PIXIES: Valeu a pena esperar – Pixies in Rio!

Foram 35 anos de espera, encerrados por uma épica e inesquecível apresentação de estréia, com um setlist recheado de sucessos. Assim foi a passagem do Pixies no Rio de Janeiro. A noite ainda contou com o show de abertura da banda GorduraTrans.

Valeu a pena esperar – Pixies in Rio

Vivo Rio – Rio de Janeiro
11 de Outubro de 2022
TEXTO e FOTOS: Paulo Schwinn

Formada em 1986 em Boston, Massachusetts/EUA, o Pixies fez seu primeiro show no Rio de Janeiro, tendo o Vivo Rio como palco. A banda já tinha passado outras vezes pelo Brasil: em 2004, no Curitiba Pop Festival, em 2010, no Festival SWU, em Paulínia/SP e em 2014 no Lollapalooza, no autódromo de Interlagos, em São Paulo (show que assisti de longe, do alto de uma colina, para não perder o Soundgarden, que tocou logo em seguida em outro palco). Com toda essa expectativa no ar, o povo carioca chegava e, do lado de fora, socializava com os amigos, tomando umas cervas (já que fora, o preço é sempre mais barato), com os incansáveis ambulantes que sempre marcam presença nos shows. Aliás, em qualquer evento com público eles estão lá, firmes e fortes. E foi muito bom rever amigos de várias épocas, relembrar momentos e histórias. Bandas com a longevidade do Pixies trazem essa experiência: a de poder reencontrar amizades que dificilmente, pelas distâncias e até diferenças de personalidades, se esbarrariam em algum outro tipo de acontecimento.

Indo ao que interessa, depois de 30 minutos do show da banda de abertura, os cariocas do GorduraTrans, de Mesquita/RJ (Baixada Fluminense), que mandaram muito bem por sinal, (conheça aqui). O Pixies adentraram ao palco, pontualmente às 21h30. Black Francis (guitarra, violão, voz), Joey Santiago (guitarra), David Lovering (bateria) e a caçula da turma, Paz Lechantin (baixo, vocais), que substituiu a segunda baixista da banda em 2014, a saudosa Kim Shattuck (vocalista dos Muffs, falecida em 2019) que, por sua vez, havia substituído a baixista original (de 1986 a 1993 e de 2004 a 2013), a maravilhosa Kim Deal. Iniciaram com um hit, coisa que mais teve no show: “Gouge Away”. Black Francis (na foto ao lado e que também foi do Frank Black and the Catholics) levou mais de 2 minutos para começar a cantar a música. Primeiro testou a guitarra, olhou para os integrantes da banda para ver se o som de todos estava bom (a voz de Paz estava um pouco baixa, o que foi corrigido posteriormente), depois parou e encarou o público por uns segundos, arrancando urros de satisfação da galera, e por fim, entoou os primeiros versos da canção.

A sequência que se seguiu foi igualmente matadora, no bom sentido, fazendo todo mundo pular e cantar junto: Wave Of Mutilation/Broken Face/Crackity Jones/Isla de Encanta/Something Against You e um dos maiores covers já feitos na história do rock, “Head On”, dos igualmente históricos Jesus and Mary Chain. Isso tudo emendando uma canção à outra, sem parar, sem boa noite, etc e tal! A energia foi lá em cima, com a plateia muito empolgada e se divertindo para valer!

Paz, mandou bem!

Os momentos mais introspectivos do show, sem muitos aparelhos de celular na frente, foram nas músicas dos álbuns mais recentes. Isso aconteceu como “Human Crime”, (single de 2022 que não entrou no álbum Doggerel) e com “St. Nazaire” (de Beneath the Eyrie, de 2019). Mais algumas canções da fase recente foram tocadas, como “Who’s More Sorry Now” e “Death Horizon”, as quais o público acompanhou com interesse, mas sem interagir muito. Afinal, o que a galeria queria mesmo, e conseguiu, foram as músicas da fase clássica, dos álbuns de 1987 a 1991 (“Come On Pilgrim”, “Supernova”, “Doolittle”, “Bossanova” e “Trompe Le Monde”). E então rolou “Monkey Gone To Heaven” (cantada em uníssono, principalmente na parte “Man is Five/Devil is Six/God is Seven”), a doida “Planet Of Sound” (uma das poucas do Tromple Le Monde, de 1991, a aparecer no setlist), “Cactus” (que foi gravada por David Bowie no álbum Heaten, de 2002) e “Tame” (com Paz fazendo o vocal ‘sensual’ junto com Francis, igualzinha a Kim na gravação original do Doolittle, de 1989). E não faltou “Gigantic”, composição de Black Francis & Kim Deal, que era presença certa nos shows da antiga formação, com Kim no vocal, e que continua agora, com Paz Lechantin dando conta do recado. Ainda bem, pois é um excelente número da banda ao vivo. Em “Vamos”, country rock acelerado, quem brilhou foi Joey Santiago, tirando microfonias da guitarra com seu boné, e até o plug do cabo da guitarra, desligado do instrumento, serviu para a performance, cheia de distorção, do excelente guitarrista solo do grupo. David Lovering, o baterista que faz truques de mágica nas horas vagas (vejam o Instagram da banda: Aqui), mostrou a competência de sempre nas baquetas.

E esses microfones perto da caixa? Estaria o Pixies gravando o show do Rio para um disco ao Vivo?

O final foi chegando e muitos pensaram que o Pixies iria repetir o setlist do show em Bogotá, na Colômbia, que teve um set com 32 sons e realizado 4 dias antes. E isso deixaria de fora lindas pérolas rock da fase clássica como “Velouria”. Que nada! “Velouria” veio, sem aviso, arrancando urros e até lágrimas dos fãs das antigas. E ainda houve tempo para “Wave Of Mutilation (UK Surf)”, uma versão mais lenta, lançada em single, da faixa original, “Where’s My Mind” (que Black Francis gravou ao vivo com o Placebo) e a inesperada última música, uma versão arrebatadora e cheia de distorção no final estendido de “Winterlong”, de Neil Young, fechando um setlist de inacreditáveis 38(!) canções.

E assim todo mundo voltou feliz para casa, guardando no coração as lembranças desse já memorável e histórico show de estreia dos Pixies na cidade do Rio de Janeiro! – Paulo Schwinn.

Paulo Schwinn é paulista de Santos, SP, vocalista e guitarrista da banda Sujeitos Compostos (conheça), produtor e apresentador do Programa Desvio à Esquerda na Web Rádio Rota 220 (ouça) e fã do bom (Velho e Novo) Rock and Roll!

Respostas de 3

  1. Lindo demais esse Show!
    Fiquei uns 4 dias sem ouvir nada de música pra processar direito o que foi esse show dos Pixies.

  2. Elegante e precisa resenha! Parabéns Paulo Schwinn, obrigado Rock Press e vida longa ao Pixies! Noite perfeita! Muito foda!

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