Em atividade há quase 30 anos, Tchandala é o principal nome do heavy sergipano. A banda se apresenta sábado (18/02), no Palco do Rock em Salvador/BA, um dos principais festivais de rock do Brasil e que acontece durante o carnaval baiano. Aproveitamos o clima para um papo com Dejair Benjamim (vocal e fundador da Tchandala). Em pauta, além do show no Palco do Rock, as novidades da banda, seu trabalho solo e planos para 2023. Então, se liga na entrevista com a Tchandala na coluna 1,2,3,4… da Rock Press!
TCHANDALA:
1, 2, 3, 4… com Dejair Benjamim – Entrevista
ENTREVISTA e TEXTO: Michael Meneses
FOTOS: Divulgação
Michael Meneses – Origens!
Um relato sobre a influência do rock sergipano em minha vida!
Antes de falarmos sobre a Tchandala, vamos conhecer um pouco das origens da cena heavy/rock de Aracaju/SE, e como, de certo modo, tudo acaba se conectando com a história da Tchandala.
Nasci em 1974 no subúrbio carioca, porém, morei toda a década de 1980 em Aracaju/SE, onde conheci o rock, o heavy, o punk, o hardcore e o prog. E por que essa apresentação? Simples! Tenho um grande orgulho de ter sido uma das primeiras 50 (talvez menos) pessoas que era da cena heavy na capital Aracaju. Cheguei a esse número depois de um papo com um velho amigo sergipano e concluímos que em meados dos anos 1980 não existiam mais que 50 heavys em Aracaju. Isso bem antes de MTV Brasil e internet. As nossas redes sociais eram as revistas de rock, fanzines, o troca-troca de cartas e gravações K7s. Também tinha programas nas FMs Sergipe, Atalaia e Liberdade, com destaque para a retransmissão do Novas Tendências (foto), um programa da Fluminense FM produzido pelo DJ José Roberto Mahr. Hoje, sempre que encontro com Mahr nos eventos de rock ele comenta orgulhoso da equipe do Novas Tendencias em Sergipe. Como qualquer fã de rock da cidade, escutava esses programas nas noites de sábados. Lembro que foi em um deles que escutei Anthrax pela primeira vez, com a versão para “Sabbath Bloody Sabbath”.
Antes do rock no dial e das revistas (Metal, Rock Brigade, Heavy, Bizz, Roll…), conheci o heavy graças ao artista plástico Augusto Cesar, um dos primeiros heavys de Aracaju, que chegou a ensaiar como vocalista da Guilhotina, a primeira banda de heavy do estado. Ele era meu vizinho no bairro histórico de Santo Antônio. Cesar esteve presente nos shows do Kiss (1983) e no Venom (1986), no Rio de Janeiro, e chegou a comprar ingressos para o Rock in Rio (1985), mas a tal profecia de Nostradamus inspirou seus pais a não deixar ele ir ao festival. Cesar foi responsável por pintar as primeiras as camisas de heavy de Sergipe e até hoje trabalha com artes. Augusto Cesar inspirou a música “Cessar” do Tchandala (a faixa conta com participação de Tim “Ripper” Owens OUÇA). Sua vida vale um livro! Como realizei uma pesquisa sobre o artista em uma pós-graduação em artes-visuais, espero ser o autor dessa biografia sobre AC-Cesar (nome artístico utilizado para assinar algumas de suas telas, uma homenagem a sua banda preferida, o AC/DC).
Já na segunda metade dos anos 1990, chegou na cidade de Nossa Senhora do Socorro/SE, cidade vizinha a capital, uma outra figura importante para o heavy em Sergipe, o meu amigo José Matheus, “O Bruxo”, Bruxo deu uma guinada na cena, apresentou para muita cena sergipana, discos importados, demos ensaios do Kreator, gravações piratas do Black Sabbath, da Dorsal Atlântica, vários discos independentes da cena nacional. E juntamente com o editor aqui, e na companhia do amigo Lisandro, fez o Other Side Zine. Bruxo foi um divisor de águas para o metal sergipano. Infelizmente, Bruxo faleceu jovem, em 1991, já o Lisandro nos deixou em 2020.
