RECKONING FEST – Que venha a edição 2023!

O Reckoning Fest voltou após dois anos de pandemia, comemorando os 10 anos da banda Reckoning Hour. O evento ocorreu em meio a Copa do Mundo e justamente no fim de semana em que a seleção brasileira foi eliminada. Seria esse o motivo do Imperator ter recebido um público pequeno? Seja como for, quem foi, assistiu aos shows da Hatefulmurder, Lyria, Innocence Lost, Unnature, Circus, Odeon, os paulistas do AXTY, a anfitrião Reckoning Hour e a DJ Cammy discotecando.

RECKONING FEST 2022 – Que venha a edição 2023!
Hatefulmurder, Lyria, Innocence Lost, Unnature,

Circus, AXTY (SP), Odeon, Reckoning Hour e DJ Cammy
Inperator – Centro Cultural João Nogueira – Méier/RJ
9 e 10 de dezembro de 2022
TEXTO: Cleber Jr. Marcelo Pereira e Michael Meneses
FOTOS: Cleber Jr., Marcelo Pereira, Yuri Nesseh e JP.

O festival que aconteceu no sempre charmoso palco do Imperator e prometia boa divulgação, pontualidade, comemorações, boas bandas, som mecânico com DJ Cammy mandando boas sequencias de heavy, hard e afins, gente batalhadora do rock carioca envolvida na produção. Tudo prefeito! Mas, antes de falarmos dos bons shows no Reckoinng Fest, um porém…

Esqueceram de combinar com um (por vezes) acomodado público carioca, que reclama que não acontece nada na cidade, mas quando acontece, não sai de casa, alegando que show underground custa caro. Entretanto, não liga de pagar caro em shows internacionais. E, que fique claro, não tem nada de errado em ir às apresentações internacionais. Tem também o povo que prefere valorizar mais do mesmo, frequentando shows com bandas covers, e lamenta que o rock não se renova. Mas será que não é esse povo que precisa renovar as ideias, se realmente deseja tal renovação?

Outro vilão dos shows na cidade maravilhosa é o grande número de eventos de rock acontecendo em um mesmo final de semana. O que, queira ou não, divide a galera. E não adianta dizer que o evento X tem um público diferente do evento Y. No final a plateia sempre acaba escolhendo o evento mais cômodo e, por vezes, todos os eventos ficam com público abaixo do esperado. Ter opções de eventos é EXCELENTE, mas é preciso ter diálogo entre produtores, bandas, e casas de shows. E o público precisa vestir a camisa.

Outro agravante para o baixo público nos shows do Rio de Janeiro (o Reckoinng Fest não é o único) é o a falta de transporte público na cidade. Linhas de ônibus deixaram de existir nos últimos anos, o número de ônibus que ainda circulam, trens, metrôs e barcas são insuficientes para a população que depende dessas conduções para trabalhar, estudar e frequentar eventos culturais. Claro que E existe Uber e Táxi, mas nem todo mundo pode arcar com esses custos. Então, dizer “pega um Uber” pode ser fácil se você tem carro próprio, dinheiro sobrando ou se o seu trajeto for curto, mas quem mora em regiões mais afastadas, como Jacarepaguá, Zona Norte, Oeste, Baixada Fluminense e Niterói não pode se dar a esse luxo e sabe o que estamos falando. Especialmente se depende de transporte público para ir a shows na Lapa, Praça da Bandeira ou na Zona Sul.

Os preços dos ingressos, ainda que seja 3, 5, 10, 20, 50 reais, podem ser caro para muitos. Mas, sabemos que existe shows gratuitos que ficam vazios. Também sabemos que o país está em crise econômica, porém muita gente GASTA com cerveja, cigarro e outras drogas, mas não INVESTE em show, disco, livro… e na arte. Precisamos pensar se queremos investir ou gastar?

Ah sim, tem a violência no Rio! Sim, tem mesmo. E “tem violência em Bruxelas, tem violência em Moscou, tem violência em Nova Iorque…” Já dizia a letra do saudoso Redson, do Cólera no álbum “Pela Paz em Todo Mundo” (1986). E quanto a isso temos que ter cuidado nas ruas, mas não podemos ser escravos do medo e ficar trancafiados em casa.

Outro triste fator é o bairrismo do Rio de Janeiro. Isso é agravado por todas essas questões acima. Uma praga que precisa acabar, uma atitude que não colabora em nada na vida das pessoas. Picuinhas devem ser esquecidas e o subúrbio e zona sul precisam ser uma só cidade!

