Corinne Bailey Rae realiza sua terceira passagem pelo Brasil com a turnê intitulada “Sunlight/Sunlight!”. A Rock Press conferiu seu show em Belo Horizonte, no último sábado (03/09), e antecipa o que o público poderá conferir no Rock in Rio 2022, nesta quinta-feira (08/09). A artista também se apresentou em Curitiba (01/09) e em São Paulo (5/9).
TEXTO E FOTOS: Robert Moura
A cantora, instrumentista e compositora inglesa Corinne Bailey Rae segue confirmando a consistência de seu trabalho, seja através de suas composições e gravações, seja com suas performances ao vivo. Sua apresentação no Teatro SESC Palladium, em Belo Horizonte/MG, no dia 3 de setembro, atesta isso. O público de Curitiba e São Paulo também pôde conferir shows da turnê “Sunlight/Sunlight!” que encerra sua passagem pelo Brasil, nesta quinta-feira (08/09), no Rock in Rio, na Cidade (Maravilhosa) do Rock.
Como poucos artistas, Corinne domina o palco em sua plenitude através de sua capacidade musical e presença cênica. E, apesar do jeitinho tímido, ela consegue, se valendo de seu canto suave e preciso com uma voz muito bem colocada, comandar o público e sua banda. Aliás, a banda da cantora é qualquer coisa de impressionante, formada apenas por um trio que inclui John McCallum, na guitarra, Mikey Wilson, na bateria e Steve Brown (marido de Corinne), nos teclados (ele também faz os baixos com os pés tocando um pedalboard), além de Corinne no violão, guitarra e percussão em algumas canções. Na apresentação, em Belo Horizonte, foi possível constatar como existe bastante espaço para interações com a platéia e improvisos vocais e instrumentais. Em um desses momentos, o excepcional baterista Mikey Wilson chegou até mesmo a evocar uma levada de samba. A performance é bastante jazzística com boas pitadas de blues e rock, muito além do que se ouve nos discos da cantora normalmente, até porque a proposta é diferente. Não faltam também nuances dinâmicas de música clássica, além do soul, R&B e o pop mais marcante em seus hits.
Corinne abriu o show com “Been to the moon”, do álbum “The Heart Speaks In Whispers” (2016), seguida de “Closer”, de “The Sea” (2010) e “Breathless” e “Till it happens to you”, de seu auto-intitulado disco de estreia que a alçou ao estrelato, em 2006. Na sequência, ela cantou “Is This Love”, apresentada como sua canção predileta de Bob Marley, regravada por ela no EP “The Love” (2011). “Paris Nights/New York Mornings” e “Blackest Lilly”, também de “The Sea”, e “Green aphrodisiac” e “Do you ever think of me?”, ambas de “The Heart Speaks In Whispers”, mantiveram o clima de crescente energia e euforia. “I’d do it all again” (“The Sea”, 2010) e depois uma sequência de canções de seu primeiro álbum encaminhou o show para o ápice com “Call me when you get this”, “Trouble sleeping”, “Put your records on” e “Like a star”. Para o bis, ela guardou “The skies will break”, outra canção do álbum “The Heart Speaks In Whispers” que também havia dado início à apresentação.
Em um show de uma artista como Corinne, é mais do que esperado uma boa iluminação e um som de primeira, e ambos superaram a expectativa. Não podemos esquecer-nos de detalhes como, por exemplo, o figurino que ressalta a elegância e bom gosto da cantora vestida com um macacão de tecido leve azul que produzia um efeito degradê com lantejoulas em verde claro e um imponente sapato dourado com salto plataforma. A isso se somava sua performance corporal que com seus traços longilíneos abria os braços em gestos sutis quase de yoga, mantendo a atenção do público em seus movimentos. O sorriso encantador de Corinne que “pode ser visto” mesmo quando apenas se ouve suas gravações, torna-se extremamente marcante em cena. E o principal, em nenhum momento a música que é a matéria-prima do espetáculo sai do primeiro plano. Como não bastasse, ela é uma dessas artistas generosas que não esconde sua banda no palco, coisa de quem é consciente de sua capacidade. Muito pelo contrário, a própria disposição dos músicos no palco deixa todos em evidência, além do espaço nos arranjos para improvisos e sua total interação com a banda. Ainda assim, é difícil não centrar a atenção na cantora com sua forte presença cênica que, aparentemente, ciente disso, tenta se posicionar de forma mais discreta se dirigindo ao fundo do palco ou mantendo os olhos na direção dos músicos quando deseja que o público dê atenção a eles.
