Na quente sexta-feira (06/12), o Circo Voador, que recém havia sido consagrado como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro, foi palco de uma noite histórica com as apresentações das bandas Rancore e Dead Fish, discotecando, DJ Suisso. A Rock Press conferiu!
Rancore + Dead Fish + DJ Suisso
Circo Voador – Lapa – Rio de Janeiro
6 de Dezembro de 2024
TEXTO: Jonathan Assis
FOTOS: Nem Queiroz
A cidade do Rio de Janeiro fervia não só na temperatura, mas também na energia do público que chegava em massa na Lona da Lapa, pronto para se perder nas rodinhas punk e se entregar ao som visceral e performances avassaladoras do Rancore e da Dead Fish.
Tudo isso ainda foi intensificado pelos intervalos sonoros recheados de rock, punk e hardcore conduzidos pelo DJ Suisso (foto), que soube criar o clima perfeito para mais uma noite épica no Circo Voador.
RANCORE: a abertura viva e explosiva!
Iniciando os trabalhos, a banda Rancore, subiu ao palco às 22:17 e como um raio, veio “Pelejar” incendiou a plateia, dando o tom da noite. Com guitarras afiadas e o vocal potente de Teco Martins, seguiram com “Jeito Livre”, criando a primeira rodinha da noite. A energia no ar era palpável e, em uma homenagem inesperada, Teco levou todos de volta ao passado, com “Nosso Sonho” da dupla de funk carioca Claudinho e Buchecha. O Circo Voador cantou a plenos pulmões o verso: “Naquele lugar, naquele local”, antes de a banda atacar com “Samba”, outra das suas mais emblemáticas.
Mas foi em um dos momentos mais pessoais de Teco, quando ele convocou as torcidas cariocas a se abraçarem e pularem juntos ao som de “Mãe”, que a noite atingiu um dos seus picos. O vocalista dedicou a canção à filha Aurora que estava prestes a nascer, e a emoção foi sentida em cada acorde. Ao longo do show, Teco trocou de look mais de uma vez, como se estivesse ali não só como cantor, mas como uma presença camaleônica que se adaptava ao clima “pré-verano” da noite.
Com “Faça Tudo Que Quiser”, a galera, sem cerimônias, tirou as camisas e se lançou na dança, rodando sem parar. A interação foi direta, crua e espontânea, típica do espírito hardcore que guiava o show. E, claro, Teco não poderia deixar de soltar seu famoso grito: “Tem alguém vivo aí?”, ao qual a plateia, em uníssono, respondeu com força, antes de uma última onda de energia explodir no grandioso “Quarto Escuro”, encerrando o set da banda com um mar de fãs levando Teco até o final do Circo, como se o vocalista fosse uma rocha sendo arrastada pela correnteza. Rancore, banda paulista formada por Teco Martins (vocal), Candinho Uba e Gustavo Teixeira (guitarras), Rodrigo Caggegi (baixo) e Ale Iafelice (bateria), entregou um show redondo, energético e visceral, deixando o palco fervendo para o Dead Fish.
DEAD FISH: a revolução atemporal!
Cerca de 30 minutos depois, os capixabas da Dead Fish entraram em cena, rompendo o silêncio com o riff emblemático de “A Urgência”. O palco, já derretendo pelo calor carioca, foi preenchido com um “Hoje é o Dia da Revolução!”, grito profético do vocalista Rodrigo Lima, e claro, ninguém ali duvidava disso. Dead Fish estava pronto para incendiar o Circo, e o público, que “parecia” ter se esgotado com o show da Rancore, respondeu com uma dose extra de energia no segundo tempo da noite.
O show foi uma celebração dos 20 anos de “Zero e Um”, com a banda tocando o álbum quase todo na íntegra. O momento de maior euforia veio com “Siga”, onde a roda se expandiu ao máximo, ocupando o meio do Circo Voador. E quem estava ali, de frente, sabia que aquele era o ápice de uma noite incendiária.
Os riffs de guitarra de Ric Mastria cortavam o ar como navalhas, enquanto o baixo de Igor Moderno dava uma base sólida e a bateria de Marcão Melloni ecoava em cada pulmão da plateia. A potência da banda não diminuía nem por um segundo. “Tudo”, última música do disco aniversariante, fez a plateia cantar em coro, relembrando a carinhosa brincadeira entre fãs e banda: “Ei, Dead Fish, vai tomar no…”.
Rodrigo, com sua voz revolucionária e incansável, puxava a galera para um movimento frenético. Durante “Autonomia“, ele pediu para o público formar uma roda anti-horária, e foi exatamente isso que aconteceu: um turbilhão de corpos se movendo como um organismo vivo. E a energia não desacelerava. “Adeus, Adeus” parecia ser uma despedida, mas era apenas o prenúncio da segunda metade do show, que veio com mais uma sequência de pedradas sonoras.
Um momento marcante foi quando um casal subiu ao palco, se encontraram no meio, deram um beijo e se atiraram na plateia, dando início a “Dentes Amarelos”. Aquilo era a quintessência do hardcore, da liberdade e da entrega. E com “Avenida Maruípe”, Rodrigo brincou e trocou o nome da música, anunciando como “Avenida Mém de Sá”, coração da Lapa, fazendo o público vibrar. Dead Fish tinha atingido o auge da conexão. O público, uma mistura de gerações, se entregava de corpo e alma àquelas letras pulsantes, que pareciam não envelhecer com o tempo.
Em “Contra Todos”, a plateia respondeu com palmas e gritos em coro: “Somos nós contra todos, vamos vencer!”. E conseguiram, porque em “Venceremos”, uma avalanche de fãs dominou o palco e a sensação de vitória foi total. Por fim, os acordes finais da noite ressoaram com “Asfalto”, “Sonho Médio” e a épica “Afásia”, onde o público, imitando o gesto de Rodrigo com o microfone, explodiu na última rodinha da noite. Às 0:57, os pratos de Marcão ecoaram pela última vez naquela noite e a lembrança de um show memorável estava garantida.
06/12/2024: A noite que ficou para sempre!
A dobradinha Rancore e Dead Fish transformou aquela sexta-feira em um marco. Quem esteve ali presenciou uma revolução sonora, um encontro de gerações, um festival de suor e música pulsante, mostrando que o hardcore brasileiro segue vivo. O Circo Voador, em sua essência, se consolidou como palco de um grande evento, e a cidade maravilhosa, com seu calor e energia, se misturou ao calor das guitarras e ao suor da galera. Por isso, voltem sempre, Rancore e Dead Fish. O Rio, assim como seu cartão postal, está de braços abertos esperando por vocês. – Jonathan Assis.
Jonathan Assis é carioca, comunicólogo, publicitário, músico, ator, fotógrafo, movido a descobertas sonoras e sua banda é a Benkens!
NEM QUEIROZ – É Poeta, letrista, fotógrafo, cantor, escritor, artista plástico e DJ. Pesquisador e colecionador de música, rato de cinema, teatro, sebo/livraria, centros culturais e shows! Intitula-se como “O Fotógrafo Observador” quando se aventura a resenhar para sites e afins. Ele mora aqui.