C6 FEST 2024: Crônicas Críticas & Críticas Crônicas! – PARTE 2

A última noite da edição 2024 do C6 Fest teve como destaque as apresentações da Cat Power, Noah Cyrus, Pavement. Assim, como na noite anterior, a Rock Press esteve presente no Parque do Ibirapuera (SP) conferindo os shows. Leia na matéria que segue…

C6 FEST 2024:
Crônicas Críticas & Críticas Crônicas – Parte 2

Parque do Ibirapuera – São Paulo/SP
Domingo – 19 de Maio de 2024
TEXTO e FOTOS: Gabriel Farina

O segundo dia de um festival parece – de início e em via de regra – ser mais calmo e tranquilo do que o primeiro. Lógico que aqui no caso do C6 Fest estou considerando as atrações populares (mesmo que alternativas) do final de semana. Em teoria, a logística do evento já foi testada e os problemas, que puderam aparecer, foram corrigidos. O domingo, em comparação com o sábado (leia aqui), iria começar e terminar mais cedo. E foi nessa perspectiva que o festival da “mistura entre o clássico e o novo” entrou em seu último dia.

Os meus olhos já tinham se decidido a virar dessa vez para a chamada Tenda Metlife, que abrigaria as atrações mais interessantes (até) de todo o festival mesmo. O domingo era o dia mais esperado por mim. Não que o sábado não tivesse sua devida importância e seu devido valor como evento de cultura. É que o Pavement e a Cat Power estavam escalados para o mesmo dia.

Por algum motivo os funcionários de colete amarelo – que foram inclusive mencionados no texto anterior – estavam menos simpáticos e solícitos nesse dia. Ninguém gosta de trabalhar no domingo, é verdade – mas a integração física dos palcos, distantes uns dos outros, dependia muito mais deles do que de qualquer outra coisa. O importante é chegar aonde você quer chegar na hora certa.

NOAH CYRUS

O Palco Metlife – uma tenda, logo, um lugar fechado, era muito menor que o Palco Heineken, onde passei a maior parte do sábado. Por lá, fãs da cantora Noah Cyrus aguardavam a apresentação marcada para o meio da tarde da irmã mais nova da Miley (Cyrus) – inclusive, dizem por aí que elas estão brigadas e não se falam mais. Bem, quando Noah assumiu o Metlife como uma forma de escultura helênica cantando suas canções meio indie-pop com influências meio indie-folk, tive certeza de que achava o atual trabalho dela mais interessante do que o atual trabalho da irmã.

Imageticamente, você pode decidir se gosta ou não de um artista em poucos segundos. Noah ocupava o palco com longas unhas e um longo cabelo negro encobrindo um vestido que dialogava com seu corpo como se fosse claro que ela era a pessoa a ser observada naquele ambiente. Era colado no corpo de forma elegante e envolvente. Seus gestos demonstravam um tipo de controle de performance simpático a uma plateia que carregava pequenos cartazes com escritos à mão. Um deles dizia “NOAH YOU SAVED MY LIFE” (“NOAH VOCÊ SALVOU A MINHA VIDA”).

Noah tem (no mês de maio de 2024) 18,9 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Por lá, ela também tem um single, “July”, com quase 1 bilhão de streamings. A decisão de colocá-la às 16h da tarde no Palco Metlife demonstra certa incerteza quanto à tradução desses números virtuais em pessoas reais em solo brasileiro. Bem, mesmo a tenda não estando lotada, Noah Cyrus fez uma excelente performance com sua interessante fusão do pop moderno com influências country e folk – honrando esse seu sobrenome talvez.

CAT POWER

Cat Power é o nome de palco de Chan Marshall, cantora natural da Geórgia estadunidense e presença astral em todos os vocais indie femininos que vieram depois dela. No palco do C6 Fest, Chan fez uma comemoração pessoal, íntima e espetacular de um dos shows mais importantes da história: o que Bob Dylan fez no Royal Albert Hall em 1966.

Em um dos materiais de divulgação do festival, Hermano Vianna, cabeça maior da curadoria, comentou sobre como aquela seria a primeira vez que o show, que foi inclusive gravado e lançado no ano passado como LP, seria feito em um festival. A experiência de cantar todas aquelas miraculosas canções de Dylan por aí tem obtido sucesso pelo mapa desse mundo. Chan já tem as datas para uma turnê que vai levar o show para vários estados americanos. Nós, dos antigos Estados Unidos do Brasil, recebemos essa graça antes disso.

Cat Power vive em um mundo parecido com o meu: onde Bob Dylan importa como poucas coisas importam. Chan cantou cada música cantada por Zimmerman – naquela Inglaterra em preto e branco do auge de sua fama – como se entendesse a magia imaculada daquele momento e daquelas canções que ressoarão em forma gravada para sempre.

