Estreando a nova fase da coluna “Shows que Marcaram Época”, da Rock Press, o fotógrafo Cleber Jr. que esteve na apresentação do Iron Maiden no primeiro Rock in Rio, em 1985, traz seu relato sobre o show. Hoje (02/09) é dia de Maiden mais uma vez se apresentando no festival.
TEXTO: Cleber Jr.
IMAGENS: Arquivo Pessoal
O ano era 1984, eu dirigia pela Avenida Brasil, a mais importante via expressa do Rio de Janeiro e lá pela altura do bairro de Cordovil um imenso cartaz anunciava um grande festival de rock. Aquele cartaz informava que bandas como Iron Maiden, Queen, Yes, Ozzy Osbourne, Whitesnake e outras iriam se reunir, em janeiro de 1985, num espaço na Barra da Tijuca que a partir dali ficaria conhecido como a Cidade do Rock e o festival, pioneiro no Brasil, era o Rock in Rio.
Um roqueiro como eu olhava para olhava para o anuncio e ampliava a ansiedade de quem, naquela época, jamais cogitaria ver tantas bandas reunidas durante pouco mais uma de semana logo ali, na Barra, ao alcance dos olhos e ouvidos quase juvenis. É preciso contextualizar que assistir a um show de rock por aqui, até então era raro. E aquele cartaz prometia as bandas que apreciávamos há muitos anos.
Entre as bandas anunciadas, algumas já em baixa e outros em ascensão, constava o Iron Maiden que estava na turnê World Slavery Tour, lançada em 1984 e em uma crescente popularidade, impulsionada pelo álbum The Number of The Beast (1982). A banda vivia o auge de sua inspiração e energia. Era um som novo pelos lados do Brasil e os admiradores de um rock mais pesado foram rotulados de satânicos e metaleiros.
O Iron Maiden entrou no palco em 11 de Janeiro, noite de abertura do festival, após o Whitesnake e antes do Queen com a temática capa do álbum da turnê, o Powerslave, ao fundo nos levando a viajar pelo Egito, suas pirâmides e simbolismos e canções que se referiam a Segunda Grande Guerra, ameaça nuclear e ao próprio Egito.
O show começou com “Aces High” e logo emendou “2 Minutes To Midnight” e “The Trooper” deixando cerca de 300 mil pessoas em êxtase e sedentas de mais peso e energia. A multidão se imprensava e ninguém ficava parado numa massa em movimento de idas e vindas tentando se aproximar do palco, no alto verão do Rio.
Esse movimento insano chegava ao palco como combustível para Bruce Dickinson e Steve Harris correrem de um lado ao outro do palco e Bruce fosse atingido por ele mesmo em uma performance com guitarra e cantasse “Revelations” com sangue escorrendo de sua testa.
A essa altura o que estava no ar era a cartase. A banda em uma performance arrasadora e o público acompanhando em uma onda humana de prazer e forte calor. Não é à toa que o Iron Maiden entrou no gosto popular, voltando diversas vezes ao Brasil e ao Rock in Rio, onde gravou o álbum ao vivo com o nome do festival em 2001.
E ainda veríamos a mascote da banda, o Eddie circulando pelo palco, implicando com o guitarrista Dave Murray e atraindo a atenção da massa, intrigada com o tamanho do monstro.
Seria a única apresentação da banda naquele festival. Todas as outras se apresentaram duas vezes, ao longo de dez dias sem interrupção. A banda se desviou da tour norte-americana para vir ao festival e voltou para seguir viagem, deixando a certeza da sinergia com o povo brasileiro.
Passado o Rock in Rio, o Iron Maiden que já vinha conquistando uma popularidade absurda no Brasil pós-ditadura ficou ainda mais em evidência, se tornando um sinônimo de heavy metal ou “rock pesado” (como se dizia na época). Devido ao sucesso da passagem da banda no Brasil, foram lançadas dezenas de edições especiais em revistas e pôsteres, camisas e um impressionante número de tatuagens com o Eddie.
Vale lembrar que essa turnê resultou o álbum Live After Death com registros das apresentações na costa oeste americana e um vídeo em VHS, rejeitado pela banda que se tornou peça de colecionador com gravações do show deste primeiro Rock in Rio. Outras preciosidades são os bootlegs da apresentação no festival que foram lançados ao longo dos anos, nos formatos de vinil e CD, com direito a diferentes capas, as mais famosas são com o Eddie no lugar do Cristo Redentor ou apenas com o monumento do Cristo Redentor e uma outra com o mascote do Maiden vestindo a camisa do Flamengo e destruindo o Estádio do Maracanã.
O Retorno ao Brasil
Falando em Maracanã, a banda só retornou ao Brasil sete anos depois, tendo como shows de abertura a banda inglesa Thunder, fazendo shows em Porto Alegre/RS, São Paulo/SP e Rio de Janeiro, no Maracanãzinho (uma foto desse show pode ser vista na contracapa do CD “Real Live One”, de 1993). Na capa desde CD (foto) pode ser visto alguém levantando a camisa do Rock in Rio II, mas, isso é papo para uma futura edição da coluna “Shows que Marcaram Época”.
Enfim, hoje, 2 de setembro de 2022, é dia de Maiden in Rio e por mais que muitos lamentem a repetição da banda no Festival, a certeza de um bom show é quase unânime. #Recomendamos. – Cleber JR.
EQUIPE ROCK PRESS NO ROCK IN RIO 2022 – Michael Meneses, Cadu Oliveira, Kesley Meneses, Jonildo Dacyony e Igor Velasco. ACESSE: https://portalrockpress.com.br/festivais/rock-in-rio/
Cleber JR é carioca, nascido na Penha, é fotógrafo, apaixonado por música, arte e futebol. Torce para o Flamengo e foi a todos os festivais Rock in Rio, tendo trabalhado como fotógrafo em alguns e esteve presente em muitos shows históricos ao longo da vida. Conheça o meu trabalho em: cleberjr.fot.br.