IGGY POP AND THE STOOGES: RAW POWER – 50 ANOS!

Nesta edição da coluna Discão comemoramos os 50 anos de “Raw Power”, lançado em fevereiro de 1973. O trabalho ajudou a resgatar Iggy Pop e os Stooges, com a supervisão luxuosa e necessária de David Bowie. O começo do fim.

IGGY POP AND THE STOOGES:
RAW POWER – 50 ANOS!
O disco que ensaiou a volta da banda

TEXTO: Leozito Rocha
IMAGENS: Divulgação

James Osterberg, vulgo Iggy Pop, lançou esse ano mais um disco, intitulado “Every Loser”. Muito bom, por sinal. Recomendo a audição desse. Porém, há mais coisas relevantes nesse ano corrente de 2023. Sim… O clássico “Raw Power” completa 50 anos de existência. No fio do bigode, de fato, ele fez aniversário no último dia 7 de fevereiro de 2023. Há uma versão chamada de “Rough Power”, uma espécie de coletânea que veio a público em 1994 com originais de baixa qualidade. Sem a chancela de David Bowie (produtor) e aprovação de Iggy, por sinal.

Contudo, façamos um retorno à época. Após a fase da Elektra (gravadora) – os Stooges já tinham lançado seus dois primeiros discos, “The Stooges” (69) e “Fun House” (70) – Iggy Pop estava bem envenenado por drogas e álcool. A coisa não estava nem um pouco boa. Os dois discos haviam fracassado copiosamente em vendas. Tanto que o músico acabou com a banda. No ano de 1971 ele conheceu David Bowie, que o levou para Inglaterra. Reza a lenda que Bowie já conhecia a banda e curtia bastante. E, por isso mesmo, insistiu com Iggy que voltasse com ela e tentasse mais um álbum. Bowie foi decisivo demais, desde a escolha dos músicos até o contrato com a Columbia Records. Foi ele quem descolou essa nova chance e convenceu Iggy entrar em estúdio. Nessa época já estavam com eles o músico James Williamson, na guitarra. Dessa forma, Ron Asheton mudou para o baixo (muito contrariado, inclusive) e seu irmão Scott seguiu na bateria. Tudo pronto para o que viria ser “Raw Power”.

O álbum foi gravado e mixado em Londres, mas seguiu causando desconforto e brigas. A gravadora queria algumas baladas (e até conseguiu, como veremos a seguir), Iggy ficou irritado com o resultado de algumas faixas e sobrou até para os engenheiros de som. Iggy meteu a mão na mesa e mixou, ele mesmo, boa parte do álbum. Um desastre completo! Sem manjar do assunto ele colocou a maioria dos instrumentos em um canal e desequilibrou a sonoridade da coisa. Ficou uma porcaria. Mais uma vez, Bowie, seu amigo, veio salvar o trabalho. Deu maior equilíbrio colocando tudo em devido lugar. E assim foi. “Raw Power” nascia com tudo aquilo que poderia ser: visceral, agressivo, sexual, pesado, soturno e belo. A viagem começava com “Search and Destroy” (um dos singles. Foto ao lado) dando as cartas. Muita gente considera essa canção como mãe do punk. Steve Jones, dos Pistols, menciona a banda e esse disco como influência para canções do “Nevermind The Bollocks…

“Gimme Danger” surge de forma lasciva e bela. Lembra das baladas pedidas pela gravadora? Pois é… Essa é uma pedrada certeira. “Penetration” não deixa de ser outra boa balada. Com letras fortes e nada românticas, porém com sonoridade sem tanta agressividade. Iggy Pop já era conhecido por ser um cara performático nessa época. Incluía em suas apresentações gritos, emulação de sexo, vidros cortantes em seu dorso, etc… Isso hipnotizava a plateia. Cada show dele era uma catarse! “Your Pretty Face…” e “Raw Power” estabelecem o “garage rock” e bom rock n’ roll que os Stooges sempre fizeram. “I need somebody” brinda o ouvinte com a guitarra de James Williamson. Belo trabalho do músico, com a pegada de um blues dilacerante. “Shake Appeal” e “Death Trip”, que encerram o álbum, seguem com a energia lá em cima de Iggy e a cama de James detonando peso. Para se ter ideia, Lester Bangs (icônico jornalista musical) classificou o disco e a banda como a ressignificação (não existia ainda esse conceito, ok?) do heavy metal e do pesadelo do mais puro rock. Tamanha a forma que a banda impunha em shows e discos. Muitos adjetivavam Iggy como selvagem. Alguém fora de controle. Quase um animal. Bom… Ele era a iguana, não é mesmo? (Risos).

Seguindo… Ficou a cargo de Mick Rock a capa do disco. Iggy ao microfone no palco, com calça rosa rebaixada e maquiagem pesada. Se foi proposital ou não, combinou muito com o glam rock da época. Mesmo que o disco não vá para esse lado. O álbum tornou-se o mais aclamado da banda pelos críticos e rendeu fama a Iggy. Para o bem ou para o mal. Muita gente ficou curiosa sobre o porquê do título “Iggy Pop and The Stooges”. E era isso mesmo. Iggy ensaiava uma carreira solo e não via mais o resto da banda como um todo. Por isso é que o disco é creditado na discografia da banda, mas pode ser considerado como um combo para carreira solo de Iggy Pop, o que veio acontecer meses depois. Iggy seguiu sua carreira solo ao lado do amigo David Bowie.

Falar sobre a influência e legado desse é muito fácil. Não só do disco como da banda. Ao lado do MC5 (considerados padrinhos), os Stooges são considerados os pais do punk. Simples assim. E por muitos anos foram admirados e decisivos na vida de muitos músicos que gostamos também. Caso de Kurt Cobain (Nirvana), Thurston Moore (Sonic Youth), Henry Rollins (Black Flag e Rollins Band), Johnny Marr (Smiths), John Frusciante (RHCP), entre outros guitarristas, além de uma penca de bandas do pós-punk, do metal e do pop também. Seriam mais de centenas delas, acreditem.

Por essas e outras, “Raw Power” entrou para a história como um dos álbuns mais relevantes da música contemporânea. Famosa “discoteca básica” mesmo. Eu diria: imprescindível tê-lo em sua casa. O disco que salvou a carreira de Iggy Pop e escancarou o que viria a seguir. – Leozito Rocha.

DICA: O documentário “You Never Had It – An Evening with Charles Bukowski”, do Diretor Matteo Borgardt, caiu na rede. A jornalista italiana Silvia Bizio passa uma noite na casa de Bukowski conversando com ele e com a esposa Linda Lee. Corram atrás. Obs: Essa entrevista foi realizada em 1981 (Buko estava com 60 anos).

Leozito Rocha é radialista, pesquisador musical, escritor e amante de cinema. Colaborador de sites musicais, curador de rádio, editor e apresentador do “O Som do Leozito” na Internova Rádio (OUÇA), e observador incurável. Seu facebook é: https://www.facebook.com/leo.rocha.798/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Facebook

- Anúncios -

Instagram

Twitter

O feed do Twitter não está disponível no momento.

Youtube