DFRONT S/A, METRALION e DORSAL ATLÂNTICA: A noite das lendas vivas!

Com shows das bandas Dfront SA, Metralion e Dorsal Atlântica e organizado pela THC produções, o evento Into The Dark Thrash contou com veteranos do cenário heavy metal brasileiro, que proporcionaram um belo espetáculo aos presentes que compareceram na Agyto que ainda teve a DJ Cammy discotecando. Portal Rock Press conferiu.

DFRONT S/A, METRALLION e DORSAL ATLÂNTICA:
A noite das lendas vivas!

Into The Dark Thrash
18 de junho de 2023 – Agyto Lapa – Rio de Janeiro
TEXTO: Flavio Pereira Senra
FOTOS: Michael Meneses

Em final de semana de muitos shows por diversos pontos da cidade, Feira de Vinil em Bangu, a casa carioca de shows Agyto (conhecida em outros tempos como Teatro Odisseia) foi o cenário para mais um evento da marca Into The Dark, promovido pela THC Produções, trazendo dessa vez as bandas Dfront SA, Metralion e Dorsal Atlântica e entre um show e outro DJ Cammy, comandou o som mecânico.

Quem ficou encarregada de abrir a noite foi a banda DFront S/A, (foto acima), de Volta Redonda/RJ. Formada por volta de 2008, sua sonoridade tem influências tanto do Thrash Metal quanto do Hardcore e do Death Core, com letras cantadas em língua portuguesa que são bastante críticas sobre a vida em sociedade e a própria condição humana, vide faixas como “Desordem”, “Paralisia” e “Psicose”. Os riffs matadores chamam bastante a atenção, e as composições, todas de alto calibre, são agressivas e marcantes. A banda trouxe materiais de seus EPs Revolution (2010) e Sem misericórdia (2013), além de canções dos álbuns Do Céu ao Inferno (2016) e Ceifado (2021). Quem já conhecia o trabalho desses caras pode perceber que eles reproduzem ao vivo a elevada qualidade do material gravado, com bastante técnica e energia e com ainda mais peso, proporcionando uma apresentação bastante consistente e gerando expectativas para o próximo disco, a ser lançado ainda neste ano.

Fundada em 1986, a Metralion, (foto ao lado), demonstrou no palco sua experiência no cenário da música pesada independente. O grupo executa um thrash metal bem “old school”, marcado por seu peso mais “cru”, alternando partes mais cadenciadas com outras de andamento mais rápido. As letras, cantadas em inglês, abordam majoritariamente problemas sociais. Essa apresentação faz parte de uma vasta e bem-sucedida turnê de divulgação do recente Requiem for a Society (2021), que por sua vez é um álbum formado por releituras de canções de seu primeiro disco, Quo Vadis (1987), acrescido de algumas novas composições que vão está no próximo trabalho, e já em fase de produção.

Dentre as músicas executadas, destacam-se “Time of Crisis”, “Rival Tyrants”, “War Heroes”, “No way out” e “Pigs Of Law/Penury”. Além de material autoral, a banda tocou uma versão própria para “Another brick in the wall part II”, do Pink Floyd, e que teve uma versão no álbum “Mosh in Brazil” (1989). Conforme declarado pelos próprios músicos da banda, a Metralion ficou trinta anos parada e retornou em 2020, e esse show provou que eles ainda têm muita lenha para queimar, seja com material em estúdio, seja ao vivo. Conversamos com o vocalista Rica Lima dias antes desse show e ele divulgou algumas novidades da banda. (leia aqui).

Dorsal Atlântica de volta ao Rio de Janeiro!

Para encerrar a noite, tocou aquela que é uma das maiores lendas da MPB (música pesada brasileira), a banda Dorsal Atlântica, que iniciou sua belíssima história no ano de 1981. Carlos Lopes, vocalista, guitarrista e grande compositor da banda, é indiscutivelmente um dos maiores nomes não apenas do cenário do heavy metal brasileiro, mas da música brasileira de modo geral. Pode-se dizer isso principalmente por notável esforço em compor obras que fujam da previsibilidade do gênero heavy metal, incorporando, essencialmente, elementos de musicalidade brasileira. Tal procedimento é perceptível, em especial, nos discos mais recentes da banda, Canudos (2012), Imperium (2014) e Pandemia (2021), que tiveram uma parcela significativa de suas canções executada no show. Outro traço marcante da busca por uma sonoridade mais genuinamente brasileira é a já famigerada guitarra baiana usada por Carlos, feita sob encomenda, de tamanho menor que uma guitarra “tradicional” e com sonoridade distintiva.

