1, 2, 3, 4… Com Alice Pereira, Kado e Johandson Rezende. ENTREVISTA!

A produção de HQs segue firme de norte a sul do Brasil. Muita coisa boa surgindo e entre fanzines, revistas e livros, estão presentes eventos como a CCXP e encontros literários com autores do underground e do mainstream. No Rio de Janeiro, o último evento em 2022, acontece no próximo, 22 de dezembro, no Bafo da Prainha e terá Alice Pereira, Kado e Johandson Rezende, três autores que fazem um lançamento coletivo dos seus trabalhos. Entrevistamos o trio na coluna 1, 2, 3, 4… Em pauta, suas origens, publicações, mercado editorial, o evento e projetos para 2023!

ENTREVISTA: Michael Meneses
IMAGENS: Alice Pereira, Kado, Johandson Rezende e acervo pessoal

A ligação da Rock Press com o universo dos quadrinhos e longa, esse elo sempre foi muito forte! Muitos da minha geração cresceram lendo revistas de rock e de quadrinhos, ao som de um bom disco de rock ou mesmo da saudosa Fluminense FM! E se depender da produção nacional de HQs, essa união da música com a cultura das revistas em quadrinhos, estará sempre presente, pois muita coisa boa segue sendo produzida, eventos acontecendo por todo o país, e a internet tem facilitado a vida de autores, artistas e dos leitores.

Muitos desses autores seguem na correria das suas produções há anos. No Rio de Janeiro, três desses artistas, são o Johandson Rezende, autor do “Mea Culpa” que além de trabalhar com produções de animação, ilustrações e HQs, realiza mostras dos seus trabalhos em espaços culturais pela cidade, a Alice Pereira, que recentemente esteve na CCXP lançando o livro “A Travessia” (capa ao lado), outro que também esteve na edição 2022 da CCXP foi o Kado, que além de produzir quadrinhos e zines desde os anos 1990, realizou inúmeros eventos de rock e HQs, no Garage, Casa da Zorra, Florença Rock Clube, Planet Music e tantos outros espaços do underground carioca. Atualmente Kadu também produz o Vila Anime, o mais importante evento de anime do Rio de Janeiro. Essa gente, assim como tantos outros pelo Brasil a fora, está na batalha das artes visuais faz muito tempo. Esses três vão autografar seus trabalhos no Bar Bafo da Prainha (localizado no Largo do São Francisco da Prainha, na Saúde, no centro histórico do Rio de Janeiro).

A Rock Press, conversou com os três autores na coluna 1, 2, 3 4… Em pauta, suas origens, publicações, mercado de HQ, o evento e projetos para 2023. Se liga no papo HQ na entrevista que segue…

1 – Michael Meneses / Rock Press: Contem aos leitores da Rock Press, como foi o início da paixão e do trabalho de vocês com HQs?

Alice Pereira: Bem, minha paixão por HQs começou quando criança, com as histórias da Disney – Zé Carioca, Pato Donald, Tio Patinhas, e da turma da Mônica. Desde então eu nunca parei de ler HQs e fui variando cada vez mais os temas e estilos. Mas nunca pensei que pudesse produzir minhas próprias histórias, achava que tinha que ter dom, essas coisas que inventam para nós limitar… Só depois de bem mais velha eu vi um anúncio de um curso de Mangá e decidi começar a estudar para ver se conseguia fazer alguma coisa. E daí comecei a estudar e produzir minhas próprias HQs.

Johandson Rezende: Minha forma de expressão é o desenho, então tento usar as várias maneiras de me comunicar com essa arte: quadrinhos, animação e ilustração. minhas influências nos quadrinhos é o underground ou da linha alternativa, ou seja, quadrinhos mais adultos. meu trabalho tem um pouco de surrealismo e de desenho animado (lowbrow art ou surrealismo-pop), às vezes é autobiográfico.

