A Rock Press falou com o Philippe Seabra, da Plebe Rude, por telefone e bateu um papo incrível com ele. A banda sobe ao palco do Circo Voador nessa sexta-feira (24/03), para lançar o segundo volume do projeto ambicioso “Evolução”. Com abertura da banda Inocentes celebrando a união das bandas. O projeto Evolução I e II é uma ópera-punk bem aos moldes de “Tommy” do The Who.
“Eu sou o único cara que não fuma(ou) maconha. Então eu lembro de tudo”
Entrevista Com Philippe Seabra
TEXTO e ENTREVISTA: Leozito Rocha / Michael Meneses
FOTOS: Caru Leão
São mais de 40 anos prestando ótimos serviços ao rock nacional e contando! Sexta, 24 de março, a PLEBE RUDE desembarca no Circo Voador para um showzaço especial em que mostra as pedradas do seu novo disco “Evolução – Vol. 2”(capa ao lado). Para completar, rola uma participação especial da lenda do punk brasileiro: Inocentes. Antes e depois do show, a festa pós-punk Bauhaus comanda a pista com sets incendiários que reúnem clássicos do The Cure, Depeche Mode, She Past Away, The Jesus & Mary Chain, entre outras pedradas sonoras. Mais: nos intervalos ainda rola uma seleção do DJ Bisnaga da 89 FM direto da terra da garoa.
Após duas datas precisarem ser adiadas por conta da pandemia, a Plebe finalmente está de volta ao palco da Lona. Após uma última passagem furiosamente nostálgica por aqui, quando lançaram o registro audiovisual do aclamado show “Primórdios”, a Philippe Seabra (voz e guitarra), André X (baixo), Clemente Nascimento (guitarra) e Marcelo Capucci (bateria) chegam agora trazendo mais um lançamento na bagagem: “Evolução Vol. II”
Leozito Rocha/Rock Press: Os discos Evolução I e Evolução II surgiram em meio a pandemia. O primeiro em 2019 e esse de lançamento logo depois (2020). Como surgiu esse conceito dividido em dois discos?
Philippe Seabra: A música singular “Evolução” surgiu em 1989. E, ela não era para a Plebe Rude. Achávamos a música irreverente e ambiciosa. Tratava-se de uma narrativa de milhares de centenas de anos atrás mostrando toda a evolução humana. Havíamos pensado em Evandro Mesquita da Blitz. Ele era meu vizinho e fui mostrar para ele. Porém, Evandro não curtiu a faixa. (Risos) Arquivamos a canção então. Em 2018 para 2019, eu estava trabalhando no meu livro autobiográfico sobre a trajetória minha e da banda (o livro será lançado no segundo semestre) e novamente deparei-me com a letra de “Evolução”. Nessa época, eu e o André X (baixista) estávamos com a ideia de criar um musical (Plebinho Rude) e partimos exatamente dessa faixa. Tudo isso atrasou todo o livro. A partir daí começamos a produzir tanto que acabamos com 28 (vinte e oito) músicas prontas. Lançamos em 2019 o “Evolução I” e na sequência esse “Evolução II” para abril de 2020 até toparmos com a dita pandemia. Lascou-se tudo. As passagens aéreas já estavam emitidas para lançarmos no Circo Voador e tivemos que cancelar. (Nota do autor: eu havia comprado o ingresso desse show e tive que estornar minha compra). E aí foi isso: só três anos depois nós faremos o show de lançamento desse no Circo Voador.
Rock Press: Bacana. Já tem editora para esse livro? Isso é novidade para a gente.
Philippe Seabra: O livro já está pronto. Como disse: ele é uma autobiografia e está sendo negociada. Não é somente um registro sobra a saga da Plebe Rude. A minha vida e da banda é fio condutor de uma história de todos personagens do rock brasileiro, política nacional e internacional, etc. É uma reflexão profunda de todo o período. Consegui escrever com uma autoridade que poucos artistas conseguem porque não teve “ghost writer” (Nota: ele escreveu tudo) e porque eu sou o único cara que não fuma (ou) maconha. Então eu lembro de tudo (Risos). Pode escrever isso aí. Será orelha do livro. O nível de detalhe é tão grande para os moldes de uma autobiografia devido a minha memória intacta.
