Fechando a tradicional “Noite do Metal” do Rock in Rio, o Dream Theater, apesar de um setlist enxuto agradou quem ficou até o final.
Dream Theater – Palco Mundo – Rock in Rio
2 de Setembro de 2022
TEXTO Jonildo Dacyony
FOTOS: Cadu Oliveira
Não é necessário ser grande conhecedor da obra do Dream Theater para saber que o setlist dos nova-iorquinos costuma ser tradicionalmente extenso, muitas vezes, beirando as três horas de apresentação, consequência de suas extensas composições que têm como características quase onipresentes o tom épico e o virtuosismo que cativaram fãs pelo mundo inteiro, mas que também geram memes e fazem com que detratores de plantão atribuam a pecha de entediante à sonoridade da banda.
Pois bem, o grupo que foi fundado no mesmo ano da primeira edição do Rock in Rio, (1985), finalmente fez sua estreia no festival com a ingrata incumbência de fechar a noite que tinha como principal atração ninguém menos que o Iron Maiden. Não é novidade para os fãs que a produção da Donzela de Ferro tem solicitado que suas apresentações se deem mais cedo, principalmente quando se trata de festivais. Sendo assim, a exemplo da edição de 2019, na qual coube aos alemães do Scorpions o encerramento da noite, dessa vez a missão ficou a cargo dos estadunidenses, o que poderia ocasionar uma debandada geral, tendo em vista as diferentes características dos fãs dos artistas em questão.
Já passava da meia-noite quando, depois de uma longa introdução com músicas instrumentais “Pink Soldiers”, de Jung Jae Il e “Super Strenght”, de Nick Phoenix & Thomas Bergensen, ilustradas com projeções geradas por computação gráficas nos telões anunciaram o início da apresentação. “The Alien” foi a primeira executada. A canção que traz todos os elementos que fazem do DT uma banda sem meio termo, uma das mais célebres e premiadas do último álbum “A View from the Top of the World”, fez com que logo de cara, o público, que já não fazia questão de disfarçar a exaustão por conta de mais de dez horas de festival, despertasse. Nada melhor que iniciar um show com um novo sucesso seguido de um clássico, e foi o que vimos: “6:00”, canção que abre “Awake”, um dos maiores álbuns da carreira de LaBrie e cia. O vocalista, aliás, esbanjou vigor e simpatia.
Seguiram com outro clássico: “Endless Sacrifice”, do álbum “Train of Though”, seguida de “Bridges in the Sky”, do disco “A Dramatic Turn of Events”, com seus mais de onze minutos de duração, o que, para os fãs ali presentes, não faz a menor diferença. A impressão que dá, ao observarmos os fãs do DT, é a de que cada um deles entende perfeitamente todas as progressões executadas pelos músicos, dada a atenção, mas ao mesmo tempo descontração com que acompanham as canções.
Vale destacar, além do já conhecido carisma de Jordan Rudess, que em mais de uma oportunidade veio à frente do palco para um dueto com John Petrucci, que visivelmente estava se divertindo com a apresentação, John Myung, geralmente o mais contido da banda, parece mais solto no palco, fazendo jus à sua habilidade monstruosa que o fez um dos maiores baixistas do gênero. Além disso, Mike Mangini, que devo confessar, sempre achei meio forçado, até porque, substituir Portnoy e satisfazer suas viúvas nunca foi tarefa fácil, parece finalmente ter tido plena aceitação da parte dos fãs.
Voltando ao setlist, a parte final foi composta por “Invisible Monster”, uma das melhores do último trabalho, e que lembra muito a levada de “Innocence Faded”, seguida por “The Count of Tuscany” que tem sido considerada por muitos, dentre fãs e crítica especializada, como o ponto alto da atual tour, e que, além disso, é uma demonstração da capacidade do DT de pinçar temas de qualquer fase de sua extensa carreira e executá-los com uma excelência comum somente aos melhores músicos. Por fim, o clássico supremo “Pull me Under”, da obra-prima Images and Words, que levou os fãs mais fiéis a cantarem em uníssono com os saudosistas da antiga Maldita Fluminense FM e com os mais, digamos, mainstream, como os da MTV e da Rádio Cidade RM (RJ).
Em diversos momentos da apresentação, foi possível observar pessoas indo às lágrimas, o que não surpreende, visto a extensa legião de fãs que o DT possui no Brasil, mas o mais bacana foi presenciar pessoas que já tinham uma ideia preconcebida da banda se renderem à competência e carisma dos músicos, abandonando, senão de vez, mas pelo menos, por ora, a convicção errônea de que show de prog-metal, rock progressivo e afins é uma coisa maçante. No mais, detratores, aturem ou surtem. – Jonildo Dacyony.
EQUIPE ROCK PRESS NO ROCK IN RIO 2022 – Michael Meneses, Cadu Oliveira, Kesley Meneses, Jonildo Dacyony, Paulo Schwinn e Igor Velasco. ACESSE: https://portalrockpress.com.br/festivais/rock-in-rio/
Jonildo Dacyony é nascido em Natal-RN e criado na capital do Rio de Janeiro, portanto, um potiguar/carioca. Apaixonado por cinema, teatro, literatura, música, vinhos, cervejas e pelo Flamengo. Tem mais de três décadas de rock’n’roll, é profissional de hotelaria e food & beverage, além de ser formado em História e graduando em Geografia.