FRIBURGO ROCK FEST 2023: O rock subiu a serra!

O Friburgo Rock Fest chegou a sua terceira edição fortalecendo a cena rock na região serrana (RJ). Com shows do Angra, Jeff Scott Soto, Sinistra, Torture Squad, Clash Bulldogs, Foliões Overdrive, Fosceps, Scream Weaver, Fire in the Park e Noturnall. O Fest não apenas contou com público da região serrana, como da capital e várias cidades fluminenses. A Rock Press conferiu!

Angra – Um dos grandes shows do evento!

FRIBURGO ROCK FEST 2023
Country Clube de Nova Friburgo/RJ

1 de Abril de 2023
TEXTO: Tulio Bambino e Marcelo Pereira
FOTOS: Marcelo Pereira
VIDEOS: Tulio Bambino

Fui pautado para cobrir pela Rock Press a terceira edição do Friburgo Rock Fest. O convite veio do meu camarada Michael Meneses, editor do @Portal Rock Press. Em comum, o nosso amor pelo Itabaiana (clube tricolor do futebol sergipano e campeão estadual de 2023, que, aliás, tem as mesmas cores do time do Friburguense). O cabra me deu essa moral! Pauta livre, fazer umas imagens em movimento do evento, já que o still estaria entregue ao meu outro camarada, o fotografo Marcelo Pereira.

Jeff Scott Soto Ao Vivo na Região Serrana/RJ!

Produzir vídeos do evento para as redes sociais durante a pancadaria. Feito isso, a logística também seria de guerrilha: vôo rasteiro de Teresópolis para Nova Friburgo (cidades vizinhas da região serrana (RJ), mas não necessariamente próximas uma da outra) e lá vamos nós. Durante a viagem, que dura quase o tempo de uma partida de futebol, fiz a releitura de Rádio Guerrilha de Mathew Collin (foto), que conta a história de uma rádio sobrevivendo no olho do furacão de Belgrado (Sérvia e na época capital da antiga Iugoslávia) dos anos 1990, onde uma galera contemporânea a minha sofria abaixo de tiro, porrada e bomba realmente. Uma história daqueles que ficaram presos do lado de dentro, empenhados em fazer daquela rádio um oásis de sanidade em um cenário de guerra, corrupção e o sufoco imposto por Milosevic. Um totem contra a escuridão dominante. Agentes da Cultura, seu idealismo e suas muitas histórias admiráveis, recomendo a leitura.

Buraco de Minhoca*

Ao chegar por volta das 11h, comi um bolinho e bateu a nostalgia de vidas passadas. Tempos idos em que me juntava com mais três ou quatro doidos para ensaiar músicas gritadas, exercitar a sudorese, zumbir os ouvidos e depois fermentar o suor no caminho de volta, resenhando com os meus camaradas da banda Extermínio. Infelizmente, o nosso guitarrista Marcos Gripp não está mais em nosso plano, desde novembro de 2021. Saudades, Marquinhos! Nosso disco saiu em 1989, enquanto a moçada da Rádio B92 sofria um cacete. Recentemente, o disco (foto) ganhou versões em CD, K7 e uma nova edição em vinil.

Enfim, cheguei ao Country Clube de Nova Friburgo. Um lugar que desconhecia, com um caminho verde de encher os olhos e que voltarei para conhecer melhor. O evento ocorreu em um ginásio coberto muito amplo, com espaço mais que suficiente para as quase duas mil pessoas que estariam por lá. A estrutura do show se apresentava na passagem de som. Um poderoso som de bateria reverberava no Palco 1, testes no painel de LED fazendo o fundo de todo palco, mostrando uma produção impecável contemporânea de nível internacional. Havia ali o quê? Quatro quadras de futebol de salão, mais ou menos, fora o escape. Uma Ilha técnica de frente para cada palco, os controles de imagem do telão, luz marcada e um protools comandavam esse lado. Saíamos dali direto para os anos 1990, lindo de se ver, super raiz. No Palco 2 teríamos de bandas novas, entremeadas com bandas de metal extremo começando a extensa programação de 10 bandas, alternando com shows no palco 1 com bandas de metal tradicional. E a coisa funcionou muito bem em termos de ritmo das trocas de apresentações: no relógio, no visual e na entrega de som ao público.

