O mundo da música e não apenas do rock, ainda não acredita que Eddie Van Halen, um dos maiores guitarristas da história, agora faz seus solos nas nuvens. A Rock Press convidou Paulo Sisinno, que, nos anos 1980, ajudou a popularizar o amor pela guitarra, no programa “Guitarras para o Povo”, na eterna Fluminense-FM e em seus textos na Revista Metal, para escrever sobre esse fenomenal guitarrista. No artigo que segue, Sisinno não deixou de fora, as memórias dos seus primeiros contatos com a banda, os discos e a passagem do Van Halen pelo Brasil em 1983. A matéria também traz depoimentos de músicos, produtores e fãs desse músico fenomenal!
TEXTO: Paulo Sisinno
ARTE: Jorginho
DEPOIMENTOS: Michael Meneses
O falecimento do genial guitarrista Eddie Van Halen, na terça-feira (06/10), foi, sem dúvida, um choque para milhões de fãs do músico ao redor do mundo. Eu sou apenas mais um deles. Sei que cada fã terá suas próprias recordações e emoções relacionadas com Eddie e sua banda, Van Halen. Também tenho algumas memórias e posso compartilhá-las aqui.
A primeira recordação marcante que tenho é da primeira vez que ouvi o som do Van Halen. Qual a novidade disso? Bem, ao menos em relação a várias gerações posteriores à minha, que ouviram o Van Halen já tendo ouvido outros grupos e guitarristas que o imitavam, eu e meus contemporâneos ouvimos o som inovador de Eddie pela primeira vez sem comparações com seus seguidores e imitadores. Foi um acontecimento ouvir um inovador estilo de tocar guitarra pela primeira vez. Inicialmente, eu ia escrever o termo ‘original’. Mas, para ser totalmente verídico, tenho que admitir que Eddie não foi absolutamente o primeiro a tocar alguns dos truques e efeitos que ele popularizou. Alguns outros (raros) guitarristas, já haviam antes tocado em algumas gravações e concertos usando algumas das técnicas que Eddie tornou famosas. A diferença entre eles e Van Halen, e aqui é onde seu talento se revela inteiro, é que ele criou um método e estilo juntando todas estas técnicas. E ouvir o primeiro álbum do Van Halen na época em que ele foi lançado (final dos anos 70) foi, de fato, uma epifania para fãs de música, como eu, e para guitarristas, particularmente. Eu me lembro, por exemplo, de Robertinho de Recife, grande guitarrista brasileiro, já consagrado, reconhecido e admirado na época em que surgiu o Van Halen e que, mesmo assim, disse que a partir daquele acontecimento, ele, Robertinho, reviu e transformou seu estilo próprio, incluindo os novos parâmetros criados por Eddie Van Halen. Eu não sou músico, mas tenho ainda hoje bem viva a lembrança de como tudo mudou no mundo do Rock, para instrumentistas e para ouvintes, como eu, a partir do lançamento do primeiro disco do Van Halen (que comprei na época, em vinil, tendo ido à loja de discos especialmente para fazer esta aquisição).
Outra lembrança inesquecível, claro, é ter visto o grupo ao vivo, aqui no Rio de Janeiro, no Maracanãzinho, em 1983. Vamos lembrar que o primeiro Rock in Rio só aconteceria dois anos depois, em 1985. Então, para os fãs de Rock Pesado, como eu, o show do Van Halen em 83 foi, de verdade, o primeiríssimo grande show internacional de Hard Rock/Heavy Metal que ocorreu no Brasil. Alice Cooper tinha vindo em 1974, mas na época, seu som não seria enquadrado exatamente como Hard ou Heavy, em minha opinião, mas como Rock Clássico, assim como o Queen, que viera em 1981, dois anos antes do Van Halen. E o Kiss veio também em 1983, mas depois da banda de Eddie.
Para mim, aquele show foi um dos melhores e mais emocionantes que já vi, mas confesso que sou meio suspeito para dizer isso, não tendo qualquer isenção em relação ao tema. Afinal, o Van Halen sempre foi uma das minhas bandas preferidas, e a primeira formação, com David Lee Roth na voz principal, é a minha favorita, sem qualquer dúvida. Em que pese o fato do Maracanãzinho não ter uma boa acústica para shows, o som estava bastante bom e isso foi ótimo, claro. Acima de tudo, o mais importante é que o Van Halen estava numa fase ótima e o desempenho do grupo foi espetacular. Assim, para quem é muito admirador do Van Halen, como é o meu caso, aquele show de 83 foi mesmo inesquecível e todos os outros grandes shows internacionais que aconteceram depois, mesmo tendo sido fantásticos, não superam a importância e a emoção que o concerto de 1983 do Van Halen teve para os seus fãs no Brasil. – Paulo Sisinno!
