Ex-líder do Barão Vermelho toca músicas de toda sua carreira para público de várias gerações. Noite ainda teve o show de abertura da banda cearense Jonnata Doll E Os Garotos Solventes e o DJ Jannot tocando antes e depois dos shows.
Circo Voador – Rio de Janeiro
06 de maio de 2023
TEXTO: Paulo Schwinn
FOTOS: Nem Queiroz
Mais uma noite com ingressos esgotados no Circo Voador. Dessa vez no show do cantor, compositor e guitarrista Frejat, que voltou (depois de algum tempo sem se apresentar na Lona da Lapa) à casa que o revelou em 1982, junto com o Barão Vermelho de Cazuza e cia, para um show comemorativo de seus 40 anos de carreira, completados em 2022. Uma comemoração ‘extraoficial’, como disse o próprio músico.
Tudo começou a esquentar com o ótimo show de abertura de Jonnata Doll e Os Garotos Solventes. Com 3 álbuns lançados (o mais recente, Alienígena, é de 2019 e foi produzido por Fernando Catatau, guitarrista da banda Cidadão Instigado). A banda surgiu no Ceará, em 2009, e há algum tempo está radicada em SP. Atualmente alcança um público cada vez maior na cena rock e com total merecimento. Tanto alcança que Frejat os convidou para fazer o esquenta de sua apresentação. E os caras mandaram muito bem! Em cerca de 45 minutos de gig, tocaram 10 canções com destaque para “Edifício Joelma”, “Vale do Anhangabaú” e “Crocodilo”, quando Jonnata soltou os cachorros (e os demônios) em uma performance pra lá de explosiva, podendo ser comparada a alguns dos grandes momentos da lenda Iggy Pop na fase com The Stooges. A banda já esteve em terras cariocas, faz uns anos, em uma apresentação no “Vespeiro”, carinhoso apelido para os shows que ocorrem na Livraria Baratos da Ribeiro e que estavam voltando as atividades horas antes com show do The Cigarettes, (leia aqui).
Comandando o som mecânico, DJ Jannot segurou muito bem a onda enquanto o palco ia sendo montado para Frejat. Rock nacional e internacional safra anos 80 foi o menu da noite e não teve erro: todo mundo dançou e cantou pra valer!
Perto da meia noite, Frejat e banda adentram o palco do Circo. E já começam com a adrenalina lá em cima: “Puro Êxtase” colocou a galera para dançar e cantar junto. E essa foi a tônica da apresentação: um balanço dos 40 anos de carreira de Frejat. Não foi meramente um show solo dele. Aliás, apenas três canções lançadas em sua carreira solo entraram no setlist: “Homem Não Chora”, “Segredos” e “Amor Pra Recomeçar”. A apresentação foi um desfile de clássicos compostos por Frejat ao longo dos anos, em especial as parcerias com Cazuza para o Barão Vermelho e para a carreira solo de Caju, falecido em 1990. “Pense E Dance” e “Pedra, Flor e Espinho” continuaram o clima de folia. “Ideologia” veio a seguir, numa versão mais soturna e com incríveis projeções de glóbulos vermelhos (ou seriam pílulas vermelhas?) flutuando no imenso telão montado no fundo do palco, que deu uma dimensão especial a esse momento do show. Ao final, Frejat lembrou que “hoje nossos inimigos são as redes sociais, que colocam uns contra os outros, mas vamos falar de rock”. E “Ponto Fraco” veio fazendo o povo dançar mais uma vez. “E agora, um pouco de blues”, anunciou Frejat antes de começar “Me Dê Motivo”, de Michael Sullivan e Paulo Massadas (hitmakers natos nos anos 80), sucesso de Tim Maia. Com altos solos de inspiração blues, foi uma das melhores performances de Roberto Frejat na guitarra. E um músico excepcional como ele só poderia estar cercado de músicos talentosíssimos: Maurício Almeida (guitarra), Marcelinho da Costa (bateria e vocais), Humberto Barros (teclados e vocais) e Bruno Miliani (baixo e vocais). Antes de apresentá-los, Frejat disse que eles eram seus companheiros de todos os shows e de todos os lugares possíveis, “desde hotel cinco estrelas até o lugar que não tem nem telefone no quarto. Ainda tem que bater na porta e dizer: olha, tá na hora de ir pro show”, completou, arrancando risos e aplausos do público.
Releituras também não faltaram. Além de “Me Dê Motivo”, Frejat apresentou “Amor, Meu Grande Amor”, mandando um ‘Viva Angela RoRô, ao final. Teve também o momento Raul Seixas, em que tocou ‘Só Pra Variar’, além de um “Como Vovó Já dizia”, que não estavam previstas no setlist. Roberto Frejat ainda brincou com a plateia: ‘já passou o show quase inteiro e não ouvi ninguém gritando ‘Toca Raul!’. O que está havendo, Rio de Janeiro?’, arrancando gargalhadas e muito ‘Toca Rauuuuuuullll’ da galera, num momento muito descontraído da apresentação.
“Beth Balanço”, “Por que que a gente é assim?” e “Maior Abandonado”, sucessos do Barão Vermelho da época em que Cazuza foi o vocalista (1981-1985), fecharam o show que, claro, teve bis quase que imediato. “Malandragem Dá Um Tempo”, “Exagerado” (sucesso da carreira solo de Cazuza) e “Pro Dia Nascer Feliz” fecharam o setlist da noite, deixando todo mundo feliz pro dia que nasceria algumas horas depois, encerrando uma apresentação superanimada, dançante e cheia de hits, com quase 2 horas de duração. Em resumo, sem deixar sua zona de conforto, Frejat e sua banda deram ao povo o que ele queria ouvir e sentir: sucessos, farra, alegria, fúria e folia rumo ao mágico! – Paulo Schwinn.
Paulo Schwinn é natural de Santos, SP, ex-vocalista e guitarrista da banda de rock Sujeitos Compostos (conheça) e que em breve estará lançando seu trabalho solo, além de produtor e apresentador do Programa Desvio à Esquerda, na Web Rádio Rota 220 (ouça), e fã do bom (velho e novo) Rock and Roll.
Uma resposta
Foi uma noite muito especial na nossa trajetória. Ser apresentado para um público novo no circo voador, ondeuita coisa que me define começou.