Sábado (21/01), o Ratos de Porão volta ao Circo Voador, dessa vez com a tour do álbum “Necropolítica”, dividindo palco com os mineiros do Black Pantera que promovem o álbum “Ascensão”. Lançados em 2022, ambos os discos encabeçaram as listas dos melhores do ano e as duas bandas fizeram shows históricos no último Rock In Rio. A soma de Ratos de Porão + Black Pantera + Circo Voador tem como resultado a certeza de um bom show, mas não é só isso! A noite ainda terá DJ Cammy Marino e show de abertura da banda carioca Punhal, com quem conversamos na coluna 1, 2, 3, 4… na entrevista que segue:
PUNHAL:
“Somos uma banda formada por quatro professores!“
ENTREVISTA: Eduardo Martins
TEXTO: Michael Meneses
FOTOS: Michael Meneses e Divulgação
A escolha das atrações para o primeiro show de peso do Circo Voador na temporada 2023 e que compõem o projeto Verão no Circo foi certeira. Somaram uma banda como o Ratos de Porão (foto abaixo), que em seus mais de 40 anos de história fazem do Circo Voador a sua casa no Rio de Janeiro com o Black Pantera, banda que segue em “Ascensão”, aliás, título do seu último disco. Cabe a nós reconhecer e parabenizar a iniciativa das produtoras Tomarock, A Grande Roubada e ao Circo Voador por abrigar a festa!
Tanto Ratos de Porão como o Black Pantera tiveram seus últimos trabalhos eleitos por publico e critica como melhores discos de 2022 (inclusive o Michael Meneses aqui!). Afinal, ambos os álbuns já nasceram clássicos. As bandas também foram destaque no Rock in Rio do ano passado, a Rock Press conferiu (as fotos dessa matéria são das apresentações). O Ratos de Porão tocou no Palco Super Nova (Leia AQUI). Já o Black Pantera (foto abaixo) dividiu seu set com a Devotos, banda veterana de Pernambuco (Leia AQUI).
NA MESMA NOITE,
DJ CAMMY MARINO E PUNHAL
Na ocasião, haverá stands com material independentes, a sempre atuante DJ Cammy Marino discotecando nos intervalos e a banda carioca Punhal fazendo o show de abertura. A banda é uma das revelações do underground carioca, apresentando seu punk/HC. Crias da Zona Norte carioca, a banda é formada por Sandro Oliveira (vocal), Thiago Maciel (guitarra), Amaury Garcia (baixo) e Roberto Leonan (Bateria). O Punhal teve início a partir de arranjos para uma versão punk para “Comportamento Geral”, um clássico de Gonzaguinha. Logo veio o EP “Relatos sobre o Absurdo”. Em 2019, a banda iniciou no Estúdio HCS (RJ) as gravações do que seria o seu primeiro álbum, porém com a pandemia em 2020, o projeto se transformou em dois singles, “Classe Mé(r)dia” (2020) e “Deus da bala, bíblia e boi” (2021). O primeiro álbum, saiu pelo selo latino-americano Electric Funeral Records. Intitulado, “Entropia” (2021).
Em seu release, a Punhal assume ser uma banda de cunho político, que se posiciona claramente ao lado dos oprimidos pelo capitalismo, procurando se engajar por meio da cultura, na busca por uma realidade em que todos sejam tratados com dignidade e respeito. Para saber mais sobre a banda e seus projetos, entrevistamos os músicos da banda nesta edição da coluna 1, 2, 3, 4… da Rock Press:
1 – Eduardo Martins/Rock Press: Vocês são apontados como uma das revelações do hardcore carioca e finalmente estarão no palco do Circo Voador abrindo o show do Ratos de Porão e do Black Pantera. Quais são as expectativas para esse show? Aproveita para apresentar a banda e sua história aos leitores da Rock Press.
Sandro Oliveira/Punhal: Somos uma banda formada por quatro professores. Conheço o Amaury de longa data, era fã da antiga banda dele e fui em vários shows. Às vezes, o Amaury me chamava para subir ao palco e fazer participação em alguma música. Então, percebemos que tínhamos coisas em comum no gosto musical e em assuntos políticos e sociais. A ideia de formarmos uma banda falando sobre tais assuntos surgiu de forma vaga. Com o passar do tempo e com a ascensão de movimentos fascistas pelo país, voltei a falar com o Amaury sobre formarmos uma banda cujo teor seria alertar sobre o risco que estávamos correndo. Amaury era professor na mesma escola que o Thiago, que aliás já tinha muitas ideias em mente (uma delas era fazermos versões punk de sons de protesto da época da ditadura). Tanto que, de cara, fizemos uma versão de “Comportamento Geral” do Gonzaguinha. Só nos faltou o baterista. Como não encontramos alguém ao nosso redor, coloquei um anúncio em um grupo do Facebook e a única restrição foi que o candidato não poderia ser de direita. Fui xingado por muitos. Outros já adoraram a ideia. Por fim, ficaram duas opções. Uma delas foi o Roberto, que originalmente era guitarrista, mas se colocou disposto a pegar a batera. Marcamos um encontro num barzinho, e ali vimos que o Beto era alguém que tinha ideias legais e estava ideologicamente alinhado com o que queríamos desde o início. Sobre o show do Circo, creio que até o dia de hoje é o show das nossas vidas, e estamos ansiosos. Ratos é uma banda que admiramos muito, precursora no crossover, um estilo que muito nos representa. Além, claro, do Black Pantera que vem fazendo um trabalho lindo, e levando com muita dignidade e honra a voz do povo preto, que sempre foi ignorada, mas que é parte fundamental da construção da identidade deste país. E, logicamente, tocar no palco mais democrático deste país é uma felicidade sem limites. O Circo Voador é a casa do povo. E nós somos pessoas do povo.