DEPOIMENTOS:
Eduardo Martins (jornalista/editor, baixista/vocalista do Chaotic System @chaoticsystemoficial RJ/RJ) – “Fui apresentado ao som do Van Halen através da TV e das rádios com “Jump” e “Panama”, quando criança. Tempos depois, já adolescente, eu tinha um pôster enorme dele no meu quarto e aquele primeiro disco (Van Halen, 1978) escutei até furar, pois eu o tinha em vinil. Aquele disco é uma obra prima em todos os quesitos e sou apaixonado pelo riff inicial de “Ain’t Talkin’ bout Love”. Sempre falei que “Hendrix pegou a enxada e abriu a brecha pra estrada, mas foi EDDIE quem pavimentou e preparou a estrada para todos que vieram depois”. Adorava tirar onda com os outros porque tínhamos o mesmo nome. Alguns momentos especiais da minha vida tiveram sua guitarra como trilha sonora. Van Halen para mim sempre vai ser sinônimo de alegria e energia positiva. Não tenho o menor pudor em dizer que a história da guitarra elétrica está dividida em antes e depois de “Dudu” Van Halen. REST IN POWER! REST IN PEACE!”
João Júnior (Guitarrista. Aracaju/SE) – Foi uma notícia muito triste saber da morte do gênio da guitarra Eddie Van Halen uma perda imensurável. Conheci o som do Van Halen no meio dos anos 80, aqui em Aracaju, com os discos “Van Halen”, “Fair Warning”, “Dive Down”, “1984”, a partir daí virei fã da banda. Van Halen foi um Guitar Hero que sempre me impressionou com sua técnica, feeling, bom gosto das notas, destreza na guitarra. Ele foi um cara que impressionou e influenciou toda uma geração e vai seguir influenciando, deixou seu legado. #EVHForever!!
Rick Olivieri – (Guitarrista, escritor, artista gráfico e colaborador da Rock Press. RJ/RJ) – Ser o melhor do mundo em alguma coisa é algo por demais subjetivo. Mas é inegável que Eddie foi um gigante na guitarra. Ele mostrou que era absolutamente possível ser virtuoso sem saber ler partitura e sem prescindir do “feeling”. Fosse no bom gosto da escolha dos riffs e estruturas harmônicas ou debulhando nas seis cordas da sua exuberante Frankenstrat – cordas estas que pareciam se multiplicar com o uso genial do tapping (técnica que não inventou, mas ajudou a aperfeiçoar), seu modo singular de se expressar marcou toda uma geração e influenciou outros músicos a buscarem se superar no instrumento.
Michael Meneses – (Editor do Portal Rock Press, fotojornalista e criador do Selo Cultural Parayba Records. RJ/RJ) – Mesmo sem saber da sua existência, Eddie Van Halen foi o primeiro guitarrista do qual fui fã. Explico, antes ter os meus primeiros contatos mais profundos com o rock, em especial hard, heavy, punk/HC e Prog., meu nome me influenciou a ser fã do artista que o inspirou. Falo de Michael Jackson. Gostava do meu xará desde os anos 1970, meu fanatismo teve seu auge na primeira metade dos anos 1980 com “Beat it” (quem nunca?). Acredito que o solo composto por Eddie Van Halen foi o primeiro solo de guitarra que resmunguei na vida. Tempos depois, conheci o rock e entre as primeiras bandas estava o Van Halen. Sou colecionador de rock há quase 4 décadas, e tenho LPs, CDs, revistas e pôsteres que me inspiraram em meus clicks. Porém, uma coisa sempre irei lamentar é nunca ter visto um show do Van Halen, mas sempre me emociono ao ler, ver e ouvir os relatos dos amigos e da mídia que esteve nos shows da banda no Brasil em janeiro de 1983 para apresentações no Rio de Janeiro, São Paulo e em Porto Alegre. Muito bom ouvir os comentários que foram shows ENSUDECEDORES, e que abriram caminho para os shows de rock pesado no País. Como essas imagens de adolescentes, animados e cheios de esperança por um novo Brasil que saia de uma ditadura e tinham a liberdade em seus rostos, como podemos ver AQUI Ou, nas quase duas horas desse show em São Paulo que virou especial da TV Band na época e vale conferir: (AQUI).
