De Mahin + Weedra – Data Extra em São Paulo

SERVIÇO:
DATA: 14 de março de 2024, às 18h.
LOCAL: Audio SP – Av. Francisco Matarazzo, 694 – Barra Funda – São Paulo/SP
SHOWS DE ABERTURA: As Mercenárias (Com participação Paula Rebellato) + Punho De Mahin + Weedra
DISCOTECAGEM: Camillajaded & Erikat
INGRESSOS: Antecipados no site Ticket360, nas bilheterias da Audio SP e na Associação Cultural Cecília.
REALIZAÇÃO: Associação Cultural Cecília e DaTerra Produções.

ARTE DO CARTAZ POR: Silvana Mello.

LARISSA OLIVEIRA – Sergipana atualmente no Rio de Janeiro, é pedagoga e professora de idiomas (Inglês e Francês), escritora e editora dos Blogs A Redoma de Vidro e Mulheres da Geração Beat (e Women of the Beat Generation), escrevendo também para o Cine Suffragette e Portal Rock Press. Atua como zineira bilíngue e riot grrrl no @iwannabeyrgrrrlzine e como tradutora de artigos e livros. Não vive sem praia, CDs e batom.

4 respostas

  1. Matéria espetacular e completíssima sobre esse show catártico que foi, sem dúvidas, um dos melhores dias da vida de muita gente qua tava ali!

    PS. A guitarrista atual da Bikini Kill e que tocou no show é a Sara Landeau, a Erika Dawn Lyle não toca mais com elas.

    1. Obrigado pelo toque Lela, já efetuamos a correção e também agradecemos sua leitura, esteja sempre presente aqui e nas redes sociais da Rock Press! Abraços. – O Editor!

  2. Texto espetacular! Essência é tudo!
    Só senti falta da banda Menstruação Anárquica nesse role são grandes percussões aqui talvez a maior referência nacional.
    E com certeza depois desse show vamos ter um nova geração de fanzineiras!!! Parabéns Larissa!

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