2 – Rock Press: As mensagens da banda são explícitas em meio ao som agressivo, mas nota-se um bom humor e ironia nas letras. Qual o ingrediente para equilibrar tudo isso?
Amaury Garcia/Punhal: Sou professor de inglês e estudioso da cultura britânica. Não há como entender o pensamento britânico sem compreender ironia. Acho que ficou como influência. Logicamente, há momentos em que as letras devem ser mais diretas, sem sarcasmo. Mas, quando o tema permite, gosto muito de usar ironia. Temos um cuidado especial em buscar não apresentar uma realidade tão difícil de forma desesperançosa. Roberto sempre nos chama a atenção para isso, pois um de nossos pontos principais é construir possibilidades para intervir na sociedade, não apenas constatar a realidade brutal.
3 – Rock Press: Gostaria de saber como foi compor a tarantela para o mais novo EP. De onde veio a inspiração?
Amaury Garcia: Infelizmente a inspiração veio de uma certa família de mafiosos brasileiros muito conhecida. Quando pensei na música, seu título provisório era familícia. Conversando com um amigo, ele sugeriu compor um crossover de tarantela com punk. Ouvi algumas tarantelas para pegar a vibe e saiu esse lance. Era para ter saído no álbum Entropia, mas não ficou pronta a tempo.
4 – Rock Press: Os 4 membros são professores. Pura coincidência? Fale o quanto a educação influencia o som de vocês e a importância da educação para a cena rock?
Amaury Garcia: Coincidência nenhuma. Tudo doutrinador comunista (risos!). Acho que um dos ganhos que temos como professores é que constantemente precisamos traduzir conceitos ou ideias bem complexas para a linguagem mais simples para que todos os alunos entendam. Isso nos afeta ao escrevermos as letras, pois buscamos muitas vezes traduzir certos conceitos complicados para uma letra de música que dura 3 minutos, e que deve falar muito com poucos versos. Soa clichê, mas a realidade é que a educação é o que pode mudar o mundo. Mas não a educação para “ser alguém na vida”, que obedece à lógica capitalista. Deve-se educar principalmente para conscientizar que somos membros de uma classe explorada e que estamos em guerra contra as elites. As elites sabem disso muito bem, e fazem de tudo para esconder isso, justamente para que a classe trabalhadora não se desperte.
Roberto Leonan: Além disso, a educação é a única maneira que a pessoa tem de compreender a si mesma dentro do contexto do mundo. Não apenas a educação formal, adquirida na escola, mas a educação popular que está espalhada nos movimentos sociais mundo a fora. Não é possível ser um revolucionário se não tiver muito conhecimento para embasar suas opiniões políticas e sociais.
5 – Rock Press: Deixe um recado final aos leitores da Rock Press. O espaço é de vocês.
Roberto Leonan (foto): Fortaleça a cena independente, esse é o ambiente mais rico e criativo da música extrema no Brasil. Escute as bandas, compre o merchan, siga canais independentes nas plataformas digitais e, como diz o Gastão Moreira, “Leia muito para não ser enganado!”
Amaury Garcia: Esperamos ver todos no Circo para gritar contra os fachos! Guerra aos senhores e abaixo o capitalismo! Abraço a todos, camaradas!
Recomendamos…
Não temos dúvidas, Ratos de Porão e Black Pantera será um desses muitos shows memoráveis no Circo Voador. E com a presença da DJ (e Miss Tattoo) Cammy Marino e a apresentação dos cariocas do Punhal é a certeza que estamos no caminho certo de um momento histórico! – Michael Meneses!
CONTATOS PUNHAL:
E-MAIL: punhalpunk@gmail.com
FACEBOOK: https://www.facebook.com/punhalpunk
INSTAGRAM: https://www.instagram.com/punhalpunk
SPOTIFY: https://open.spotify.com/artist/0NyTIHMaN17fsp0gj1fUdP
YOUTUBE: https://www.youtube.com/channel/UCCmc8xkaqlb2-VwlCAC-MGQ
SERVIÇO:
SHOWS: RATOS DE PORÃO + BLACK PANTERA + PUNHAL + DJ CAMMY MARINO
DATA: Sábado, 21 de janeiro de 2023 às 21h.
LOCAL: Circo Voador – Arcos da Lapa S/N – Lapa – RJ/RJ.
INGRESSOS: Bilheteria do Circo Voador e pelo site da Eventim: www.eventim.com.br
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos (de 14 a 17 somente acompanhado do responsável legal).
Eduardo “Dudu” Martins – filho do Méier, pai da Isabel, jornalista, editor audiovisual, historiador, vascaíno relapso, suburbano incorrigível, devoto de Nelson Rodrigues, aficionado por literatura, butecos, “xumiau”, futebol alternativo, e que sonha em ver o Bangu ou o Madureira sendo campeão. Estudante de música flamenca, líder do @sovietcanibal e baixista da @forkillofficial.
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