Com ingressos esgotados, Paul McCartney realiza, em Brasília, o primeiro show da passagem da turnê “Got Back” pelo País. Mantendo o padrão, a apresentação durou quase três horas, com um repertório passeando por toda a carreira do artista, e como sempre provocando momentos catárticos. A turnê ainda chegará a mais quatro cidades brasileiras.
PAUL McCARTNEY: Sim, ele voltou!
Arena BRB Mané Garrincha – Brasília/DF
30 de novembro de 2023
TEXTO: Robert Moura
FOTOS: Marcos Hermes
Esse era para ser o primeiro show de Paul McCartney no Brasil com sua turnê “Got Back”. No entanto, como se diz na Fórmula 1, o cara queimou a largada e fez uma apresentação surpresa no Clube do Choro, famoso reduto musical da capital federal. Se no esporte isso é um considerado uma falha que leva à penalização do piloto, no caso de Paul foi um bônus e tanto, não só para a cerca de 400 pessoas que puderam assistir a esse show, mas a todo o público brasileiro porque, embora não seja tão raro, não é sempre que ele faz essa gracinha, especialmente fora da Inglaterra ou Estados Unidos. Na ocasião, ele tocou quase todo o setlist da turnê.
Agendado para começar às 20h30, o concerto na Arena BRB Mané Garrincha foi precedido pelo DJ Chris Holmes tocando seus remixes de sons dos Beatles, Wings e da carreira solo de Paul, incluindo versões de outros artistas. Como é de praxe, um vídeo mostrando a trajetória artística do músico prepara mais ainda o clima entre o público para entrada de Paul e banda em cena. Segundo a produção, o estádio ficou lotado com um público de 55 mil pessoas. Como é comum em shows de McCartney, várias gerações podiam ser vistas na plateia, inclusive algumas pessoas de sua geração que, possivelmente, só saem de casa para um evento dessas proporções para assistir ao Sir James Paul McCartney mesmo.
Trajando blazer, calça e colete pretos, camisa azul clara e botinha “beatle”, Paul entrou no palco às 20h45, com seu indefectível baixo Höfner, junto com a banda que o vem acompanhando há 21 anos formada por Abe Laboriel Jr. (bateria, percussão e backing vocals), Rusty Anderson (guitarra, violão e backing vocals), Brian Ray (baixo, guitarra, violão e backing vocals) e Paul “Wix” Wickens (teclados, acordeom, gaita, violão, percussão e direção musical). A eles se somou um bem-vindo naipe de metais formado por Mike Davis (trompete), Kenji Fenton (saxofone) e Paul Burton (trombone) que adicionou muito ao som e à dinâmica da apresentação.
O setlist não fugiu do que vem sendo apresentado na “Got Back Tour”. A noite foi aberta com um dos maiores clássicos do rock lançado pelos Beatles, “Can’t Buy Me Love”. Paul acabou confundindo um dos versos fazendo com que Rusty antecipasse a entrada do solo de guitarra. Com uma banda super entrosada, é provável que muitos nem tenha percebido isso. Na sequência, outro grande rock, mas da fase Wings e bem menos conhecido, “Junior’s Farm”. Também dos Wings, ele mandou “Letting Go”, primeira canção do show em que o naipe de metais entrou em cena. O trio apareceu tocando não no palco, mas no alto da arquibancada, numa boa sacada que surpreendeu o público. Simpático como sempre ele disse “essa noite vou tentar falar um pouco de português, pouquinho”, no idioma de Lima Barreto mesmo. “She’s A Woman”, outra dos FabFour (que está sendo tocado ao vivo por Paul pela primeira vez nessa turnê) e “Got To Get Into My Life” deram continuidade à performance. A última já com o naipe de metais no palco que também atuou em “Come On To Me”, faixa do álbum “Egytpt Station” que, embora seja de 2018 e até tenha feito parte do setlist que executou em sua passagem por aqui em 2019 com a “One on One Tour”, foi apresentada por Paul como “uma canção nova”, ou quase nova como ele concluiu fazendo gestos de mais ou menos com as mãos. Em “Let Me Roll It”, Paul assumiu a guitarra. Essa é uma canção que cresce muito quando tocada ao vivo, e mais ainda com aquele trechinho de “Foxy Lady” que ele inclui no final em tributo a Jimi Hendrix. “Getting Better” manteve o crescente clima de empolgação do público, antecedendo “Let ‘Em In”, com McCartney ao piano. Mesmo instrumento em que toca “My Valentine, canção dedicada “à sua querida esposa Nancy” e “Nineteen Hundred Eighty-five” que não chegou a ser um hit na época em que foi lançada no álbum “Band On The Run” (1973), mas, que desde que foi incluída em seu setlist, em 2010, na turnê “Up and Coming”, não mais saiu. Continuando ao piano, ele fez “Maybe I’m Amazed”, uma das mais belas baladas da história do rock (aliás, boa parte delas foi composta pelo próprio).
