Estreia nesta quinta-feira (07/03) nos cinemas do Brasil, “O Último Animal”, novo longa de Leonel Vieira, com atuações primorosas de Junior Vieira, Joaquim de Almeida, Gabriela Loran, Marcello Gonçalves e do ator inglês Duran Fulton Brown. O filme narra o submundo do Rio de Janeiro, jogo do bicho, tráfico, corrupção… em uma trama realmente envolvente. Saiba mais na matéria que segue…
TEXTO: Fabiano Soares
IMAGENS: Divulgação
O Rio de Janeiro é foda. Em todos os sentidos possíveis: foda de bom, foda de ruim, e foda no sentido de inacreditável! Seja você morador da cidade ou não, certamente já ouviu histórias escabrosas que se passaram na “cidade maravilhosa”. E sob essa aura de belezas naturais que atraem pessoas de todo o mundo, com as sujeiras humanas — que também atraem pessoas de todo o mundo — podemos ver o filme “O Último Animal”, de Leonel Vieira.
Resumão? O filme nos mostra, a partir do jogo do bicho, um esquema que envolve bicheiros, o comando de morros, facções, PM e investidores estrangeiros. A história começa com um trecho do desfecho narrativo, cortado ao som de um tiro. Já sabendo que vai dar merda, entramos na história, narrada por Didi (vivido por Junior Vieira. Foto ao lado), o protagonista “certinho”. Explico: ele é morador de uma comunidade cujo “dono”, quem comanda o tráfico, é seu irmão de sangue, Calango (Samuel Melo); mas, ao contrário do irmão, que optou pela vida do crime, Didi formou-se em contabilidade e quer ganhar seu dinheiro honestamente, buscando estágio ou trabalho em empresas. Confesso, achei que ia ficar nesse clichê de yin-yang dos irmãos, mostrando que o que vale a pena é trabalhar de forma honesta para não ter a vida ceifada pelo ciclo da vida criminosa. Mas, mermão, assim como o Rio de Janeiro, o filme separa umas surpresas para quem assiste. E óbvio que não estou aqui para dar spoiler.
A trama é muito boa, e envolve personagens bons e distintos: Didi, nosso narrador que está em busca de um trabalho formal; Calango, seu irmão, gerente do tráfico em um morro carioca; Ciro (vivido por Joaquim de Almeida. Foto a esquerda), um bicheiro que manda muito mais no Rio de Janeiro do que qualquer autoridade oficial; Alex Morris (vivido pelo ator inglês Duran Fulton Brown da série ‘Os Mosqueteiros’ – BBC 2016), um gringo que se amarra em pó e sexo e trabalha para uma multinacional — lavando dinheiro de Ciro; Paulinha (vivida por Gabriela Loran), filha de Ciro e celebridade do morro de Calango; e Magá (Marcello Gonçalves), PM corrupto que trabalha mais para Ciro do que para os cidadãos cariocas. Além desses, completamente envolvidos na trama principal, temos Frank (Joe Renteria) e Emília Martínez (Alessandra Toussaint), pai e filha, ele, dono da empresa em que Alex trabalha; ela, esposa de Alex.
Poderia considerar o papel de Emília menor, por não ter tanta relevância na trama, mas uma fala de Frank, seu pai, nos diz que é intencional: ele pede que a filha não se separe no momento que ele mais precisa de Alex. A questão da submissão da mulher aos homens é levantada de maneira magistral, na prática, mostrando uma personagem apagada de diversas formas na trama, mas sempre sendo mostrado que suas opiniões nunca são levadas a sério, sendo sempre desrespeitada.
A outra personagem feminina, Paulinha, sofre, mas por outros motivos: abandono por parte do pai na infância, Paulinha ainda não tem o apoio do pai para ficar famosa. Além de tudo, há uma questão mal resolvida com Magá, um relacionamento que ao longo do filme vemos o quão problemático é. Um grande acerto da produção foi chamar Gabriela Loran, artista trans, para interpretar uma personagem trans. Representatividade importa.
O filme vai do início ao fim sem muitas firulas audiovisuais, e me ganhou mesmo foi na trama. O roteiro, de Ernesto Solis, baseado em um roteiro anterior de Leonardo Solis e Leonel Vieira, nos mostra relações casuais entre as pessoas, inusitadas, muitas vezes, e quando você vê, todo mundo se conhece. Se você é carioca, entende que isso não é forçação de barra; acontece, mesmo. E é aí que dá a merda.
#Recomendamos…
Leonel Vieira e sua equipe estão de parabéns pelo filme! Sem moralzinha de “Oh, o Bope é incorruptível”. PM, milícia, tráfico, “cidadão de bem”, político, bicheiro, escola de samba… Tá tudo envolvido até a alma com as merdas da cidade. Aqui é 021! – Fabiano Soares.
O ÚLTIMO ANIMAL – Trailer – assista aqui.
Prêmios:
‘O Último Animal’ foi nomeado para Melhor Filme Estrangeiro no Festival de Cinema de Gramado (Brasil, 2022), Melhor Longa-Metragem no Los Angeles Brazilian Film Festival (2023), e Melhor Atriz Principal para Gabriela Loran – no papel de Paulinha – O filme também esteve na seleção oficial do Madrid International Film Festival de 2024.
Ficha técnica:
TÍTULO NACIONAL: O Último Animal
PAÍS: Brasil
GÊNERO: Drama/Thriller
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DURAÇÃO: 109 minutos
DIREÇÃO: Leonel Viera
ROTEIRO: Ernesto Solis
PRODUTORES: Volf Entertainment
ELENCO: Joaquim de Almeida, Junior Vieira, Duran Fulton Brown, Gabriela Loran, Marcello Gonçalves e grande elenco.
DISTRIBUIÇÃO: Cinecolor Films Brasil
SITE OFICIAL: www.cinecolordobrasil.com.br
FACEBOOK: @cinecolorfilmsbrasilcinema
INSTAGRAM: @cinecolorfilmsbrasilcinema
TIKTOK: @cinecolorfilmesbrasil
Fabiano Soares: é amador, cineasta, escritor e fotógrafo amador, mas faz tudo com vontade! Escreveu “Rio Nosso de Cada Dia”, abordando essa cidade que encanta e assusta tanta gente diariamente. Dirigiu curtas-metragens e alguns videoclipes de bandas do Rio de Janeiro, como Gangrena Gasosa, Uzômi, Incognosci, Overnoisy e Feretral. Atualmente dedica-se a estudar a Canibal Filmes no mestrado em Mídias Criativas da UFRJ. Também vende material de cinema, literatura e fanzines independentes em shows, além da banquinha de sex shop que divide com a esposa, Luciana. Porque rock é metal é muita vibração! E, lógico, como uma das suas principais definições, é pai do Edgar, que aos 6 anos já está encaminhado nos filmes de terror e nos sons doidos!