Banda veterana carioca lança mais um disco pós pandemia com letras políticas e atitude assertiva. A Rock Press aproveitou o lançamento e o intervalo na agenda para um papo com a banda na coluna 1, 2, 3, 4…
THE DEAD SUNS: A Luta Continua!
ENTREVISTA Leozito Rocha
FOTOS: Divulgação
Fim de ano (2023) havia chegado e a banda carioca The Dead Suns colocava nas redes seu mais novo trabalho, o superbacana “A Luta Continua!”. Saiu ao fim de dezembro do ano passado. Quase no equinócio para esse ano.
Por volta de fevereiro desse ano tive a oportunidade de assistir na Audio Rebel (Botafogo – RJ) um show deles baseado nesse disco novo. Dentro do Festival da Rockarioca de Pedro Serra. Foram três dias de ótima música e afinidades artísticas. Francisco Kraus, Mauk Garcia, Renato Fernandes e Robson Piva ao vivo em formação clássica.
Ali mesmo eu reforçara o convite para essa entrevista. Havia feito ainda em janeiro, porém as agendas teimaram em não bater. Sobretudo, depois de uma série de encontros e desencontros conseguimos fazer e tudo fluiu como no show… (risos). Com atitude, clareza e espírito inquieto.
THE DEAD SUNS – ENTREVISTA
1 – Leozito / Rock Press: Parabéns pelo novo trabalho. Escutei e curti demais… Nos conte como foi o processo de gravação e seleção de músicas.
Mauk Garcia: Assim que a pandemia acabou a gente estava seco para voltar a alguma normalidade, então resolvemos botar o barco para andar né? Marcamos alguns ensaios e como já tínhamos uma certa vontade de lançar um disco novo e tínhamos algum material (a pandemia deu muito material para pôr em canções, eu compus bastante nesse período) selecionamos dez canções, fizemos arranjos, e gravamos. Só não tenho mais certeza se o Yuri saiu antes ou logo depois da Pandemia e veio a entrada do Robson Riva. Fizemos algumas sessões de gravação e mix entre Agosto e início de Novembro de 2023 no La Cueva (estúdio).
2 – Rock Press: Por que o trabalho chama-se “A Luta Continua”? Algo em especial?
Francisco Kraus: Por conta de todo o momento político no Brasil e no mundo, e por conta de tudo o que passamos durante a pandemia, potencializado por um (des)governo de extrema direita, com um energúmeno anti-cultura no poder, além, óbvio, do reflexo disso nas músicas. Buscamos um título que tivesse a ver. “A Luta Continua” era uma frase que o Jonathan Demme sempre colocava no final dos créditos de seus filmes e que também era o nome de um disco lindo do Durutti Column: LC (Lotta Continua). Fazia todo o sentido ter esse nome, em português, nesse disco.
3 – Rock Press: O The Dead Suns me remete a muita coisa… Sobretudo, se formos pensar no background e nas bandas que o Kraus já teve. Mas também do Mauk Garcia e Robson Riva. Como vocês enxergam o cenário atual musical e onde o Dead Suns é inserido?
Francisco Kraus: O Dead Suns é uma banda de rock num cenário em que a cena rock já quase não mais existe. Assim: não nos vemos inseridos na cena. Sobre as referências e nosso background, eles fluem pelas canções, enfileirando as influências que vão de nossas bandas anteriores, como o Second Come, no meu caso, até Clube da Esquina, Jesus and Mary Chain, 70s, pós-punk, Carole King… tudo isso está lá, de alguma forma.
Mauk Garcia: O cenário da Música deu uma cambalhota, né? De uns tempos para cá tudo mudou. Com a força que os aplicativos entraram no mercado de música, além de todo o jeito que as pessoas consomem e encaram música; uma nova maneira de acesso foi imposta. Hoje em dia os artistas têm toda a facilidade para fazer música e conseguir colocar seu trabalho na “praça”… Nós estamos compondo o tempo todo e vamos aproveitar todas essas facilidades que o mundo moderno nos oferece, não me preocupo em como nos inserimos, mas sim como estamos fazendo. Nós estamos na música há tempos, então já estamos inseridos na cena de qualquer modo. Queremos transformar em música nossas percepções e devolver para o mundo.