De violão em punho, Paul iniciou um set acústico, que ajuda a dar uma aliviada no pique e recuperada no fôlego, com “I’ve Just Seen a Face”, “In Spite Of All The Danger” (esta a única parceria dele e George Harrison) que Paul lembrou ser a primeira canção gravada pelos Beatles e a anunciou dizendo que “era hora de voltar no tempo”. No entanto, a primeira gravada de forma profissional e lançada oficialmente foi “Love Me Do” que ele mandou logo depois, abrindo espaço para “Dance Tonight”, tocada por ele ao bandolim e que sempre rende com as impagáveis dancinhas do batera Abe. Sozinho ao violão e elevado por uma plataforma do palco, ele fez “Blackbird” e “Here Today”, dedicada ao seu “querido amigo John”. “New”, outra das mais recentes de Macca o reconduziu ao piano no qual ele, igualmente, tocou “Lady Madonna”. “Fuh You”, outra do álbum “Egypt Station”, veio em seguida junto ao medley batizado de “College/Bathroom” unindo uma parte de “You Never Give Me Your Money” e “She Came Through The Bathroom Window”. Essa última, com Paul cometendo um erro antes da introdução, mas que ele mesmo se acusou ao microfone dizendo “My fault, my fault” (“minha culpa”). Aliás, pequenos erros desse tipo ocorreram em outros momentos e levavam Paul às gargalhadas e risos de cumplicidade com os músicos, assim como pequenas desafinações que, em tempos atuais, servem para comprovar que se trata de um show ao vivo, sem os famigerados playbacks. O mesmo ocorreu quando uma baqueta de Abe Laboriel quebrou na contagem para a introdução de “I´ve Got A Felling”.
Um detalhe a ser observado é que, minutos antes, durante o set acústico, Paul pareceu cansado, e sabendo que ainda tinha muitas canções pela frente foi surpreendente vê-lo retomando o ânimo e detonando na sequência do espetáculo. “Jet” e “Being For The Benefit Of Mr. Kite!” mostram mais um pouco do melhor dos Wings e dos Beatles. Tocando o ukulele que George lhe deu de presente, homenageou o antigo parceiro com “Something”, numa performance sempre comovente. E, estrategicamente, para reanimar o público e se recuperar da emoção, Paul coloca na sequência um número mais agitado e “Ob-La-Di, Ob-La-Da” veio cumprir esse papel com ele pedindo antecipadamente para o público cantar junto no que foi muito bem atendido. “Band On The Run” e “Get Back” preparam a reta final que inclui “Let It Be”, “Live And Let Die” com suas explosões e fogos no palco que sempre causa impacto, arrebatando mais ainda em quem está vendo pela primeira vez. E, para fechar, “Hey Jude” com seu longo coro de “na na nas” que não deixa dúvida que está chegando “a hora de partir”.
Porém, um show de Paul McCartney não costuma terminar sem bis e ele voltou para fazer “I’ve Got A Feeling” com a participação mais do que especial de John Lennon em áudio e vídeo no telão. Quando a imagem de John surge, Paul se vira para assistir ao trecho cantado pelo amigo. O que deve se passar em sua cabeça nesse momento? Ele se lembra de toda a trajetória? Dos primeiros dias? Dos últimos? Será que ele pensa que John foi cruelmente assassinado quando tinha a metade da idade que ele tem agora e que o parceiro, talvez, pudesse estar por aqui fazendo esse dueto ao vivo? Ao término, ele declara que este instante em que canta junto com John é muito especial. “Birthday”, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)” e “Helter Skelter” (que cantada por ele com seus agudos e a voz rasgada após mais de duas horas e meia de concerto é quase um desafio, uma prova que ele segue firme em jogo), vão marcando o encerramento que, após os agradecimentos e apresentação da banda, tem “Golden Slumbers/Carry the Weigth/The End”, o antológico medley do álbum “Abbey Road” na manga para a catarse derradeira.
Show de bola! Essa foi a nova expressão que McCartney aprendeu no Brasil e usou duas vezes para agradecer ao público. Por quase três horas, Paul fez aquilo que tem feito há 60 anos: muita gente feliz! E, por falar, em show de bola, essa felicidade me remeteu à alegria de Mané Garrincha jogando futebol. Um dos maiores jogadores de todos os tempos. Nove anos mais velho que o Macca, Garrincha foi campeão da Copa do Mundo em 1958 e 1962. Esse último, sendo o mesmo ano em que os Beatles foram apresentados ao planeta. Passou pela minha cabeça que esse foi o “encontro” desses dois craques, com McCartney se apresentando no estádio cujo nome homenageia Manoel Francisco dos Santos, o Garrincha. Dois gênios de uma Era! Triste pensar que essa pode ser a última turnê mundial de Paul, e que, infelizmente, chega uma hora em que é inevitável pendurar as chuteiras. Se servir de consolo, podemos pensar que, diferente dos atletas, músicos não costumam se aposentar.
