TEMPO: A consolidação da retomada de Shyamalan

Com seu mais novo filme, “Tempo”, M. Night Shyamalan emplaca uma sequência de filmes que tiveram uma boa aceitação tanto de público quanto de crítica, após ter passado por uma fase com longas contestados.

TEXTO: Nilvio Pessanha
FOTOS: Divulgação

Diretor de sucessos como “Sexto Sentido”, “Corpo Fechado” e “Sinais”, M. Night Shyamalan viu sua carreira entrar numa fase de declínio com produções que não foram bem recebidas nem pela crítica nem pelo público. Obras como “Fim dos Tempos”, “Depois da Terra” e “Avatar” fizeram o diretor enfrentar críticas e até um certo descrédito. Foi com o terror e suspense “A Visita” que o cineasta começou a retomar o rumo de êxitos. Em seguida vieram o elogiado “Fragmentado” e sua sequência “Vidro”, que juntos, formam uma trilogia com “Corpo Fechado”.

Chegamos então a “Tempo”, o novo filme que teve boa estreia nos EUA e está em cartaz nos cinemas brasileiros. O longa acompanha uma família que chega a uma espécie de resort paradisíaco para passar alguns dias. Após pai, mãe e o casal de filhos serem levados a uma praia isolada, junto com outros hóspedes, algumas coisas estranhas e bizarras começam a acontecer, até todos naquele lugar perceberem que, de alguma maneira, são afetados de forma diferente do normal pelo tempo, passando a envelhecer mais rápido a cada segundo que passam na praia. A partir daí, o que vemos é a criação de uma atmosfera de tensão e angústia. E essa atmosfera é criada por meio de uma competentíssima direção de Shyamalan.

O diretor, que também assina o roteiro, usa vários recursos para construir essa cinematografia de angústia e tensão. Um trabalho de câmera bem executado, com movimentos de travelling causando apreensão e suspense e uso de close-up focando no rosto dos personagens, associado a diálogos tensos que se atropelam propositalmente para aumentar a sensação de apreensão no expectador. Outro elemento que contribui para a construção desse ambiente de suspense e tensão é a trilha sonora que está a cargo de Trevor Gureckis., que também já tinha trabalhado com M. Night Shyamalan a mesma função na série “Servant”, criada pelo cineasta.

O trabalho de direção de elenco também é muito competente. A atuação do elenco é outro fator importante na construção dessa atmosfera inquietante e angustiante. A expressividade no rosto de cada um, não só os atores do núcleo da família protagonista, mas também o elenco de apoio, passam muita veracidade e Shyamalan explora isso muito bem através do já citado uso dos planos em close-up.
Um desacerto que me incomodou no filme é o último ato. O diretor que ficou conhecido pelos “plot twists” como em “Sexto Sentido” e “A Vila”, parece derrapar na parte final da trama e acaba entregando algo anticlimático e que destoa do restante do filme. Não que ele tenha que ter sempre um grande plot twist, claro que não. Acontece que o filme tem uma ousadia que o final não acompanha.


É claro que esse desacerto no final não é nada que estrague a experiência fílmica. Assim como claramente o filme também dialoga com a ideia da inexorabilidade do tempo sobre nós, de como somos limitados e pequenos diante da ação deste que já foi tratado por outras culturas como um ser mitológico, uma divindade, M. Night Shyamalan parece realmente ter tirado proveito desta implacável ação e mostra com o “Tempo” que sua carreira voltou aos bons ventos. 

Envelhecimento

Em virtude do tempo que passa mais rápido (anos chegam a passar em minutos), uma questão a ser resolvida era o envelhecimento dos atores. O diretor que não é adepto do uso excessivo de maquiagem, lança mão de uma mistura de tal recurso com efeito digital. O resultado final impressiona.

O Elenco

A família que protagoniza o filme é composta por Gael Garcia Bernal e Vicky Krieps, que vivem o pai, Guy Cappa, e a mãe, Crispa Cappa, respectivamente; e o casal de filhos que quando crianças são vividos por Alexa Swinton e Nolan River, e depois, quando começam a sofrer a ação da aceleração do tempo, passam a ser interpretados por Thomasin Mckenzie e Alex Wolf. Destaque também para o elenco de apoio com atuações como a de Rufus Sewell e Nikki Amuka-Birdi.

Graphic Novel

“Tempo” é inspirado na Graphic Novel “Castelo de Areia”, publicada em 2011. A obra foi bastante elogiada e conta com ilustrações de Frederick Peters e roteiro de Piérre Oscar Levy.

Recomendamos

Ainda sobre a graphic novel, a Editora Tordesilhas, acaba de lançar uma segunda edição da publicação, agora com uma nova introdução de Pierre Oscar Levy e posfácio assinado pelo pesquisador de HQs Érico Assis. Leiam a graphic novel e assistam ao filme Tempo, nessa ou não necessariamente nessa ordem, simplesmente faça. Recomendamos! – Nilvio Pessanha.

Nilvio Pessanha é morador do bairro de Campo Grande na zona oeste carioca, agitador cultural, coordenador do cineclube Cine Rua ZO, professor de língua portuguesa e literatura no município e do estado do Rio de Janeiro, pai do Francisco, vascaíno, é membro dos podcasts Trincheiras da Esbórnia (OUÇA AQUI!) e Cine Trincheiras (CONHEÇA AQUI)!

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