ROBERTO KARWAHAL: O artista nos deixa na calada da noite!

De tanto fazer boa música, encantou-se. A cena underground carioca perde um de seus talentosos artistas! Nos deixou em 16 de março, o músico Roberto Karwahal. Conheça um pouco de sua história…

TEXTO, FOTO e ARTE: Nem Queiroz

Há mais ou menos 5 anos atrás eu conhecia Roberto Karwahal. Ele se apresentava descontraído com seu trabalho solo num dos palcos de uma manifestação cultural realizada no Museu da República, até ser interrompido junto com a sua banda por questões de tempo/horário, o que o deixou fulo da vida. Se bem me lembro queria revoltar-se contra os organizadores da festa, quando fui cumprimentá-lo e para minha surpresa ele já me conhecia, me abraçou, esqueceu um pouco da revolta, mas não do ocorrido e pôs-se a desabafar e ao mesmo tempo a se descontrair! Lhe disse que o show estava de bom tamanho, que não precisava voltar a não ser que fosse para um bis triunfal. Karwahal sempre foi elétrico com sua guitarra em punho, mas não rolou. Azar deles, sorte minha!

De lá para cá, nunca mais nos perdemos de vista. Saímos dali e fomos tomar uma cerveja, e se também bem me lembro do modo como me falava, ele já me conhecia, talvez por conta da minha banda Real Sociedade e seu sucesso único “Um homem muito esquisito” do qual discorremos por um tempo deglutindo as duas únicas garrafas de cervejas que tínhamos condição de bancar.

Logo, me ligava cheio de entusiasmo como lhe era peculiar. Karwahal sempre teve o astral lá em cima, disse-me numa dessas conversas que não gostava do meu sobrenome, talvez por condições políticas da época  (urghhh) e passou a me chamar de “Feroz”, Nem Feroz. Sempre atendia o telefone com um especial “Coé, Feroz!”. Era assim a sua essência: Alegre e positiva, sempre a falar de música, sem dúvida a sua maior paixão!

E nesse contexto tornamo-nos parceiros. Com ele não tinha tempo ruim, era mandar quantas letras fossem que ele devolvia com um número maior de músicas e arranjos. Tocava tudo. Fazia o baixo, programava a bateria, tocava a guitarra obviamente, e me acordava cedo para delinear em conversas que as vezes duravam mais de uma hora ao telefone, arranjos e ideias! Por conta disso, nossos planos cresceram e começamos a nos ver mais frequentemente. Era Lapa, era CCBB, eram shows e etc. e obviamente bares. Uma vez o levei para assistir o show do Toni Platão que eu iria fotografar no SESI do Centro do Rio de Janeiro. Ficou extasiado! Em reuniões para discutir o futuro Rock and Roll da cidade e lá estávamos, festas e afins, igualmente. Lembro que num show das meninas da Blastfemme no Ganjah, ele do meu lado de repente desabou, desmaiou aos meus pés para no minuto seguinte levantar sem se lembrar ou perceber que havia desmaiado! Fiquei preocupado, ordenei que procurasse um médico imediatamente. Exames tudo ok. Mas nunca me esqueci daquela noite. E independente de qualquer coisa, em todo início de semana lá vinha ele ao telefone falar de música, de suas composições e das nossas naturalmente.

Foi ele quem me fez associar na Ordem dos Músicos, planejávamos uma nova banda, e juntos com mais dois amigos fizemos a primeira canção para valer. Gravamos e a perdemos! A banda não vingou, mas nós seguimos! Ele queria produzir, compor, lançar! Era hiperativo nesse sentido, e me levava junto. Quase todo santo dia uma canção nova no meu zap, às vezes com duas ou três versões para a mesma letra! Nesse ímpeto e nesse ritmo, ele me mostrando as suas músicas também. Achava visceral o modo como ele tocava e cantava, tanto assim o era que consegui um show para ele no Brechó 68 na Tijuca, e foi ali que me apaixonei de vez por sua Obra. Canções boas, letras sérias e a pegada pós punk ditavam o ritmo. Já era seu fã há tempos! Indo em suas redes sociais, podemos desfrutar de suas criações enérgicas e imparáveis! Primeiro nesse show e depois nas redes, conheci canções como “Para Além do Muro do Mundo”; “A Falha”; “Alice”; “Seu Silêncio Transmite O Caos”, todas canções do seu disco de 2023, produzido, cantado, mixado…, tudo por ele! Ele amava fazer isso! Produzir! Produzir! Produzir!…

Quase todo mês criava um ou dois singles, por exemplo: “Sou Ki Soul” e “Aperte o Play do Game” de 2021; “Me Sentir Lá”  (uma das minhas favoritas) de 2022; “Inventaram  Verdade”; “Delon e Lorraine” com uma capa foda! Ele adorava fazer capinhas também.; “Assim terminou”… entre outros! Tudo disponível no Spotify. Muito criativo, inventivo, e o melhor de tudo: Muito bom! E pós punk até o osso!

Esta semana, notei que pouco nos falávamos. Liguei, e ele me disse que havia estado acamado por uma virose que o derrubou de verdade, mas que já estava melhor. Enviei para ele então um poema/letra que havia terminado de fazer, ele adorou, mas como não era de costume não me respondeu… nunca mais. Karwahal partiu no último dia 16 de março de 2025, partiu dormindo, na paz e em paz!

Curiosidade: No fatídico dia da despedida, primeiro nos perdemos (eu e mais dois amigos) dentro do cemitério, imaginei que era ele nos sacaneando. E quando nos achamos e me aproximei de seu corpo o inusitado aconteceu. Meu celular que estava no bolso disparou e começou a tocar uma música que não reconheci, fui conferir para desligar e qual não foi minha surpresa: a música que tocava no último volume, era uma música dele, onde ele cantarolava em cima do instrumental, exatamente como costumava fazer quando me enviava suas canções para eu encaixar as letras! Foi sinistro! Mas o recado foi dado.

Para me despedir de vez, repousei uma palheta sobre o seu peito e ele foi… tocar agora para os anjos! Vai com Deus amigo! Esteja com a luz e com os anjos! E com a música obviamente, o seu elixir! Sentirei saudades! – Nem Queiroz.

OUÇA KARWAHAL: @karwahal

NEM QUEIROZ – É Poeta, letrista, fotógrafo, cantor, escritor, artista plástico e DJ. Pesquisador e colecionador de música, rato de cinema, teatro, sebo/livraria, centros culturais e shows! Intitula-se como “O Fotógrafo Observador” quando se aventura a resenhar para sites e afins. Ele mora aqui.

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