Em show enérgico no lendário Circo Voador, O IRA! provou com sobras sua relevância para o rock nacional. A apresentação fez parte da tour de aniversário de 40 anos da banda que segue pelo Brasil. A noite ainda contou com outros dois veteranos da geração anos 1980, a banda brasiliense Finis Africae e o DJ José Roberto Mahr. Saiba mais na matéria que segue.
IRA!: 40 anos com vigor no Circo Voador!
IRA! + Finis Africae + DJ José Roberto Mahr
CIrco Voador – Rio de Janeiro/RJ
05 de novembro de 2022
TEXTO: Paulo Schwinn
FOTOS: Lu Valiatti
Do lado de fora do Circo, a agitação era boa, muita gente na fila na probabilidade de testemunhar uma noite que se anunciava histórica. Já dentro do Circo, muitos amigos se encontrando e falando das expectativas para os shows de Ira! e Finis Africae. Havia também um stand com vinis de vários estilos de rock, pop, reggae e MPB, além da venda de merchandising e discos do IRA, como os mais recentes, em vinil, IRA (2020) e Demos 83-84, lançado em conjunto pelos selos Nada Nada Discos e pela Três Selos. Destaque para o formato box, esse trazendo 12 faixas em versão demo, da formação original do grupo, com Nasi (voz), Scandurra (guitarra), Adilson (baixo) e Charles Gavin (bateria). A edição vem caprichadíssima, com pôster, livreto cheio de textos e fotos inéditas da época da gravação, valendo cada centavo. Confira no aqui.
FINIS AFRICAE:
UM VIBRANTE SHOW DE ABERTURA
No palco, a noite começou com um excelente show da banda brasiliense ‘Finis Africae’, que tocou por cerca de uma hora. Com uma banda afiadíssima, formada pelos guitarristas Cesar Ninne, que foi do lendário grupo Coquetel Molotov (ele inclusive estava usando uma camiseta dessa banda), e Nelsinho Cerqueira, o baixista Tony Miranda, o baterista Robson Riva e o vocalista original do grupo, Eduardo de Moraes, último a entrar no palco, com a banda já mandando ver em “Pretérito”, canção de 1987, ano de lançamento do primeiro disco da banda. “Mentiras”, “Armadilha”, (uma das mais festejadas), “Máquinas”, “Vícios”, e o single “Santa Julia”, além do mais recente lançamento, a ótima faixa “Mundo Moderno”, o set, ainda prestou homenagem à David Bowie com “The Man Who Sold The World” e teve seu encerramento com a crítica “Deus Ateu”. Com esse repertorio, o Finis Africae formou um show preciso e muito bom, que tornou a espera pelo Ira! muito leve e divertida.
IRA: SHOW DE HITS, LADOS B E SURPRESAS
Chegar aos 40 anos de carreira não é para qualquer banda, não é para qualquer um. E o Ira!, banda formada em 1981 em São Paulo e atualmente tendo em sua formação Nasi (voz), Edgard Scandurra (guitarra e vocais), Johnny Boy (baixo e vocais) e Evaristo Pádua (bateria), atingiu esse incrível patamar e com muita lenha ainda para queimar.
A sequência inicial já foi matadora. Quem tem “Gritos Na Multidão”, “Dias De Luta” e “Longe de Tudo” para abrir um show e ainda colocar a galera para pular e cantar “Porra, caralho, cadê meu baseado!”, (em ‘Dias de Luta’) tem muita história pra contar. As canções que vieram a seguir diminuíram um pouco a adrenalina, mas não o interesse do público. “Flerte Fatal” e “Pra Ficar Comigo” (versão pra “Train In Vain”, do The Clash, ambas do Acústico MTV Ira!, disco de maior sucesso comercial da banda), além de “O Amor Também Faz Errar” (primeira música de trabalho do álbum ‘Ira’, de 2020) e “Vida Passageira”, vem em sequência para esquentar os corações dos fãs numa incomum madrugada fria de novembro no Rio de Janeiro.
Nasi anuncia que vão tocar a canção título do primeiro álbum da banda, ‘Mudança de Comportamento’, de 1985. “Esse álbum foi gravado aqui no Rio de Janeiro”, faz questão de lembrar o vocalista. E a ligação dos paulistanos do Ira! com o Rio é lembrada carinhosamente algumas vezes durante a apresentação. Seja nos grandes shows que a banda fez no Circo, como o do retorno em 2014 (depois de 7 anos de hiato) e o da apresentação na íntegra do álbum ‘Psicoacústica’ (1988) em 2018, seja nos álbuns que foram gravados no Rio (além de ‘Mudança…’ e ‘Psicoacústica’, ‘Clandestino’, em 1990 e ‘Entre Seus Rins’, em 2001). “Tarde Vazia” vem a seguir com Scandurra mostrando porque é o melhor guitarrista de rock no Brasil: sempre criativo e tentando trazer elementos de guitarra diferentes e enriquecedores à conhecidíssima canção, lançada em ‘Clandestino’ (1990), arrancando aplausos ainda maiores da plateia. “Flores em Você” aparece mais leve no início, ficando próxima à versão original do álbum ‘Vivendo e Não Aprendendo’ (1986), mais vibrante na segunda parte, com uma ótima performance. A seguir, Nasi anuncia mais uma canção recente, do álbum de 2020, chamada “Efeito Dominó”, que é uma parceria com a cantora da banda Metrô, Virginie Boutaud, que cantou na versão de estúdio e fez falta na execução da faixa ao vivo.