Os Shows…

Os jogos tiveram início no horário previsto e a banda Scream Weaver subiu no palco 2 com muita atitude e disposição. O baixista mostrou ao que veio puxando o astral da banda para o alto com sua boa marcação e uma pegada indie flanelística, boas harmonias e arranjos vocais. Levadas tribais e o bom e velho rock de baixo, guitarra e bateria. Abrir os trabalhos nunca é fácil! O set foi apresentado para um público rarefeito e um tanto sonolento. A moçada se divertiu, o clima muito descontraído baixou um pouco a pegada, uma coisa a se atentar adiante. No palco, “Locked Up” foi o som que me fez buscar e recomendo: Ouça!

Quase sem intervalo, no mesmo palco, subiu o Fire In The Park, com um baixista de astral gigante. Sim, cheguei influenciado pelo nome e esperava um punk melódico, mas o pau quebrou sereno com muita adrenalina, uma boa mistura do indie rock do início desse século com um Punk 77 revisitado. Uma boa disposição da moçada no palco, cada um sabendo ocupar seu metro quadrado e sua função “na linha de 4” na frente da batera. A música “See Me” é um destaque (escute!).

A banda Foliões Overdrive fechava essa primeira rodada de apresentações no palco 2. Como bom tiozão do metal, quando ouvi o nome pela primeira vez imaginei um Sambô as avessas tocando Carlinhos Brown ou Banda Eva com bateria metranca e vocal do Agathocles. Pois a surpresa foi um soco na cara, tanto na estética, quanto sonora. Pegada numa guitarrada da boa, com Influências de Rage Against The Machine, Titãs, Raimundos, RAP e Punk anos 1980. Cantando em português, os moleques desceram a mão e definitivamente esquentaram a área do pogodance. “Fuja Do Escuro” é um bom som para conhecer (ouça).

O Buraco de Minhoca me tirou dos anos 90 levando direto para 2023. O Palco 1 iniciou seus trabalhos com o Noturnall, banda carioca com milhagem alta, de quem já esteve na terra do Putin e coragem de abrir portas do metal a outras vozes e influências. Com som forte e poderoso sem deixar ponta solta, fez o público sair do chão com uma pegada Speed Trash de primeira, mas o ápice foi a versão de “O Tempo Não Para”. Sim, o que seria uma pegada de barzinho foi a plena justificativa para o uso do telão de LED. A banda projetou seu clip gravado no Museu do Futuro com a participação do próprio Ney Matogrosso e teve ali a sinergia do hiper-real: a banda no palco articulando com a projeção na tela. Além disso, recitou versos dos Racionais MCs, se apropriando de versos e ideias no melhor estilo antropofágico de 1922. O rigor estético dos caras é incrível, uma banda para ser vista. Recomendo ao leitor ouvir “Try Harder”. Veja e me diga você senão dá vontade de bater lata (confira!).

De volta ao lado 2, me encontrei em 2007, mais precisamente dia 9 de dezembro, quando esses caras abriram para o show do Brujeria, em Duque de Caxias/RJ, na Baixada Fluminense. Quem passa pela terra de Tenório (Nota do editor: Tenório Cavalcanti, o famoso “Homem da Capa Preta”. Sua história virou filme, no qual foi interpretado por José Wilker) paga tributo e os mexicanos do Brujeria (que estão voltando ao Brasil em 2023) perderam o chapéu nesse dia. O Forceps está aí mostrando seu Death Metal tem mais de 15 anos. Com estrada e casca para toda sorte de palcos, os caras fizeram um show poderoso, com um filho da terra serrana de Friburgo na batera couro de boi. “Anthropoviral Amalgamation” vale a audição (aqui) e é um teste para saber seu nível de ouvidos de pelúcia. Show intenso onde a movimentação e a berraria de Doug Murdoch impressionam. Tremenda apresentação!

Clash Bulldogs nos trazem de volta ao nosso tempo. O quarteto Friburguense formado em 2020 por Maurício Torrago (bateria), Marcelo Braune (guitarra/vocal), Alex Saippa (guitarra) e Bruno Eller (baixo) apresenta um hard rock repaginado, pujante pegada de rock estradeiro, uma sonoridade peculiar que os próprios definem como “Straight Heavy Metal”, talvez pela mistura de hard rock, heavy metal com pitadas de stoner. O resultado é uma música enérgica, mas nenhuma novidade. Notas algumas influências do Motley Crue, com a sonoridade do peso e deboche aliada à postura de palco, mas assim como os americanos, uma pegada coesa e pesada em que fizeram um bom show. Enalteceram o AC/DC tocando uma versão de “TNT” com a sonoridade à lá Motley Crue. Outro destaque foi “Anger Grows” que podemos dizer que é aquele som com cara de hino do rock e que na versão em estúdio contou com participação do ex-Maiden Blaze Bayley (ouça!).

