SEPULTURA: Celebrating In Rio!

Em uma noite especial, o Sepultura levou os fãs cariocas para uma viagem através das diversas fases da banda em uma apresentação de lavar a alma no Farmasi Arena na Barra da Tijuca!

Farmasi Arena – Rio De Janeiro/RJ
Sábado, 31 de agosto de 2024

TEXTO: Flavio Pereira Senra
FOTOS: Michael Meneses!

E finalmente o Sepultura passa pelo Rio de Janeiro com a Celebrating Life Through Death Tour, que se propõe a ser a turnê de despedida dessa lenda do metal nacional. O local escolhido foi a Farmasi Arena, na Barra da Tijuca, casa com boa infraestrutura e com razoável acessibilidade de transporte coletivo – em especial por conta da proximidade de uma estação de BRT.

Às 20:30 em ponto começa a ser tocada a faixa “Polícia”, dos Titãs, em sua versão original. A execução do referido clássico do rock nacional indicava o início oficial do evento, conforme ocorrido em todos os shows da turnê até então. Em seguida, ouve-se uma introdução com excertos de diversas canções do grupo, enquanto imagens diversas eram exibidas nos telões. Aqui já fica nitido que, para essa despedida, o quarteto não apenas investiu no aspecto sonoro, mas também no visual: ficou evidente ao longo do evento a intenção de criar para os espectadores um espetáculo visual bem sofisticado, com telões exibindo diferentes animações a depender da música tocada.

Logo em seguida a essa introdução, tem início a emblemática “Refuse/Resist”, faixa de abertura do celebradíssimo Chaos A.D. (1993). Com seus versos falando sobre confrontos entre a população civil e o aparato policial-militar, o clássico foi cantado em uníssono por praticamente toda a Farmasi Arena, que viu serem formadas as primeiras de muitas rodas de pogo dessa noite promissora. Do mesmo álbum, vieram na sequência “Territory” e “Propaganda”, fechando uma “trinca de abertura” que deixou o público incendiado.

Um salto no tempo e viajamos para 2017, ano do lançamento do disco Machine Messiah, com a banda tocando “Phantom Self”. Como era de se esperar, o Sepultura nessa turnê de despedida tentou contemplar o máximo possível de seus discos, um objetivo que (quase) foi alcançado já que, da vasta discografia do grupo, somente quatro álbuns não tiveram músicas inclusas no repertório (Bestial Devastation, de 1985, Nation, de 2001, A-Lex- de 2009 e The Mediator Between Head and Hands Must Be The Heart, de 2013). E outra “tríade sagrada” foi executada, com três faixas seguidas do paradigmático Roots (1996): a pesada e cadente “Dusted”, seguida de “Attitude” (com o áudio de berimbaus na introdução) e, por fim, o baixo distorcido de Paulo Jr. anunciou a empolgante “Spit”. “Kairos”, faixa-título do disco homônimo de 2011, foi a inclusão seguinte no setlist. Nesse ponto do show Andreas Kisser saudou o público e afirmou que a banda optou por deixar de tocar no Rock in Rio neste ano pois há muito não fazia um show completo na Cidade Maravilhosa, isto é, sem precisar reduzir o tempo da apresentação nem dividir o palco com outras bandas. De fato, considerando o objetivo da turnê – fazer uma “celebração” da história da banda, contemplando quase todos os pontos da longeva carreira –, faz sentido a decisão de não tocar no renomado festival.

A essa altura da noite, a banda executou “Means to na End”, do Quadra, seguida de “Convicted in Life”, do Dante XXI (2006). Um dedilhado de violão performado por Kisser introduziu “Guardians of Earth” (outra do Quadra). Esta última resgata o imaginário indígena fartamente empregado pela banda em álbuns como Roots, abordando a (sempre necessária) temática da luta dos povos originários contra os abusos do Grande Capital perpetrados, especialmente, à floresta amazônica, algo evidenciado não apenas na letra, mas também no clipe da canção, que exibe cenas de queimadas criminosas nesse bioma nacional.

O momento seguinte teve o vocalista Derrick Green (em ótima forma vocal, diga-se de passagem) anunciando que a banda resgataria o disco Roorback (2003), tocando a faixa “Mind War”. O dantesco disco de 2006 foi revisitado através de “False” e eis que tivemos ”Choke”, primeira referência ao disco Against, de 1998, álbum de estreia de Derrick Green no Sepultura. Em outro momento de diálogo com o público, Andreas Kisser relembrou um show da banda no Rio de Janeiro, em 1987, para lançar o poderoso álbum Schizofrenia, um dos mais emblemáticos do thrash metal brasileiro. Essa bela rememoração serviu para introduzir “Escape To The Void”, pedrada que abre o referido disco. Andreas então anunciou que a banda faria uma jam session no palco com vários convidados (amigos e membros da equipe da banda), tal como era feito nos idos de 1993/1994, o que por si só já era indicativo de qual faixa seria tocada: a instrumental “Kaiowas”, que termina com uma bela sequência rítmica com todos tocando diferentes tipos de tambores.