Rock Press: Você mesmo grava e produz em seu estúdio os discos da Plebe Rude. Como se dá esse processo e o impacto disso no resultado final?
Philippe Seabra: Bem, há vinte anos, voltando para Brasília eu conheci minha atual esposa. Eu tenho uma relação de amor e ódio com essa cidade. No hiato de seis anos com a banda eu fui morar em Nova York. Foi um impacto tão relevante em todos os aspectos. Cultural, gastronômico etc. Bom, de volta a Brasília eu decidi montar um estúdio enorme na minha casa. Dei o nome de “Day Break”. Queria que fosse exatamente do jeito que pudéssemos produzir uma qualidade musical que nenhum estúdio tinha até então. Ali ensaiamos, gravamos e produzimos discos desde 2004 com a entrada do Clemente. Como fiz todo design ali desde a parte elétrica a escolha de microfones é um estúdio de muito fácil manuseio. Como sou produtor e engenheiro (autodidata) consigo fazer tudo lá. Foi um projeto de um ano e meio bem puxado com orquestrações, parte erudita, pós punk, momentos pesados, outros mais leves. Tem uma menina chamada Ana Carolina Floriano que canta no primeiro (na faixa “Nova fronteira) e nesse disco (na faixa “A Quieta Desolação) e dá um tom singelo, além do Jarbas Homem de Melo (marido de Cláudia Raia) que foi imprescindível para direcionar nosso projeto. Ele foi o nosso diretor artístico. Ele nos ajudou com importantes toques e conseguiu equilibrar e suavizar a parte pesada nesse trabalho contando a evolução humana. O homo sapiens é capaz de gerar pesadelos terríveis e ao mesmo tempo sonhos tão belos. Então nós puxamos mais para esse lado do sonho e conquista. Resultando em 28 canções.
Rock Press: De fato. A humanidade está bem tensa. Com pandemia, política e tal. Pegando o gancho do livro… Fale-nos um pouco sobre esse balanço da carreira da banda. Tudo que aconteceu. E, vocês têm acompanhado bandas novas? Alguma indicação?
Philippe Seabra: A Plebe surge de duas bandas: Aborto Elétrico e “Metralhas”. Do Aborto saem Capital e Legião e dos Metralhas surge a Plebe. Isso era 1980. A partir de 81 tocamos cinco anos nas quebradas de Brasília e depois Rio e São Paulo e isso despertou o interesse devido ao nosso som ímpar e letras densas até gravarmos nosso primeiro registro. Desde então formamos uma Santíssima Trindade com o rock de Brasília para o rock nacional. A Plebe possui doze discos de estúdio, alguns ao vivo e dois DVDs. E estamos aí na estrada seguindo a vida. Completamos 42 (quarenta e dois) anos de vida.
Rock Press: Quais são as memórias da Plebe sobre o Circo Voador? O que o público carioca pode esperar desse show?
Philippe Seabra: É… O Circo Voador foi o primeiro lugar que a banda tocou no Rio de Janeiro. O que era bem diferente de São Paulo. Ali ocupávamos bem mais lugares undergrounds e pungentes. As pessoas saíam de casa para escutar o novo. Isso era incrível. Hoje em dia não. Todos querem conforto e escutar bandas cover. Virou meio que isso. Perdeu-se o trabalho autoral e o público quer escutar covers. Não diferenciam “Victor & Léo” ou “Coldplay. Querem é festa e ir por ir. O que é uma tragédia, né? Quanto a indicação de bandas eu não gostaria de citar porque produzo muita gente. Ficaria estranho e também acabaria esquecendo alguém. O André teve a gravadora Rock it (lendária loja em Ipanema) com o Dado Villa-Lobos e produziam muitas coisas. Gangrena Gasosa, Second Come, etc… O Clemente tem um programa (Show Livre) e dali saíram inúmeras bandas novas também. Ou seja: a Plebe acabou de uma forma ou outra indicando e produzindo muita coisa nova por aqui. Artistas e bandas. Mas, voltando ao Circo. Ali nós tínhamos mais espaço. Os locais em SP eram menores. No Circo a coisa ficou grande e séria. Começamos a dar entrevistas, ser conhecidos e tal. Tocamos com Paralamas e a visibilidade da Plebe amplificou para todo país. De lá pra cá, desde o primeiro show (quarenta anos atrás) até aqui sempre lançamos discos lá. A partir do quarto álbum (Mais Raiva do que Medo) a Plebe sempre estreia no Circo. Até mesmo em volta de excursão damos um jeito de ali tocar. A Maria Juçá (produtora do Circo Voador) sempre foi um doce conosco e não tinha medo em colocar gente desconhecida na lona. É um lugar fundamental para a gente.