De volta ao lado de cá do tempo, chega a vez da tonitruante Torture Squad, densidade pura abençoada pela sinergia do Papai do Chão e a rapaziada liderada pela escolhida como representante de Lilith. A energia teve picos em cada urro, em cada bateção de cabeça de Mayara Puertas (vocal). Movimentação de palco precisa, postura e segurança inclusive para, no meio de show de metal extremo, puxar o bom e velho “Parabéns pra Você”. Rene Simionato completando seus 667 anos de vida profana. Foi clássico! Escute “Horror And Torture” e verifique se os seus ouvidos de continuam de boa. Os nossos seguem zumbindo até hoje!

Jeff Scott Soto
Uma lenda do Rock no Palco!

Jeff Scott Soto fez seu show no palco 1 e, apesar de toda tecnologia envolvida, fez lembrar o Whitesnake no primeiro Rock In Rio de 1985, quando chegaram vestidos de preto e tocaram hard rock e mais nada. Jeff é o legítimo representante dessa galera. Puxou um repertório de Festa Ploc com Standards e serviu a plateia o sumo da música pesada de sua era dourada. E assim fez a plateia feliz e a regeu do início ao fim. Para muitos a cereja do bolo da noite era o Jeff Scott Soto, que aguçou a fase da idolatria por Yngwie Malmsteen (que o acompanhava desde os tempos do Steeler com seus 17 anos). O americano/porto-riquenho ficou mundialmente conhecido como vocalista da banda solo do mago sueco das seis cordas no Rising Forces, especialmente pela clássica “I´m a Viking”. Como músico, integrou Journey, Talisman, Sons of Apollo e outros projetos, sua carreira solo e o JSS Legacy, sujeito carismático e de voz marcante. Na noite anterior, havia feito um acústico em tributo ao Queen, mas, apenas para quem comprou o ingresso para o festival. Jeff tinha como banda de apoio a Spektra, que conta com o virtuoso Leo Mancini (guitarra e que também se apresentou com a Noturnall), o talentoso BJ (teclado, voz e guitarra) que não cansou de enaltecer a sorte que pairou em sua vida ao conhecer Jeff e da oportunidade profissional numa singela e sincera homenagem à fera, Henrique Canale (baixo) e Edu Cominato (bateria).

Poucos sabem, mas Jeff teve aulas de canto na infância/adolescência e por ser de origem porto-riquenha, sempre teve o suingue da Motown, R&B, soul, discoteque que ele sempre lembra em seus shows. E aqui não foi diferente, com pérolas que me deixaram boquiaberto. Não existia setlist e Leo Mancini afirmou que tudo estava no “brain”. Jeff usou uma camisa 24 dos “Lakers” (do falecido, Kobe Bryant), com um microfone cravejado na haste com led´s que mudavam de cor. dando um belo visual, com predominância do violeta, verde e azul. Tocaram músicas de várias fases de sua carreira, porém, como era de se esperar, o ápice veio com “I´m a Viking”, do consagrado álbum “Marching Out”, em que Leo Mancini dedilhou seu instrumento com o timbre peculiar da Fender Stratocaster do sueco. Foi aquele momento de fechar os olhos e deixar fluir a nostalgia que perdurou por anos. Outras pérolas foram: “Livin’ the Life” da banda fictícia “Steel Dragon, composta para o filme “Rock Star”,”Dont stop believe” (Journey), ”Mysterious (this time it´s serious)” e “I´ll be Waiting” (ambas do Talisman). E teve espaço também para momentos de “DISCOntração” com (Shake, Shake, Shake) Shake Your Booty” (KC & Sunshine Band), “Fire Water Burn” (Bloodhound Gang), “Kung Fu Fighting” (Carl Douglas), “Yo Baby Yo” (The Cleptones), “Macho Man” (Village People), “Another One Bites the Dust” (Queen), “Ice Ice Baby” (Vanilla Ice), “Stayin’ Alive” (Bee Gees) e ”Play That Funky Music” (Wild Cherry).

Interagia com a galera repetindo: “Ei Motherfucker, ei motherfucker”. Então, introduziu no teclado aquele refrão “bublegum” e fez o BJ cantar  “Don’t Stop Believin” a consagrada música do Journey (pareceu improviso, pois ficou um tempo no teclado e BJ pareceu surpreso com essa espontaneidade). Ali, BJ pôde mostrar seu talento com um vocal limpo e agudo e quase no fim da música fizeram um dueto com um enaltecendo o talento do outro. Como verdadeiro fã de caipiroska, no fim do show bebeu o “veneno” com o pessoal cantando: “Vira, vira, vira…Virou”. Parabéns pelo show, carisma e sensação de alma lavada que proporcionaram aos heavys presentes.

