Os 80 anos de vida e 60 de carreira do grande Marcos Valle foram celebrados com toda a pompa e circunstância que esse artista merece: reverência de um público que ia dos 20 aos 70 anos e com artistas convidados de várias gerações e estilos da MPB numa apresentação histórica no mítico Circo Voador.
TEXTO: Paulo Schwinn
FOTOS: Nem Queiroz
A noite começou com o DJ Mangolab abrilhantando a festa com um set de muita música brasileira dançante. Por volta de 21h15, Marcos Valle a banda subiram ao palco com a instrumental “Bar Inglês”, do álbum ‘Nova Bossa Nova’ (1998). “Deixa eu dizer uma coisa a vocês: se eu soubesse que era tão bom fazer 80 anos, já teria feito há muito tempo atrás!”, disse um vibrante Marcos Valle, arrancando risos e aplausos efusivos da plateia que compareceu à icônica Lona da Lapa. “Muito obrigado por vocês estarem aqui! Muito Obrigado!”, completou Valle antes de anunciar a segunda canção do show, a recente e bela “Cinzento”, uma parceria com Emicida que está no álbum homônimo, lançado por Marcos Valle em 2020.
As imagens no telão, destacando fotos de Valle tiradas das capas de seus álbuns, cheias de efeitos e movimentos, foi outra atração à parte. Deu uma estética visual de fundo muito interessante. Tudo segue com a participação da vocalista de apoio da banda, e esposa de Marcos Valle, Patrícia Alvi(foto ao lado), em “Batucada”, samba-bossa acelerada lançada em ‘Samba ‘68’ (1968). “Bicicleta”, de 1984, ano seguinte ao megahit “Estrelar” vem a seguir, causando urros da plateia, tipo: “caraca, tem essa que a gente quase esqueceu!”.
Roberta Sá (foto) é a primeira convidada a ser anunciada, sendo muito aplaudida. O bolero “Não Tem Nada Não”, anuncia Marcos, é a homenagem dele para João Donato, falecido em julho de 2023, parceiro nessa faixa junto com Eumir Deodato, que também completou 80 anos esse ano. Em seguida, Marcos e Roberta cantam “Os Grilos”, clássica canção que Valle lançou em seu álbum de 1970, deixando os presente felizes com essa primeira participação especial do show de 80 anos do mestre Valle.
A apresentação foi fluindo em clima de festa, gostoso, com todo mundo numa vibe boa, curtindo de montão estar ali, naquele momento lindo, ouvindo e dançando muita música de qualidade. O baixista, e único integrante original do Azymuth ainda vivo, Alex Malheiros (foto acima), é convidado a subir ao palco na sequência. A canção tocada é a que deu nome ao grupo, a instrumental “Azymuth”, do álbum “Mustang Cor de Sangue” (1969), muito celebrada. A seguir vem “Samba de Verão”, um dos maiores hits de Marcos Valle, lançada em 1965 no disco “O Compositor e O Cantor”, aplaudidíssima e cantada praticamente em uníssono, em mais uma passagem inesquecível da noite festiva.
A convidada seguinte foi Joyce Moreno (chamada de maravilhosa por boa parte do pessoal que estava na frente do palco), que Marcos Valle recebeu com um efusivo abraço. A dupla interpretou dois sambas que fizeram em parceria: “Besteiras de Amor” e “Valeu”, ambas do álbum “Contrats” (2004). Pura magia Marcos e Joyce juntos num palco. Valeu! E muito!
