Marcia Melo é Idealizadora do Pedrada Rocks e membro fundadora do Coletivo Rio+Rock, assina esse artigo sobre os 40 anos do Rock in Rio e a busca por visibilidade da cena rock do Rio de Janeiro!
ARTIGO: Marcia Melo
FOTOS: Michael Meneses! e Ian Dias
Eu tinha 15 anos em 1985 quando encarei a lama, a viagem em vários ônibus circulares e a minha mãe, para ir por três dias ao, depois icônico, primeiro Rock in Rio. Gente, não é a toa que a lama ganhou tanta fama. Era só lama, mas muita lama mesmo! As placas de grama não seguraram a chuva e os boots dos recém batizados metaleiros na primeira noite de festival. Sabe aquele momento que ficou famoso com o público cantando “Love of My Live” regido por Freddie Mercury? Eu estava lá cantando também, com lama até os cabelos.
Tinha um pouco de tudo, mas tinha muito rock mesmo, de verdade… e uma tropa de camisas pretas que ninguém sabia de onde haviam surgido tantos. Tinha um público imenso que amava o rock no Rio de Janeiro, e estavam lá para assistir ao vivo seus ídolos.
Tudo era um caos… Horas na fila do banheiro, cerveja ruim e quente… Mas uma potência que só uma multidão de amantes do rock podem trazer a tona… E o Rio de Janeiro. Sim, O Rio de Janeiro, este o único lugar no mundo onde aquela loucura podia ter acontecido.
Mesmo sem entender, o Rio de Janeiro é Rock and Roll na sua essência. Lugar de paisagens violentamente lindas, população sofrida e feliz ao mesmo tempo, cotidiano feroz… onde tudo se mistura. Caos transformado em paraíso… Ou seria paraíso transformado em caos? Esta cidade onde tudo cabe, tudo pode, tudo se suporta, e no final das contas entre tiros e quadris, tudo acaba em festa… Em festa na lama mesmo!
Corajoso o povo que vive nesta cidade caos. Atrevidos, impetuosos, criativos, contestadores… Gente que acredita nas suas ideias e é chegada a um jogo de cintura. Qualquer semelhança com a definição de roqueiro não é coincidência. E preciso me repetir: O Rio de Janeiro é Rock and Roll na sua essência!
E lá se vão 40 anos!
O Brasil é outro, o Rio de Janeiro é outro e o Rock in Rio é outro. Com muito menos rock e nenhuma lama. O festival ganhou fama no mundo todo, e ainda é o palco dos sonhos para todos que fazem rock no Brasil, e principalmente para os que fazem rock no Rio de Janeiro.
E sim, muita gente faz rock no Rio de Janeiro, e faz muito bem. Existe uma geração de músicos no Rio, que tenta bravamente conseguir seu lugar ao sol no mercado da música fazendo rock, e sonham com um dia ter a oportunidade de subir ao trono/palco do Rock in Rio. Músicos que em sua maioria, nem era nascido em 1985. Alguns até alcançam os palcos menores na cidade do rock (ideia excelente da produção do evento para dar alguma visibilidade aos artistas da cidade), porém os palcos maiores seguem como um enorme desejo.
Existe hoje no Rio de Janeiro um forte movimento de união destes músicos e amantes do rock. Eles (e elas, mais fortes do que nunca), estão empenhados em trazer mais espaço para o rock no Rio de Janeiro e no Brasil. São outros tempos, e o povo do rock já entendeu que caos e lama não é tudo.
Em julho de 2023 foi lançado o coletivo Rio+Rock, ampliando a troca entre artistas e produtores, fortalecendo a cena, na busca de estabelecer possibilidades, abrir portas e desbravar novos caminhos para fazer que o rock feito no Rio de Janeiro chegue ao público.
Em um verdadeiro trabalho de formiguinhas e muita resiliência, este coletivo organizado de maneira horizontal, tem trabalhado incansavelmente em prol do rock no Rio. Sabendo que o mercado da música é um verdadeiro duelo de gigantes, sem nenhum patrocínio ou incentivo, esta galera se uniu pra lutar bravamente pelo que acreditam.
Eu não estive na edição de 40 anos do Rock in Rio, mas faço parte da base gestora do Rio+Rock, e este coletivo trouxe o rock novo do Rio pra minha vida: Aquele rock que os algoritmos das plataformas de streaming não costuma oferecer para os usuários, o rock que só descobre quem corre atrás, como fazíamos em 1985 nas lojas de discos, quando íamos escutar LPs por horas nos fones de ouvido, para decidir sozinhos o que queríamos ouvir.
Tenho descoberto música de muita qualidade, claramente merecedoras de sair do anonimato. Música feita por gente cheia de potência e talento, como os rostos dos músicos das bandas cariocas que eu identifico nesta foto. Além de muitos, muitos outros que também estiveram no Rock in Rio e nos vários shows que acontecem no underground do Carioca.
Esta interação com o novo rock produzido no Rio de Janeiro tem deixado claro pra mim que a melhor forma de conhecer musicas novas, e não aceitar o que nos é oferecido pela força dos impulsionamentos, ainda é buscar por mim mesma, exatamente como fazia em 1985.
Se você gosta de rock, e se pergunta onde está o rock brasileiro, vá aos shows autorais da sua cidade, comprem merchan, leia fanzines e toda mídia rock independente e procure pelos coletivos, esses canais são verdadeiras plataformas de divulgação, fazem curadoria espontânea sem influência financeira, promovem eventos de pequeno porte e divulgam as cenas locais. Mostram a cara do novo rock brasileiro.
E sobre o Rio de Janeiro?…
Precisamos muito de um festival de rock de verdade para nossas bandas autorais, que traga para o público a oportunidade de conhecer o novo rock carioca e que leve mais rock para geral. – Marcia Melo.
Marcia Melo é Idealizadora da plataforma Pedrada Rocks, produziu e dirigiu o Pedrada TV – Homenagem a Elza Soares (assista), idealizadora do Unidas in Rock, live com 58 bandas de todo o mundo com mulheres a frente e é membro fundadora do coletivo Rio+Rock.
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