Enfim, ser rock é um ato de guerrilha! Mas continuaremos esse papo em um outro momento. Agora, mas vamos aos shows…

A força feminina marca presença na primeira noite
com shows do Hatefulmurder, Lyria, Innocence Lost e Unnature

Uma coisa muito bem pensada no evento foi a pontualidade. Não teve enrolação para a primeira banda começar a tocar, o que é de se destacar. Afinal, o evento cumpriu rigorosamente os horários dos shows e isso é digno de aplausos. E assim começou cedo, para terminar cedo e facilitar a vida de quem saiu de longe para prestigiar o Reckoning Fest. A noite também era de pós ressaca da eliminação da escrete canarinho da Copa, mas era hora de rock.

Um detalhe do cast da primeira noite do evento e que vale frisar é que todas as bandas possuem mulheres nos vocais, além da DJ Cammy (foto acima). Entre as bandas quem iniciou iniciando os trabalhos, Unnature, nome sempre presente na cena carioca. Com Nina Pontes nos vocais, a banda apresentou um heavy moderno, com a experiência de outros eventos no palco do Imperator.

Em seguida, foi a vez de outra banda bastante ativa no cenário no Rio de Janeiro. Falamos do quinteto Innocence Lost, que apresentou um consistente heavy metal. Infelizmente, após sua boa apresentação, parte do público presente que já não era grande foi embora, mesmo ainda tendo duas bandas para se apresentar.

Dando continuidade, a banda Lyria, tocou um metal sinfônico focado em letras reflexivas, voltadas para problemas sociais, como a depressão e o autismo, e teve um público atento, porém pouco participativo, apesar do esforço da vocalista e fundadora Aline Happ (foto). Sua bela voz, infelizmente, ficou apagada, escondida atrás do peso instrumental da banda, que por sinal, também é muito bom. O volume da voz melhorou somente na parte final da apresentação. Talvez por isso o público não tenha se conectado como deveria.

Fechando a noite de sexta-feira, o Hatefullmurder foi a banda que trouxe o peso no show mais extremo da primeira noite e o canto gutural da vocalista Angélica Bastos (foto) foi um dos destaques. Com seu som possante, característico do metal e um bom entrosamento com o público a banda não deixou ninguém parado. Fundada em 2008, a banda tem uma boa estrada percorrida, inclusive já havia tocado no Imperator em outra ocasião, tal experiencia mostrou entrosamento em um set enxuto e arrasador.

Na segunda noite shows com:
Circus, AXTY (SP), Odeon e
Reckoning Hour

Na etapa de sábado, o fest teve uma baixa e, infelizmente, a banda Impavid Colossus não pôde comparecer ao evento por motivos particulares, conforme anunciado pela produção. A banda Circus abriu a segunda noite do Reckoning Fest. O quinteto formado por Bernardo Tavares (vocal), Alex Heink e Eduardo Lopez (guitarras), Lucas Mendes (baixo) e Hugo Rezende (bateria) foi o representante do Punk/HC/Indie do Reckoning Fest e é outro relevante nome na cena rock carioca.

A segunda atração foi o AXTY. O quarteto veio de São Paulo e, cantando em inglês, entregou um nu metal/Metalcore inspirado em nomes de destaque do gênero e a associação ao Linkin Park é imediata. O vocal “gritado” e algumas vertentes com agudos afinados e partes guturais são característicos. O estilo é popular e a banda tem bons músicos. Em sua formação, o frontman e cérebro do grupo Felipe Hervoso, o baixista Jonathas Peschiera, o baterista Gabriel Vacari e o guitarrista Guilherme Pagani. Para quem gosta do estilo, vale conferi!

Na sequência, foi a vez do Odeon e com ela outra baixa: o baixista André Casagrande se encontrou enfermo e não compareceu. A banda destrinchou suas músicas como um trio e som sampleado para suprir a ausência do homem das quatro cordas. E talvez, por isso, tenha sido a grande surpresa do festival, a novidade prometida. Apesar do desfalque do seu baixista, o então trio, Marcelo Braga(vocal), Lucas Moscardini (guitarra) e Marvin Tabosa (bateria) deram conta do recado, cantando em inglês e fazendo uma fusão pop, rock, funkeado com pitadas de R&B que funcionou muito bem, com participação ativa do público que cantou junto várias músicas. Há de se destacar o baterista Marvin Tabosa. que espanca sem dó seu instrumento, dando um peso absurdo ao som da banda e, sinceramente, não sabemos como não rasgou nenhuma das peles da bateria. Como foi dito antes, eles cantam em inglês, mas recentemente lançaram as músicas “Ousadia” e “Game”, que fechou o show, e ambas são cantadas em português. Foi sem dúvidas o melhor show do festival.