No final de setembro de 1990, na companhia de outros 16 heavys (foto), fui ao show da Dorsal Atlântica em Recife/PE. Aquela foi a primeira vez que a cena heavy de Sergipe teve presencialmente contato com a cena de outro estado. Quase todo mundo era “di-menor” e, na época, era preciso autorização do Juizado de Menores para viagens interestaduais. Fazia dois meses que eu tinha completado 16 anos e meio a contragosto minha mãe assinou. Foi na preparação dessa viagem para Recife que tomei conhecimento do Rock in Rio II. Com isso, nova viagem, em 29/12/90, que mudou a minha vida. Voltei a morar no Rio de Janeiro.
E, justiça seja feita, é impossível falar do rock em Sergipe sem reconhecer a importância do músico Silvio Campos, fundador da lendária Karne Krua, e a frente de outras bandas, entre as quais a bluseira Máquina Blues e o grindcore da Logorreia, da loja de rock Freedom e de outras iniciativas em prol do rock e da cultura Serigy. Um detalhe que merece destaque é que em uma das formações da Karne Krua, Dejair Benjamim assumiu o baixo, participando da demo “Máscaras para o Caos”. (OUÇA).
Pois bem, há cerca de 20 anos (2003) Silvio Campos, com toda sua vontade em promover a arte, me enviou uma caixa com CDs, zines, flyers e itens do rock sergipano. Entre os discos estava “Fantastic Darkness” (2002), do Tchandala. Bastante feliz, resenhei na Revista Rock Press. Não havia em mim apenas a felicidade em ouvir um bom disco, mas também o orgulho de reconhecer toda a evolução de uma cena rock, e não apenas do heavy, em Sergipe. Afinal, vivenciei, o início da cena no estado, em uma época de poucos shows. Tempos depois, já no Rio de Janeiro, acompanhei a cena de Sergipe com os recursos da época: cartas, zines, demos e eventuais citações em revistas. Ouvir e escrever sobre aquele CD e sobre a banda que até então não conhecia, foi mais que um trabalho, foi um presente.
Com as redes sociais, esteiraram os laços com o rock sergipano e tomei conhecimento pela própria Tchandala, que aquelas linhas na Rock Press abriram portas e tinha sido a primeira citação da banda em uma revista de Rock.
Tchandala – Origens!
Tchandala é o principal nome do heavy metal sergipano já faz alguns anos. Na ativa desde 1996 e tendo em sua formação atual Dejair Benjamim (fundador e vocal), Siuari Damaceno e Eddie Varg (guitarras), Igor Hudson (baixo) e Anthony Cavalcante (bateria), banda lançou três álbuns “Fantastic Darkness” (2002), “Fear of Time” (2012) e Resilience (2017). Este último contou com a participação de Tim Owens (Judas Priest) e Iuri Sanson (Hibria).
Ao longo dos anos, também lançaram vários EPs e singles, além de terem participados de discos tributos, entre os quais, “Indians Not” (2007), disco com bandas brasileiras homenageando o Anthrax, que tem o Tchandala fazendo uma versão para “Among The Living. Outro tributo que contou com a banda foi o disco em homenagem ao Edu Falaschi, “A New Lease Of Life: 25th Anniversary Tribute” (2016), com a banda tocando “Scream Of People”. Por último a Tchandala participou com uma versão para “Open Your Life” no “Helloween Brazilian Tribute – Part II” (2018).
Ao vivo, ao longo desses quase 30 anos, além de ter dividido palco com várias bandas sergipanas e do Nordeste, tocando em várias cidades, o Tchandala já tocou com diversos nomes. Entre as bandas sergipanas: Karne Krua, Warlord, Maua, INRIsorio, Nucleador, Scarlet Peace, Silent Vanity e outras. Já entre as bandas de fora de Sergipe: Deadly Fate, Malefactor, Cobalto, Angra, Andralls, Viper, Mofo, Shaaman, Krisiun, Dominus Praelii, Violator, Predator, Blaze Bayley (ex-Iron Maiden), e outras. Vale dizer que alguns desses shows aconteceram em Sergipe, por iniciativa da própria banda, tudo na base do “faça você mesmo”, e é importante lembrar que eles organizam o “Natal Metal”, um evento beneficente em prol de comunidades carentes do estado. A banda organiza em companhia dos amigos um futebol de fim de ano na Praia de Atalaia. Esse que vos escreve chegou a ser escalado em uma das férias que passei em Sergipe, mas, confesso, fui somente pela cerveja (risos).