Ver a Dorsal Atlântica ao vivo é sempre uma experiência gratificante. Ela transcende a experiência meramente musical e se torna um ato político, algo que, pelas palavras do próprio Carlos, é necessário, já que o heavy metal nasceu para ser político. Aliás, Carlos Lopes deixa claro que não deseja agradar a todos: ele tem um posicionamento ideológico antifascista e socialista e faz questão de deixá-lo muito explícito, não apenas com suas letras, mas também com suas declarações, muitas vezes contundentes. Uma das razões disso é que, conforme dito pelo próprio em um de seus “minidiscursos” entre as canções, há uma quantidade preocupante de reacionários dentro do meio Heavy Metal – o que é um fato triste e inegável. E se sua mensagem os incomoda, então ele está seguindo a linha correta, mesmo que isso porventura custe menos público ou até menos apresentações ao vivo. Conforme bradado pelo frontman, ele já está numa idade de não medir as palavras, de dizer tudo que deve ser dito. E quem não gostar, “que se foda”, como o próprio fez questão de frisar. Diga-se de passagem, é inegável que Carlos Lopes é de uma personalidade potente e extremamente autêntica, uma pessoa que sempre dá o sangue e a alma por sua música e que diz o que tem que dizer, sem se importar se está tocando para poucas pessoas – como era o caso naquela noite, infelizmente, talvez o único ponto baixo do evento.

Dentre as músicas executadas, esteve a emblemática “Stalingrado” (uma aula de História em formato musical que detalha a decisiva vitória soviética sobre as forças nazistas na 2ª guerra mundial), “Pandemia” (do disco homônimo), “Burro”(que faz menção ao ex-presidente Jair Bolsonazi), “Cocorobó” e “Belo Monte” (algumas das melhores faixas do disco Canudos) e “Meu filho me Vingará” (que fala sobre o assassinato do escritor Euclides da Cunha).

Obviamente, houve a parte do setlist que Carlos Lopes definiu como a “varanda da saudade”, em que tocou músicas mais antigas da banda, como “Tortura”, “Caçador da Noite”, “Metal Desunido” e, para encerrar a noite, a emblemática “Guerrilha” que teve como introdução “Juízo Final” de Nelson Cavaquinho.

A Dorsal Atlântica mais uma vez nos mostra que é, acima de tudo, uma banda necessária e que inegavelmente merecia muito mais destaque no cenário musical de nosso país. Fica a torcida para que venham mais shows e, quem sabe, mais discos de estúdio com novas composições. Vale ressaltar que a banda lançou em seu canal do YouTube um minidocumentário a respeito do show do Rio de Janeiro, com sequências do show em si, com imagens captadas por fãs e amigos em si e narração de Carlos Lopes, tecendo, como sempre, importantes reflexões.

Apesar do pouco público presente, pode-se dizer que as apresentações bastante sólidas das bandas, a qualidade técnica do som da Boate Agyto e a pontualidade no início do evento garantiram um saldo bem positivo para o Into the Dark Thrash. Parabéns à THC Produções por mais essa iniciativa! Que venham mais shows! – Flavio Pereira Senra.

Flavio Pereira Senra é professor de Língua Portuguesa e Literaturas do IFRJ e pesquisador na área de Estudos Culturais, tendo já produzido diversos artigos sobre o gênero Heavy Metal e suas representações políticas e sociais. Além disso, é autor do romance político “As instituições estão funcionando normalmente”, lançado pela editora Gosto Duvidoso em 2021 Adquira aqui!

MICHAEL MENESES É o editor da Rock Press deste 2017, criador do Selo Cultural Parayba Records, fotojornalista desde 1993, foi fanzineiro nos anos 1980/90, fotojornalista, jornalista e cineasta de formação, pós-graduado em artes visuais. Fotografar e escreve para diversos jornais, revistas, sites e rádios ao longo desses últimos 30 anos, também realiza ensaios fotográficos de diversos temas, em especial música, jornalístico, esporte, sensual, natureza… Michael Meneses é carioca do subúrbio, filho de pai paraibano de João Pessoa e de mãe sergipana de Itabaiana. Vegetariano desde 1996. Pesquisa e trabalha com vendas de discos de vinil, CDs, DVDs, livros e outras mídias físicas. Torce pelo Campo Grande A.C. no Rio de Janeiro, Itabaiana/SE no Brasil e Flamengo no Universo. Atualmente, dirige o filme, “VER+ – Uma Luz chamada Marcus Vini, documentário sobre a vida e obra do fotojornalista Marcus Vini.

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Facebook

- Anúncios -

Instagram

Twitter

O feed do Twitter não está disponível no momento.

Youtube