Cria do subúrbio carioca, com disco novo na praça e iniciando uma turnê pelo Nordeste (e em breve em São Paulo), a New Day Rising (NDR), é uma das mais atuantes bandas do HC do Rio de Janeiro. Aproveitamos o momento para uma entrevista com o vocalista Renato Raxta, na Coluna 1, 2, 3, 4… da Rock Press!
ENTREVISTA: Michael Meneses
FOTOS: Divulgação
Na história do rock suburbano carioca, o bairro de Marechal Hermes tem uma história bem peculiar. Localizado na divisa da zona norte com a zona oeste e com mais de 100 anos de fundação o bairro sempre foi cenário de efervescência cultural no Rio de Janeiro. No cinema, Marechal Hermes, atualmente é uma das principais locações cinematográfica para gravações de filmes, novelas, séries, e de videoclipes, do Brasil, e chegou a ter três salas de cinemas, mas que infelizmente foram se transformando em igrejas ao longo das décadas de 1980/90. Nas artes cênicas, além de atores que residiram na região, o histórico Teatro Armando Gonzaga, possui uma das melhores acústicas da cidade e já foi palco de peças importantes e shows; na literatura, coletivos de poetas e escritores promoviam saraus literários desde os anos 1950. Mas, e o Rock?
Então, Marechal Hermes abrigou espaços como o Leo´s Bar, shows nas diversas escolas da região, especialmente na Escola Técnica Visconde de Mauá e festivais, destaque para o Roquealize-se, evento gratuito em praça pública e que parou de acontecer na gestão do prefeito Marcello Crivella. Contudo, correm boatos que o festival pode voltar a acontecer ainda esse ano (“Oremos”).
Porém, um dos grandes marcos do rock no bairro, foi ter sediado os dois primeiros shows unindo o heavy e o punk no Brasil, ocorridos no segundo semestre de 1984, com as bandas Patrulha 666 (Juiz de Fora/MG), Desordeiros do Brasil, Metalmophose e Dorsal Atlântica. Se picuinhas entre as cenas ocorrem até hoje, a tentativa de agregar o Metal e o Punk no Brasil, teve como marco inicial, esses shows ocorridos em Marechal Hermes. Ambas as apresentações foram documentadas em filmes e em ao menos cinco livros, três deles estão na foto ao lado; “Guerrilha – A História da Dorsal Atlântica” de Carlos Lopes e que também ganhou versão em quadrinhos, “Punk – Anarquia Planetária e a Cena Brasileira” de Silvio Essinger e “Movimento Punk na Cidade: A Invasão dos Bandos Sub” da Janice Caiafa, lançado na época pela Jorge Zahar Editor.
Entre as bandas, nomes como Incenciall, Espuma Flutuante, Esporro, Freakanoise, HangH, Colegial entre outras, contudo, o nome mais consistente surgiu há 12 anos, falamos da banda New Day Rising ou simplesmente NDR.
Formada por Thiago Vieira (guitarra), Renato Raxta (vocal), Caique Xavier (baixo) e Felipe Vieira (bateria), a banda vem realizando shows pelo circuito independente do Rio de Janeiro, incluindo apresentações no Circo Voador, festivais do porte nacional como Garage Sounds e oportunidade de dividir palco com bandas como Krisiun, Dead Fish, Glória, Hateen, Garage Fuzz, Matanza, e com nomes internacionais como H2O (Nova York/EUA).
Em estúdio, entre EPs e álbuns, a banda acaba de lançar “Da Virtualidade da Ignorância a Presentificação do Brutal Real” (capa ao lado), disco com 10 composições de Thiago vieira (guitarra) e letras de Renato Raxta. O álbum foi mixado e masterizado pelo produtor musical Mário Neto. Das canções presentes, apenas “Só Há Fraqueza Aqui” não é de autoria da banda e é assinada por Bernardo Tavares da banda Circus (RJ). Pensado como um disco de vinil (Lado A, Lado B), explora os conceitos de virtualidade e realidade.
Com disco pronto, agora é a hora dos shows, e a próxima parada é uma turnê pelo nordeste brasileiro. Aproveitamos o momento para um papo com o Renato Raxta na Coluna 1, 2, 3, 4… da Rock Press.
1 – Michael Meneses/Rock Press: A banda é um dos principais nomes da atual cena HC no Rio de Janeiro. Conta um pouco da história da banda aos leitores da Rock Press…
Renato Raxta / NDR: Somos uma banda do subúrbio do Rio de Janeiro. Formada em Marechal Hermes em 2011. Entretanto os integrantes se conheceram alguns anos antes, pois, somos vizinhos. A banda lançou seu primeiro EP em 2012 intitulado “Dedo na Cara” com a proposta de fazer som autoral e com as influências que escutávamos naquela época. Em 2015 lançamos o “Nós Fazemos Parte Da Resistência” que seria um aprofundamento musical do primeiro EP. Um pouco mais sóbrio, mais sério musicalmente, mas com a mesma “mão”. Em 2017 lançamos “O Homem comum”; esse foi o EP que nos projetou mais seriamente na cena do Rio e do Brasil, nos proporcionando não só reconhecimento, mas também shows em lugares maiores. Em seguida lançamos uma série de singles até o fim do ano de 2023 onde inauguramos o “Da Virtualidade da Ignorância a Presentificação do Brutal Real”. Nesse processo saíram 3 integrantes (todos guitarristas) e a banda se mantém hoje como um quarteto onde Felipe (bateria), Caique (baixo) e Thiago (guitarra) são irmãos e primos e eu Renato (Raxta), sou vocalista e letrista da banda.