As letras da banda são baseadas em temáticas históricas de Sergipe e do Nordeste, e sempre que possível contando com artistas locais, o que ajuda a enriquecer a temática. É o caso do single “Searching Our Souls”, que teve arte de capa assinada por Augusto Cesar. Uma arte desenvolvida com caneta esferográfica sobre lona e finalizada por Trino 3D Estúdio. A mixagem e masterização foi do produtor musical Fabrício Rossini e não para por aí! “Searching Our Souls” contou com a participação especial de baterista Aquiles Priester.
Falando em participações especiais, o vocalista da Tchandala possui um trabalho solo intitulado Benjamim Saga, que contou com Carlos Lopes (Dorsal Atlântica) no recém lançando single “Caatinga”. Além do Carlão, também participaram do single os músicos Giovanni Sena e Jeff Castro (Age of Artemis) e o jornalista, fotografo e historiador Robério Santos (do Canal O Cangaço na Literatura). A música “Caatinga” é uma parceria de Dejair Benjamim com o produtor Marcos Cupertino (autor), com letra do historiador Dr. Hermeson “Pidele” Menezes, que na década de 1990 produzia o fanzine Fabulous Disaster em parceria com Dejair. Já a mixagem e masterização ficou por conta do produtor musical Fabrício Rossini, enquanto a arte é de André Moreira.
Em meios aos singles novos, o show no Palco do Rock, as entrevistas no Tchandala Talk e outros projetos, o Tchandala segue trabalhando nas composições do seu quarto álbum. Enquanto o disco novo não sai, aproveitamos para entrevistar a banda na coluna 1,2,3,4… da Rock Press.
1 – Michael Meneses / Rock Press: Com mais de 25 anos de estrada, a banda é um dos nomes mais antigos do heavy sergipano em atividades. Conta um pouco a história da banda aos leitores da Rock Press.
Dejair Benjamim / Tchandala: Nós estamos na ativa desde 1996. Assim como várias outras bandas, a Tchandala nasceu de um sonho adolescente e hoje temos vários registrados. Entre eles, 3 álbuns e vários EPs e singles, além da experiencia de ter tocado ao lado de grandes nomes do metal brasileiro e mundial. Em dezembro do ano passado lançamos o single “Searching Our Souls” (OUÇA), com a participação de Aquiles Priester.
2 – Rock Press: Recentemente, em seu trabalho solo, o Benjamim Saga, rolou a participação do Carlos Lopes (Dorsal Atlântica) na música Caatinga. Essas participações não são novidades na banda. Inclusive, conheci a banda pelo Silvio Campos (Karne Krua) que já esteve presente em seus trabalhos. Outro que participou do som de vocês foi Tim “Ripper” Owens (ex-Judas Priest). Fale dessas parcerias e da carreira solo…
Djair Benjamim / Tchandala: Desde o primeiro álbum do Tchandala, o Fantastic Darkness (2002), que a gente sempre gostou de ter registrado participações de pessoas que admiramos. No meu trabalho do solo, O Benjamim Saga, tenho a oportunidade de fazer isso com mais frequência. Através de você (Michael Meneses) tive a honra de ter contato direto com o Carlos Lopes da Dorsal, um dos meus heróis da adolescência. Desde então mantenho uma relação muito estreita com o Carlos e hoje somos amigos pessoais, dividimos das mesmas ideias e o convite acabou que sendo algum muito natural, que foi aceito de imediato. Carlos teve toda a liberdade para colocar suas ideias e influências, algo que enriqueceu por demais o resultado final de Caatinga (OUÇA). Já falando em primeira mão aqui, a capa do primeiro disco do Benjamim Saga, o Terra Salobra, que será lançado ainda nesse primeiro semestre de 2023, foi desenvolvida por Carlos Lopes e ficou fantástica
3– Rock Press: Durante o isolamento social, por conta da pandemia, você promoveu diversas lives e entrevistas com personalidades da cena rock sergipana e nacional no canal do YouTube da banda. Fale um pouco desse projeto e como fica essa iniciativa com o fim do isolamento social?
