Comemorando os 70 anos do Snoopy e sua turma, a Planeta deAgostini, lançou “Snoopy, Charlie Brown & Friends – A Peanuts Collection”. Outro lançamento, é o “Livro de receitas da família Peanuts”, (Ed. Belas Letras). Esses livros e a grandeza de Charles M. Schulz, criador da turma, inspiraram a Rock Press. Afinal, “Meu”, amamos a garotinha ruiva, um cobertor de segurança e falamos: “Que puxa!”
TEXTO: Jorginho
IMAGENS: Divulgação
“Você pegou na minha mão Minduim”
Eu era muito pequeno quando o SBT transmitia a série animada do Snoopy, assinada por Bill Melendez, e foi ali que conheci o Charlie Brown e sua turma. Não sabia da existência dos quadrinhos. O amigo Alexandre Cabreira Fagundes (quase um irmão, uma pessoa marcante), certa vez apareceu com um álbum de figurinhas, era uma alegria, menos para mim que não pude adquirir. Em visitas a um tio paterno que tinha um armazém, ficava lendo os quadrinhos publicados nos jornais e ali me deparei com as tiras publicadas. Entre elas, estavam Minduim, ou Peanuts.
Foi uma alegria enorme. Agora, eu fazia meu próprio álbum de figurinhas, recortava as tiras do jornal e as colava em cadernos (escondido de minha mãe, que não curtia muito a ideia de “gastar meus cadernos com porcarias”, é… a vida de nerd não era fácil na época). Logo em seguida, as tirinhas, também passaram a ser publicadas em “Super Quadrinhos”, um suplemento dominical e em cores do Jornal Zero Hora. A alegria foi completa. Não perdia os desenhos animados, colecionava as tiras e as páginas dominicais, Charlie Brown, Lucy, Linus e Snoopy nunca mais saíram de minha vida, e nem da de milhares de pessoas que são fãs dos personagens.
No dia 2 de outubro de 2020, Peanuts completou 70 anos da publicação de sua primeira tirinha e a Editora Planeta de Agostini, para comemorar, trouxe a coleção “Snoopy, Charlie Brown & Friends – A Peanuts Collection” e a Editora Belas Letras, o “Livro de receitas da família Peanuts”. Porém, antes de falar disso, vamos relembrar a história dessa tira de quadrinhos que tanto nos cativa?
A História!
Peanuts foi criado por Charles Monroe Schulz, ou Charles M. Schulz (1922-2000) em 1950, tendo como protagonista um menino cabeçudo chamado Charlie Brown e seu cãozinho chamado Snoopy. Charlie Brown era o alter ego de Charles M. Schulz. Com suas inseguranças, reflexões e questionamentos, Charlie Brown era o “loser” por excelência, e seu autor, mesmo com todo o sucesso, nunca deixou de se achar um loser. Snoopy, seu cãozinho beagle enfezado, que no começo da história era mal-humorado, ranzinza e vivia às turras com seu dono ao qual chamava singelamente de “aquele garoto de cabeça redonda,” teve o nome sugerido pela mãe do artista, Dena Schulz. Pouco antes de morrer, ela falou que se algum dia tivesse novamente um cachorro, gostaria de chamá-lo de Snoopy (que em norueguês seria uma espécie de apelido para criança fofa, algo que inspira ternura).
A tira estreou no dia 2 de outubro de 1950, e Snoopy aparece pela primeira vez no dia 4 do mesmo mês e ano. Teve tiras inéditas até o dia 13 de fevereiro de 2000, um dia depois do falecimento do seu criador, ou seja, quando os jornais traziam a notícia da morte de Charles, era publicada a sua última tira, que havia sido desenhada uns dois meses antes do triste fato. Charles nunca aceitou ajuda de ninguém na produção das tiras, ele as escrevia, desenhava e fazia o letramento sozinho. Um exemplo disso é o traço tremido, pois o autor havia tido um ataque cardíaco e a mão direita que desenhava já não tinha firmeza. Mesmo debilitado, nunca parou de desenhar.
Charles criou personagens icônicos como Linus, com seu eterno “cobertor de segurança” e sua crença na “grande abóbora”; a irmã de Linus, Lucy, com seu gênio terrível, baseada na primeira esposa de Charles, Joyce Halverson; Chiqueirinho e sua nuvem de sujeira que o acompanhava; o passarinho Woodstock, eterno companheiro de aventuras de Snoopy, que surgiu em 4 de abril de 1967, mas só foi nomeado em 22 de junho de 1970, em homenagem ao Festival de Woodstock. É isso aí, leitores da Rock Press, o passarinho amarelo é puro rock’n’roll; Schroeder, com seu piano de brinquedo e sua eterna paixão pelo ídolo Beethoven; os “alter egos” de Snoopy: o Ás da aviação, que combatia o Barão Vermelho na Primeira Guerra Mundial, o descolado Joe Cool, e o escritor, que fica em cima de sua casinha vermelha escrevendo freneticamente seus romances. A lista é enorme e não para…
Snoopy e sua turma marcaram época trazendo discussões importantes, talvez antevendo algumas, como no caso da Patty Pimentinha, em que a amiga Marcie insiste em chamar ela de “senhor” (“sir”, ou “meu”, dependendo da tradução), provocando talvez aí uma discussão de gênero e de questão feminista, já que Patty se vestia de forma ambígua, não prestava atenção nas aulas e era uma grande esportista. É claro que era apaixonada pelo Chuck (abreviatura de Charlie, que no Brasil traduziam para Minduim). Também um caso famoso e impactante foi a inclusão do personagem Franklin nas tiras de Peanuts, ele foi o primeiro personagem negro a juntar-se à turma, justamente em um momento de tensão racial muito forte nos EUA. Martin Luther King fora assassinado em 4 abril de 1968, e uma professora de Los Angeles, chamada Harriet Glickman, começou a trocar cartas com Charles M Schulz, pedindo a inclusão de um personagem negro, para que, além de proporcionar identificação com meninos da mesma cor, e devido ao enorme sucesso da tirinha de Snoopy poderia haver uma melhoria nas relações interétnicas. Assim, no dia 31 de julho de 1968, Franklin aparece caminhando com Charlie Brown na beira de uma praia. Na sequência, Charlie pergunta se todos os familiares de Franklin estavam na praia, o menino responde que não, pois seu pai estava lutando no Vietnã. As cartas que Harriet Glickman enviou para Charles M Schulz estão expostas no Charles M. Schulz Museum na Califórnia, EUA.
