Depois de realizar apresentações em Belo Horizonte/MG e em São Paulo/SP, Slash featuring Myles Kennedy and the Conspirators deu continuidade a sua tour brasileira. Dessa vez, o show foi no Rio de Janeiro e novamente contou com a banda Velvet Chains na abertura. Saiba como foi na matéria que segue…
Qualistage – Rio de Janeiro/RJ
1 de fevereiro de 2024
TEXTO: Fabiano Soares
FOTOS: Letycia Cavalcante
Quinta-feira estranha no Rio de Janeiro. Tempo nublado depois de um calor de fritar ovo em asfalto. Pego o BRT para chegar ao Via Parque, shopping onde se encontra a casa de shows Qualistage (e enquanto aguardo o transporte, posso ir lembrando os antigos nomes do local: Metropolitan, ATL Hall, Claro Hall, Citibank Hall e, o mais esdrúxulo de todos, Km de Vantagens Hall), na Barra da Tijuca. Hoje é dia de ver o Slash de perto, sem ser em estádios com megaestrutura para shows do Guns N’ Roses. Dou sorte e vou sentado no BRT, dá pra fuçar um pouco a internet. Vejo que já saiu texto excelente do Robert Moura aqui na Rock Press, bem técnico. Confere lá!
Chegando à Qualistage, um público bem comportado aguarda o início da banda de abertura. A Velvet Chains inicia pontualmente às 20h, trazendo de cara um peso com “Wasted”. Achei que essa sonoridade mais sombria e arrastada, que remeteu — até por conta do nome — de leve a Alice In Chains, iria se manter no show, mas não. E sim, deixei para conhecer a banda ao vivo, para ver se me pegava na marra. Não rolou, mas fizeram um bom show, com músicas que fizeram o público mandar aquelas dancinhas tímidas, se balançando levemente, e interagiram com a plateia, tentando falar português em alguns momentos. A banda lançou um videoclipe gravado no Brasil (“Last Drop”), e ao falar do vídeo, aproveitaram para pedir seguidores, inclusive no Tinder e no Grinder. A banda seguiu com um rock moderninho, leve, diferente da música da abertura, que realmente me pegou, e deu uma animada no público que aguardava por Slash e companhia. Quando anunciaram a última música, eu, que já não esperava mais nada, fui surpreendida pela excelente “Tattooed”, com sua bateria marcante e seu peso bonito aos ouvidos. E com exatos 30 minutos de show, despediram-se e deixaram o palco em grande estilo. Falar em estilo, se tem uma coisa que chamou a atenção no show, visualmente, foi o guitarrista James Von Boldt, com um chapéu entre “Undertaker” (o lutador de WWE) e “Kung Lao” (do Mortal Kombat), sempre cobrindo metade do rosto.
E após exatos 30 minutos (a produção estava pontualíssima, o show começou cravado às 21h), Slash entra no palco para alvoroço da plateia. “The River is Rising” já agitou o público, mas é um agito… um agito com cara de Barra da Tijuca, Pista Premium. Aliás, a pista Premium não estava lotada. Essa área, a dos financeiramente privilegiados, faz o pessoal mais rico ficar mais bem acomodado, sem ter que se acotovelar pela melhor vista, mas deve ser um pouco frustrante para o artista ver que seu show não tem aquela empolgação toda. Um dos pontos que achei estranho foi a pouca interação entre a banda e o público. Aliás, só após “Whatever Gets You By”, a 6ª música, é que Myles se dirigiu à plateia rapidamente, para pedir aplausos para a Velvet Chains e anunciar a próxima música, “C’est La Via”, que inicia com Slash usando o Talk Box, aquele tubo que vem do pedal pra boca do guitarrista.
Mas se a animação foi contida no público e em Myles Kennedy (foto ao lado), sobrou em Todd Kern, o baixista. Empolgado o tempo todo, levantava a galera, corria de um lado para o outro, e ainda soltava a animação no microfone, fazendo backing vocal. A segunda vez que Myles fala para o público é para anunciar que é o baixista quem vai cantar a próxima música, e é “Always On The Run”, parceria de Slash com Lenny Kravitz. A presença de palco de Todd, que já era imensa, ficou gigante durante a música, dividindo as atenções com Slash. Aliás, o outro guitarrista da banda, Frank Sidoris, tem a ingrata função, quase invisível, de fazer a base para Slash. Mas dá conta do recado, mesmo que na dele, suave, no canto esquerdo do palco.
O show foi rolando, mesclando hard rock, com músicas com pegada mais country, baladinhas… Até que chegou “Speed Parade”, e imaginei que agora não tinha como o público se manter naquele “dois pra lá, dois pra cá”, simulando uma animação. No meio da música, quando rola aquele trechinho “thrash metal”, imaginei que alguém ia começar um empurra-empurra, um simulacro de rodinha, algo sincero. Fiquei no vácuo. Público VIP da Barra. Olhei a pista comum. Parecia mais animada. Fui para lá, de onde assisti “We Will Roam”, e achei que ia ficar por lá, embora a pulseirinha de imprensa desse direito à infame Pista Premium. Mas eis que ao terminar a música, Myles anuncia que Todd novamente assumirá os vocais, sai do palco, e Slash começa com os riffs de “Don’t Damn Me”, do Guns N’ Roses. Voltei, envergonhado, a ficar entre os privilegiados, onde a apatia do público reinava, mas fui empurrando aqui, ali, e achei um lugar legal para ver de perto. Todd tenta instigar o público com seu jeito expansivo, mas consegue um apoio bem fraco — culpa do público mesmo.
