Vista como a mais agradada atração da sempre emblemática “Noite do Metal” no Palco Sunset do Rock In Rio, a banda americana Living Colour recebeu o ilustre Steve Vai, em show dedicado a Marielle Franco, regado de mensagens políticas, desejo de liberdade e pelo pedido de voto na democracia!
Palco Sunset – Rock in Rio – 2 de Setembro de 2022
TEXTO: Paulo Schwinn
FOTOS: Michael Meneses
Uma grande banda, mesmo em condições não ideais, sempre vai mostrar sua marca, sua força. E foi o que os americanos da Living Colour fizeram em sua apresentação no Palco Sunset do Rock in Rio, no primeiro dia do festival (02/09). Corey Glover (voz), Vernon Reid (guitarra), Doug Wimbish (baixo) e Will Calhoun (bateria) subiram ao palco já cercados de muita expectativa: “Como eles vão escolher o setlist para essa apresentação especial, porém mais curta do que o habitual?” Foi a pergunta que me fiz desde que soube que eles iam tocar no Rock In Rio pela segunda vez (a primeira havia sido em 2013). Assim como eu, muitos outros devem ter pensado que muita coisa boa iria ficar de fora.
Mas vamos falar do que a banda ofereceu, que não foi pouco nem menor do que o que ficou de fora. Começaram muito bem com “Middle Man”, do “Vivid”, álbum de 1988, o primeiro da banda, que teve uma turnê em comemoração aos seus 30 anos de lançamento em 2018/19 com direito a show no Circo Voador, no Rio de Janeiro, em junho de 2019. Reid sola endiabradamente, Doug estapeia seu baixo com slaps furiosíssimos, Will manda ver em seu kit de bateria e Corey cantando poderosamente, como sempre. Corey solta um “Hello!” para galera que começa a cantar o nome da banda e, em seguida, Reid dedica o show à memória de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018 no Rio de Janeiro, junto com o motorista Anderson Gomes. Justíssima homenagem, dando início às manifestações políticas do show. Após um denso solo da guitarra de Reid, vem “Desperate People”, outra do “Vivid”, tocada com a competência e o virtuosismo de sempre. Glover, grita, em português claríssimo: “Liberdade! Liberdade!” Em seguida, uma trilogia de canções do álbum “Stain” (1993), praticamente esquecido em apresentações anteriores do Living Colour por aqui. O groove pesado de “Ignorance Is Bliss” mostra mais um pouco dessa mistura de estilos de rock, fusion, hard que o Living Colour faz tão bem.
O momento solo de Doug Winbish introduz a segunda do “Stain” a aparecer, ‘Wall’, que fala sobre igualdade entre as raças, entre os povos. Em nova manifestação política durante o refrão “The Walls Between Us All Must Fall”, Glover levanta um cartaz com os dizeres “Vote” de um lado e “Democracia” do outro e é ovacionado. Ao final da canção, o já tradicional coro de “Ei, Bolsonaro, vai tomar no **” é entoado e deixa Glover intrigado para saber o que a maioria do público estava gritando. Ao descobrir, ele abre um sorriso e bate palmas, sendo imediatamente retribuído. O petardo hardcore “This Little Pig” fecha a trilogia de canções do “Stain” de forma contundente, mesmo com o som do Palco Sunset estando mais baixo que o do Palco Mundo (Sepultura e a Orquestra Sinfônica Brasileira tocaram com o som nas alturas). Após, Corey Glover grita “FUCK FACISM!”, e o coro mandando o atual presidente da república para “aquele lugar” volta com toda força.
Continuando no hardcore, a pesadíssima “Type”, do álbum “Time’s Up” (1990) mantém a temperatura do show elevadíssima! O momento solo de Will Calhoun chega e lá se vão quase uns 5 minutos de um solo num instrumento de percussão diferente e depois na bateria. Para um show curto, esse momento poderia ser dispensado para a inclusão de mais uma música. Mas, o virtuosismo é uma característica da qual o grupo não abre mão e assim tivemos momentos solos de cada um dos instrumentistas.
O relógio toca e é hora de “Time’s Up”, de início hardcore, mas com pitadas de um swing bem característico da banda. A execução perfeita abre caminho para Vernon Reid apresentar o momento mais esperado da noite: “E agora, senhoras e senhores, nós queremos trazer um convidado muito especial. Um dos maiores guitarristas do mundo e um amigo querido, Mr. Steve Vai!” O público já delirava antes de Reid acabar a apresentação do convidado. A escolha da primeira música desse encontro histórico não poderia ter sido melhor. A bateria de Calhoun já anuncia nas primeiras batidas a versão, bem próxima do original, de “Rock and Roll”, clássico do Led Zeppelin.
E é nessa hora que se percebe que a guitarra de Vai estava bem mais alta que a de Reid. Quando Steve percebe isso, faz um sinal para técnica aumentar a guitarra do companheiro de palco, no que é prontamente atendido. E esse duelo de dois dos maiores guitarristas em atividade pega fogo, pois a canção é estendida para que os dois possam mostrar toda sua categoria em seus respectivos instrumentos. Um lindíssimo solo de Vai e a bela vocalização de Glover anunciam a balada “This Is The Life”. A combinação dá um aspecto quase sacro à já bela canção que fala em valorização da vida.
O show vai chegando ao fim não sem antes dar a chance desse já histórico quinteto de fazerem uma homenagem aos 80 anos do nascimento de Jimi Hendrix, com certeza uma influência para Steve Vai e Vernon Reid. A escolhida é “Crosstown Traffic” que o Living Colour havia gravado num tributo ao guitarrista americano lançado em 1994. A canção é estendida para que os virtuosíssimos guitarristas mostrem seus talentos mais uma vez.
E com uma execução impecável de “Cult Of Personality”, faixa de abertura do “Vivid” e que aqui virou encerramento, Living Colour e Steve Vai terminam esse show memorável, com direito a Corey Glover indo literalmente para galera, cantando e cumprimentando o público da grade, fechando com chave de ouro essa apresentação histórica e que deixou um gosto de quero mais em todo o público. Ao final, Corey Glover agradece em português: “Muito obrigado” e pedindo para a galera votar nas próximas eleições: “VOTE! VOTE! VOTE!”
Salvo o volume da guitarra, a conscientização política, esse é o melhor que o Living Colour faz e que entregou com maestria, ainda acompanhados pelo espetacular Steve Vai! – Paulo Schwinn.
EQUIPE ROCK PRESS NO ROCK IN RIO 2022 – Michael Meneses, Cadu Oliveira, Kesley Meneses, Jonildo Dacyony, Paulo Schwinn e Igor Velasco. ACESSE: https://portalrockpress.com.br/festivais/rock-in-rio/
Paulo Schwinn é paulista de Santos, SP, vocalista e guitarrista da banda Sujeitos Compostos (conheça), produtor e apresentador do Programa Desvio à Esquerda na Web Rádio Rota 220 (ouça) e fã do bom (Velho e Novo) Rock and Roll!