No Brasil, Peanuts (que quer dizer amendoins e Schulz nunca gostou do nome por ter um tom pejorativo de coisas pequenas, algo como “ele trabalha por amendoins”), foi batizada com título de Snoopy para ter um apelo mais infantil e seguir uma tendência das inúmeras animações que fizeram sucesso no mundo todo. Por ter maior visibilidade em virtude dos produtos que são comercializados até hoje, Charles M. Schulz é um dos nomes que mais faturam financeiramente depois de morto, ficando atrás apenas de artistas como Michael Jackson e Elvis Presley. Ao todo, Schulz desenhou 17.897 tiras de quadrinhos, e na data de seu falecimento, era publicado em 2600 jornais simultaneamente.
Uma curiosidade: o cantor Benito Di Paula, quando conheceu a tirinha, morava numa pensão de italianos que liam coletâneas do Peanuts em italiano e riam muito, segundo o artista. Um dia, pediu que traduzissem para que ele compreendesse porque fazia tanto sucesso. Assim, vendo as desventuras de Charlie Brown, resolveu compor uma música em que ele recebia Charlie e apresentava as belezas do Brasil, a fim de amenizar as dores do pobre garoto. Virou seu maior clássico.
Biografia de Charles M. Schulz
Em 2015 a Editora Seoman lançou Schulz and Peanuts: A biografia do criador de Snoopy, escrita por David Michaelis, que mergulha profundamente na psique de Charles, mostrando ao leitor fatos que influenciaram nas criações de Schulz. David mostra o caráter e visão complexa de um dos maiores gênios do século XX, que era adorado inclusive por Umberto Eco. Peanuts é presente em artigos, sendo facilmente encontrado em qualquer busca através da plataforma Google Acadêmico.
Toda a obra em edições de luxo!
No ano de 2020, no aniversário de 70 anos de Peanuts, a Editora Planeta deAgostini nos brinda com “Snoopy, Charlie Brown e Friends – A Peanuts Collection”, a mesma segue a venda nas bancas de revistas e lojas especializadas de todo o Brasil ou no site da editora (Click AQUI!). A coleção reúne todas as tiras dominicais de Peanuts, além de textos biográficos e curiosidades sobre a turma, todos assinados por Charles M. Schulz e pelos especialistas em HQ, Alexandre Boide e Érico Assis. Tudo isso em uma linda coleção com 61 volumes, apresentando capa com lombada de tecido. Edições imperdíveis para quem ama os personagens.
Café com Charlie Brown
Já a Editora Belas Letras, que sempre nos brinda com excelentes biografias de músicos de rock (as mais recentes foram os livros do Red Hot Chili Peppers, Sammy Hagar, e do Tony Iommi), acaba de lançar o “Livro de receitas da família Peanuts”. Como é uma tradição da editora, na compra do livro no site da Belas Letras, é possível descolar alguns brindes em kits exclusivos. Com 128 páginas, traduções de Cássia Zanon, o livro traz 50 receitas, 75 tirinhas e ilustrações originais de Charles M. Schulz. Para comprar acesse o link oficial da Editora Belas Letras AQUI!
Recomendamos…
Conhecer e apreciar a obra de Charles M. Schulz e as tirinhas do Peanuts, sua principal criação é algo inspirador, por isso recomendamos esses livros. Finalizo citando Charles M. Schulz, em sua última tira: ”Charlie Brown, Snoopy, Linus, Lucy… Como posso esquecê-los?” – Jorginho.
JORGINHO escreveu esse texto ao som de “Meu amigo Charlie Brown”, do grande Benito Di Paula. O mesmo ainda brinca que é um aviador em cima de uma casinha, é filósofo, educador social, agitador cultural, administrador do ColetiveArts (grupo de artistas e escritores da região de Porto Alegre/RS), acadêmico de pedagogia, torcedor do Grêmio, mas não gosta de futebol, gosta é do Grêmio. Trabalha como ilustrador, criador de conteúdo e tudo que seja relacionado ao desenho, incluindo participações em exposições nacionais e internacionais na área de cartuns, quadrinhos, charges e desenho em geral. Já ilustrou inúmeros livros infantis, também foi autor pela plataforma Elefante Letrado. Trabalha com oficinas de desenho, ilustrações e fanzines e produz o podcast cultural Coletive Som – A voz da Arte.
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