Dejair Benjamim / Tchandala: O Tchandala Talk surgiu bem antes da pandemia. Nasceu da minha vontade de deixar registradas as histórias da cena sergipana, tanto a visão das bandas, como de produtores e do público amante do estilo e assim deixar registrada por toda eternidade para ser usado como fonte de pesquisas daqui a algumas décadas. Com o surgimento da pandemia, abrimos para bandas e personalidades de outras Estados através das lives. Iniciaremos a próxima temporada em março agora.
4 – Rock Press: O Tchandala é uma das várias atrações do Festival Palco Rock, o mais importante evento de rock da Bahia, que acontece em Salvador, justamente em meio ao carnaval baiano. Qual a expectativa para esse show?
Dejair Benjamim / Tchandala: A nossa expectativa é a maior possível, pois o Palco do Rock é uma das maiores referencias de festivais de rock alternativos no Brasil e participar desse projeto é uma realização pessoal de cada um da banda. Esperamos que através dele consigamos acesso a outros grandes festivais.
5 – Rock Press: Finalizando, como anda a cena heavy rock em Sergipe. Aproveita pra deixar uma mensagem final aos leitores da Rock Press…
Dejair Benjamim / Tchandala: O cenário rock em Sergipe é um tesouro a ser explorado, pois o leque de bandas em seus diversos estilos é gigantesco. Independente dos ciclos musicais de festivais e oportunidades, as bandas sempre se mantém produzindo e lançando muito material.
Palco do Rock 2023 – Salvador/BA
Em meio a toda a festa do carnaval baiano, acontece gratuitamente entre os dias 18 e 21 de fevereiro o Festival Palco do Rock, festival que realizado já há vários anos, com bandas de todo o Brasil e de diversos estilos, em especial bandas da cena baiana e do Nordeste. O evento que faz parte da programação oficial do carnaval baiano e é o refúgio aos fãs de rock na Bahia. E falando em refúgio, os shows terão início às 17h e acontecem na área verde da Praia de Piatã, na sempre bela orla de Salvador/BA.
A temática dessa edição é “Gerações”. O festival nasceu em 1994 e está completando 29 anos de história. Esse ano haverá homenagens ao músico Louis Bear (leia mais https://portalrockpress.com.br/the-cross-doom-metal-de-luto-por-louis-bear/ ), que faleceu em 2022. O músico tocou bateria em bandas como Shadows, Carnified, Tharsis, Cobalto, Mystifier, Camisa de Vênus, entre outros nomes do rock e da música baiana, incluindo o The Cross, que se apresenta na segunda-feira (20/02).
Outra iniciativa bacana do festival é o convite feito aos que forem ao evento para que levem mudas e sementes de árvores da mata atlântica, que serão plantadas no local. Haverá espaço interativo, dicas de sustentabilidade e pautas em prol da consciência no rock.
Entre as atrações do Palco do Rock 2023, apenas a banda carioca Hexen Sabbath, que apresenta seu doom-metal na segunda-feira (20/02), não é do Nordeste. Já os veteranos do rock baiano do Organoclorados tocam na terça-feira (21/02). O show da Tchandala acontece no sábado (18/02), primeiro dia do festival. Veja o cartaz com toda a programação abaixo. #RECOMENDAMOS. – Michael Meneses!
TCHANDALA CONTATO e REDES SOCIAIS:
SHOWS: Dejair Benjamim – (79) 99911-7732 – dbenjamim@gmail.com
FACEBOOK: https://www.facebook.com/Tchandala
YOUTUBE: https://www.youtube.com/@Tchandala/videos
INSTAGRAM: https://www.instagram.com/tchandalaofficial
OUÇA TCHANDALA: https://streamlink.to/tchandalaofficial
OUÇA BENJAMIM SAGA: https://www.youtube.com/channel/UChWvTqM56gt60qMliOgjt2Q
SERVIÇO:
PALCO DO ROCK – 2023
DATA: De 18 a 21 de fevereiro, às 19h
LOCAL: Coqueiral da Praia de Piatã – Salvador/BA – Brasil.
EVENTO GRATUITO
APOIO e PATROCINADORES: @accrba.oficial, Bahia Gás, Prefeitura de Salvador, Gov. da Bahia.
Uma resposta
Salve salve Djar Benjamim e galera da Tchandala. HexenSabbat e eu saudamos vcs… Hail Metal