Kado: Meus primeiros zines surgiram em 1991/92, era o Danger, Croquete e Panacão. Tinham boas ideias, só que meu traço era horroroso. Em 1993 lancei, com mais dois amigos (Wander e Renato Faccini) o Mr. X, um zine super bem recebido na época. E por causa da boa repercussão, tomei coragem, e levei meus quadrinhos para o Ota dar uma olhada. Na época o Ota era editor da Revista Mad. Ele curtiu muito meus quadrinhos e comprou algumas páginas. Bem preciso dizer o quanto fiquei feliz, né? Afinal eu era fã do Ota e adorava a Mad. Tava realizando um sonho. Ainda em 1993 aconteceu a segunda Bienal de História em Quadrinhos, no CCBB. Foi lá que conheci o Ronald, da revista Quadrinhos Tristes, e toda uma galera que depois se tornou a Sociedade HQ. Foi quando passei a fazer parte do grupo Sociedade HQ que as coisas começaram a acontecer. Nos anos seguintes lançamos diversos quadrinhos e zines. Dr. Gorin, Speed Stick, Tiririca em Quadrinhos, Mr. X! especial Cavaleiros do Rodízio e a Hemp Family Comix (o gibi do Planet Help) e por essa publicação, recebi um processo por apologia e formação de quadrilha. Isso me deixou bastante chateado e me afastei dos quadrinhos, só retornando em 2020, na pandemia. Em isolamento em casa, sem muita coisa para fazer, voltei a desenhar e postar na internet. E foi assim que nasceu o Gordo Aranha, como uma brincadeira para passar o tempo. Hoje a revista tem 6 edições, sendo duas edições especiais e fiz um gibi autobiográfico ficcional sobre mim, o Kado.

 2 – Rock Press: Na visão de vocês, como anda o mercado independente (e mainstream) de HQs no Brasil e quais os autores e as iniciativas que estão se destacando atualmente?

Alice Pereira: Acho que o mercado independente hoje deve ser bem melhor do que no passado, pois permite que a gente atinja um público um pouco maior com as redes sociais. Além disso as tecnologias de impressão estão mais baratas, viabilizando a produção impressa. Junto a isso temos também os financiamentos coletivos que nos ajudam a financiar nosso processo. Mas ainda é bem difícil furar nossas bolhas. Feiras como a CCXP também ajudam a gente a apresentar nosso trabalho, mas ainda é muito difícil chegar em um público maior. Eu poderia citar nessa cena independente a Germana Viana, Helô Pinheiro, Hugo Canuto e Jefferson Costa que fazem trabalhos incríveis. Além dos meus amigos Kado e Johandson que vão lançar seus livros também no Bafo da Prainha. Em relação ao mainstream, só posso falar que são as mesmas figuras de sempre, sem muita novidade.

Kado: Acho que hoje o mercado é mais receptivo do que nos anos 90. As feiras de quadrinhos naquela época eram muito poucas. Só tinha, no Rio, a Comic Mania, que só vendinha gibizinho de herói. Hoje temos diversas feiras espalhadas pelo país. Sendo que as maiores, na minha opinião, é a FIQ e a CCXP. Acho que a auto publicação ainda é muito forte no mundo dos quadrinhos. A grande maioria dos artistas bancam seus próprios quadrinhos. Claro que temos editoras como a Pé de Cabra e a Escória Comix que investem nos novos talentos. Só que ainda é pouco. Tem uma galera que acompanho e curto muito o trampo, Nat Biriba, Lobo Ramirez, Fábio Vermelho, Gabriel Dantas, Chico Félix, Jéssica Groke, Carol Ito. Aline Lemos, Caio Oliveira, Denis Melo, Paulo Moreira… essa galera é fera demais e tem mais gente que curto. Também sou muito fã dos meus amigos, Johandson, Alice Pereira, Rafo Castro, Marcelo Ment, Daniel Paiva, Juca, Renato Faccini…nem todos fazem quadrinhos, uns são designers, artistas plásticos e grafiteiros.

Johandson Rezende: Não sei se sou a melhor pessoa para falar, mas percebo que o acesso a formas de impressão mais baratas, e até caseiras, fizeram as produções pipocarem, com uma alta qualidade de conteúdo e produto final. muita gente arregaçando as mangas e apresentando obras incríveis.

3 – Rock Press: Atualmente muita gente não valorizam a mídia física e optam por leitura virtual e streamings da vida. Até que ponto a internet ajuda ao mercado de HQ/literário?

