Living Colour e Black Pantera promovem mais uma noite memorável de Rock na capital mineira. As bandas de origem norte-americana e brasileira realizaram apresentações de grande vitalidade, com postura política e coroadas pela qualidade musical.
LIVING COLOUR e BLACK PANTERA
Mister Rock – Belo Horizonte/MG
Sexta-feira – 11 de outubro de 2024
TEXTO e FOTOS: Robert Moura
A cidade de Belo Horizonte recebeu o Living Colour e o Black Pantera, no Mister Rock. As performances das bandas e a boa presença do público confirmaram, novamente, a vocação da capital de Minas Gerais para o rock. Além de BH, essa passagem do Living Colour pelo Brasil, incluiu shows no Rio de Janeiro (LEIA AQUI), São Paulo e Brasília.
BLACK PANTERA – Não poderia haver banda mais ideal para abrir um show do Living Colour no Brasil do que esse trio formado na cidade de Uberaba, em Minas Gerais. E mais do que fazer as honras da casa, o Black Pantera, fez uma apresentação que ao mesmo tempo em que reverenciava e demonstrava sua influência por parte da banda norte-americana, transpirava originalidade. Tocando por aproximadamente 60 minutos, o grupo, com dez anos de carreira, segue reafirmando a potência de seu trabalho. O trio formado por Charles Gama (guitarra e vocal), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria) tem uma pegada que mescla trash metal com punk e hardcore, mas tem como tempero pitadas da música negra norte-americana (especialmente o funk) e brasileira (com toques e levadas de tambores afros) que lhes confere uma sonoridade bastante particular.
O setlist da banda privilegiou os discos “Ascensão” (2022) com as músicas “Mosha”, “Padrão é o caralho”, “Revolução é o caos” e “Fogo nos Racistas”; o mais recente lançamento “Perpétuo” (2024) com a faixa-título, além de “Provérbios”, “Boom!”, “Tradução”, “Fudeu”, “Sem Anistia”, “Black Book Club”, “Candeia” e “Mahoraga”; e o single “Dreadpool” (2023).
Com temáticas político-sociais que abordam desigualdade, racismo, discriminação e a violência de forma geral (não podíamos espera algo diferente de uma banda cujo nome homenageia os Panteras Negras estadunidenses), deve dar uma grande satisfação à banda ver a plateia com todas as letras na ponta da língua. Pelo menos isso foi o que se viu em BH. Momentos como o que a banda anuncia um mosh apenas de mulheres, não tem como ser mais diretos e educativos para o público. Um simples ato que pode levar a várias reflexões. Fato é que com todo esse contexto, a música do Black Pantera tem a força e valor artístico para além do discurso e é isso que certamente tem levado a banda a conquistar seu espaço e que vai mantê-la na praça ainda por muito tempo.
LIVING COLOUR – O Living Colour, formado por Corey Glover (vocal), Vernon Reid (guitarra), Doug Wimbish (baixo) e William Calhoun (bateria), completa 40 anos de existência, em 2024, e nada melhor do que estar na estrada para celebrar tal feito. A banda nova-iorquina começou sua história com o Brasil em 1992 quando se apresentou no Hollywood Rock com shows no Estádio Pacaembu, em São Paulo e no Sambódromo, no Rio de Janeiro. De lá para cá, já somam dez passagens pelo país, sendo a última no Rock In Rio 2022, quando realizaram um show em parceria com o guitarrista Stevie Vai.
Com uma duração de aproximadamente uma hora e quarenta minutos, o setlist da banda trouxe um repertório que passeou por sua discografia, abrindo o show com “Leave It Alone”, do álbum “Stain” (1993), um dos trabalhos mais pesados do Living Colour, do qual também foram tocadas “Ignorance is Bliss”, “Bi”, “Auslander” e “Never Satisfied”. Do disco “Time’s Up” (1990), eles tocaram a faixa-título e “Love Rears Its Ugly Head”. De “Collideoscope” (2003) pinçaram “Flying” e “Sacred Ground”. E do antológico álbum de estreia, “Vivid”, de 1988, apresentaram “Open Letter (To a Landlord)”, uma daquelas baladas que só uma banda de rock sabe fazer, as funkeadas “Funny Vibe” e “Glamour Boys”, e os hard rocks “Desperate People” e “Cult of Personality” (primeiro hit do grupo, guardada para o encerramento da apresentação).
O show ainda teve direito a momentos solo do baterista William Calhoun e do baixista Doug Wimbish. Diferente do show do Rio de Janeiro, por exemplo, a banda não voltou ao palco para um bis, Glover apenas entoou com o apoio da plateia o refrão de “What’s Your Favorite Color?”, mas ninguém parece ter saído insatisfeito com isso, após a excepcional performance dos músicos. Um espetáculo para ficar para sempre na memória de quem esteve presente. E nunca é demais ressaltar a indumentária dos jovens senhores, pois o visual cheio de estilo do grupo sempre foi uma de suas marcas registradas.
Importante ressaltar que o som estava excelente, sendo possível ouvir bem de todos os cantos do Mister Rock, espaço que tem sido de grande relevância para a cena rock de Belo Horizonte, inclusive, com cobertura de vários shows pelo Portal Rock Press. Ainda que os ingressos não tenham esgotado, chegou bem perto disso com um público bastante vibrante. Nunca é demais lembrar que a cidade já foi apontada como uma das capitais do rock no Brasil e se durante o boom do gênero no país durante os anos 80, ela não teve nenhuma representante entre as bandas que alcançaram maior popularidade, gerou importante nomes do metal nacional.
Ainda: Ocorrido apenas seis dias após as eleições municipais que trouxeram resultados desanimadores (ainda que previsíveis) com a continuidade de candidatos com discursos do que há de pior no conservadorismo e avanços da chamada extrema-direita, serve de alento assistir a um show desses na capital mineira e tentar acreditar que boa parte dos presentes segue não comprando esses discursos. – Robert Moura.
Em tempo: como nem só de rock vive Belo Horizonte, vale registrar que nesse mesmo fim de semana, ocorreu o festival de aniversário dos 18 anos do Clube do Choro de BH e este que vos escreve esteve lá conferindo a apresentação do grupo local Abre A Roda composto apenas por mulheres e que teve como convidada a saxofonista carioca Daniela Spielmann.
ROBERT MOURA – É natural de Belo Horizonte. Doutorando em Música (UFRJ), mestre em Artes (UEMG) e bacharel em Música (UEMG). Fundador e professor da Alaúde Escola de Música. Tocou guitarra em bandas de rock na capital mineira. Atualmente, seu trabalho está focado no violão clássico e composição. Em 2021, lançou o EP digital “Ensaio Para A Morte” com a trilha sonora que compôs para a peça homônima, e em 2023 lançou os singles “A Rosa de Heitor” e “Júpiter e Marte”, compostas para a trilha da peça “Heitor”. Depois de longa espera, conseguiu finalmente conferir uma apresentação ao vivo do Living Colour e fazer seu début também com a Black Pantera.
Uma resposta