A PROFESSORA DE VIOLINO – Uma aula de inteligência e sensibilidade

Estreado no Brasil em 2022 e disponível em streaming, o filme “A Professora de Violino” faz uma imersão no ambiente da música clássica, a partir da convivência de uma professora e seu promissor aluno. Destaca-se a intimidade da produção com o mundo musical, mas o grande mérito da obra reside na inteligência e sensibilidade da diretora Ina Weisse e da roteirista Daphne Charizani no trato das relações humanas e a grande atuação de Nina Hoss.

TEXTO: Robert Moura
FOTOS: Divulgação

Limites. Esta é a palavra-chave para nos guiar no filme “A Professora de Violino” (título original: Das Vorspiel/The Audition), drama psicológico da diretora Ina Weiss que co-assina o roteiro com Daphne Charizani. Lançado em 2019, a produção feita entre Alemanha e França só chegou aos cinemas brasileiros em 2022, e encontra-se atualmente disponível em streaming (AQUI). O enredo trata da relação entre a professora Anna Bronsky (interpretada por Nina Hoss, vencedora do Prêmio de Melhor Atriz no Festival de San Sebastian por sua atuação no longa) e seu aluno Alexander Paraskevas (Ilja Monti), além das convivências dela com seu filho Jonas (Serafin Mischiev), o marido Philippe (Simon Abkarian), seu pai (Thomas Thieme) e os colegas da escola na qual leciona, ajudam a compor o tenso meio em ela vive.

O universo musical, e nesse caso o foco é a música clássica, é muito bem representado em relação ao seu ensino, sem cair em uma romantização exagerada como seria provável que acontecesse em um enredo como esse. O aluno promissor, mas ainda imaturo, é reprovado em um teste. No entanto, ele encontra uma professora que acredita e aposta em seu potencial. Nesse ínterim, o filme provoca uma reflexão em relação aos limites da exigência para se atingir uma alta performance e determinar até qual ponto se pode e deve cobrar o aprendizado de uma criança/adolescente (em razão disso, o filme é muito recomendado a professores, especialmente de conservatórios e academias, que muitas vezes contribuem para o abandono de possíveis carreiras de seus alunos). Sensibilidade e sabedoria para compreender e estabelecer limites são fundamentais, ainda que seja necessário manter o rigor dos estudos.

No intricado roteiro, temos Jonas, filho de Anna, aparentemente da mesma idade de seu aluno Alexander, que também estuda violino. Porém, Jonas é aluno de outra professora do mesmo conservatório no qual Anna trabalha. Essa relação, assim como o comportamento tirânico do avô (pai de Anna), colabora para que Jonas se sinta mais retraído e intimidado em seus estudos. Os enlaces explicitam como muitas vezes professores ocupam o lugar dos pais na educação de seus filhos e no plano afetivo. A intimidade da produção com o ambiente musical é percebida em detalhes como o perfeccionismo de Anna que gera inseguranças profissionais misturada a uma patologia (ela desenvolve um tremor na mão direita) que faz com que a mesma evite o palco. Assim como seu filho sofre com o avô, Anna também foi vítima da crueldade do pai. Seu marido, com quem vive um relacionamento morno e burocrático, é um luthier (construtor de instrumentos musicais) que também não deu sequência a uma carreira musical. Um mote articulado para tratar de relações humanas, envolvendo ciúme, vaidade, inveja, carência, aspirações e decepções.

Com passagens em aulas, ensaios e apresentações nas quais obras de Bach, Vivaldi, Schubert, Brahms, Mendelssohn (em uma gravação de Yehudi Menuhin), Paganini e Max Bruch, entre outros nomes da história da música podem ser ouvidas, é uma estratégia astuta a não inclusão de uma trilha incidental. Quando a música sai de cena, são os ruídos e silêncios que se tornam a trilha sonora, criando um interessante contraponto com as cenas musicais. Aliás, musicistas hão de se surpreender com o conhecimento de causa sobre sua arte no filme. “A Professora de Violino” apresenta um recorte muito convincente desses estranhos seres chamados músicos, porém o foco mesmo da trama são as relações humanas que foram tratadas com muita inteligência e sensibilidade. E, voltando aos limites, o filme nos faz ver, o quanto é necessário reconhecê-los, até mesmo para que depois se tente ultrapassá-los. – Robert Moura.

FICHA TÉCNICA:
A PROFESSORA DE VIOLINO
– Alemanha/França | 2020 | Drama | 100 min | 16 anos | FILMICCA Distribuidora
DIREÇÃO: Ina Weisse
PARTICIPAÇÕES: Nina Hoss, Simon Abkarian, Serafin Mischiev, Ilja Monti, Jens Albinus.

ONDE ASSISTIR: www.filmicca.com.br ou nos apps para Android (smartphone e tablet), iOS (iPhone e iPad), Apple TV, Android TV, Smart TVs Samsung (Tizen) e Amazon Fire TV. Chromecast disponível no app Android e AirPlay disponível no app iOS.

ROBERT MOURA – É natural de Belo Horizonte. Doutorando em Música (UFRJ), mestre em Artes (UEMG) e bacharel em Música (UEMG). Fundador e professor da Alaúde Escola de Música. Tocou guitarra em bandas de rock na capital mineira. Atualmente, seu trabalho está focado no violão clássico e composição. Em 2021, lançou o EP digital “Ensaio Para A Morte” com a trilha sonora que compôs para a peça homônima.

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