Duas canções de ‘Psicoacústica’ são tocadas em sequência. O álbum, lembrado por Nasi e Scandurra, foi incompreendido na época do lançamento, mas com o passar dos anos foi reavaliado. E “Rubro Zorro” e “Advogado do Diabo”, essa última uma das inspirações da geração manguebit de Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e cia, surgida nos anos 90, vem em sequência, fazendo os die-hard fãs cantarem com força.
Na sequência, “Black Sabbath”, a homônima primeira faixa do primeiro álbum de Ozzy, Iommi, Butler e Ward, e, como anunciou Nasi, “porque o Circo Voador é o templo do rock”, completou o cantor, surpreendendo muita gente. “Eu Quero Sempre Mais” e “O Girassol”, canções que na época do seu lançamento (no álbum ‘7’, de 1996) passaram despercebidas, mas que tiveram sua redenção e viraram hits no disco Acústico, foram muito festejadas e cantadas praticamente em uníssono, sendo que a segunda teve uma versão de cerca de 8 minutos, com Scandurra esmerilhando na guitarra mais uma vez. O cara é como vinho, com o passar do tempo toca seu instrumento cada vez de forma mais inspirada. E, como era de se esperar, “Envelheço na Cidade” e “Núcleo Base” encerram o show com a adrenalina lá em cima, reverências do público à banda e gritos de todo o Circo para ‘Olê, Olê, Olê, Olá, Lula, Lula’!
“Mas assim vamos ter que fazer o bis!”, constata um já cansado Nasi, talvez pela agitada sequência de shows que a banda vem fazendo por todo o país com essa turnê comemorativa de 40 anos. E em menos de 3 minutos a banda volta ao palco para um megabis. Primeiro “Respostas”, mais uma do disco ‘Ira’, de 2020, lançado 13 anos após o ótimo ‘Invisível DJ (2007), o último antes do rompimento da formação clássica, que contava com Ricardo Gaspa no baixo e Andre Jung na bateria. Mas, diga-se de passagem, os substitutos Johnny Boy e Evaristo Pádua caíram como uma luva, dando muito conta do recado. Em seguida, ‘dois lados b, um do primeiro, outro do segundo disco’, como anunciou Nasi. “Coração” e “Vitrine Viva” são as escolhidas, levando emoção aos fãs que acompanham o grupo desde o início. E o final ficou com a obscura e ótima “O Bom e Velho Rock and Roll”, de “Entre Seus Rins” (2001), para fechar o show com energia, já deixando saudade.
E teve Mahr discotecando…
A noite ainda teve a presença, nos intervalos, do lendário DJ José Roberto Mahr, do saudoso programa de rádio ‘Novas Tendências’, tocando altos sons de rock e pop dos anos 80 e 90. A se destacar, uma excelente sequência de hits: The Cure, Depeche Mode, The Clash, B-52’s, uma combinação de bandas de diferentes segmentos do rock que, com a classe de Mahr, produziu uma sequência marcante, para lembrar sempre. – Paulo Schwinn.
PRÓXIMOS SHOWS DO IRA!:
FESTIVAL HORA DO ROCK – São José dos Campos/SP – 12 de novembro de 2022
ATRAÇÕES: Paralamas do Sucesso, Titãs, Biquini, Ira!, Matanza Ritual, Humberto Gessinger, Supercombo, Engrennagem e outras atrações.
INFO: https://www.showpass.com.br/evento/173/Hora_do_Rock
São Paulo/SP – 12 de novembro de 2022
ATRAÇÕES: Ira + Biquini + Velhas Virgens
INFO: https://www.showpass.com.br/evento/233/Ira_Biquini_Cavado_e_Velhas_Virgens
Presidente Epitácio/SP – 14 de novembro de 2022
Prata/MG – 15 de novembro de 2022
São Paulo/SP – 19 de novembro de 2022
Curitiba/PR – 10 de Dezembro de 2022
Pontal do Paraná/PR – 11 de Dezembro de 2022
Diadema/SP – 16 de Dezembro de 2022
Paulo Schwinn é paulista de Santos, SP, vocalista e guitarrista da banda Sujeitos Compostos (conheça), produtor e apresentador do Programa Desvio à Esquerda na Web Rádio Rota 220 (ouça) e fã do bom (Velho e Novo) Rock and Roll!
Respostas de 3
Zé Roberto , antes do Novas Tendências, fez uma festa importantíssima para o Rock Carioca e a nova cena cultural dos 80s. A festa New Wave na Papagaio ‘s, na Lagoa, entre fevereiro e setembro de 1984.
Trilha sonora sensacional, e palco bacana onde tocaram Legião Urbana, Titãs, Hojerizah, dentre outros.
Fez história e muita coisa nasceu dali.
Mahr é história!