VAN HALEN I – Uma Verdadeira Erupção Musical

Considerado um dos melhores discos de estreia de uma banda de rock, Van Halen I, ganha nova versão em CD. A iniciativa do lançamento é uma parceria da Wikimetal com a Oporto da Música. Conheça a história desse álbum, agora com em edição especial em slipcase na coluna Discão da Rock Press…

VAN HALEN I
Uma Verdadeira Erupção Musical

TEXTO: Rick Olivieri
FOTOS: Divulgação

Em fevereiro de 1978, a banda Van Halen lançava seu disco homônimo. Formado, então, pelos irmãos holandeses Edward Van Halen (guitarra), Alex Van Halen (bateria), por Michael Anthony (baixo) e Dave Lee Roth (vocais), e tentando a sorte fazia alguns anos, o quarteto não fazia ideia de quão vigoroso era aquele trabalho. O álbum era uma verdadeira lufada de ar fresco e seria considerado um dos melhores álbuns de estreia, na história do Rock.

Não custa lembrar que aquele ano de 1978 seria também o de estreia do Dire Straits, assim como o de lançamento do Long Live Rock ‘n’ Roll (Rainbow), do Outlandos d’Amour (The Police), do Jazz (Queen), do Powerage (AC/DC) e muitos outros álbuns que viriam a se tornar bem-sucedidos comercialmente ao longo dos meses e anos seguintes. Mas, certamente, nenhum mudaria o rock tanto quanto o petardo que expandia seu alcance para além das fronteiras da ensolarada Califórnia.

De Eagles a Fleetwood Mac, de Ramones a Talking Heads, de Journey a Rush, de The Clash a Kraftwerk, do Punk ao Progressivo, passando pelo Eletrônico, Fusion, Soft Rock e Hard Rock, a cena musical estava bem servida de bandas para todos os gostos. Contudo, o Van Halen tinha algo de diferente e, não obstante o talento incontestável de seus músicos, olhando em retrospectiva, notamos que eles também contaram a “sorte” de ser a banda certa, na hora certa. Isso porque o Rock Progressivo já começava a mostrar sinais de cansaço dentro da indústria (mesmo com fãs ardorosos ainda apreciando muito o estilo). Genesis, Emerson, Lake & Palmer e outras, pareciam se inclinar para uma sonoridade mais própria para tocar nas rádios. Os Sex Pistols haviam feito sua última turnê em janeiro de 1978, já sentindo o baque advindo da febre da Disco Music. O Deep Purple havia se desfeito após a morte de Tommy Bolin. O Grand Funk Railroad estava prestes a pendurar as chuteiras. O Black Sabbath vinha tendo sérios problemas internos. O auge do Led Zeppelin parecia ter ficado de vez para trás e a banda passava por uma espécie de hiato criativo. A carreira do jovem Peter Frampton idem… Enfim, o horizonte que se aproximava trazendo os anos 80 era um tanto obscuro para se poder vislumbrar o que viria. Porém, antes de entrarmos em mais detalhes do álbum que os consagraria, vamos recuar um pouco no tempo…

Nascidos nos Países Baixos, Edward Lodewijk Van Halen e Alex Van Halen, ainda novos, tinham embarcado da Holanda para a América do Norte com seus pais. Filhos de pai músico (Jan Van Halen tocava clarineta, saxofone e piano), no começo, Edward, cujo nome do meio equivalia a “Ludwig”, em homenagem ao compositor Beethoven, se interessou por tocar piano, trocando o instrumento, em seguida, pela bateria e seu irmão Alex optou pelo violão. Tempos depois, eles inverteram suas posições, com ambos indo para os instrumentos pelos quais ficariam consagrados. Alex já vinha praticando bateria, enquanto o irmão entregava jornais. Os dois já tocavam juntos, desde 1964, em uma banda que teve vários nomes, incluindo “Broken Combs” e, vejam só, o nome “Genesis”. Quando se deram conta de que já havia outra banda com o mesmo nome, decidiram mudar para “Mammoth”. Nessa época, Eddie também era o vocalista. Mas, como eles alugavam o sistema de som de um conhecido chamado Dave (Lee Roth), para economizar uma grana, acharam por bem colocar o simpático sujeito nos vocais principais. Foi Dave Lee Roth, quem sugeriu mudarem o nome para “Van Halen”, por achar que era mais sonoro e atraente, como “Santana”.