4 – Rock Press: Como foi o confinamento durante a pandemia? Isso alterou a forma de como pensavam música e seus processos de ensaios e gravações?
Mauk Garcia: Para mim foi um mergulho no mundo interior que guardamos. Fiquei com meu pai no início, depois minha filha e filho começaram a ficar aqui. A música foi a válvula de escape onde compor me ajudou muito. Foi terapêutico criar riffs, músicas e letras. Pus para fora sentimentos, exorcizei os dias e noites… Compus para todas as bandas que toco como Mauk & Os Cadillacs Malditos, A Grande Trepada e Estranhos Românticos… Pro The Dead Suns algumas ideias foram para o “A Luta Continua”.
Francisco Kraus: Com certeza isso mudou TUDO. Das composições aos ensaios. Foi estranho, sombrio, triste, desesperançoso, entediante, frio. Há um pouco de tudo isso nas canções. Da distância à morte. Da saudade aos encontros. Do momento político de extrema direita à virada no Brasil. Acho que o disco tem uma coisa mais sombria por conta disso. Talvez, noutro momento, fosse mais solar. Acho que não. (risos).
5 – Rock Press: Falando ainda sobre o futuro e processo de gravação… Há a hipótese de lançar em formato físico o trabalho novo? E como estará a agenda de shows de vocês em 2024? Já que essa é a última, já emendamos aquele recado final do artista para os leitores da Rock Press. Por favor…
Francisco Kraus: Há sempre a vontade de lançar em mídia física. Ele foi pensado como um LP. Mas o custo é muito alto. Seguimos com a vontade… Sobre a agenda, somos preguiçosos demais pros corres de shows. Gostaria de fazer mais, mas gostaria de ter alguém para agitar isso. Mas é difícil arrumar shows para uma banda de rock onde a cena rock não existe. Apoiem artistas independentes. Vão aos shows! Comprem discos, CDs, camisetas, etc. A cena “Rock Brasil” dos anos 80 aconteceu por conta disso, da compra das fitas demo, dos shows no Circo Voador em que você ia para ver um artista e conhecia outros quatro tão bons quanto. Experimente. Não há nada mais careta, cringe, o nome que for, do que reclamar “que nada acontece”. Sejam como a Rock Press: apoiem as bandas! Criem espaços e frequentem esses espaços. Montem sua própria banda, faça seu próprio som, lute! A Luta contina.
Mauk Garcia: Não desista porque o mundo parece querer voltar para tempos sombrios, onde a insanidade de uma extrema direita parece querer tapar o sol. O mundo precisa mais que nunca de quem não aceita toda essa falsidade e defenda os direitos iguais e humanos para todos… Vamos para cima! A Luta Continua.
Recomendamos…
O The Dead Suns tem shows confirmados na Audio Rebel (RJ), o primeiro, dia 13 de julho com as bandas Eterno Grito e Second Come e no dia 1 de setembro, no MAUKFEST 5.4 com Mauk & Os Cadillacs Malditos e Estranhos Românticos. #Recomendamos ambos! – Leozito Rocha.
THE DEAD SUNS – CONTATOS:
INSTAGRAM: @the_dead_suns
FACEBOOK: www.facebook.com/thedeadsuns
BANDCAMP: www.thedeadsuns.bandcamp.com
YOUTUBE: https://youtube.com/channel/@TheDeadSuns
Leozito Rocha – É radialista, pesquisador musical, escritor e amante de cinema. Colaborador de sites musicais, curador de rádio, editor e apresentador do “O Som do Leozito” na Internova Rádio (OUÇA), e observador incurável. Seu facebook é: https://www.facebook.com/leo.rocha.798/
Uma resposta