Por fim, a banda que deu nome e produziu o evento. A Reckoning Hour, comemorando seus 10 anos de estrada, boa experiencia e com um repertório enxuto que inflamou os presentes que não pararam de se estapear em rodas abertas por todo o set no generoso Imperator. O destaque fica por conta dos duelos que os guitarristas Filipe Leandro e Lucas Brum proporcionaram em diversos momentos.

A Reckoning Hour é uma excelente banda carioca. Seu som é calcado num metalcore de qualidade, com temas instrumentais, vocais bons e profissionalismo, numa versatilidade extrema que, aliados às letras de cunhos atuais, fazem o desconhecido buscar mais detalhes da banda. (A Rock Press entrevistou o baixista Cavi Montenegro, leia aqui!). O vocal gutural, porém limpo e coeso em algumas partes, o baixo sem a distorção para encorpar o som (o bigodinho à la mestre Phil Lynott é um fato pitoresco do simpático Cavi, na foto ao lado) e a batida forte e coesa do baterista Johnny são características marcantes deles. O setlist foi composto por: “Unity”, “Shadow of the World”, “Ground Zero”, “Scars”, “Downfall”, “Above the Fire”, “The Gatering”, “Defiance”, “Catharsis” e “What Has Gone Wrong”. Quase no fim do show, o vocalista pediu ao público para ligarem as luzes dos seus celulares, e foi prontamente atendido, para uma “balada-pesada” que criou um visual bem intimista. Vale conferir o trabalho desses cariocas!

Para refletir sobre a participação de todos na arte!

Primeiramente, agradecemos ao leitor que valoriza o TEXTÃO e que seguiu lendo até aqui (acredite, hoje ler é um diferencial). Agora, lembra que falamos no início que continuaríamos o papo em outro momento? O momento chegou.

Essa resenha foi escrita por três veteranos. Estamos no rock há cerca de 40 anos e, sem dúvida, muitos dos presentes no Reckoning Fest ainda nem eram cogitados para nascer quando íamos ao Caverna I, II e III, Garage Art Cult, no antigo Circo Voador e em diversos shows na cidade, na Baixada Fluminense, Niterói, região metropolitana do estado do Rio de Janeiro e até em outros estados. Já vimos muita coisa no rock. Somos fotógrafos de shows e agentes da mídia independente há um bom tempo, ajudamos a produzir eventos, assistimos ensaios de bandas promissoras que infelizmente não foram para frente. Enfim, vivenciamos de perto os altos e baixos da cena rock carioca. Segue um relato desses momentos que desejamos que seja inspirador aos que estão no rock, mas continuam boicotando o rock. O relato é do Marcelo Pereira:
“Outra coisa que me marcou no Reckoning Fest, mas, fora do contexto da música, foi conhecer um fotógrafo que estava com sua Nikon e flash TTL (eu acabo não levando, já que é extremamente rigorosa a não utilização de flash em espetáculos de dança, teatro e shows). Inicialmente, ao vê-lo com uma bengalinha verde, pensei ser um monopé, mas somente após notar que uma menina o acompanhava e era sua guia, entendi e fui ao seu encontro parabenizá-lo. Esse rapaz era cego de um dos olhos, e possuía apenas 25% de visão do outro olho. Ele era um verdadeiro, guerreiro do underground, disse ter ficado assim por conta de glicose alta (diabete) fulminante em três anos. Logo, fica o alerta: Vamos nos atentar para essa doença maldita!”

Agora, pensem com o coração, se o amigo fotógrafo, mesmo possuindo apenas 25% de visão, segue acreditando na arte da fotografia e não apenas marcou presença no Reckoning Fest, como também registrou o evento com seus clicks, por que você opta em esperar a morte chegar em casa?

Apõem a cultura da sua cidade, prestigiem os shows, o teatro, o cinema independente, saraus poéticos, exposições e a arte como um todo. Valorizemos músicos e bandas, mesmo que não seja do nosso estilo predileto, termos a incumbência de fortalecer a arte ou deixar ela enfraquecer de vez e com ela o underground. Desejamos uma cena alternativa mais unida. Que venha o Reckoning Fest 2023. Estaremos lá! – TEXTO: Cleber Jr. Marcelo Pereira e Michael Meneses. FOTOS: Cleber Jr. e Marcelo Pereira.

Respostas de 3

  1. Feliz por participar desse evento e ver tanta gente boa unida engajada na restauração da cena cultural do nosso Rio de Janeiro. Parabéns a TODOS pelo profissionalismo e envolvimento na produção do festival. PÉ NA ESTRADA ! SEGUE A LUTA !

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