“MARIGHELLA”: O filme sobre o homem certo para o momento certo

“Marighella”, filme que marca a estreia, do ator Wagner Moura, como diretor, sofreu com vários adiamentos de seu lançamento para, enfim, chegar às telas do país, após ser exibido em festivais pelo mundo. O longa se baseia na biografia “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo” e chegou neste mês de dezembro ao Globoplay.TEXTO: Nilvio Pessanha.

“MARIGHELLA”: O filme sobre o homem certo para o momento certo
TEXTO: Nilvio Pessanha
FOTOS: Divulgação

O baiano, descendente de escravizados sudaneses, Carlos Marighela enfrentou e foi preso por duas ditaduras diferentes no Brasil. Por duas vezes na ditadura de Getúlio Vargas e em outra ocasião pela ditadura civil-militar, em 1964. Foi torturado, espancado e se tornou um dos expoentes da luta armada contra a repressão. Entrou para a história, apesar de todos os esforços de seus inimigos e detratores para invisibilizá-lo ou manchar sua imagem.

Agora, graças ao ator e diretor também baiano Wagner Moura, a história do guerrilheiro volta aos holofotes com o tão aguardado lançamento de seu filme “Marighella” nas salas de cinema, marcando sua estreia como diretor. Rodado no final de 2017, o filme de Moura teve sua primeira estreia agendada para 20 de novembro de 2019. Após a Ancine, já no governo de Jair Bolsonaro, alegar o não cumprimento de trâmites, o longa teve sua estreia adiada. Não faltaram críticas acusando a entidade de censura. Houve uma nova data marcada para o seu lançamento, 14 de maio de 2020. Novo adiamento, em virtude da pandemia de Covid-19. Uma nova data de estreia foi definida para 14 de abril de 2021. Mas, resultou em um terceiro adiamento.

“Marighella” só conseguiu chegar aos cinemas brasileiros, em 4 de novembro, dia em que o militante completou 52 anos de falecimento, e rapidamente se tornou o filme brasileiro mais visto do ano, com mais de 300 mil espectadores . Nada de se surpreender, em se tratando de uma cinebiografia sobre um homem que sempre tentaram calar. O próprio diretor denunciou boicote e racismo em relação ao filme. O longa, que tem como base o livro “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo”, do escritor e jornalista Mário Magalhães, tem como foco o ano de 1969, mostrando a luta do personagem central e de seus camaradas para fazer com que a população soubesse o que estava acontecendo no país.

O filme inicia com uma ótima sequência retratando o episódio histórico do assalto ao trem pagador de Santos-Jundiaí. Já fica claro um dos pontos altos da direção de Wagner Moura, as sequências de ação. As cenas de troca de tiro, de perseguição, são bem verossímeis e bem executadas, com o uso de uma frenética câmera na mão. E não são poucas. “Marighella” tem uma boa carga dramática, mas é sobretudo um filme de muita ação.

Outro acerto de Moura é a direção de elenco. O trabalho dos atores é bastante competente. Seu Jorge convence como Marighella, mas os destaques vão para Humberto Carrão e Bruno Gagliasso. Você realmente acredita que o Carrão é um guerrilheiro disposto a tudo pela sua causa, vivendo o personagem Humberto. Já Gagliasso faz um vilão no tom certo, no papel do cruel delegado Lúcio. Alguém que te faz sentir medo e ódio, mas sem trejeitos exagerados e caricaturais.

O filme também acerta no desenvolvimento e na humanização dos personagens, ao mostrar não só o lado guerrilheiro, mas também momentos de interação mais descontraída e despojada entre os militantes do movimento de resistência. Algumas cenas como a de Marighella com o Padre Henrique (Henrique Vieira) indo para a Bahia e do guerrilheiro Humberto em sua casa com seu camarada Jorge (Jorge Paz) retratam bem esse ponto.

O equilíbrio narrativo e a duração do filme é que são um tanto quanto comprometidos, pois há sequências desnecessárias para o desenvolvimento da história. Momentos como o do Padre Henrique falando sobre Jesus para Marighella e do filho do guerrilheiro dizendo para o seu professor na escola que a ditadura era um “golpe” e não uma “revolução”, são exemplos disso. A impressão que dá é que o longa poderia ser mais enxuto e ter uns vinte minutos a menos de duração. Outra coisa que parece deslocada é a personagem de Adriana Esteves, a Clara.

O saldo, porém, é bastante positivo. É uma obra que executa muito bem suas sequências de ação, além da dramaticidade construída de forma consistente. Tem um diretor estreante que, se ainda não mostra uma identidade autoral, ao menos demonstra saber o que quer das câmeras e de seu elenco. Enfim, assim como o homem que é o foco da cinebiografia, não é perfeito, mas tem muito mais qualidades e virtudes, lutou muito para ter voz e, sem dúvida, merece ser ouvido. Em tempos em que vivemos sob a égide de um governo que persegue opositores e atenta abertamente contra a democracia, “Marighella” é o filme certo, sobre o cara certo, no momento certo.

Troca de Marighella…
Inicialmente quem estava escalado para viver Carlos Marighella era o cantor Mano Brown. Chegou a participar dos ensaios com o elenco, porém em virtude da agenda apertada de shows do Racionais MC’s, teve de deixar a produção. Foi nesse momento que Seu Jorge foi chamado para substituí-lo. Por falar em Racionais, o grupo está presente na boa trilha que se harmoniza bem com o filme. Contando também com nomes como Chico Science e Gonzaguinha.

Marighella nos festivais…
Enquanto enfrentava problemas junto à Ancine, “Marighella” rodava o mundo. O filme de Wagner Moura estreou no Festival de Berlin, onde foi aplaudido de pé; depois foi exibido no Festival do Cinema Brasileiro de Paris; no International Film Festival, em Bari; no 66º Sydney Film Festival, na Austrália; no Santiago Festival Internacional de Cine, no Chile; além de outros festivais em cidades como Havana, Istambul, Cairo, Estocolmo, Seattle, Hong Kong e Atenas. #Recomendamos! – Nilvio Pessanha.
 
Nilvio Pessanha é morador do bairro de Campo Grande na zona oeste carioca, agitador cultural, coordenador do cineclube Cine Rua ZO, professor de língua portuguesa e literatura no município e do estado do Rio de Janeiro, pai do Francisco, vascaíno, é membro dos podcasts Trincheiras da Esbórnia (OUÇA AQUI!) e Cine Trincheiras (CONHEÇA AQUI)!


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