O contraído Myles volta, canta “Starlight”, depois “Wicked Stone”, e nessa, no meio da música, o vocalista aparece com uma guitarra e começa a fazer base. Aí, meu amigo, entra um solo gigante do Slash, de muitos minutos, e só então entendi o porquê de Myles estar com a guitarra: para não sair do palco, já que ele não canta durante todo o tempo em que Slash faz soar as diversas notas de sua guitarra.
Aliás, o público ameaçou dar uns pulos maiores quando o baixista assumiu novamente os vocais em “Doctor Alibi”, mostrando que Todd Kerns realmente sabe comandar a audiência quando está como frontman; Slash inclusive foi dividir o microfone com ele, só cantando “Doctor”. Logo em seguida, “You’re a Lie” mantém a galera agitada, já com Myles no vocal. Quando o público finalmente deu sinal de vida pela terceira vez seguida, em “World On Fire”, Myles apresentou a banda — e Slash apresentou Myles — e a banda saiu de palco.
Óbvio que ninguém saiu, já que a luz de serviço continuou apagada. Teve gente gritando “Guns N’ Roses”, teve gente gritando “Is-lé-chê, Is-lé-chê!”, mas não durou muito e pararam de gritar, só esperando o Bis como algo inevitável. E ele veio. O baterista, Brent Fitz — que já tocou com Alice Cooper, Gene Simmons e outros monstros do hard rock —, aparentemente teve um descanso, e um barbudo assumiu as baquetas na volta para o BIS, em “Rocketman”, uma versão bem diferente e bonita do hit de Elton John. Slash estava tocando, segundo minhas anotações, “um instrumento estranho, horizontal”, que o texto do Robert Moura me ensinou que é “pedal steel” (sério, leia a resenha do show em BH, e em tempo, as fotos dessa matéria, são do show de Minas Gerais, segue o link AQUI!).
Pra fechar a noite, a animada “Anastasia” rolou, acompanhada de outro solo gigante de Slash — e novamente Myles, para não ficar feito um 2 de paus no palco, pegou uma guitarra e mandou a base enquanto o público fazia fotos sem parar da pose clássica de Slash com a guitarra na vertical, solando sem parar. Às 23h15, depois de mais de 2 horas de música, chegou ao fim a apresentação de Slash featuring Myles Kennedy and the Conspirators. Aliás, pouco falei da estrela da noite: Slash continua dando show, com seu estilo específico de solar, suas músicas que variam bastante nos estilos, não se prendendo a um único gênero, e mesmo sem falar com a plateia, atrair sua atenção — e seus celulares — durante a maior parte do show.
Saldo da noite: Slash tem uma carreira bem consolidada, com o público entoando em muitos momentos as músicas de sua carreira — e até mesmo com boa parte parecendo não reconhecer a única música do Guns N’ Roses que tocou. Continua impactando todos, que ficam entre a hipnose de olhá-lo solar e a vontade de levantar o celular e tirar uma foto de ele dedilhando a guitarra — todo mundo voyeur dessa dedação nervosa. Além da carreira consolidada, outra coisa que Slash tem é uma mania discutível do ponto de vista higiênico, de colocar uma palheta na boca e ficar com ela o tempo todo, até jogar a que está tocando para a plateia, pegar a da boca, tocar com ela, depois pega outra palheta do braço da guitarra para colocar na boca — e assim sucessivamente.
Ah, e confesso: reclamo mesmo da pista Premium, mas acabei ficando por lá até o final do show, na tentativa de, quem sabe, pegar uma palheta babada pelo Slash para levar para casa. Cada um com seus fetiches, se manda! – Fabiano Soares.
A tour continua…
O último shows no Brasil, ocorre em Porto Alegre/RS (04/02). Veja serviço completo abaixo.
SLASH FEAT MYLES KENNEDY & THE CONSPIRATORS
e VELVET CHAINS – BRASIL 2024
SERVIÇO:
PORTO ALEGRE/RS
DATA: 4 de fevereiro (Abertura da casa: 19h).
LOCAL: Pepsi On Stage – Av. Severo Dullius, 1995 – Anchieta – Porto Alegre/RS.
INGRESSOS: Vendas online em: eventim.com.br/slash e nas bilheteria da Arena do Grêmio – Portão 2 – Av. Padre Leopoldo Brentano, 110 – Humaitá – Porto Alegre/RS.
CLASSIFICAÇÃO: Entrada e permanência de crianças/adolescentes de 05 a 15 anos de idade, acompanhados dos pais ou responsáveis, e de 16 a 17 anos, desacompanhados dos pais ou responsáveis legais.
Fabiano Soares é amador: cineasta, escritor e fotógrafo amador, mas faz tudo com vontade! Escreveu “Rio Nosso de Cada Dia”, abordando essa cidade que encanta e assusta tanta gente diariamente. Dirigiu curtas-metragens e alguns videoclipes de bandas do Rio de Janeiro, como Gangrena Gasosa, Uzômi, Incognosci, Overnoisy e Feretral. Atualmente dedica-se a estudar a Canibal Filmes no mestrado em Mídias Criativas da UFRJ. Também vende material de cinema, literatura e fanzines independentes em shows, além da banquinha de sex shop que divide com a esposa, Luciana. Porque rock é metal é muita vibração! E, lógico, como uma das suas principais definições, é pai do Edgar, que aos 6 anos já está encaminhado nos filmes de terror e nos sons doidos!