Durante a primeira parte do show, um desentendimento entre algumas pessoas do público sentadas nas primeiras filas de uma das laterais do palco provocou a interrupção de uma fala de Corinne. Simpática, ela interagiu com eles e conseguiu acalmar os ânimos. Pouco depois, ela desceu do palco e, vejam vocês, foi cumprimentar os brigões. Nesse momento, ela acabou desfilando pela primeira fila cumprimentando também outros espectadores, quando este que vos escreve teve a oportunidade de lhe beijar a mão e, parafraseando os versos de uma antiga canção, “gastar todo seu inglês para lhe dizer I love you”. A mesma frase lhe foi dita por Isabella Alvarez, professora de inglês e admiradora de sua obra que viajou da cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, para assistir ao show na capital mineira e também teve a oportunidade de interagir com a cantora. Para dar um exemplo do clima e do poder terapêutico que artes como a de Corinne são capazes de trazer, registramos aqui o relato de Isabella que demonstra a emoção pela experiência deste que foi, segundo ela, o primeiro show ao qual assistiu: “Então, é meio que indescritível esse show dela. Ela é super humilde e carismática! Teve muita interação com a plateia, e inclusive, ela até desceu do palco para nos cumprimentar, eu como estava na primeira fileira consegui o aperto de mão dela e quase morri, né? Não posso deixar de falar da banda, são ótimos profissionais e deram um show mesmo! Eu sou leiga nessa área da música, mas eu fiquei impressionada como eles fizeram tudo aquilo ao vivo!!!! Tem muita conexão boa entre eles e a voz dela, pelo amor de Deus!!! Eu saí de lá super leve! Na verdade, toda vez que eu escuto as músicas dela, eu me sinto muito mais centrada. Desde a primeira vez foi como um processo de cura pra mim, me ajuda há muito tempo com ansiedade e outros vários problemas. Me inspiro muito nela e admiro a história de vida dela e sou muito grata a ela por tudo o que ela faz através da música. Quero que ela volte logo ao Brasil. E se eu tiver oportunidade, irei a shows dela fora do Brasil também. Mas enfim, não consigo expressar o quão incrível foi esse show. Foi o dia mais especial da minha vida. Juro!”
A conclusão final é que se for analisar o show de Corinne apenas por seu aspecto técnico, é necessário dizer que ele foi impecável. Ao mesmo tempo, se for analisá-lo, somente por seu teor emocional, pode-se afirmar que foi arrebatador. Corinne e banda conseguiram reunir esses dois lados numa apresentação espetacular fazendo o sol brilhar na noite de Belo Horizonte!
Ainda…
Na saída do show pude trocar algumas palavras com o tecladista Steve Brown que, com uma das filhas do casal no colo, demonstrava a mesma boa vibe da esposa Corinne e se mostrou interessado em saber se eu realmente curti a noite e afirmei que tinha, de fato, sido maravilhosa. – Robert Moura.
ROBERT MOURA – É natural de Belo Horizonte. Doutorando em Música (UFRJ), mestre em Artes (UEMG) e bacharel em Música (UEMG). Fundador e professor da Alaúde Escola de Música. Tocou guitarra em bandas de rock na capital mineira; e não via mais a hora de poder assistir a uma apresentação de Corinne Bailey Rae ao vivo. Atualmente, seu trabalho está focado no violão clássico e composição. Em 2021, lançou o EP digital “Ensaio Para A Morte” com a trilha sonora que compôs para a peça homônima.