Rock Press: Verdade. O Circo é um lugar mágico. Passado esse show vocês já têm mais datas da turnê? Agenda fechou?
Philippe Seabra: Ok. Hã… Dia 25, agora, em Belo Horizonte. Dias 8 e 9 de abril em São Paulo. Ainda não sabemos as casas. Depois disso vamos para o interior.
PERGUNTA BÔNUS…
Michael Meneses/Rock Press: Houve um show da Plebe e Titãs em Aracaju (Ginásio Constâncio Vieira) no inicio de 1989, que não aconteceu. Isso virou uma lenda na cidade, sobre o que, de fato, aconteceu? Muito se falou na época e até hoje não sabemos os motivos que impediram o show. O que você lembra?
Philippe Seabra: Eu não lembro dos verdadeiros motivos. O que eu posso falar é que fomos para o hotel porque estávamos cansados devido a shows que tínhamos feito antes. E, lá ficamos. Eu estava de mochila meio que pronto. Adormeci e quando despertei vi a piscina do hotel cheio de gente e o pessoal dos Titãs participando de uma festa. Porque foi uma festa mesmo. (Risos). Lembro de ter pensado na hora: Ué? A festa vai ser aqui então?! Foi tudo bem divertido, mas não teve show. O que chegou pra gente é que houve um problema com tráfico de drogas e documentação.
Rock Press: Isso. Foi falado sobre drogas e documentação. Mas, ficou muito disse me disse na época.
Philippe Seabra: Pois é. Nunca descobrimos oficialmente o que rolou. Ninguém nos deu uma satisfação. Só soubemos que a polícia tinha ido lá por essa questão ilícita e que havia problema na documentação. Não teria mais o que te falar, sinceramente…
Recomendamos…
Como falando acima, além da Plebe Rude, haverá show de abertura da banda Inocentes, ou seja, tudo será festa na Lona da Lapa. – Leozito Rocha.
“Violência cede a vez pra conivência de vocês
se fecham os olhos ao invés de pensar
é que no fundo concorda.
Ditadores sobem e caem
Demagogos entram e saem
O populismo sempre trai o idiota que o abraça”
(Descobrimento da América – faixa de “Evolução II”).
OUÇA “EVOLUÇÃO VOL.II”: https://onerpm.link/549554414118
REDES SOCIAIS DA PLEBE RUDE:
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LOJA OFICIAL: https://pleberude.lojaintegrada.com.br/
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SERVIÇO:
SHOWS: Plebe Rude (Lançamento “Evolução Vol. II”) + Inocentes + Festa Bauhaus e DJ Bisnaga nos intervalos
LOCAL: Circo voador- Arcos da Lapa S/N – Lapa RJ/RJ
DATA: Sexta-feira, 24 de Março de 2023, abertura dos portões às 22h.
INGRESSOS: Bilheteria do Circo Voador e no site da Eventim: www.eventim.com.br
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos (de 14 a 17 somente acompanhado do responsável legal).
REDES SOCIAIS DO CIRCO VOADOR:
TWITER: https://twitter.com/circo_voador
INSTAGRAM: https://www.instagram.com/circovoador/
FACEBOOK: https://www.facebook.com/circovoadorlapa
AGENDA PLEBE RUDE:
Belo Horizonte/MG – @misterrockbar (c/ Marcelo Nova) – 25/03
São Paulo/SP – SESC Vila Mariana – 08/04
São Paulo/SP – SESC Vila Mariana – 09/04
Jundiaí/SP – SESC Jundiaí (c/ @inocentesoficial ) – 28/04
Campinas/SP – SESC Campinas – 29/04
Leozito Rocha é radialista, pesquisador musical, escritor e amante de cinema. Colaborador de sites musicais, curador de rádio, editor e apresentador do “O Som do Leozito” na Internova Rádio (OUÇA), e observador incurável. Seu facebook é: https://www.facebook.com/leo.rocha.798/
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