ROGÉRIO SKYLAB: A noite de dança do corpo e dos membros no Circo Voador!

Em noite chuvosa e com Rock in Rio do outro lado da cidade, o Circo Voador recebeu o músico Rogério Skylab, com um excelente efusivo público. A noite ainda contou com show de abertura da banda Blastfemme e da Festa Bauhaus.

Rogério Skylab + Blastfemme + Festa Bauhaus
Circo Voador – Rio de Janeiro
2 de Setembro de 2022
TEXTO e FOTOS: Nem Queiroz

Queria escrever este texto como se fosse o Skylab compondo suas letras. Conseguir ser, por assim dizer, meio escatológico, mesmo não sendo, mexer com as entranhas das palavras, porque é isso o que ele faz. Ele mexe com as entranhas das palavras e do pensamento para conseguir a posteriori que as pessoas cantem a sua música sem nenhum pudor! É isso, Rogério Skylab é o purgatório de nossas almas que liberta certa ou uma total (que seja) libertinagem que, ao que parece, temos trancafiada dentro de nós, tamanha é a entrega e a força de seus versos. 

Blastfemme em evolução!

FOTO: Nem Queiroz

O céu estava limpo, e até então um dia bonito. E, de repente, pow! O tempo era outro. Porém, a fila que se esticava pelos Arcos da Lapa momentos antes da nave abrir e levar para outra dimensão aquela tripulação. Assim começou a noite e com a Festa Bauhaus a postos era como se a chuva não existisse. A Blastfemme, banda de abertura, entrou no palco às 23 horas em ponto. E num intervalo de uma hora, podemos dizer que as meninas arrasaram, o que não é nenhuma novidade. Dani Vallejo entrou soberana e triunfante com “Vá logo”. Abria-se alas para a nova diva do rock alternativo nacional. Dani é segura, tem voz doce, forte, potente e domina bem o palco como poucos. Uma ótima frontwoman nesses tempos tão escassos e carentes de ídolos no rock. Com um bom disco homônimo nas mãos, elas têm se destacado Brasil a fora. Canções como “I Don’t Love You Baby”, escolhida para o bis, “Talvez” e “Obrigado pela parte que me tocas” demonstram que as feras chegaram para ficar. Destaque para a ótima guitarrista Iara Bertolaccini com seus riffs marcantes, acompanhada pela competente bateria de Vladya Mendes e o vigoroso baixo de Jhou Rocha. A Balstfemme é de fato uma banda poderosa! Obrigado pela parte que nos toca!

Música sem nenhum pudor, Arte com Louvor!

(…)
Eu vi uma certa juventude ávida de marmanjos cheios de fôlego cantando de olhinhos fechados e a plenos pulmões versos como ” Cada um chupava o seu.
Eu chupo o meu pau.
Eu chupo o seu pau?
Não, eu chupo o meu pau.
O pau é seu?
Não, o pau é meu !!!”; “Língua no cu. Língua na boceta, dedo no cu
Dedo, língua, cu, boceta também boceta língua no cu”
E por aí vai…

Uma coisa importante, as músicas de Skylab têm um instrumental visceral que ora é thrash, rock, ora quer ser comportada flertando com o chorinho e alguma pegada sutil de jazz, com repetições de frases curtas, mas, que fariam o papa chorar. E a plateia lá em profusão ora explodindo numa roda punk quando o instrumental exigia, ora cantando em uníssono como numa missa, palavras que não se diz nem num confessionário!

Para dizer ao que veio, Skylab e seu excelente Power Trio formado por Thiago Amorim na guitarra; Rodrigo Scofield na bateria e Yves Aworet no baixo, abriu com a cultuada “Cadê o meu pau?”, seguida por “A dança do corpo e dos membros” e “A gente vai ficar surdo”, do disco novo, “Caos e Cosmos 2”. Isso foi o suficiente para a plateia entrar no jogo. Destaque também para “Dedo, língua, cu e boceta”.

Ainda no início do show, um fã mais afoito, invadiu o palco para abraçar o ídolo, parecia querer cantar junto, quando num gesto inesperado para todos, o sujeito apalpou o órgão genital do Skylab deixando o cantor sem reação. Ele terminou a música e saiu. Quando voltou disparou: “Ei, esse! Esse rapazinho aí, você mesmo! Você não ‘tá entendendo nada, meu caro. Esse rapaz aí que pegou no meu pau. Porra, cara! Não faça mais isso. Não ‘tá com nada. Subir no final tudo bem, mas agora?!” Com dedo em riste mandou: “Não faça mais isso, ouviu!” Decretou num tom de protesto e desaprovação. Coincidência ou não a música que seguiria foi “Ato falho”. Show que segue! 

Löis Lancaster em ação!

Em quase todas as músicas surgia a roda punk. Salvos os momentos que Skylab se aventurava em baladas que eram bem recebidas, com letras mais, digamos, normais. Ponto alto do show, excluindo a apalpada do fã em Rogério, foi o visceral rock “Tem cigarro aí?” Cantada a plenas baforadas de fumaça e vigor, numa enxurrada de cigarros jogados no palco. A roda era pulsante. Seguida por “Dedo no cu e gritaria”, “A voz do cu” e “Carrocinha de cachorro-quente”, esta última declamada como num ritual religioso. Uma catarse! Tudo salteado por algumas boas canções/baladas com letras mais comportadas. O show foi caminhando para fim, quando chegou a vez da canção “Samba” que tem na sua letra uma citação à banda Zumbi do Mato, e que na dobra da música, Skylab concede seu lugar de fala para ninguém menos que Löis Lancaster, vocalista e líder da banda citada. Na mesma verve existencial, Lancaster, na mesma linha de Skylab, gritou, desafinou, se contorceu e num dado momento suas calças quase caíram, mas ele segurou a tempo.

Na última da noite, “Você vai continuar fazendo música?”, o público ávido e de orelhas sempre atentas deve ter lembrado a deixa de Skylab no recado ao cidadão que o acariciou e não se fez de rogado, invadiu o palco de uma forma nunca antes vista. O palco ficou totalmente tomado, não cabendo mais ninguém, Skylab foi literalmente engolido pela multidão. Em uníssono canto ainda ouviu os “parabéns para você”, perdido na multidão! Uma noite de boas bizarrices e muita chuva, frio, mas só lá fora!

As ausências foram “Motoserra” e a icônica “Matador de passarinho”, mas que no fundo não fizeram tanta falta assim, pois Rogério está mudando a mira e pelo jeito está acertando o alvo.

No final, quando Mr. Skylab não deixou mais pedra sobre pedra, elas ainda rolaram com a Festa Bauhaus, basta dizer que os DJs atacaram com RATM, Nirvana, Sex Pistols e Ramones… o resto dá para imaginar, né? Ainda teve o cartunista carioca Kado, autografando a HQ “O Espetaculoso Gordo Aranha”. Um salve o Circo Voador em mais uma noite para não esquecer! – Nem Queiroz.

 

Nem Queiroz, fotógrafo (CONHEÇA), poeta, DJ, vocal da banda carioca Real Sociedade (OUÇA).

Respostas de 8

  1. Noite antológica, pós-pandêmica! Nada poderia ser melhor que o SKYLAB nos brindando à vida! Obrigado pelos registros textuais e fotográficos para ficar eternamente na lembrança!

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