Nesse 23 de julho próximo completam-se doze anos da morte de Amy Winehouse. Sim, a cantora nos deixou no ano de 2011. E, é justamente no supra fatídico ano que Amy veio ao Brasil. Quero contar um pouco dessa história por um olhar particular e detalhista. Tenho lembranças vivas do ano e do show também.
AMY WINEHOUSE NO BRASIL: O show que não aconteceu!
(O dia que cometi uma infeliz gafe e não houve volta!)
TEXTO: Leozito Rocha.
FOTOS: Divulgação
Mas, permitam-me retroceder um pouco…
Soube da existência da cantora por volta de 2005. Ela havia lançado “Frank”, seu disco de estreia dois anos antes. Uma clara homenagem a Frank Sinatra. Um ano depois ela lançaria “Back to Black” e tudo mudaria a partir dos sucessos seguidos do álbum e da presença marcante dela. A artista enfileirou seguidamente prêmios individuais e alçou ao estrelato. Amy chamava atenção pela técnica vocal e o domínio de voz. Lembro que a cantora foi confundida diversas vezes por ter um timbre similar às divas do jazz e/ou soul. Na época, muitos não acreditavam que uma cantora branca, inglesa fosse dona de uma voz tão talentosa e visceral. Pois, Amy era. E, muito…
Numa época que a MTV já não era tão acessada pelos ouvintes e o streaming começava com força, Amy vendeu bastante. Os tabloides revezavam entre fofocas e boatos. A cantora abusava de álcool e entorpecentes. Seus relacionamentos também eram abusivos e explosivos. Namorados, marido, pai e amigos. Tudo era pólvora. Clássica epopeia dos heróis (heroínas) do rock. Na ressaca das mortes de alguns ícones da música, tais como Kurt Cobain, Joey Ramone e Michael Hutchence. O mundo perderia ali em 2009 o rei do pop: Michael Jackson.
Bem… Nesse cenário todo eu comprei meu ingresso em 2011 quando ela veio ao Brasil. Depois de internações, baixarias, escândalos típicos das grandes estrelas (sobretudo do rock), chegava a hora da artista desembarcar no nosso país. Tudo já havia acontecido com ela. Na agenda tinha Florianópolis, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo. No RJ eram dois dias ali de janeiro. Salvo engano, dias 10 e 11. Esse quem vos escreve foi no segundo dia.
Lembro que tudo estava contra esse passeio. O dia (terça-feira) era péssimo, eu não tinha carro e ninguém perto quis ir ao show. Foram duas noites ali no antigo HSBC Arena (atual Jeunesse Arena) com a Janelle Monáe abrindo. Na época eu não conhecia direito a Janelle.
A estada de Amy Winehouse no Brasil foi extremamente conturbada. A cantora vinha de internação e um drama familiar. A imprensa mundial contava os dias de sua possível morte. Juro. Havia quase um bolão tácito entre a mídia especializada. Foi aí que cometi minha única GAFE infeliz: disse aos amigos mais íntimos que teria que estar nesse show, pois ela poderia falecer a qualquer momento. Bom… O final dessa história vocês já sabem…
Voltando a estada… Amy hospedou num hotel luxuoso em Santa Teresa (visitei-o duas vezes) e não saiu de lá. Ela teve um avião particular a seu dispor para fazer seus shows e voltar. Inclusive fora do Rio de Janeiro. A cantora passou mal e chegou a ter uma forte crise de pânico perto do primeiro show em São Paulo. Obviamente, nada disso chegou até nós. Soube-se posteriormente.
O set list dela foi preciso e bacana, mas ela não estava nada, nada bem. Por vezes achei que ela fosse cair (como ela caiu em Recife) ou errar o tom. Outras vezes o olhar perdido e distante do público. Era notório o cumprimento burocrático de agenda. Infelizmente. Mesmo assim, o público se empolgou em “Back to Black”, “Tears Dry On Their Own”, “Rehab”, “You Know I’m No Good”, “Valerie”, “Stronger Than Me” etc… Canções que a levaram ao panteão dos grandes da música. Decerto que entre passos cambaleantes dela havia uma “cola” na maioria das letras. Ficou evidente isso em canções como “Boulevard Of Broken Dreams” (cover de Tony Bennett – um fã confesso de Amy) e “Love is a Loosing Game”.
O contraste do show ficou por conta da estreia de Janelle Monae. A menina (ela tem 1,50m) deu um show. Usou e abusou do vigor (ela pulou corda com o cabo do microfone enquanto cantava), empolgou a plateia e botou para fora uma voz poderosa e promissora. Vale ressaltar que a artista havia lançado um disco somente (houve um EP antes) e era nada conhecida no Brasil. Achei incrível a menina no palco.
Enfim, o fato é que Amy Winehouse não fez um show a sua altura e deixou todo mundo bem preocupado. Isso datava janeiro de 2011. Seis meses depois (23 de julho) a cantora faleceria de uma parada respiratória devida a debilidade do corpo. A minha infeliz previsão tornou-se real. O mundo ficou bem triste (eu fiquei também) e a cantora entrou para história e para o clube dos 27. Sim… Ela tinha 27 anos. Mesmo assim guardo com carinho a passagem dela em vida e as canções boas que ela tão bem interpretou. A inglesa tinha tudo que uma estrela da música precisava: talento, carisma, sensibilidade e a marca indelével dos ícones musicais. Salve, Amy. – Leozito Rocha.
Leozito Rocha é radialista, pesquisador musical, escritor e amante de cinema. Colaborador de sites musicais, curador de rádio, editor e apresentador do “O Som do Leozito” na Internova Rádio (OUÇA), e observador incurável. Seu facebook é: https://www.facebook.com/leo.rocha.798/