Robert Moura – (Músico, professor e fundador da Alaúde Escola de Música. Belo Horizonte/MG) – O Rock perdeu mais um de seus grandes nomes, o guitarrista Eddie Van Halen. Perguntado sobre sua maior influência, ele declarou que foi Eric Clapton, ressaltando que o guitarrista inglês foi o único que ele copiou. Mr. “Slowhand” (“Mão Lenta”, apelido de Clapton) estranhou a admiração. Ficou surpreso em saber da dedicação de Eddie que diminuía a rotação de seus discos para aprender seus solos nota por nota, mas não conseguia ver similaridades entre o seu estilo e o de Van Halen, considerando que ele era rápido demais para seus ouvidos e, às vezes, exagerava. Bem, eu não posso negar que curto bem mais o Van Halen dos anos 1990 para frente, quando ele, talvez, tenha deixado de exagerar um pouco. Mas, também, admiro seus primeiros trabalhos que contribuíram, enormemente, criando novas abordagens para a guitarra. Não sei em qual momento eles se deram conta disso, mas, a maior lição que Eddie teve copiando Eric foi a de procurar seu som interior e criar seu próprio estilo. E por isso mesmo, ele permanecerá! Os amantes das seis cordas lamentam sua partida, e agradecem pela obra que ele nos deixou.
Uyara Figueiredo – (Professora de Sociologia, estudante de ciências sociais. Aracaju/SE) – “Ainda ‘tô muito chocada com essa notícia triste, nosso holandês voador se foi. Van Halen sempre foi aquela banda que me impactou a cada disco, sempre me surpreendia positivamente. Aquela banda que a gente sabia que em qualquer direção que ela mirasse, ela ainda estaria a salvo, nas mãos de Eddie Van Halen, porque era das mãos dele que vinham os riffs mais destruidores do rock pesado. Descanse em paz, meu querido. Obrigada por tudo.”
Ricardo Scott – (Jornalista editor do Site Pop Fantasma e autor do livro Heróis da Guitarra Brasileira em parceria com Leandro Souto Maior. RJ/RJ) – “Bandas, como o Van Halen, que unem inovação e tradição, servem para fazer as pessoas voltarem a gostar de rock e a perceberem que o ritmo ainda pulsa. No Brasil, não foi diferente: a guitarra de Eddie Van Halen paira, nada silenciosamente, sobre as gravações de nomes como Pepeu Gomes, Robertinho do Recife (que disse ter sido pioneiro nas técnicas desenvolvidas por Eddie). E, em especial, as da turma do heavy metal brasileiro, que ouviu os álbuns do Van Halen até gastar os sulcos. E não só eles: até Jorge Ben Jor já declarou ser fã de Eddie”.
Felippão Santos – (Músico, Produtor Musical, Diretor e Produtor de Cinema, Sócio da Soundtracks Produtora Multiplataforma. – RJ/RJ) –“1982. Ou seria 1983?. Não lembro. Eu tinha 12,13 anos e, depois da aula do Colégio Marista São José, fui ouvir música no apê do meu amigo Marquinhos. Sentado no chão da sala, diante de um gravador portátil (tenho quase certeza de que era um Panasonic), minha vida mudaria para sempre. Ele disse “Escuta isso!”, deu play e BAM! Entrou “Eruption”, depois “You Really Got Me”, “Runnin’ With The Devil”, “Ain’t Talk About Love”, etc. Na mesma hora minha cabeça tentava processar tanta informação, sem saber o que fazer eu perguntava freneticamente “O que é isso?! O que é isso?”. Era o Van Halen. Era o Eddie. Naquele momento, do alto da sapiência dos meus 12,13 anos, resolvi que iria tocar guitarra (o que só ocorreu uns 3 anos depois). Aí tudo começou! Logo de cara, eu não fui ao show do Maracanãzinho porque meus pais não deixaram ir sozinho. Mas, fui ver o show do Kiss. Vai entender. Depois comprei os LPs, as revistas que, ou tinha o Eddie ou tinha o VH. Lavei muito os carros do meu pai para comprar as Guitar Player, Guitar World, Guitar For The Practicing Musician importadas, que eram muito caras e só com a minha mesada não dava para comprar. Destruí um pick-up DiMarzio Super Distortion que tinha na minha Les Paul Giannini (minha 1ª guitarra) porque eu tinha lido que o Eddie o jogava dentro de uma panela parafina (tomei um esporro mesopotâmico do Luthier Cássio). Inutilizei vários encordoamentos porque li que ele fervia as cordas antes de tocar. Usei os encordoamentos 5150 durante os anos 80. Os cadernos do colégio tinham sempre ou a logo Van Halen (que foi roubada de um pôster de um show do Jimi Hendrix!), ou as cores da Frankenstrat. Comprei o Starfleet Project só porque ele tocava no disco. Quase saí no braço com um cara da minha rua porque disse que o Mark Knopfler era melhor do que o