Chegamos a mais uma edição do Rock in Rio, o mais tradicional evento de música do País e um dos principais festivais do planeta. Nesta edição, mais uma vez, o Iron Maiden marca presença. A banda britânica retoma a turnê mundial Legacy of the Beast que promove o game/HQ/RPG e uma coletânea de hits de mesmo nome. A tour divulga também o álbum Senjutsu de 2021, lançado seis anos depois do antecessor Book of Souls, e que, apesar de bastante elogiado e de ter recebido alguns prêmios, ainda recebe críticas por parte da imprensa especializada e dos fãs. O que nos leva a uma breve análise sobre a relação da Donzela com o Brasil e se a banda ainda possui alguma relevância em âmbito mundial.
TEXTO: Jonildo Dacyony
FOTO: Michael Meneses!
Desde o longínquo ano de 1985 que ficou marcado como o ano da redemocratização do Brasil e da primeira edição do Rock In Rio que trazia em seu line-up nomes consagrados como Queen, Ozzy Osbourne, Scorpions, AC/DC, e entre outras atrações internacionais, uma banda inglesa que estava em franca ascensão, e apresentava uma turnê com elementos cenográficos gigantescos e temática que remetia à cultura egípcia, diferente de tudo que já havia sido visto até então, pelo menos no que se referia aos artistas de hard rock/heavy metal, o mundo mudou bastante. E não só o mundo do show business como já haveria de se prever, dadas as transformações geopolíticas que trazem consigo mudanças econômicas e tecnológicas.
Em 2022, o Rock in Rio chega à sua 9ª edição brasileira, após ter expandido sua marca para outros países, tendo edições nos EUA, Portugal e Espanha. Dentro dessa longa história que tem como um dos maiores méritos ter sido uma iniciativa que colocou o Brasil na rota dos grandes shows internacionais, além de, juntamente com outros grandes festivais mundo afora, estabelecer paradigmas no que diz respeito a formato e organização. A despeito dos equívocos que possam ter sido cometidos nessa trajetória, deu destaque a muitos artistas de diferentes origens e estilos. Alguns tiveram suas carreiras alavancadas a partir da apresentação no festival, outros, quase no ostracismo, ganharam novo fôlego, mas sem dúvida alguma, pouquíssimos têm a biografia tão atrelada à marca como o Iron Maiden.
Essa é a 13ª vez que a banda britânica desembarcará em terras tupiniquins, e no decorrer dessas quase quatro décadas de frequentes turnês pelo País, será a 5ª vez no Rock in Rio. Sendo assim, apesar de, a exemplo de ocasiões anteriores, terem outras datas agendadas em diferentes cidades, não resta dúvida de que a apresentação de maior visibilidade é sempre a do festival carioca, que já rendeu o maior recorde de público de sua carreira (mais de 200 mil pessoas na edição de 1985) e um álbum ao vivo (gravado na edição de 2001).
Por que então questionar a relevância de uma banda que já caminha para o seu jubileu de ouro e possui em sua extensa bagagem uma quantidade enorme de premiações, incontáveis produtos com sua marca, além de dezenas de milhões de cópias de seus álbuns vendidos? Talvez para muitos, a resposta seja um tanto óbvia, mas para tantos outros, nem tanto.
Novos Tempos
Hoje, experimentamos uma realidade totalmente diferente da vivenciada nos anos 80. Para nos atermos ao mundo da música, a forma como o público a consome está bem distante da relação que os fãs tinham com seus ídolos naquela época. Em um mundo no qual os artistas lançam uma canção de cada vez por meio de plataformas digitais, muitas vezes, um álbum com dez faixas leva um ano inteiro para ser completamente disponibilizado. Contudo, isso atende ao perfil do público atual que, em tempos de redes sociais, priorizam conteúdos de curta duração e que são, por vezes, descartáveis. Assim, torna-se necessário aderir a esse padrão ou, pelo menos, tenta se adequar.
É difícil fugir da analogia com o futebol, dada a nossa condição de brasileiros, mas, sobretudo porque falamos de uma banda intimamente ligada a esse esporte. Pois bem, apesar dos aspectos da atualidade mencionados acima, o Iron Maiden tem a seu favor o know-how de uma minoria privilegiada no vasto mundo da música que é o de não depender dos grandes veículos de mídia para manter seu público fiel. Público este que como uma boa e grande torcida de um grande clube de futebol sempre mostrou através dos anos seu amor incondicional ao time, digo à banda. Isso não significa dizer que Steve Harris e Cia não tenham se adaptado aos novos tempos, até porque, a exemplo de todo e qualquer clube tradicional do esporte bretão, a torcida se renova a cada ano, e não raro, como eu mesmo já presenciei algumas vezes nos vários shows da Donzela que tive a oportunidade de assistir, é fácil notar a presença de crianças de diferentes idades, acompanhadas dos pais e irmãos.
Essa constante renovação estabelece demandas que obrigam a banda a estar em constante evolução, especialmente no que concerne às novas tecnologias. Portanto, se analisarmos os diversos elementos, como o uso das mídias; o apelo visual das turnês que procuram sempre apresentar algo novo; o perfil empreendedor e multitarefas de Mr. Bruce Dickinson; o trio de guitarras composto por Smith, Murray e Gers que esteticamente está longe de ser uma novidade, mas encanta qualquer jovem que está aprendendo os primeiros acordes; o carisma inigualável de Nicko McBrain; e mais importante, a música, que continua sendo produzida, gerando prêmios e cifras, além de manter a qualidade, mesmo que alguns puristas e sectários afirmem o contrário.
Recomendamos…
Por tudo isso, pode-se dizer que o Iron Maiden ainda jogará nas onze por bastante tempo. Que venha mais um Rock in Rio! – Jonildo Dacyony.
Jonildo Dacyony é nascido em Natal-RN e criado na capital do Rio de Janeiro, portanto, um potiguar/carioca. Apaixonado por cinema, teatro, literatura, música, vinhos, cervejas e pelo Flamengo. Tem mais de três décadas de rock’n’ roll, é profissional de hotelaria e food & beverage, além de ser formado em História e graduando em Geografia.