O concerto original no Royal Albert Hall foi um dos primeiros álbuns pirateados da história. Na verdade, seu nome antes de seu conteúdo. Os discos distribuídos clandestinamente como tendo sido gravados no Royal Albert Hall na verdade foram gravados no Free Trade Hall, em Manchester. Mais tarde, ele, assim como o verdadeiro show no Albert Hall, foi lançado oficialmente na Bootleg Series de Dylan.

Esses concertos de Dylan na Inglaterra de 1966 foram responsáveis por redefinir a música elétrica, e consequentemente, a música pop em todo o mundo. Foi lá que ele foi chamado de Judas e foi lá que ele fez nascer o espírito rebelde do Rock ‘n’ Roll como forma artística intransigente e marginal. Cat Power, embora apenas contribuindo para que esse conjunto de canções tenha sua importância sacramentada, tocou com feitiços sonoros os corações vibrantes que a assistiam colocar e tirar seu sapato, lançar garrafas de água para a plateia e cantar “hey Mr. Tambourine Man play a song for me” como em um sonho flutuante e anárquico.

PAVEMENT

A resposta do público ao Pavement foi a melhor que qualquer artista ou banda recebeu no festival. O pessoal da grade segurava cópias em disco de vinil do primeiro álbum da banda, o “Slanted and Enchanted”, de 1992, e do “Crooked Rain, Crooked Rain”, de 1994, que o sucedeu. Uma diversidade de jovens e não-tão-jovens-assim se unia para pular no ritmo de guitarras distorcidas esparsas que faziam a Tenda Metlife voar naquela noite de domingo.

Na verdade, o Pavement representa bem essa imagem de união entre o clássico e o moderno que o C6 Fest quer tomar para si. A música, você sabe, é viva e existe ao redor e através do tempo e de gerações. As gerações estavam lá, unidas em uma comunhão alternativa. Por lá, gente que descobriu o Pavement vendo o clipe de “Cut Your Hair” na MTV Brasil nos anos 90 lado a lado de gente que descobriu a banda vendo vídeos no TikTok que usavam o lado B “Harness Your Hopes” como trend.

Stephen Malkmus, com seus 58 anos e ainda magro e cheio de cabelo, usava suas guitarras como instrumentos de seus próprios mantras de rock alternativo. Música após música ele trocava sua SG da Guild por sua Fender Stratocaster. Colocava ambas atrás da cabeça e deixava elas soltas em seu corpo enquanto a distorção aumentava e ele observava os pedais.

Stephen não falou muito diretamente com a plateia, deixava isso com Bob Nastanovich, percussionista, que girava pelo palco com uma regata do time de basquete Celtics, contribuindo com uns vocais de vez em quando.

Os maiores hits da banda foram deixados para o final, em uma catarse sistemática que parecia anunciar que a edição daquele ano do C6 Fest estava acabando. Os mais velhos tiveram seu “Cut Your Hair”, os mais novos seu “Harness Your Hopes”, que inclusive ouvi bastante gente cantarolando a caminho da luta por um Uber na noite paulistana. Era o fim do fim de semana, era o fim do C6 Fest.

Que venha o C6 2025!

Com a realização dessa nova edição do festival, já fica expectativa de mais uma edição para o ano que vem. Estamos na torcida. e se você chegou até aqui, vale conferir nossa cobertura da noite de sábado (18). Leia AQUI e aguardemos a edição 2025 do C6 Fest! – Gabriel Farina.


GABRIEL FARINA –
 Escreve por necessidade embora ainda não ganhe a vida com isso. Ouve Rock ‘n’ Roll desde que existe e música continua sendo a principal razão pela qual ele respira. Está cursando Jornalismo pela UFRRJ e é apaixonado justamente pela faceta musical do fazer. Realiza empreitadas pelo mundo das artes para além da escrita jornalística: faz música, pinta, se arrisca atrás de lentes e escreve em versos poéticos sem publicação. Alguns de seus textos estão disponíveis através de links na internet embora ele goste mesmo de coisa analógica. Para ele, discos de vinil são a amostra do mundo material mais valiosa. Nascido em Resende/RJ e morando na Baixada Fluminense, ele tem coisas a dizer sobre esse estado. Não come carne (nem mesmo peixe) já tem um tempo e é muito orgulhoso disso. Torce para o Flamengo por causa, primeiramente, de seu pai – e segundamente por ser, de fato, o maior time do Brasil. Tem tatuagem do Bob Dylan, Leonard Cohen, Gram Parsons, Lou Reed e São Jorge. Dirige o ainda não lançado mini-doc “Canto Geral – Uma Livraria em Seropédica”.

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