Na sequência veio a esperada banda Sinistra e num piscar de olhos a data foi clara: 30.06.1992. Um show no histórico Canecão com Ronnie James Dio à frente do Black Sabbath. Sinistra é um quarteto de músicos extraordinários, com portfólio internacional e repertório autoral, cantando em língua brasilis. Nando Fernandes nos vocais (ex-Hangar e Cavalo Vapor), inclusive ao final do show avisei para ele que daria um estereótipo para ele de “Dio brasileiro”, pois o timbre é muito peculiar da era do “Deus” no Black Sabbath. Na guitarra, outro mestre brazuca, Eduardo Ardanuy (ex-Inox, Dr:Sin, entre outros), porque o talento das mãos tem que estudar muito (como diz um certo time carioca: Ôto Patamar). Nas quatro cordas, outro monstro Luis Mariutti (ex-Shaman e Angra), um barbudo baixinho com aquela cara de sério que se transforma numa fonte marcante de compassos pesado. E, finalizando, o batera Rafael Rosa (ex-André Matos). O setlist, foi basicamente de músicas do álbum de estreia, e bastou para ter o público em êxtase. Um show sensacional de uma banda que vai dar muitos burburinhos! O peso e a técnica estavam ali a serviço da emoção e o coroamos como os filhos do Sabbath. Vale conferir a faixa “Umbral” (Escute).

Para finalizar, chegou a vez do Angra com o Fábio Lione (ex-Kamelot, Vision Divine, Rapsody of Fire) e Marcelo Barbosa (ex-Almah, Kalice, Dark Avenger). Essa turnê vem em comemoração ao trigésimo aniversário da banda. Pudemos conferir a maturidade e segurança da banda, com o carismático vocalista Lione brincando e interagindo com o público para repetir seus falsetes (incluindo partes de canções nativas da sua Itália, como um belo anfitrião), o marombeiro “transformer-predator” Marcelo Barbosa com seu estilo limpo e pesado, onde a técnica do Kiko passou a ter no substituto os timbres mais encorpados e pesados, que em outrora, com o guitarra base Rafael Bittencourt sendo protagonista de solos elaborados e dedilhados que deram uma sonoridade mais interessante à banda, por incrível que pareça. Mais peso com a mesma sublime técnica. Lione afirmou que já era para terem gravado um novo disco, mas que deve sair no fim do ano. Contando com o baixo preciso de Felipe Andreoli, que mostrou toda parceria como amigos, músicos e que obviamente encantou a plateia. Andreoli também desfilou seu baixo de dois braços (algo raro de vermos em músicos de metal, principalmente brasileiro), que junto a outro monstro das baquetas, Bruno Valverde, fazem a cozinha da banda ter um peso proporcional às técnicas de quebradas que nos encanta, meros mortais e, que devem deixar outros músicos enxergando dentro do possível cada nota citada com seus olhos de águia.

Em certo momento, Fábio revelou que estava na Itália quando escutou Angra pela primeira vez, ficando já emocionado e estando atualmente na turnê de 30 anos deles. Referenciou cada músico e alguns que passaram por ela (como o maestro André Matos) e claramente zuou o “bebê” da banda, que tinha somente 32 aninhos (Bruno Valverde). Uma apresentação de quase duas horas com o público que, mesmo exausto, estava feliz.

Que venha 2024…
Parabéns para Lack Produções pelo incrível festival, pelas bandas que se doaram para um excelente evento e que já desejamos que volte em 2024. – Tulio Bambino e Marcelo Pereira.

(*) Buracos de minhoca são tipo de túneis formados por grandes distorções no espaço-tempo. Frequentemente são descritos pelos filmes e series de ficção científica como sendo capazes de nos levar para outros pontos do espaço ou até mesmo do tempo.

Marcelo Pereira – Fotógrafo e cinegrafista, roqueiro fanático do rock, metal extremo ao progressivo, que colaborou com sites e revistas nacionais e estrangeiras, zineiro, colecionador, propulsor de divulgação do metal nacional, tape-traders, estudou rock jamais imaginando ter universidade do rock e um não repórter que faz o que faz porque ama, pois não vive disso, mas o rock pulsa nas veias!

Tulio Bambino – Baterista do Extermínio, produtor audiovisual. – Físico, tocou bateria no extinto Extermínio, atualmente mora em Teresópolis/RJ e trabalha sob a marca Petit Malaco Imagens e Sons desenvolvendo projetos e parcerias em diversas formas de produção audiovisual. Para saber mais: http://linktr.ee/tmbambino

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