2 – Rock Press: Como se desenvolveu o processo de composição de “Da Virtualidade da Ignorância a Presentificação do Brutal Real”? O álbum apareceu em algumas listas de melhores discos do ano…
Renato Raxta: Foi um longo processo. Desde o meio do ano de 2018 quando o antigo guitarrista saiu (Pedrinho, que hoje toca na Pavio) e entrou o Thiago, nós começamos a montar o disco. Porém, vieram a pandemia e um recesso da banda por conta de um desentendimento entre Raul (um outro guitarrista) e a gente. Esse tempo levou 5 anos. Com isso Thiago (foto ao lado) e eu, assumimos a responsabilidade e tocamos a produção do disco. O disco é dividido em 2 lados, dois blocos. O primeiro o mais pesado e rápido e o segundo um pouco mais melódico. A temática retrata o movimento que o Brasil passou desde o golpe de 2016 até o fim da pandemia e a expulsão do aspirante a ditador Bolsonaro. Nesse contexto existem criações sobre a morte da minha mãe na música “Sal”, uma homenagem e ao mesmo tempo declaração de amor ao bairro de Marechal Hermes em “Céu de Marechal”, a denúncia sobre a violência com o trabalhador em “A Marcha”. Um alerta sobre o que pode se tornar o Brasil em termos de controle da informação em “Adeus Carnaval”, entre outros temas.
3 – Rock Press: Vocês estão prestes a iniciar um tour pelo Nordeste. Falem dessa turnê…
Renato Raxta: Sim. Essa tour foi organizada pelo Felipe Vieira (foto ao lado), nosso baterista e executada e produzida por toda a banda. Estamos indo de maneira totalmente independente. Será inteiramente percorrida de carro. Com shows no interior e nas principais cidades e capitais do nordeste. Estamos muito felizes e pretendemos fazer um documentário.
4 – Rock Press: Em termos de cena rock carioca, como a banda tem analisado o atual momento? Shows, bandas, coletivos, lançamentos…
Renato Raxta: Bom, particularmente avalio com um tamanho bem menor do que já foi um dia. Mas não menos em termos de qualidade. Por ter, só de banda, 13 anos, posso dizer que vi muitas bandas terminarem e isso é triste. Por outro lado, vi muitas bandas boas nascerem. Tem uma galera em Niterói e São Gonçalo muito boa, Klitória, Onda Errada, Triunfe… Aqui na capital, temos a Clava, o Plastic Fire, Imundos, Circus, A Última Gangue… Bandas que vem ajudando a produzir de fato uma cena. No geral eu acho nossa cena muito boa. Poderia ser melhor? sim. Em termos de qualidade de equipamentos em casas de shows e até mesmo as próprias casas de shows. Isso ajuda a construir uma cena, mas creio que isso seja um problema para além do hardcore/punk em si.
5 – Rock Press: Passada a tour pelo Nordeste, quais os projetos futuros da banda, o que vem pela frente e deixe uma mensagem final aos leitores da Rock Press…
Renato Raxta: Passada a tour pelo Nordeste teremos tour por São Paulo, iremos tocar, tocar e tocar, fazer clipes, nos divertir, divertir as pessoas e pensar em um próximo disco. E uma mensagem final é monte uma banda, faça arte, faça música, leia, estude, pratique esporte, se envolva em sindicatos, coletivos, partidos políticos, produção de shows, de conteúdo audiovisual… leve a humanidade adiante!
RECOMENDAMOS…
A turnê da New Day Rising, começa no próximo dia 26 de março com apresentação em Itabuna/BA, no dia 28, show em Aracaju/SE abrindo para o Black Pantera. A tour encerra dia 1 de abril em Natal/RN (veja cartaz com todas as datas ao lado).
Aos nossos leitores do Nordeste (e em breve de São Paulo), fica a sugestão e prestigiem. #Recomendamos! – Michael Meneses!
New Day Rising (NDR) – CONTATOS:
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TELEFONE PARA SHOWS: (21) 99210-9351
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MICHAEL MENESES – É o editor da Rock Press deste 2017, criador do Selo Cultural Parayba Records, fotojornalista desde 1993, foi fanzineiro nos anos 1980/90, fotojornalista, jornalista e cineasta de formação, pós-graduado em artes visuais. Fotografa e escreve para diversos jornais, revistas, sites e rádios ao longo desses últimos 30 anos, também realiza ensaios fotográficos de diversos temas, em especial música, jornalísticos, esporte, sensual, natureza... Pesquisa, e trabalha com vendas de discos de vinil, CDs, DVDs, livros e outras mídias físicas. Michael Meneses é carioca do subúrbio, filho de pai paraibano de João Pessoa e de mãe sergipana de Itabaiana. Vegetariano desde 1996. Em junho de 2021 foi homenageado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro pelo vereador Willian Siri (PSOL/RJ), com monção honrosa por iniciativas no audiovisual e na cultura suburbana. Torce pelo Campo Grande A.C. no Rio de Janeiro, Itabaiana/SE no Brasil e Flamengo no Universo. Atualmente, dirige o filme, “VER+ – Uma Luz chamada Marcus Vini, documentário sobre a vida e obra do fotojornalista Marcus Vini.