DORSAL ATLÂNTICA, MECHANICS e ONDA ERRADA HC: Mais uma noite histórica na Lapa (RJ)!

Em dia de jogos importantes pelo Campeonato Brasileiro e vários outros shows e eventos acontecendo no Rio de Janeiro, o palco do La Esquina recebeu apresentações de lavar a alma das bandas Onda Errada HC, Mechanics e Dorsal Atlântica. A Rock Press conferiu, leia mais na matéria que segue.

Onda Errada HC, Mechanics
e Dorsal Atlântica

La Esquina – Lapa -Rio de Janeiro/RJ
Sábado – 23 de Novembro de 2024

TEXTO: Fabiano Soares e Michael Meneses!
FOTOS: Fabiano Soares

Tendo como palco o aconchegante La Esquina, espaço bem intimista, por ser uma casa de show de pequeno porte e que tradicionalmente recebe o Rockarioca Convida entre outros eventos, o evento contou com um público que era majoritariamente mais “maduro”, com muitos jovens senhores de seus 50 e poucos exibindo seus cabelos brancos (ou a falta deles); Porém, mesmo com essa média de público alguns assistiam as bandas pela primeira vez. Além disso, enquanto rolava o som mecânico do Spotify, o papo no bar da casa girava em torno de vinis, cassetes e descobrimentos sonoros na década de 80 e 90. Podemos estar viajando? Sim, mas ouvimos diversas vezes as palavras “Fanzine”, “Demo-Tape”, “Ultimatum”, “Caverna II”, “Goiânia Noise” … rolando por ali, como parte de um saudável mantra ritualístico. Mas, vamos aos shows…

Onda Errada HC
Mandando um recado bonito!

Bateu 19h45, e a banda Onda Errada HC subiu ao palco para começar o ritual! Com a casa ainda um pouco vazia, porém ganhando público aos poucos, a banda teve espaço para fazer seu hardcore proletário ocupar sonoramente todo o La Esquina. O baterista, com camisa do Test/Deafkids, prenunciava o que veríamos na percussão: o cara parecia o Animal, do Muppets (e aliás, apelido de um dos primeiros bateristas da Dorsal Atlântica), destruindo e espancando a bateria.

Com músicas rápidas e pesadas, o Onda Errada esquentou o ambiente, fazendo o pessoal se agitar com chutes e cotoveladas no ar, demarcando o território, no entanto, sem tanta gente ainda para animar a abrir uma roda. As letras discursavam sobre o cotidiano do Rio de Janeiro e do Brasil, ou seja, polícia fazendo merda, drogas, serviços públicos ruins, violência, enfim, o pacote completo. Uma que grudou na cabeça foi a “Laboratório do Inferno” (feita com a colaboração do músico Hajed, da Lado A), já caminhando para o final do show, com uma letra ácida mencionando problemas da necropolítica fluminense. Ok, a letra serve para qualquer metrópole, mas já que a banda é do município de Niterói/RJ e o show também, defendamos o vandalismo do Estado fluminense.

O show do Onda Errada HC finalizou, e óbvio que o baterista não deixou de quebrar uma baqueta, organicamente, enquanto descia a porrada na bateria, como um porco fardado policial faz com seus cassetetes nos pobres por aqui.

MECHANICS
O Rio de Janeiro Merecia esse Show!

A banda goiana está completando 30 anos de estrada, e para comemorar, decidiu sair em turnê para mostrar que som pesado não envelhece — nem fica rotulado! Impossível ouvir as músicas do Mechanics e ter certeza de que se trata de uma banda de um gênero específico.

Agora, com a casa cheia de gente, Márcio Jr., fundador do grupo, sobe ao palco pouco antes das 21h, e ao iniciar o show podemos notar que, embora a banda seja balzaquiana, o frescor da juventude continua pulsando ali! Uma mistura de influências e invenções começa a rolar no palco, apresentando o Mechanics para quem, por acaso, não conhecesse a singularidade deles. Um som com muitos pedais de efeitos e distorções — e uma bateria um pouco mais moderada, ainda que pesando uma tonelada — tomou o público, que já se encontrava em maior número ao iniciar o segundo show da noite. Embora tenham tocado músicas de todas as fases da banda, o que mais ouvimos foram músicas do excelente álbum “12 Arcanos”, de 2010. Márcio Jr., jogando o microfone e o pedestal para o alto enquanto não estava berrando nele, vai destilando revolta entre as músicas do setlist, e empolgou muita gente quando falou sobre lugares de rico no Rio de Janeiro, citando Leblon e Barra da Tijuca; em seguida, falou que bilionários deveriam ser pendurados em cima do poste, arrancando risadas e gritos de apoio.

O quarteto, com músicos afiadíssimos, que sabem levar o show sem engasgos, vai tocando músicas rápidas com pegadas punks, que alternavam-se com sons mais viajados (mas não lentos, porque só se abriu espaço para o peso e o barulho!), e parte da plateia deliciava-se, cantando junto e se batendo. Moderadamente, claro; já falamos que o público era mais “maduro”. Destaque para a rapidíssima “Satan’s Surf”, (do álbum “Psycho Love”, de 2000), a poesia punk “Sangue”, com coro da plateia, e “Ódio” (ambas do “12 Arcanos”, de 2010), após Márcio Jr. dizer que a Mechanics é uma banda “forjada no ódio e na vontade de morrer – porque vontade de matar, qualquer bolsonarista tem”. E foi com essa pedrada que fecharam o show, com pouco mais de 30 minutos — mas de uma intensidade assustadora! No dia seguinte (24) a Mechanics se apresentou no Espaço Barricada na cidade de Niterói/RJ dividindo palco com Dani Valejo e Virias Fatal, e em seguida partiram para o nordeste, para shows em João Pessoa/PB (29) e encerrando a tour, apresentação no Festival Do Sol, em Natal/RN, no dia 30 de novembro.