Eddie. Quase saí no braço porque um cara disse que ele era um vendido porque tocou em “Beat It”. Quase saí no braço, de novo, porque disseram que o 5150 era uma merda. Assim que pude comprei a minha 1ª Kramer. Depois comprei a 2ª e a 3ª. Quando o cabelo estava o suficiente comprido pedi para o barbeiro cortar igual ao do Eddie (ficou uma merda, claro). Pedi para a minha mãe fazer a roupa que o Eddie usava no clipe de “Jump” para sair na rua (!!!) e ela disse que eu era maluco, que eu tinha que arrumar o que fazer. Torturei incessantemente minha irmã com os LPs do VH nas alturas. Comprei livros, vídeos, CDs, DVDs, etc, etc… No início deste ano de 2020, comprei uma bermuda de praia com o desenho da Frankenstrat Bumblebee, que não chegou nunca (vou pedir de novo depois da pandemia). E nesta terça-feira (6/10), meu Super-herói se foi. Ele não voava (Peraí! Na verdade, voou no clipe de Panama!), seus poderes, que combatiam o mal (da vida, do coração) traziam alívio, alegria, encantamento e arrebatamento, vinham de seu coração, talento, através da sua Música e de sua guitarra. E que guitarra, Puta que Los Pareo. Anteontem eu não consegui processar a perda, apesar de saber que ele já estava mal desde o ano passado. Só lembro que assim que eu li a notícia fiquei todo dormente, achei que estava tendo um AVC ou coisa parecida e o resto do meu dia foi uma merda. Estranho. Foi-se o músico, mas a obra e todas as coisas boas q ele trouxe para a Música, para mundo da guitarra e para pessoas como eu, ficarão para sempre. Obrigado, Eddie! P.S.: E se você não gosta dele, vou arrumar confusão com você também (risos).”
Messias JJ – (Empresário RJ/RJ) – Há 37 anos, no auge dos meus 24 anos, faz tempo, mas foi um Showwwww marcante, o que atrapalhou foi o volume excessivamente alto, ensurdecedor o que acabou prejudicando a definição do som. Apesar que Eddie Van Halen, com sua excelente performance, sua forma de tocar de uma velocidade fantástica, era um diferencial em relação a outros guitarristas na época. Basta ouvir “Jump” e “Panama” que você já nota claramente a diferença. Lembro também que a cozinha era fantástica diante daquela que mais parecia uma festa de hard rock orquestrado por seu irmão o batera Alex Van Halen, e claro David L Roth também arrasando. Depois deles já fui em inúmeros shows e fica difícil de avaliar um a um. De qualquer forma, esse marcou muita gente, quem esteve lá assistiu um virtuoso na guitarra.
Rafael Batata Sperduto (Músico RJ/RJ) – “O ano era 1995. Na MTV, quando este ainda era um canal sobre música, estreava o clipe de “I Can´t Stop Loving You” – uma das músicas mais incríveis que já ouvi. Naqueles dias eu começava a me apaixonar pela guitarra; na falta de uma, passeava com um cabo de vassoura pela casa. Estava vivendo aquela mágica idade onde a gente não e´ adulto nem criança. A verdade e´ que demorei um tempo para entender a verdadeira importância deste homem para a música e para este estilo que e´ o meu preferido entre todos: O rock´n roll. Em 1978 e 1979, eu ainda nem era nascido, quando ele lançou dois álbuns que inventaram uma nova guitarra. Técnicas que praticamente obrigavam as pessoas irem aos shows para saber o que acontecia de fato naquele braço de instrumento. Como era possível extrair aquele som da guitarra??? Estes dois primeiros álbuns da banda Van Halen praticamente ditaram a tendência do glamoroso Hard Rock, na seguinte década. Eddie e´ tão monstruoso que inventou um não só´ um novo jeito de tocar, mas também revolucionou o estilo do rock como conhecíamos na época. Ao nos deparamos com a arrasadora notícia de sua morte, fico triste em saber que os bons estão partindo e que talvez não apareçam outros heróis a` altura. Hoje, sou músico, compositor, produtor musical e guitarrista graças – em grande parte – ao Van Halen. Sendo uma influência inegável para mim, dedico a ele a música “Woodpeckers Brothers” (ouça), que fecha o meu primeiro EP “Missing You”, e que foi toda composta com a técnica que é seu legado: O Two Hands Tapping. Aliás, que melhor técnica poderia ser usada para expressar o som de pássaros batendo na madeira? Deixo aqui registrado todo meu amor e respeito a este Guitar Hero. Obrigado por tudo, #EVH!!”
Paulo Sisinno é: Programador e Produtor Musical especializado em Rock e Heavy Metal na Rádio Fluminense FM, de 1982 a 1987, Ex-editor da Revista Metal e Professor.