Depois Marcos anuncia que “Parabéns”, do mesmo álbum de 2004, é escolha sua para a noite mágica de seus aniversário. E todos celebram. Em seguida, Valle chama ao palco Roberto Frejat (foto abaixo), um dos maiores guitarristas do rock brasileiro, que é muito aplaudido. Marcos revela que Frejat o telefonou de madrugada para dizer que aceitaria o convite para participar desse show-homenagem, mesmo estando em turnê próximo a data de aniversário do amigo. “Para mim é uma honra estar aqui nessa noite. Adoro o trabalho do Marcos que tem um obra musical riquíssima, que temos de respeitar”, disse um emocionado Frejat. E juntos cantam “Nem Paletó Nem Gravata”, faixa do ótimo álbum “Previsão do Tempo” (1973) que Marcos gravou com o acompanhamento luxuoso do grupo Azymuth, trazendo um belo solo de Frejat na guitarra, além de “Bete Balanço”, clássico do Barão Vermelho, composta por Frejat e Cazuza e que ganhou uma pequena participação vocal de Valle e, o melhor, um lindo solo de teclado de Valle num piano Rhodes, com um timbre maravilhoso, característico do som desse inesgotável artista. Aliás, o exímio instrumentista se alternou entre as teclas do citado Fender Rhodes e de um Nord Stage 2 a noite toda, mostrando maestria em ambos.
Já chegando no final do show, Marcos Valle e banda tocam “Mentira”, que tinha uma letra até maior do que a que foi lançada em Previsão do Tempo, seu álbum de ruptura e que faz 50 anos em 2023, em que abraçou de vez ritmos mais pop, contemporâneos da época em que estava vivendo. “Mentira” foi muito aplaudida e é uma canção de protesto contra a ditadura. Marcos deixou o Brasil, em 1975, por causa da censura, indo trabalhar nos Estados Unidos com Eumir Deodato, que arranjou seu primeiro disco (Samba Demais, de 1963) e foi seu parceiro em diversas composições, só voltando no começo dos anos 80. E aí entra Marcelo D2, um dos convidados mais esperados, que é muito aplaudido. “Muito antes do Jay Z, esse cara já sampleava música minha, me fazendo ficar mais conhecido para as novas gerações”, destacou Marcos Valle. Isso porque “Contexto”, petardo dançante do Planet Hemp, usa como base justamente a canção “Mentira” (Marcos e Paulo Sérgio Valle). A seguir, “Deixa Eu Dizer/Desabafo” (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro \ Marcelo D2), clássico do repertório de Ivan, fecha com chave de ouro a participação de Marcelo D2 (na parte falada) que profetiza, olhando para Marcos Valle: “A gente vai contar por resto da vida que estava no show de aniversário de 80 anos do Marcos Valle no Circo Voador. Todo mundo aqui vai fazer isso”. E completa: “Tu é foda pra caralho, a gente te ama demais”, no que o povo presente confirmou com e aplausos.
Ainda houve tempo para mais um convidado, o baterista dos Titãs, Charles Gavin, que também coordenou os relançamentos da discografia de Marcos Valle pela antiga gravadora Odeon em CD em 2011 no box ‘Tudo’. Gavin assume as baquetas em “Vida”, parceria de Marcos Valle com Liniker e os Caramellows, mostrando o quanto esse grande músico, mesmo com 60 anos de carreira, não deixa de buscar a interação musical com as novíssimas gerações da música brasileira.
Para terminar com o astral lá em cima não poderia faltar o tradicional “Parabéns pra Você” antes de ‘Estrelar’, mega hit oitentista, que marcou a volta de Marcos Valle às paradas de sucesso, botando todo mundo para dançar e cantar mais uma vez e encerrando a festa com a alegria lá no alto. Parabéns e que venham aniversários como esse ao mestre Marcos Valle! – Paulo Schwinn.
Paulo Schwinn é natural de Santos, SP, ex-vocalista e guitarrista da banda de rock Sujeitos Compostos (conheça) e que em breve estará lançando seu trabalho solo, além de produtor e apresentador do Programa Desvio à Esquerda, na Web Rádio Rota 220 (ouça), e fã do bom (velho e novo) Rock and Roll.
Uma resposta
Foi realmente uma noite glamourosa, Marcos Valle super inteiro, feliz mesmo, vi de perto sua emoção aflorar a toda hora, principalmente na participação de Marcelo D2 que o ovacionou feito um verdadeiro fã! Obrigado RockPress/Paulo Schwinn pelo relato!