O baixista da banda naquele período, Mark Stone, seria substituído, em 1974, por Michael Anthony, que veio a acrescentar muito também devido aos seus ótimos “backing vocals”.

Fã de Eric Clapton (na fase Cream) e Alvin Lee (guitarrista do Ten Years After), Eddie possuía uma grande curiosidade em compreender seu instrumento e foi construindo seu estilo e buscando sua própria sonoridade. Esses primeiros anos, renderam muita experiência aos músicos e ajudariam a tornar a banda mais coesa, desenvolta e segura, diante das circunstâncias.

Descobertos pelo baixista/vocalista do Kiss, Gene Simmons, que ficou bastante impressionado ao vê-los, os rapazes foram convidados a gravar uma fita demo no ano de 1976 – que já continha o embrião (ou mais do que isso) de algumas das músicas que virariam clássicos, futuramente. Qualquer um que ouça essa demo hoje em dia, reconhecerá, de cara, uma obra-prima à frente de seu tempo.

Mas não foi dessa vez, ainda, que o Sol brilhou para o Van Halen. O fato é que os produtores, em 1976, pareciam mais interessados num trabalho mais comercial e radiofônico, como o de grupos como Boston, que produziu naquele ano, um dos álbuns mais vendidos da história da indústria fonográfica e Foreigner, para ficarmos só em dois exemplos. De qualquer modo, a banda chegou a abrir para o UFO e seguiu compondo, se apresentando em Pasadena, no Sul da Califórnia, e batalhando por mais espaço. Levou um tempo até que o produtor Ted Templeman os conhecesse e ficasse interessado em sua sonoridade exótica. À época, ele achava que talvez a banda funcionasse melhor tendo à frente um vocalista como Sammy Hagar, do Montrose – ótimo grupo que ele havia produzido e Eddie adorava mas que não chegou a estourar, pois carecia de um “hit”. Algumas pessoas não levavam fé em Dave Lee Roth como vocalista de Rock. Entretanto, ele se esforçou tremendamente para mostrar que era o frontman ideal para o Van Halen. Até que, finalmente, conseguiu acalmar e convencer os produtores de que era a escolha perfeita.

E os ventos sopravam a favor

As gravações do álbum de estreia tiveram início em 29 de agosto de 1977, no estúdio da Sunset Sound Recorders e terminaram num espaço de três semanas.  Curiosamente, dois dos elementos pelos quais Eddie Van Halen ficou conhecido mundialmente (a técnica aprimorada do uso do “tapping” e do trêmolo), só foram lapidados da maneira como conheceríamos melhor, pouco antes do debut da banda em um álbum de estúdio. Reza a lenda que Eddie estava praticando um despretensioso e intrigante solo com o recurso, até então, pouco conhecido de “two hands” para tocar num show que seria feito mais pra frente. Ted teria saltado pra frente na sala de controle do estúdio, arregalando os olhos e perguntando o que era “aquilo”. Rapidamente, o produtor mandou rodar a fita para o excitante e histórico registro de “Eruption”, faixa instrumental que antecede a vigorosa versão de “You Really Got Me” (um clássico dos The Kinks). Ou seja, ao que consta, a faixa entrou quase que por um acaso, no disco.

“Runnin’ with the Devil”, “Jamie’s Cryin'”, “Feel Your Love Tonight” e “Ice Cream Man” são faixas que contêm alguns overdubs (que são as sobreposições feitas em estúdio, por exemplo, de uma guitarra sobre outra registrada previamente). “Ain’t Talkin’ ’bout Love” tem Eddie tocando uma cítara elétrica. Mas o que ouvimos de registro ali é, quase todo o tempo, a banda tocando como se fosse ao vivo. E Ted sabia que boa parte da força do Van Halen estava na química da banda e nas suas apresentações em cima de um palco. 