Alice Pereira: Ajuda bastante na divulgação, a gente consegue com certeza atingir um público maior do que no boca a boca pessoalmente. Os quadrinhos independentes eram bem mais marginais. Ajudam também, como citei antes, no financiamento dos projetos. No geral, principalmente para a gente independente, ajuda muito mais que atrapalha. A leitura virtual também contribui bastante para a divulgação. A maioria das pessoas que adquiriu meu trabalho físico conheceu primeiro virtualmente.
Kado: Eu sou do século passado, né? Eu curto mídia física e acho que meus leitores também. Acho que quando tem um preço acessível, todo mundo compra um gibizinho. Cara, eu nunca consegui vender quadrinhos meus em PDFs. 
Johandson Rezende: Ajuda muito na divulgação e venda, não vejo a internet como uma inimiga nesse caso, pelo contrário, vejo como uma grande aliada.

4 – Rock Press: Vocês estarão em uma sessão conjunta de autógrafos no Bafo da Prainha. O que cada um lançará no evento?

Kadu: Lançarei o Gordo Aranha 6, que saiu na CCXP. Também terei disponível as edições 4 e 5 da revista e o gibi do Kado, minha revista autobiográfica ficcional. Além de prints e adesivos. A Alice Pereira está com um quadrinho novo, A Travessia, que ela lançou na CCXP também. O Johandson está chegando com mais uma edição do zine Mea Culpa.

Johandson Rezende: Levarei uma revistinha autobiográfica falando sobre o meu pai. é uma tentativa de aliviar a dor de sua perda, é quase desabafo em traço, é um “ai” impresso.

Alice Pereira: Vou levar meu novo livro A Travessia, que já foi lançado em São Paulo na CCXP, para o público daqui do Rio conhecer. É uma ficção científica toda produzida em 3D. Está muito bonito!

5 – Rock Press: Por fim, quais os projetos de vocês para 2023 e deixem uma mensagem final aos leitores da Rock Press…

Alice Pereira: Bem, em 2023 pretendo divulgar A Travessia, que lancei no começo de dezembro, e me aprofundar mais no estudo de animação 3D. Aliás, em janeiro ou fevereiro de 2023 será lançado um clipe de animação 3D que dirigi para um amigo. Aguardem!

Kadu: Em 2023 pretendo lançar meu primeiro livro de tirinhas, o Lencinho em Casa com Gota. E claro, novas edições do Gordo Aranha. Mensagem aos leitores? Apoie o quadrinho nacional, compre os quadrinhos dos autores independentes. E não deixem de visitar minha loja virtual e me sigam no Instagram (Links abaixo). Esperamos vocês no Bafo da Prainha no dia 22/12.

Johandson Rezende: Meus projetos são mais na área de animação e ilustração, lançar meu livro Dharma, que é um livro sobre a filosofia védica em quadrinhos, e continuar fazendo exposições com meus desenhos. agradeço à Rock Press pelo espaço, e continuem apoiando a arte independente, seja na música, literatura, poesia ou quadrinhos. há muitas joias a serem descobertas e lapidadas, que só vão se desenvolver com o apoio de vocês! feliz ano novo e alimentem a fé, porque a fé alimenta conquistas.

RECOMENDAMOS…
Ler nos dias de hoje é um ato heroico, produzir arte idem. Logo seja um herói, valorize a arte independente e prestigiem a sessão de autógrafos com a Alice Pereira, com o Kadu e com o Johandson Rezende. Afinal assim como os discos, HQ também é cultura. Recomendamos. – Michael Meneses!

SERVIÇO:
NOITE DE AUTOGRAFOS COM: Alice Pereira, Kado e Johandson Rezende

LOCAL: Bar Bafo da Prainha – (Largo do São Francisco da Prainha, N: 15 – Saúde – Centro histórico do Rio de Janeiro/RJ
DATA: 22 de dezembro de 2022 às 18h.
EVENTO GRATUITO

CONTATOS DOS AUTORES:
ALICE PEREIRA:
SITE:
http://alicepereira.iluria.com/
INSTAGRAM: https://www.instagram.com/alicepereiraart/

KADU:
SITE:
www.gordoaranha.com.br
TWITTER: https://twitter.com/vilaanime
INSTAGRAM: www.instagram.com/cartunistakado

JOHANDSON REZENDE:
TWITTER:
https://twitter.com/JohandsonR
FACEBOOK: https://www.facebook.com/cartoondelia
INSTAGRAM: https://www.instagram.com/johandson.rezende/

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