A clássica fase mais thrash metal do grupo foi trazida à tona novamente com a sempre massacrante “Dead Embryonic Cells” (do estupendo Arise, de 1991) e “Biotech is Godzilla” (outra do Chaos A.D.). A interessante composição “Agony of Defeat” (do Quadra) foi então tocada, mostrando a versatilidade vocal de Derrick Green, com vocais limpos e melodiosos atípicos ao gutural das demais canções da banda. Uma bem-vinda surpresa veio com “Orgasmatron”, cover do Motörhead gravado pela banda em 1991, faixa esta tocada pela primeira vez na turnê. Outro grande momento “túnel do tempo” veio com o retorno aos primórdios do grupo através de “Troops of Doom” (originalmente do álbum Morbid Visions, de 1986, sendo que a banda tocou a versão regravada para o Schizofrenia, de 1987). Para fechar o show, a porrada “Inner Self” e a avassaladora “Arise”, ambas de 1991.

O esperado (e óbvio…) bis foi centrado no ano de 1996, primeiramente com a experimental “Ratamahatta”, que contou com a participação de Fred, ex-integrante do Raimundos, e Chico Brown, filho de Carlinhos Brown, que por sua vez é um dos autores da canção. Finalmente, para fechar, o pesado clássico “Roots”, que colocou praticamente toda a Farmasi Arena para pular e cantar a plenos pulmões nessa belíssima despedida desses gigantes do metal nacional.

De Lavar a Alma!

Como saldo final da apresentação, há vários elogios a serem feitos. A começar pela produtora 30e, por ter proporcionado um evento bastante organizado e, logicamente, à própria banda, que merece ser amplamente louvada, e por diferentes razões. Como já mencionado, o público não foi brindado apenas com um espetáculo musical, mas visual, com animações temáticas excelentemente bem-produzidas exibidas nos telões integradas a cada canção tocada. Além disso, o quarteto demonstrou ótima forma e entrosamento. Nesse ponto, vale destacar não apenas o guitarrista Andreas Kisser, o baixista Paulo Jr. e o vocalista Derrick Green, mas também o ótimo baterista Grayson Nekrutman, que adentrou na banda neste ano, às vésperas do início da turnê, para substituir Eloy Casagrande. O jovem estadunidense demonstrou muita técnica e pegada firme na execução do longo repertório executado. Por fim, tendo em vista o já esmiuçado esforço em contemplar diferentes fases de sua carreira na escolha de setlist, podemos facilmente dizer que o público presente na Farmasi Arena pôde, de fato, testemunhar uma grandiosa celebração da vida, fazendo jus ao nome da turnê.

Até logo?!
A próxima parada é em São Paulo já no neste final de semana (serviço abaixo), e em entrevistas recentes, Andreas Kisser disse que essa será uma despedida longa, podendo durar até o ano de 2026. Resta a dúvida – e a esperança – do Sepultura passar mais uma vez no Rio de Janeiro para dizer “tchau” mais uma vez. – Flavio Pereira Senra.

SET-LIST:
Refuse/Resist
Territory
Propaganda
Phantom Self
Dusted
Attitude
Spit
Kairos
Means to an End
Convicted in Life
Guardians of Earth
Mind War
False
Choke
Escape to the Void
Kaiowas
Dead Embryonic Cells
Biotech Is Godzilla
Agony of Defeat
Orgasmatron
Troops of Doom
Inner Self
Arise

BIS:
Ratamahatta
Roots Bloody Roots

Sepultura em São Paulo:

SERVIÇO:
SÃO PAULO
DATA: 
6 e 7 de setembro de 2024 (Sexta e sábado – ESGOTADOS)
DATA EXTRA: 8 de setembro de 2024 (domingo)
LOCAL: Espaço Unimed – R. Tagipuru, 795 – Barra Funda – São Paulo/SP
Abertura da casa: 19h
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: Entrada e permanência de crianças/adolescentes de 05 a 15 anos de idade, acompanhados dos pais ou responsáveis, e de 16 a 17 anos, desacompanhados dos pais ou responsáveis legais.
INGRESSOS: Antecipados no site da www.eventim.com.br e na Bilheteria oficial: Espaço Unimed (a partir de 11/12) R. Tagipuru, 795 – Barra Funda, São Paulo/SP.

FLAVIO PEREIRA SENRA – professor de Língua Portuguesa e Literaturas do IFRJ e pesquisador na área de Estudos Culturais, tendo já produzido diversos artigos sobre o gênero Heavy Metal e suas representações políticas e sociais. Além disso, é autor do romance político “As instituições estão funcionando normalmente”, lançado pela editora Gosto Duvidoso em 2021 Adquira aqui!

MICHAEL MENESES – É o editor da Rock Press deste 2017, criador do Selo Cultural Parayba Records, fotojornalista desde 1993, foi fanzineiro nos anos 1980/90, jornalista e cineasta de formação, pós-graduado em artes visuais. Fotografa e escreve para diversos jornais, revistas, sites e rádios ao longo desses últimos 30 anos, também realiza ensaios fotográficos de diversos temas, em especial música, jornalísticos, esporte, sensual, natureza... Pesquisa, e trabalha com vendas de discos de vinil, CDs, DVDs, livros e outras mídias físicas. Michael Meneses é carioca do subúrbio, filho de pai paraibano de João Pessoa e de mãe sergipana de Itabaiana. Vegetariano desde 1996Em junho de 2021 foi homenageado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro pelo vereador Willian Siri (PSOL/RJ), com monção honrosa por iniciativas no audiovisual e na cultura suburbana. Torce pelo Campo Grande A.C. no Rio de Janeiro, Itabaiana/SE no Brasil e Flamengo no Universo. Atualmente, dirige o filme, “VER+ – Uma Luz chamada Marcus Vini, documentário sobre a vida e obra do fotojornalista Marcus Vini.

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