Misturando ingredientes da energia direta do som Punk (como na contagiante Atomic Punk), com a estrutura do Blues com uma cadência mais acelerada e dançante, lampejos de Soul, como um James Brown em alta voltagem, com passagens acústicas mais inusitadas com harmonias vocais que seriam mais de se esperar em bandas como Focus e Gentle Giant, intenções sinfônicas, rápidas e vibrantes, que iriam inspirar o metal neo-clássico da década seguinte e, claro, do mais visceral Rock and Roll que os anos 70 já tinham tido notícia e ditaria o paradigma para centenas de bandas de Hair Metal dali por diante, eles haviam elevado a barra a um novo patamar de estética e performance.

Pelo que é dito, existia certo receio de que o resultado pudesse não ser, exatamente, do jeito que os músicos esperavam pois o produtor Ted Templeman costumava se trancar numa sala com o co-produtor, Landee, e estes não deixavam ninguém entrar para dar pitaco na mixagem. Seja como for, para grande alívio de todos, o disco homônimo do Van Halen, ficou pronto e as 11 faixas do LP viriam, rapidamente, a colaborar para reacender o fogo incendiário do gênero Rock e garantiriam à banda a pavimentação da estrada rumo ao mega-estrelato. O trabalho era pesado mas, ainda assim, tinha uma pegada que era pop o suficiente para despertar bastante interesse do público. A versão mais conhecida sobre o valor investido naquele trabalho é a de que o álbum custou aproximadamente $40,000 para ser produzido. Mas há quem fale em $54,000. De toda forma, o custo foi abaixo da média das bandas para a época e, por menor que fosse, contribuiu para a criação de um novo “Big-Bang” no meio musical.

No ano seguinte, viria o também excelente Van Halen II e aquela formação clássica seguiria junta por mais alguns anos até o lançamento do 1984, quando Dave Lee Roth seria substituído por, numa ironia do destino pelo mesmo Sammy Hagar, cogitado, anos atrás, para ser o vocalista.

O gênio Eddie Van Halen deixou esta esfera em 2020, vítima de câncer na garganta (leia aqui), porém, deixa seu esplêndido legado como músico. Para muitos, o guitarrista, com sua famosa Frankenstrat listrada, marca uma divisão (de Antes e Depois) na história do Rock, só comparada à breve e meteórica passagem de Jimi Hendrix pelo planeta.

Nova edição no Brasil…

O disco acaba de ganhar uma edição especial em slipcase, e esta versão teve um trabalho de remasterização realizado em 2015 por Chris Bellman nos Bernie Grundman Mastering Studios. Bellman utilizou as fitas analógicas de 1/4 de polegada e assim chegar ao som desejado pela banda.
 
Esse relançamento no Brasil acontece graça a uma parceria da Wikimetal com a Oporto da Música, tal iniciativa vem fortalecendo o mercado de discos com títulos estavam fora de catálogo ou que ainda não tinham sido lançados no Brasil. Entre eles, Rival Sons, Whitesnake, Heaven & Hell, Metal Church, Overkill, Ratt, e outros, e parceria ainda prever outros futuros lançamentos. Enquanto isso, Van Halen I já se encontra disponível nas lojas especializadas e no site da Wikimetal (aqui). #Recomendamos! – Rick Olivieri.

Van Halen I – Faixas:
01 – Runnin’ with the Devil
02 – Eruption
03 – You Really Got Me
04 – Ain’t Talkin’ ‘Bout Love
05 – I’m the One
06 – Jamie’s Cryin’
07 – Atomic Punk
08 – Feel Your Love Tonight
09 – Little Dreamer
10 – Ice Cream Man
11 – On Fire

Rick Olivieri – Músico, produtor de Rádio, TV, cinema e vídeo, artista gráfico e marcial, poeta de versos herméticos, escritor e filósofo de almanaque, nas horas vagas.

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