Em tempo: A Rock Press segue acompanhando a Got Back Tour pelo Brasil e nossa próxima parada é em Belo Horizonte/MG nos dias 03 e 04/12. Esta última data é a única que ainda tem ingressos disponíveis, pois todas as outras apresentações já estão com entradas esgotadas. – Robert Moura.
GOT BACK TOUR BRASIL 2023
SERVIÇO:
Belo Horizonte/MG – 03/12 – Arena MRV
Belo Horizonte/MG – 04/12 – Arena MRV
São Paulo/SP – 07/12 – Allianz Parque
São Paulo/SP – 09/12 – São Paulo/SP – Allianz Parque
São Paulo/SP – 10/12 – São Paulo/SP – Allianz Parque
Curitiba/PR – 13/12 – Estádio Couto Pereira
Rio de Janeiro/RJ – 16/12 – Maracanã
BELO HORIZONTE
DATA: 03 de dezembro (ESGOTADO) e 04 de dezembro, às 20h – (16h abertura dos portões).
LOCAL: Arena MRV – Rua Cristina Maria de Assis, 202 – Belo Horizonte/MG
INGRESSOS: No site da Eventim: https://www.eventim.com.br/campaign/paulmccartney
Bilheteria oficial Belo Horizonte/MG:
Arena MRV – Bilheteria – Rua Cristina Maria de Assis número 202 – Sem taxa de conveniência
Loja Eventim – Shopping 5ª Avenida – R. Alagoas, 1314 – Sem taxa de conveniência.
Na data do show: O atendimento de bilheteria será na Arena MRV.
CLASSIFICAÇÃO: Menores de 16 anos apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais (sujeito a alteração por decisão judicial)
SÃO PAULO
DATA: 07, 09 e 10 de dezembro, às 20h – (16h abertura dos portões).
LOCAL: Allianz Parque – Rua Palestra Itália, 200 – SP/SP
INGRESSOS: No site da Eventim: https://www.eventim.com.br/campaign/paulmccartney
Bilheteria oficial São Paulo: Allianz Parque – Portão B – Av. Francisco Matarazzo, 1705 – Água Branca – Sem taxa de conveniência
CLASSIFICAÇÃO: Menores de 16 anos apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais (sujeito a alteração por decisão judicial).
CURITIBA/PR
DATA: 13 de dezembro, às 20h – (16h abertura dos portões).
LOCAL: Estádio Couto Pereira – R. Ubaldino do Amaral, 37 – Curitiba/PR
INGRESSOS: No site da Eventim: https://www.eventim.com.br/campaign/paulmccartney
Bilheteria oficial Curitiba:
Antônio Couto Pereira – Bilheteria 2 – Rua Amâncio Moro S/N – Sem taxa de conveniência
CLASSIFICAÇÃO: Menores de 16 anos apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais (sujeito a alteração por decisão judicial).
RIO DE JANEIRO
DATA: 16 de dezembro, às 21h – (17h abertura dos portões).
LOCAL: Maracanã – Rua Professor Eurico Rabelo,
INGRESSOS: No site da Eventim: https://www.eventim.com.br/campaign/paulmccartney
Bilheteria oficial Rio de Janeiro
Estádio Nilton Santos – Engenhão – Bilheteria Norte – Rua das Oficinas, s/n – Engenho de Dentro – Sem taxa de conveniência
Na data do show: O atendimento de bilheteria será no Maracanã
CLASSIFICAÇÃO: Menores de 16 anos apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais (sujeito a alteração por decisão judicial).
ROBERT MOURA – É natural de Belo Horizonte. Doutorando em Música (UFRJ), mestre em Artes (UEMG) e bacharel em Música (UEMG). Fundador e professor da Alaúde Escola de Música. Tocou guitarra em bandas de rock na capital mineira. Atualmente, seu trabalho está focado no violão clássico e composição. Em 2021, lançou o EP digital “Ensaio Para A Morte” com a trilha sonora que compôs para a peça homônima, e em 2023 lançou os singles “A Rosa de Heitor” e “Júpiter e Marte”, compostas para a trilha da peça “Heitor”. Depois de pensar que não veria um show ao vivo de Paul McCartney, já assistiu a dez apresentações do artista, e dessa vez, está cobrindo pela Rock Press a passagem do beatle em cinco cidades do Brasil.
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