DORSAL ATLÂNTICA
História passada a limpo

no habitat natural: O Palco!

E após dois shows sensacionais, o palco estava devidamente preparado para receber a entidade do metal nacional: Dorsal Atlântica! Apostamos em dizer que das novas apresentações da Dorsal Atlântica no Rio de Janeiro, essa foi de longe a melhor, e a primeira a incluir composições da década de 1990, fase em que a maior parte das músicas eram em inglês.

Carlos Lopes, fundador da Dorsal, começa o show já pelo inusitado ao pegar sua guitarra baiana, bem menor do que uma guitarra tradicional, para tocar thrash metal. Braulio Drummond, exímio baterista de diversas vertentes de metal, ocupa seu trono, já mostrando que o pedal duplo e os blasts beats estavam garantidos. E apesar de contar com um público que já curtia a banda nos anos 80, o show começou com músicas mais recentes, dos álbuns “2012” (2012), “Canudos” (2017) e “Pandemia” (2021). E para quem conhece a Dorsal, sabe que isso não é nem de longe algo ruim. Serviu como termômetro, já esquentando um público que conhece a carreira do Dorsal por inteiro, e cantou com a paixão devocional que o metaleiro separa às suas bandas do coração. Ainda assim, quando soaram os primeiros riffs de “Armagedon” (do álbum “Ultimatum”, de 1984 composta em parceria com Cláudio Lopes irmão de Carlos e falecido em 2023) rolou uma empolgação maior, cotovelos dançaram e fizeram o público rearranjar-se. Há quem diga que remoçou 40 anos nesse momento, carecas voltaram a ter cabelo e outras magias que só bandas oitentistas conseguem, importante dizer que a grande maioria ali, NUNCA assistiu a Dorsal Atlântica tocar músicas do “Ultimatum”. Aí, meu amigo, o que se seguiu foi uma sucessão de porradas saudosistas para ninguém botar defeito: o trio botou todo mundo para bater cabeça ao passear pela discografia da Dorsal. Rolaram clássicos do “Antes do Fim” (1986) e “Dividir e Conquistar” (1988), mas também passou pelo “Alea Jacta Est” (1994) e pelo “Straight” (1996).

Vale lembrar que Carlos Lopes falava bastante entre as músicas, com um discurso politizado e antifascista, coerente com o que vem produzindo com a Dorsal — inclusive pedindo que parem de pedir “Princesa do Prazer”, ao final do show, por ser “uma música machista pra caralho!”.

A sequência final de músicas foi um êxtase para qualquer fã da Dorsal: “Tortura”, “Vitória”, “Metal Desunido”, “Caçador da Noite” e “Guerrilha”! É metal, é contracultura, é levantar questões políticas e politizadas por meio da música… É Dorsal!

Com o show terminado, o público pediu bis e seria atendido, mas o som mecânico da casa impossibilitou uma nova música. No entanto, Carlos Lopes resolveu então contar causos que rolaram nos seus mais de 40 anos de bastidores, e o público pôde então rir com histórias que se passaram com estrelas do rock e do metal que cruzaram com o Carlos “Vândalo”. E foi nesse clima leve e descontraído, após sermos bombardeados com clássicos do “metal pauleira carioca”, que todos saímos, mais que satisfeitos, para terminar o sábado na sujeira da Lapa — ou de algum lugar pior do Rio de Janeiro. Finalizando um recado as bandas: Retornem, pois nós sobrevivemos! – Fabiano Soares e Michael Meneses!

FABIANO SOARES – é amador, cineasta, escritor e fotógrafo amador, mas faz tudo com vontade! Escreveu “Rio Nosso de Cada Dia”, abordando essa cidade que encanta e assusta tanta gente diariamente. Dirigiu curtas-metragens e alguns videoclipes de bandas do Rio de Janeiro, como Gangrena Gasosa, Uzômi, Incognosci, Overnoisy e Feretral. Atualmente dedica-se a estudar a Canibal Filmes no mestrado em Mídias Criativas da UFRJ. Também vende material de cinema, literatura e fanzines independentes em shows, além da banquinha de sex shop que divide com a esposa, Luciana. Porque rock é metal é muita vibração! E, lógico, como uma das suas principais definições, é pai do Edgar, que aos 6 anos já está encaminhado nos filmes de terror e nos sons doidos!

MICHAEL MENESES – É o editor da Rock Press deste 2017, criador do Selo Cultural Parayba Records, fotojornalista desde 1993, foi fanzineiro nos anos 1980/90, jornalista e cineasta de formação, pós-graduado em artes visuais. Fotografa e escreve para diversos jornais, revistas, sites e rádios ao longo desses últimos 30 anos, também realiza ensaios fotográficos de diversos temas, em especial música, jornalísticos, esporte, sensual, natureza... Pesquisa, e trabalha com vendas de discos de vinil, CDs, DVDs, livros e outras mídias físicas. Michael Meneses é carioca do subúrbio, filho de pai paraibano de João Pessoa e de mãe sergipana de Itabaiana. Vegetariano desde 1996Em junho de 2021 foi homenageado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro pelo vereador Willian Siri (PSOL/RJ), com monção honrosa por iniciativas no audiovisual e na cultura suburbana. Torce pelo Campo Grande A.C. no Rio de Janeiro, Itabaiana/SE no Brasil e Flamengo no Universo. Atualmente, dirige o filme, “VER+ – Uma Luz chamada Marcus Vini, documentário sobre a vida e obra do fotojornalista Marcus Vini e em julho de 2024, realizou a quarta edição do Parayba Rock Fest.

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